Orquídea Vermelha escrita por Mrs Jones, QueenOfVampires


Capítulo 8
It's Not Appropriate For a Woman


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas! Retornamos com mais um capítulo dessa aventura. Esperamos que gostem e que se divirtam!
Boa leitura.



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Barba Negra ergueu os olhos para as velas enfunadas do navio, pensando consigo mesmo. Por sua testa vincada, imaginava-se que fosse mais uma vez insistir que trocassem os tecidos remendados por Lady Elisa. Cornélia voltara os olhos para a bússola, de modo a poupar-se de ter que aturar os luxos desnecessários do pai. Mas seu pretexto para evitar conversas ia muito além da velas; entrara em tal estado de concentração mental, que apenas o seu semblante plácido denunciava que algo se passava com ela.

Barba Negra, é claro, conhecia suficientemente a sua filha. Suspirou para as velas, afastando-se em direção ao leme que era conduzido por Cornélia. Seus passos pesados na madeira não foram suficientes em tirá-la do estado de transe.

— E o que é que se passa nessa cabecinha temperamental? - perguntou de um rompante, sobressaltando a ruiva - Pensando em Jones com carinho, decerto?

Por um momento ela cogitou que o cozinheiro houvesse falado demais e o pensamento de que seu pai descobrisse o que ocorrera entre eles a percorreu como um arrepio. Mas então, é claro, lembrou-se de que Barba estava apenas sendo o provocador de sempre.

— Ah sim! Pensando carinhosamente em como dissecá-lo e pendurá-lo nesse mastro como lembrete aos desavisados - retrucou, sem o tom agressivo habitual.

Barba Negra deu um meio sorriso.

— Bom, não se pode culpar um velho por ter ilusões românticas. Cornélia, você está com aquele olhar outra vez… O que é?

A Imediata respirou fundo, antes de pronunciar o único nome que a desgostava.

— Delilah. Pensando em Delilah - ela desgrudou os olhos da bússola para fitar o pai, que agora exibia uma expressão que beirava o descontentamento - E não de uma forma afetiva. Eu quero Delilah morta. Desmembrada.

— Cornélia…

— E como de praxe, eu sei o que o senhor vai dizer. Não é uma meta que está entre seus objetivos, mas há anos a minha ambição primordial se tornou matar Delilah.

Barba Negra ficou lívido. Aquela era uma discussão que não procurava ter com a sua filha, mas que vez ou outra encontrava espaço por entre o cotidiano de suas vidas atribuladas. Deu as costas à Cornélia, optando por assistir o movimento da espuma deixada pelo navio ao cortar as águas.

Era um entardecer tranquilo, de ventos agitados. Mas contrário à calmaria do mar, o navio estava ambientando tensão. Cornélia não girou o pescoço para olhá-lo quando disse:

— Eu quero rastreá-la. Persegui-la. E então destruí-la.  

— Mesmo que eu concordasse, e não pense que conseguirá me dissuadir, a tripulação seria difícil de convencer - o capitão parou ao lado da jovem Imediata, fitando-a com extrema seriedade - Concentre-se em causas mais importantes e imediatas… Como levantar fundos para a troca das velas, por exemplo.

— Não se pode estabelecer um diálogo sério com o senhor, capitão - redarguiu ela, irritando-se com o ar jocoso de Barba, cuja intenção era desviar o rumo da conversa.

— Ou levantar fundos para manter contentes os marujos. É um assunto de completa seriedade, minha querida. Não fosse nosso último saqueamento, levantariam um motim contra a minha pessoa.

— Quem sabe assim o senhor se concentraria em causas mais importantes e imediatas, que não fossem velas novas e o garimpo de maridos. - ela afastou uma mecha de cabelo que lhe caía no rosto com insistência - Delilah tem uma tripulação consistente; e, muito embora eu tenha de admitir que a minha adorável irmã tem muitas capacidades pessoais, não consigo imaginar como tenha conseguido tão grande número de homens.

— Ora, quem se importa? - Barba Negra tentava livrar-se do assunto custosamente; buscou Smee com os olhos, de modo a ter quem lhe salvasse da saia justa, mas não o encontrou - Ela usou os métodos habituais da nossa espécie: uma promessa de vida nova, tesouros incontáveis, hárens coalhados de loiras…

Cornélia ergueu uma sobrancelha para o final da frase, contendo uma risada diante do pensamento luxurioso do pai.

— A questão é: por que ela precisa de uma tripulação daquela dimensão? E como foi que a conseguiu do dia para noite?

— Pergunte a ela, pode aprender alguma coisa.

— Como é?!

— Digo… aprender uma informação nova sobre Delilah… Quero dizer, ela é complexa, não é? Perturbada e cheia de mistérios…   

— Eu vou fingir que o senhor não falou uma besteira dessas. - ela optou apenas por ignorá-lo - Mas não pense que vou desistir. Delilah pode estar tramando contra nós nesse exato momento, porque acabar com o senhor e comigo é seu principal objetivo.

O Capitão pensou por um segundo, remexendo em sua barba desgrenhada.

— Você acha que, mesmo após todas essas conquistas, ela aspira nossa destruição acima de tudo?

— Claro que sim! - Cornélia exclamou - Nem todos são como Robert Maynard, seu amiguinho, que sumiu no mundo o deixando impune. Delilah tem mais em comum comigo do que eu gostaria de admitir… Ela não vai desistir.

— Robert não me deixou impune, eu o venci num duelo justo…- Barba tentou se defender, fazendo com que a filha revirasse os olhos para a insistência do homem em mudar de assunto.

Já cansada das tentativas frustradas de montar um plano de combate, ela repassou o leme para o pai, alegando que ia conferir as últimas mercadorias que negociaram quando atracassem.

De fato, ela foi para o depósito no andar inferior do navio, mas apenas para tentar formular uma forma de convencer o capitão e à tripulação a se juntar na sua empreitada.

O barulho de garrafas batendo umas contra as outras a alertou. Killian vinha descendo as escadas com um caixote de recipientes vazios, ele parou no último degrau ao ver a ruiva.

Cornélia começara a questionar se era algum tipo de punição não conseguir ficar em paz sozinha quando queria pensar, alguém sempre aparecia, ele sempre aparecia.

— Está tudo bem? - ele questionou erguendo uma sobrancelha e colocando o caixote junto dos outros.

— Por que não estaria? - ela retrucou áspera.

— Porque está no depósito… No escuro… Debruçada num barril, com cara de quem poderia arrancar as tripas de qualquer um que aparecesse na sua frente. - apontou para ela.

— Oh! Se acha isso, então por que se arrisca a perder as tripas? - ela arreganhou um sorriso psicopata.

— Eu não tenho medo de você. - Killian se inclinou para frente.

Cornélia se afastou por impulso, ainda um pouco atacada por causa de toda a “história do beijo”. Outro de seus maiores arrependimentos, pois ela sentia que não era mais capaz de olhar na cara do Jones sem lembrar daquele momento deplorável. Ou era como ela o denominava.

— O que está fazendo aqui? - ela questionou antes que ele notasse sua reação exagerada.

— Meu trabalho… Porque ao contrário do que a senhorita pensa, eu tenho um. - o cozinheiro começou a substituir os recipientes vazios por outros cheios de temperos e ervas - E você?

— Pensando.

— No porão? Não condiz com a sua conduta… - e, conforme a ruiva arqueasse uma sobrancelha, acrescentou - Presume-se que a senhorita o faria no convés, onde todos podem vê-la. Onde pode nos inspirar a seguir seus passos… Me ocorre que, talvez, a Imediata não queira nos colocar a par de seus planos…

Cornélia abriu a boca para retorquir, mas lhe ocorreu que talvez o cozinheiro fosse de utilidade no momento.  

— Não considerei que fosse tão esperto - ela suspirou, mantendo uma mão na cintura, enquanto se apoiava ao barril com o outro braço - Há sim algo que eu não posso contar aos outros. Ao meu pai sequer. Um assunto de extrema importância ao qual não irão concordar.

— Então, dessa vez está sozinha?

— Ah não… Me parece que eu, enfim, terei com quem contar. Muito embora não seja de meu agrado.

O cozinheiro soltou um riso de descrença, conforme Cornélia o encarava com um meio sorriso.

— Não pode estar se referindo à minha pessoa…

— Que convenientemente se colocou no meu caminho, para além de saber o que há de se saber sobre Delilah.

Internamente, ela bem que se divertia com ar assombrado de Killian. Limitou-se a dar-lhe as costas, cruzando os braços à frente do corpo. O cozinheiro se aproximou, refreando a vontade de virar-lhe o corpo de modo a ficarem frente a frente.

— Não pode estar tramando contra a sua… contra Delilah.

— E por quê não? - Cornélia respirou fundo, como era usualmente quando o assunto em pauta era a sua irmã - Por que é minha irmã?

— Porque somos piratas e vingar fatos passados não é nosso propósito.

— E qual é seu propósito aqui, senão me conquistar? - a moça girou nos calcanhares, topando com o azul tempestuoso dos olhos do homem - Suas motivações não são de um pirata, mas de um vigarista que considerou oportuno se aproveitar de outros.

Killian dilatou as narinas, seu corpo retesando ante a raiva que se apossava dele. Não que a raiva fosse motivada por Cornélia, mas pelas duras palavras que ele sabia serem a verdade.

— Eu devia tê-lo matado há um bom tempo. - Cornélia disse, em voz baixa, apreciando a reação que causara no outro - Não sou eu quem está indo contra propósitos aqui. Cozinheiros, há muitos por aí… Quem sabe que utilidade há de se fazer de alguém como você.

— Não pode tramar sob o nariz do seu pai - falou o cozinheiro, secamente - Ele confia em você. Todos nós confiamos.

— Exatamente! É por isso que você, cozinheiro, se tornará meu cúmplice - agora ela estava absurdamente perto dele, mais perto do que ele gostaria, pois assim ficava difícil respirar - Isto é, caso queira manter-se a bordo deste navio com vida.

Ele sorriu, mas por dentro uma parte sua se assombrara.

— Está me ameaçando? Que golpe baixo, Cornélia.

Ela respondeu com uma faca, colocada contra seu pescoço. Killian não se moveu. Limitou-se a fitá-la sem demonstrar pânico.

— É um reforço - respondeu ela, sorrindo macabramente - Sei que para você sou motivação suficiente, mas caso pense em abrir a boca, isto é o que irá encontrar - ela pressionou a faca contra a garganta dele - E em seu leito de morte, eu farei questão de mostrar a todos o que você sempre foi: um oportunista.

E ela marchou porta afora, largando o cozinheiro com uma dura decisão em mãos. Cornélia ou Barba Negra?

A qual deles traíria?

 

Cornélia guardou sua faca na cintura enquanto subia as escadas, ela notou a voz grossa de Barba Negra berrando ao se aproximar do convés e franziu o cenho confusa. Apressou o passo escada acima e se deparou com os marujos, indignados e confusos, levando a maior bronca de seu capitão.

— SEUS PERVERTIDOS DOENTES, COMO VOCÊS DEIXAM UMA COISA DESSA SOLTA POR AÍ SABENDO QUE TEMOS LADY ELISA, UMA DAMA, E MINHA FILHA NESSE NAVIO? - Barba Negra balançava folhas de papel energicamente na cara da tripulação.

Killian surgiu logo em seguida, atraído pelo barulho dos gritos do capitão.

— O que está acontecendo?

— Não faço a menor ideia… - Cornélia se aproximou do grupo - Capitão, o que raios está acontecendo por aqui?

— ESSES SAFADOS! - Barba Negra agitou as folhas na frente de Cornélia, que continuava sem entender nada - TRAZENDO INDECÊNCIAS PARA MEU NAVIO!

— Nós não sabemos o que é isso, capitão! - um dos marujos rebateu.

Cornélia pegou as páginas da mão de seu pai. Ele tentou tomar de volta, mas a ruiva era mais ágil e conseguiu desviar de todas as suas investidas e ler o que tanto estava irritando o homem.

— Cornélia! Eu a proíbo de ler isso, não é apropriado para uma mulher! - o capitão tentou mais uma vez tomar os papéis das mãos dela - CORNÉLIA!

— AH PELO AMOR DE DEUS, PARE DE DRAMA, HOMEM! - a ruiva retornou no mesmo tom - Isso não é nada demais!

— COMO NÃO É NADA DEMAIS…

— Eu não sabia que o senhor era tão casto, capitão. - Cornélia zombou - Mas eu ainda não entendi o motivo de todo o alvoroço com a tripulação.

— Porque, naturalmente, eles trouxeram essa pouca vergonha escrita para o meu navio! Já pensou se Lady Elisa lê uma coisa dessas?

Ele apontou para Elisa, que estava completamente pálida no canto do convés, prendendo a respiração, agarrada à um pedaço de seu vestido, quase o rasgando de tanta pressão nos dedos.

— O que é isso? - Killian questionou para Smee.

— Aparentemente um tipo de literatura...hum...libidinosa… - Smee ficou vermelho enquanto falava - O capitão encontrou no chão do convés e desde então está gritando com a tripulação para saber quem trouxe isso ao navio.

Cornélia retorceu o rosto de confusão, fitando o papel, a tripulação e então o capitão.

— Mas por que esses miseráveis trariam isso… Se eles não sabem ler?

Barba Negra fez menção de responder prontamente, já com o dedo erguido, mas fechou a boca tendo um clique na cabeça.

— Mas você está certa. Os únicos alfabetizados aqui somos eu, Smee, você e Lady Elisa… Então… Como isso veio parar no meu navio?

— E há alguma dúvida? - um marujo falou com deboche, tomando a frente do grupo - É óbvio que foi a senhorita Cornélia.

— Ora… - ela deu um meio sorriso e se aproximou do homem, que engoliu em seco - Eu não leio essas coisas… Eu faço essas coisas.

— CORNÉLIA! - Barba a puxou pelo braço - Mas será possível?

— Não fui eu! - ela falou como se fosse óbvio - E a julgar pelo seu escândalo, posso começar a pensar que o senhor é o culpado. Ou o Sr. Smee, que vive solitário por aí… Ou Elisa, reprimida como é, achou outras formas de…

— CALADA! - o capitão falou com os dentes cerrados - Já chega! Eu vou descobrir quem trouxe esse absurdo para o meu navio! VOLTEM AO TRABALHO, SEUS VERMES!

Os marujos, ainda transtornados, se dispersaram e voltaram aos seus afazeres. O capitão deu uma última olhada de advertência para a filha e voltou para o leme acompanhado do Segundo Imediato.

Elisa engoliu em seco e tentou sair de fininho para o seu quarto.

— Elisa. - Cornélia a chamou e ela congelou no lugar.

— Sim? - respondeu sem olhar para a ruiva.

— Tem certeza que não quer ler? Aposto que vai achar muito educativo! - ela brincou.

— Por favor, Cornélia. - Elisa forçou uma risada - Isso é inapropriado, não quero nem chegar perto.

E a moça saiu mais do que apressada para sua cabine.

Cornélia continuou lendo os textos degenerados, até que ela pendeu a cabeça de lado, intrigada.

— O que foi? - Killian perguntou curioso.

— Isso me parece estranhamente familiar… - ela murmurou e olhou por impulso na direção que Elisa seguiu.

— E o que exatamente está escrito aí?

— Interessado, Jones? - Cornélia ergueu uma sobrancelha e limpou a garganta - Mas é uma pena que não saiba ler, é muito interessante, na verdade! E bem escrito! Eu não sei se teria essa sensibilidade com os detalhes, muitos floreios, escute só: com os gemidos ecoando pelo quarto, o calor pesando no ar devido às velas queimando ao redor do casal se amando entre os lençóis bagunçados, Elizabeth arfava, inebriada de prazer e ansiedade enquanto seu parceiro da vez se preparava para penetrá-la já com o membro tenso contra sua entrada… - ela ergueu o olhar para espiar Killian.

Para sua surpresa, ele estava a encarando com a mão no queixo, com uma expressão de questionamento.

— Isso realmente está escrito aí… - ele apontou os papéis, pressionando os lábios - Ou você está jogando verde para colher maduro comigo?

— QUÊ? - Cornélia fechou a cara - Você acha mesmo que eu faria um joguinho patético desses? Acredite, Jones. Se eu tivesse o mínimo de interesse em você, o que é inimaginável, você saberia.

— Então eu preciso que você deixe claro, o que é “mínimo de interesse” para você? - ele cruzou os braços - Porque um beijo já parece bem mais do que isso pra mim.

— Calado! - ela trincou o maxilar, assim como seu pai pouco tempo atrás e avançou contra ele - Eu te avisei para não abrir o bico sobre isso!

Killian se limitou a erguer as mãos em sinal de redenção e girou o corpo para se afastar de Cornélia, satisfeito por ter saído ileso da conversa conseguindo apenas provocá-la.

A ruiva desanuviou os pensamentos tão logo se afastou do cozinheiro. Dirigindo-se aos aposentos de Lady Elisa, escancarou a porta a tempo de ver que esta empurrava um baú para baixo da cama. A moça, de susto se atrapalhou, puxando junto com o movimento parte da colcha que lhe cobria a cama. Cornélia fechou a porta atrás de si, um sorriso satisfeito brotando de seu rosto.

— Cornélia - Lady Elisa se ergueu, ajeitando o vestido como desculpa para evitar encará-la -, você me assustou. Devia ao menos bater antes de entrar.

— Para que tenha tempo de esconder seja lá o que mantém em segredo naquele baú? - Cornélia fez um meneio de cabeça em direção à cama - Por que tanta pressa? O que tem aí debaixo?

— Nada demais. Só meu tricô e meus estudos bíblicos.

— Estudos bíblicos - repetiu Cornélia, com um certo descontrole que por pouco a fez gargalhar - Os que envolvem fornicação, imagino.

— Cornélia, mais respeito! A sua falta de crença em Deus é perdoável, mas o desrespeito…

— Que me explicar o que é isso?! - a ruiva ergueu o papel a centímetros do nariz da Lady, que por um segundo prendeu a respiração sem notar.

— Não sei - apressou-se em responder, dando um passo para trás em direção à cama - Como saberia? Decerto trouxeram ao navio na última pilhagem.

— Bem, não consigo imaginar que espécie de escritor escreveria páginas soltas e  distribuiria por aí, para marujos analfabetos que prefeririam gastar moedas com o ato em si - ela se recostara à porta, em pose tão descontraída quanto possível - Por mais que o senhor Barba Negra saiba ler, não hesitaria em assumir a responsabilidade se lesse esse tipo de entretenimento. E Smee, bem, não me parece que ele tenha esse perfil. Entre nós duas, só sobra você.

— Por que eu iria querer ler algo do tipo? Presume-se que quando eu me casar o meu marido saiba me liderar nesse tipo de coisa. E, é claro, nossas relações teriam como objetivo ter filhos, nada dessa promiscuidade com a qual você se envolve.

Cornélia gargalhou e bem que estivera contendo a vontade até então. Considerava patética a forma com que Elisa era incapaz de sustentar seu olhar, denunciando que tinha algo a esconder.

— E quem disse que estou insinuando que você trouxe isso ao navio para ler?

Elisa empalideceu no mesmo momento. Não fosse a distância em que se encontrava seu leque, ela bem estaria se abanando.

— Você não só escreveu isso como se inspirou em meus próprios casos para essa narrativa libidinosa. E pensar que fez isso em público, no meio do convés - a Imediata tinha lágrimas de riso escorrendo pelo rosto - Não esperava que tivesse essa capacidade!

— E você presume que eu saberia escrever algo do gênero? Soa mais como algo que você faria.

— Ah sim, concordo! Mas até o cozinheiro se mostrou surpreso pela qualidade da escrita, algo que, infelizmente, eu não saberia fazer nem teria a necessária paciência - Cornélia deu um passo à frente e Lady Elisa por pouco caiu sentada, pois já não sabia como se sustentar nas próprias pernas - Entre duas mulheres, nenhuma delas devia ser mentirosa quando a outra é verdadeira.

Elisa engoliu em seco, por fim sentando-se. Escondeu o rosto nas mãos, tão trêmula quanto as velas ao vento.

— Escrevi no convés porque sabia que nenhum dos marujos tentaria espiar sem saber ler - ela murmurou, em meio a lágrimas - Se eu fosse mais cuidadosa notaria as páginas faltantes.

Agindo contra o que era esperado dela, Cornélia se abaixou na frente de Elisa, afastando de seu rosto as mechas de cabelo que o escondiam.

— Estou orgulhosa - e se ergueu tranquilamente, devolvendo à outra as páginas que estavam em sua posse - Nunca mais minta pra mim.

Elisa, de um suspiro aliviou-se. Cornélia ia abrindo a porta, quase como se nada houvesse acontecido.

— Não conte a ninguém, Cornélia. Por favor!

— E por que eu contaria? - riu ela, olhando por cima do ombro - Estragaria completamente a experiência. E eu até que gostei de saber que você tem imaginação… E que presta atenção nas coisas que eu digo, se atentou bem aos detalhes.

— Cornélia… - Lady Elisa deu uma risadinha, abaixando o rosto e limpando as lágrimas.

— Só mais uma pergunta. - ela apontou o baú - Ele está cheio de escritas desse tipo? Porque eu tenho quase certeza que não te contei tantas coisas assim.

— Oh não! Céus! Eu escrevo… Várias coisas diferentes, mas por favor, não conte à ninguém sobre isso também.

— Não irei! Quero garantir que terei o que ler quando estiver entediada. - e dizendo isso, ela finalmente saiu da cabine de sua dama de companhia.

Cornélia balançou a cabeça negativamente, ainda com um sorriso no rosto, enquanto voltava para o convés.

— Capitão! - a voz de Smee soou e todos, incluindo o próprio Barba Negra, viraram-se para ele - Temos um navio à estibordo.

Cornélia e o capitão foram mais do que rapidamente à borda do navio, olhando em suas respectivas lunetas na direção onde o Segundo Imediato apontou.

— Piratas… - Barba Negra murmurou ao avistar a bandeira da outra embarcação.

— Inimigos. - Cornélia afirmou - E já estão se preparando para o combate.

A ruiva girou nos calcanhares, antes mesmo que abrisse a boca para falar, os marujos que estiveram atentos já começaram a se preparar.

— CANHÕES! - Barba Negra gritou indo em direção à sua cabine para acender os pavios - Cornélia! Smee! Vão tomando conta de tudo enquanto eu me preparo.

— Sim, senhor! - Smee saiu correndo para distribuir as funções.

Killian, que já estava começando a se familiarizar com o sistema do navio, tratou logo de se armar.

— EU QUERO DEZ HOMENS COMIGO NA BORDA, ARMADOS ATÉ OS DENTES, NÓS NÃO VAMOS DEIXAR ELES INVADIREM ESTE NAVIO. - Cornélia instruía enquanto pegava suas armas - EU QUERO O MENOR INTERVALO POSSÍVEL ENTRE OS DISPAROS DE CANHÕES.

— Sim, senhorita! - os marujos a obedeciam prontamente, trabalhando com eficiência, coisa que em situações comuns não acontecia.

Elisa saiu do quarto para ver o que estava acontecendo. Ela tentou ir até Cornélia, mas devido ao tumulto, não fora capaz de sequer conseguir acompanhá-la.

— Lady Elisa, o que está fazendo fora de sua cabine? - Smee questionou impaciente - Vamos entrar em conflito, siga as instruções de Cornélia!

— Mas… Eu… - ela não conseguiu contestar, Smee a empurrou delicadamente de volta para a cabine.

— Esconda-se, menina! - ele alertou ao fechar a porta.

Por um milagre, Barba Negra ficara pronto em tempo recorde e, com a barba fumegando, se juntou aos outros. Cornélia estava à frente do grupo de marujos, portando duas armas de fogo nas mãos e duas espadas nas costas. Killian subiu na borda e agarrou-se em uma corda, já preparado para se jogar no navio inimigo assim que se aproximasse.

— Eles estão preparando os canhões. - ele anunciou ao ver as pequenas escotilhas na lateral da embarcação inimiga se abrindo.

— Pois os nossos já estão prontos. - Cornélia anunciou confiante - FOGO!


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Notas finais do capítulo

Primeiro queremos desejar um ótimo carnaval a todos, se divirtam aí! E não esqueçam de comentar, isso nos estimula bastante. No capítulo anterior estávamos esperando mais participação de vocês, principalmente considerando o final!
Até o próximo! Beijos!



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