Orquídea Vermelha escrita por Mrs Jones, QueenOfVampires


Capítulo 10
You're Not Giving Up On Me, Are You?


Notas iniciais do capítulo

Hello everybody! Retornamos com mais um maravilhoso capítulo para vocês. Nos desculpamos pela demora e agradecemos todos que têm nos acompanhado até aqui. Todo apoio é fundamental, muito obrigada ♥
É isso! Boa leitura e até a próxima!



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Muito foi decidido no caminho para Nova Providência; o Capitão iria caçar e espionar Delilah até conseguir eliminar a ameaça e Lady Elisa iria treinar auto defesa com Killian. Uma vez que já estavam na ilha, devidamente instalados e o pior havia passado, eles prosseguiram com seus propósitos. Barba Negra assentiu em ar de satisfação quando Lady Elisa abriu metade da porta do quarto para deixar à vista a forma como Cornélia fora acomodada. Aquele ambiente era menos propenso a chacoalhões e ataques surpresa, de modo que a Imediata dispunha de tempo e segurança para se curar. 

— Capitão, se me permite, vou deixar Cornélia sozinha por uns instantes enquanto treino com Killian - Lady Elisa se dirigiu ao homem, mesmo notando que o excesso de formalidade com que era tratada indicava que ele ainda estava com raiva. 

O Capitão assentiu, sem necessariamente fitar a moça ou assimilar a informação que ela passou. Com o tempo, haveria de dissolver a raiva que estava sentindo pelo trágico acontecimento com a filha. Não que Elisa fosse totalmente culpada, mas o Barba Negra amava demais a filha para notar que precisava de alguém para culpar. 

Ele se limitou a dar ordens rígidas aos tripulantes antes de se retirar a seus próprios aposentos, onde agora aguardava Smee para uma reunião de urgência. Com Delilah no rastro do Queen Anne’s Revenge, o Capitão pirata necessitava tomar decisões precavidas para sua segurança própria e de Cornélia, bem como a da tripulação. 

— Eu diria que o primeiro passo é encontrá-la, Capitão - falou Smee, diante da afobação de Barba, que bem ia descrevendo a forma com que destroçaria a própria filha quando topasse com ela - Lidar com a inconveniência que ela representa está fora de questão até termos uma pista que seja sobre ela. 

— Smee, sempre consciente. Era de Cornélia que eu precisava nesse momento... aquela pestinha haveria de ter uma boa ideia de como nos colocar na cola dos passos de Delilah.   

— Capitão, um homem com a sua popularidade há de poder comprar informações da pessoa certa, no lugar certo. 

Os dois se entreolharam e disseram em uníssono: 

— Tortuga! 

— Uma boa fonte de informações, de fato, mas não podemos confiar em nossa própria espécie, não? - Barba balançou a cabeça dramaticamente, um ar desesperançado - Ah  não, tem de ser feito sem pretensão de acreditarmos que esses piratas ordinários podem honrar a minha pessoa. 

— Bem, então temos de confiar que uns poucos informantes darão conta. Se o senhor quiser selecionar três ou quatro, darei as ordens para que partam imediatamente. Que se infiltrem em meio a outras tripulações e usem da mesma habilidade sedutora de conquistar prostitutas. 

— Então está feito! E não mencione nada aos restantes, nem mesmo a Jones - Barba atravessou o cômodo energicamente, escancarando a porta - Eu tratarei de investigar um a um, para me certificar de que não há entre nós um espião. 

 

Enquanto isso, Killian levara Lady Elisa para uma praia à oeste da Torre, onde não seriam interrompidos ou surpreendidos por ninguém. A jovem parecia ansiosa, não parava de remexer as mãos e agarrar no tecido do próprio vestido enquanto observava Killian arrastar um baú com espadas.

— Certo… - ele abriu o baú e se colocou ao lado dele, encarando Elisa - Você pode escolher uma.

— Oh, sim. - ela caminhou apressada, hesitando ao ver o monte de lâminas amontoadas, ela tentou pegar uma, soltando gritinhos toda vez que sequer encostava nas outras - Oh, céus! Eu… Ela está presa! Meu Deus, não me deixe perder a mão! 

— Com licença. - Killian puxou uma das espadas sem qualquer cerimônia e a entregou nas mãos dela.

Elisa segurou no cabo da espada como se estivesse tocando numa bolha e o peso levou a lâmina direto para a areia, quase acertando seu pé. Ela olhou para Killian como se pedisse por socorro e ele estava com uma expressão de frustração.

— Você não vai desistir de mim, vai? - ela indagou quase implorando.

— Claro que não! - ele respondeu rapidamente - Mas preciso te ensinar a segurar uma espada ou você vai perder uma parte do corpo antes mesmo de começarmos.

— Talvez se a espada fosse menor ou menos pesada…

Killian avaliou a sugestão e procurou no amontoado alguma espada que fosse mais adequada ao porte de Lady Elisa e achou que uma espada rapieira deveria ser suficiente para iniciar o treinamento por ser mais fina e leve.

— Que interessante… - ela analisou o cabo bem ornamentado e delicado - Por que nunca os vejo usando uma dessas?

— Porque, bom, ela não é muito eficiente para degolar alguém ou cortar uma mão… Se necessário, claro.

— Oh. - foi só o que ela disse por fim.

Finalmente Killian começou a explicar o básico. Desde a melhor posição para se iniciar uma luta, até como se defender de ataques fatais. Elisa estava pegando a teoria muito bem, achando até fácil na verdade.

— Pois bem! - ele se colocou na frente dela - Eu vou atacar e você tenta se defender, certo?

— O quê? Agora? - ela arregalou os olhos.

— É, agora.

Ela ficou na posição inicial, um pouco ansiosa e Killian investiu contra ela sem agressividade, porém com precisão. Em desespero, Elisa agarrou o cabo da espada com as duas mãos e a brandiu para frente em pânico enquanto gritava, o Jones a bloqueou sem o menor dos problemas.

— Mas o que foi isso, Elisa? - ele questionou.

— Me desesperei! Como eu ia saber como me defender se eu não sei o que você vai fazer? Como é que alguém consegue se defender se o ataque pode vir de qualquer lado? - ela começou a andar de um lado para o outro - E se eu não tiver força suficiente para bloquear um ataque e alguém partir meu crânio?

— Elisa, pare! - ele ergueu uma mão - Certo, vamos sem as espadas agora.

Killian fincou a sua na areia e tirou a dela de suas mãos e a jogou para o lado.

— Mas…

— Olhe nos meus olhos. - ele a interrompeu - Eu vou tentar tocar em você e você vai me impedir sem olhar para minhas mãos, tudo bem?

Ela assentiu um pouco desconfortável. Ele começou a andar lentamente ao redor dela e toda vez que estirava a mão para tocá-la, Elisa dava um tapa. A medida que ele sentia que ela estava ganhando confiança no exercício, foi andando mais rápido e mais ágil, ele só parou quando, por instinto, Elisa deu um tapa em seu rosto.

— Meu Deus, me desculpe! - ela colocou a mão sobre a boca - Killian, me perdoe.

— Tudo bem! - ele riu - Definitivamente precisamos trabalhar sua força, mas você é rápida, o que é bom. Conseguiu entender o que fizemos aqui?

— Eu entendi que eu consigo notar suas intenções sem necessariamente olhar para suas mãos, mas não sei se isso se aplica a quando meu oponente estiver segurando uma espada que pode me degolar. - ela apontou a lâmina no chão.

— É claro que se aplica. Você logo verá que a espada é uma extensão do seu braço, você vai movimentar todo o corpo para movimentá-la, assim como qualquer um que lute. E assim você vai conseguir notar de onde vem os ataques.

— Entendi… - ela respondeu sem muita segurança.

— Bom, acho que vamos parar por hoje.

— Já?!

— É, eu preciso cozinhar para a tripulação e você precisa… Fazer o que sempre faz. Mas não se preocupe, amanhã nós treinaremos de novo.

E assim, os dias se passavam e Lady Elisa se via num caminho entre absorver informações e se frustrar com a prática.

— Use o ambiente ao seu redor, Elisa. - Killian chutou a areia da praia em demonstração - Diminua a vantagem do oponente, faça com que ele se derrote.

— Ora! Pra você é fácil falar! Não precisa carregar o peso de cinco camadas de saia! - ela resmungou puxando o tecido de seu vestido e quase caindo de cara no chão ao tentar repetir o gesto dele.

— Quem sabe se você diminuísse a quantidade de saias…

— Eu concordei em aprender a lutar! Mas eu não vou diminuir a minha feminilidade para isso! - ela colocou a mão na cintura.

Killian apenas ergueu as mãos em redenção e continuou a dar instruções.

Lentamente, a situação de Cornélia melhorava. Porém, num ritmo que não agradava a ninguém. Era como se ela desse dois passos para frente e um para trás todos os dias, passava algumas horas consciente, porém reclamando de dores, e outras apagada e sossegada.

— Essa agonia parece não ter fim, Smee… - o capitão sussurrou sentado ao lado da filha - É de partir o coração vê-la desse jeito.

— Ela vai ficar bem, senhor. - Smee falou suavemente - Cornélia é teimosa demais até para se curar.

Barba Negra suspirou pesadamente, não estava em seus melhores dias e se sentia esgotado demais até para reagir. Se ao menos seus informantes tivessem voltado com notícias de Delilah, mas nem isso ele tinha.

A única coisa que ia de vento em poupa era o treinamento de Lady Elisa, que depois de algumas semanas resolveu ceder às sugestões de seu mestre. Certa tarde, ela apareceu na praia usando um vestido simples, que não tinha camadas de tecido a deixando parecer com uma torta ambulante, e sapatos mais baixos.

— A simplicidade lhe cai bem, senhorita. - Killian elogiou enquanto ela se aproximava envergonhada.

— Não fale sobre isso à ninguém! Eu só estou assim enquanto aprendo, não pense que passarei o resto da minha vida no navio me vestindo feito uma… Mendiga enlouquecida.

— Talvez queira prender os cabelos também… - ele começou a falar, mas logo recebeu um olhar gélido da moça - Não? Tudo bem, sem exageros.

Ele lhe passou a espada e começaram a treinar a postura de defesa e ataque, o que era até fácil para Lady Elisa, considerando que ela tinha a postura de uma bailarina.

— Nunca fique com as pernas retas, sempre paralelas ao quadril, ou você vai desequilibrar. E quando estiver no meio da ação, certifique de manter o apoio em sua perna mais forte.

— E como eu sei qual é?

Killian fez menção de ir para cima dela e Elisa deu um passo para trás com a perna direita.

— Essa aí mesmo. - ele ergueu uma sobrancelha - Eu acho que a senhorita já está quase pronta para uma luta de verdade.

— O quê? Mas eu mal consigo me defender, você ainda não me treinou para isso.

— É claro que treinei! 

— Não...

Ele não deixou que ela prosseguisse, avançou em sua direção com a espada e a jovem o bloqueou, desviando o corpo da linha de ataque rapidamente. Surpresa com a própria manobra, Elisa esboçou um sorriso e Killian investiu contra ela novamente.

Tomada por uma recém descoberta confiança, Elisa conseguiu desviar e bloquear todos os golpes com uma elegância jamais vista.

— Viu só? Eu disse que treinei…

— Mas… Eu nunca ergui a espada direito esse tempo todo. Pra mim nós estávamos aprendendo a dançar, não a lutar.

— É quase a mesma coisa. - ele riu - E em breve você estará pronta para atacar.

Tentando conter a animação, ela apenas sorriu.

Naquela noite, assim como em todas durante o último mês, Elisa estava cuidando de Cornélia, a mantendo limpa, apresentável e fazendo de tudo para que se curasse logo. Enquanto trocava seus curativos, Elisa sempre conversava na esperança de que a ruiva a mandasse calar a boca, o que seria um sinal de que estava voltando ao normal.

— Você precisa se recuperar logo, senhorita. Mais do que nunca acho que deve se casar com Killian… - ela deu um meio sorriso - Nem mesmo a senhorita pode alegar que ele não é uma boa pessoa, ou um homem digno, pois tem me ajudado bastante.

Elisa fitou o rosto de Cornélia, mas não havia nenhuma reação, então ela continuou substituindo as faixas ao redor do tronco da ruiva.

— Imagino que quando souber o que estou fazendo vá rir de mim, ou querer me desafiar. E sinceramente… Eu mal posso esperar por isso. - Elisa engoliu o nó em sua garganta - Cornélia, você poderia deixar de ser cabeça dura só uma vez na vida e fazer o favor de se curar de uma vez?

Vendo que não seria daquela vez que receberia uma resposta, Elisa juntou as coisas e saiu do quarto da ruiva. Ela se deparou com Jones encostado na parede do corredor de braços cruzados.

— Como ela está?

— Do mesmo jeito. - ela suspirou - A cicatrização está tão lenta que parece quase imperceptível. Provavelmente a ferida infeccionou e está tão fraca que mal se mantém acordada para se alimentar… Tem febre o tempo todo… Eu não sei por quanto tempo ela terá forças para se manter viva.

— Me perdoe a expressão, mas vaso ruim não quebra facilmente. Cornélia ainda vai dar muito trabalho para todos nós. - ele colocou uma mão em seu ombro e lhe lançou um olhar tranquilizador - Vá descansar, você anda sobrecarregada com tudo que vem acontecendo.

— É difícil não querer compensar o que eu fiz, Killian. Cornélia, o capitão, o navio… Eles são tudo que eu tenho! E eu posso ter colocado a perder por uma atitude estúpida.

— Não pense muito nisso, Elisa. Anda, vai descansar, eu vou ficar de olho na ruiva… Quem sabe com a minha presença ela acorde com a força do ódio.

E com uma risada fraca, Elisa seguiu seu caminho e Killian entrou no quarto de Cornélia. Ela estava respirando pesadamente, com uma expressão serena no rosto. Ele puxou um pequeno banco até o lado da cama e se sentou, apoiando os cotovelos no joelho e apoiando o queixo em uma das mãos para observá-la.

— Vamos lá, ruiva… Não me faça te beijar novamente. - ele murmurou.

Obviamente, Cornélia não mexeu um músculo sequer. Ele passou uns bons minutos só a observando, estava ficando apreensivo com paralisação da moça, era quase impossível de imaginar que ela fosse capaz de ficar tão inerte assim. 

Killian segurou uma das mãos dela, que estava em chamas devido a febre e abaixou a cabeça.

— Não… Me toque… - a voz quase inaudível de Cornélia o fez dar um pulo de susto.

— Eu não acredito! Você acordou só para brigar comigo! - ele franziu o cenho - É impressionante.

Killian saltou de  seu lugar e pegou o prato de sopa que estava sempre a postos no criado mudo e um copo de água e levou até ela. Cornélia tinha uma expressão de dor no rosto e tão logo o viu se aproximar novamente e desviou o rosto.

— Não…

— Senhorita, todos temos ordem de tentar alimentá-la toda vez que estiver acordada, do contrário irá morrer.

— Você...Vai morrer… - ela respirou fundo - Se tentar se aproximar de mim.

— Eu adoraria vê-la tentar. - ele enfiou a colher de sopa na boca dela, quase fazendo a jovem se engasgar - Quem sabe depois que conseguir se manter de pé.

— Pare… - ela resmungou com a voz rouca, ergueu o braço debilmente em direção ao colarinho da camisa dele mas não teve forças para segurar - Seu verme.

Killian ignorou completamente todas as tentativas patéticas da ruiva de se livrar dele, depois de fazê-la engolir metade do prato de sopa aos prantos e tomar um terço do copo de água, ela começou a choramingar e ele parou.

— Está sentindo dor? 

— É claro! Seu idiota! - Cornélia estava com o maxilar travado - Há quanto tempo eu estou aqui… e o que está acontecendo comigo?

— Bom… - ele sentou novamente ao seu lado - Cerca de um mês… E suas feridas não melhoram.

— Inúteis… - ela encarou o teto, estava respirando rapidamente - Eu preciso de um favor, cozinheiro.

— Claro.

— Existe uma estufa na floresta atrás da Torre… Alguns minutos pela trilha… - ela voltou seu olhar para Killian - Você precisa pegar duas flores. Uma é amarelo-alaranjado, com pétalas fininhas…

— Mas o quê?

— PRESTE ATENÇÃO! - ela praticamente rosnou - Porque se depender de vocês, idiotas limitados, eu nunca vou sair dessa cama! Você vai sair pelos fundos da torre e seguir a trilha até uma estufa e não vai falar nada com ninguém. Vai pegar a flor amarelo-alaranjado com pétalas finas e outra é tipo uma vitória régia em miniatura…

— O que é uma vitória régia? - Killian estava confuso e começando a achar que Cornélia estava delirando.

— É tipo um coentro redondo! - ela falou impaciente - Você vai usar essa para fazer um chá pra mim e a outra para fazer uma pomada para minhas feridas.

— Certo… - ele assentiu - Coentro redondo para o chá e flor amarela para as feridas… Isso deveria fazer algum sentido?

— Killian! Eu estou sentindo uma dor absurda, meu corpo está queimando em febre… - ela murmurou exausta, deixando sua cabeça cair novamente no travesseiro - E ninguém aqui tem conhecimento para fazer isso...

E Cornélia apagou mais uma vez. Killian tentou sacudir seu ombro mas de nada adiantou.

 

Quando a noite caiu e a tripulação de piratas começou a se recolher dos afazeres diários, Killian se esgueirou por trás da torre, tendo o cuidado de não ficar na vista do Capitão e demais colegas quando passou pela farra que faziam à mesa. Lady Elisa já o aguardava, impaciente, afastando com as mãos um rodopio de mosquitos ao redor do lampião que carregava. 

— Ora, até que enfim! - exclamou ela, afetada - Pensei que teria de esperá-lo por mais meia hora ao relento. 

Ele revirou os olhos, por fim levando o chilique da moça na esportiva. 

— Bem, não é minha culpa se o Capitão faz exigências demais em um curto espaço de tempo. Além do mais, eu precisei me esgueirar sem que me vissem. Vamos? 

— Ainda não compreendi muito bem o que Cornélia tinha em mente quando nos enviou nessa expedição - Elisa permitiu que o homem fosse à frente, como se esperando que ele fosse defendê-la de algum animal assustador que pudesse saltar da vegetação espessa - Eu quero dizer, como ela pode ter conhecimentos desse tipo? Nunca imaginei que ela gostasse de plantas. 

— São melhores que pessoas, se você pensar bem. Em todo caso, não tenho certeza de que ela estava completamente consciente quando me deu ordens expressas de colher uma flor amarela e uma coisa parecida com uma vitória régia. 

— Vitória régia? Bom, isso eu sei o que é, não deve ser difícil encontrar algo semelhante… Mas e se por acaso Cornélia não estiver muito sã e isso acabar a matando? Jamais soube de uma flor amarela para chá. Não devíamos consultar o Capitão antes? Eu não vou me arriscar a matá-la outra vez…  

Elisa terminou a última frase com um tom de urgência que combinava muito bem com os seus olhos arregalados. Ela quase parecia imaginar que algo de muito ruim fosse acontecer a eles no meio daquela pequena selva. Jamais notara aquela vegetação densa antes e não imaginava porque Cornélia saberia onde encontrar plantas num ambiente tão desfavorável a coisas tão delicadas como as flores. Quando disse isso a Killian, ele abanou a cabeça. 

— Ninguém nunca sabe o que virá de Cornélia, então… Presumo que ela encontrou esse lugar por acidente...apesar de ter se referido como estufa. 

— Bom, uma estufa é feita para plantas, não? 

Os dois pararam em meio ao caminho, entreolhando-se embabascados. 

— VOCÊ ACHA QUE CORNÉLIA FEZ ESSA ESTUFA? - gritaram ao mesmo tempo, apenas para cair na gargalhada logo em seguida. 

— Malditos mosquitos! - Elisa resmungou, adiantando-se pela trilha, movida pela curiosidade - Deus do céu, não pode ser o que estamos pensando… Cornélia cuidando de plantas em uma estufa… 

— Na verdade, é bem possível - Killian trazia a espada com a lâmina apoiada ao ombro, pronto para atacar qualquer coisa que se movesse - São extremos, se você pensar bem… Uma moça com aquele porte agressivo cuidando de coisas tão delicadas… Jesus… 

Elisa girou o pescoço para olhá-lo, notando seu tom de voz suspirado. 

— Você parece estar precisando de um leque para abanar-se, companheiro - riu ela, fazendo o rapaz enrubescer - Suponho que essa imagem mental que fez de Cornélia não vai abandoná-lo tão cedo. 

— Bom, ela não é mesmo uma mulher facilmente esquecida… 

— MAS O QUÊ? - Elisa berrou tão alto que teve a impressão de que poderiam ouvi-la da torre. Killian estacou atrás dela, seu queixo caindo junto à lâmina da espada, que ele largou no chão ao se adiantar - Killian, oh, Killian… Ela realmente… Você acha que ela ergueu todas essas paredes sozinha?! 

— Estamos falando de Cornélia, Elisa… - o cozinheiro girava em torno do próprio eixo, admirando tudo o que havia para ser visto: uma profusão de cheiro,  cores, mudas e canteiros das mais variadas espécies de plantas - Veja, orquídeas! 

Ele apontara para as dezenas de orquídeas de diferentes espécies que tremulavam ao vento como que saudando-os à sua casa. Algumas cresciam na vertical em vasos, outras viviam retorcidas em troncos. Elisa correra a um agrupamento de orquídeas que a atraíram pela intensidade da cor vermelha. 

— Rubras como os cabelos de Cornélia… Bem, acho que enfim não a conheço tão bem quanto imaginei. 

— A flor amarela! Ah, calêndula, claro! Como não pensei nisso? - ele se abaixou junto ao vaso da flor, erguendo a mão para a pequena adaga que trazia à cintura. Cortou junto ao caule a quantidade que julgava suficiente para produção da pomada - Bem, ela não me orientou como deveria… Como, afinal, se faz uma pomada? 

— Suponho que você deva adicionar outros ingredientes… Que tal aloe vera? 

— Ótimo! Muito bem, Elisa. 

Ela sorriu com satisfação, enrubescendo um pouco ante ao elogio. 

— Veja, isso se parece com uma vitória régia - apontou para um amontoamento de pequenas plantas verdes de folha arredondada. Abaixou-se para colhê-las enquanto Killian enfiava num saco de estopa a calêndula e um pedaço de aloe vera que encontrara crescendo junto à parede de bambu. 

Deram uma última olhada no espaço, por fim julgando conveniente retornarem à torre antes que o Capitão ou qualquer dos homens desse pela falta de ambos. 

— Killian, isto vai ser um segredo, não é? 

O cozinheiro fez um gesto brando com a cabeça. 

— Supondo que Cornélia não gostaria que todos soubessem de sua pequena plantação… sim! - ele sorriu largamente - A fim de conveniência, posso usar isso contra ela quando se recuperar. 

Prontamente eles voltaram à torre, boa parte da tripulação estava recolhida, o Capitão e Smee deveriam estar em reunião e ninguém apareceu de surpresa no caminho deles. Killian preparou tanto a pomada quanto o chá eficientemente, tomando cuidado para que as plantas não perdessem as propriedades no processo. Lady Elisa o observava com muito interesse, pois era algo diferente do habitual, quase como ver um feiticeiro preparando poções.

— Eu espero que tenhamos pego tudo certo… - ela comentou, um pouco ansiosa, preparando a bandeja com o chá.

— Agora que eu sei do que ela falava, estou mais confiante. - ele explicou enquanto organizava a cozinha para sumir com os indícios das flores - Ela realmente entende de plantas, mesmo em momentos conturbados, acredito que seja uma verdadeira paixão.

— Ainda estou em choque com isso! - Elisa ergueu as sobrancelhas - Mas Cornélia é realmente surpreendente.

Ambos subiram rapidamente até o quarto da Primeira Imediata, Killian foi na frente para verificar se havia alguém pelos corredores e Elisa logo em seguida carregando a bandeja. O jovem ficou de fora, aguardando enquanto a moça aplicava as substâncias.

Elisa repetiu o processo da troca de curativos, dessa vez acrescentando a pomada por baixo das bandagens.

— Cornélia… - ela sussurrou - Você precisa acordar para tomar o chá…

A ruiva resmungou, abrindo os olhos levemente, sua respiração se acelerou assim como acontecia toda vez em que ela despertava.

— Elisa? - ela falou quase sem emitir som.

— Não se esforce! - Lady Elisa engoliu em seco, emocionada por ver a moça acordada, ela ergueu a cabeça de Cornélia e a ajudou a tomar alguns goles.

A cabeça da ruiva caiu no travesseiro após ela tomar metade do chá e ela adormeceu novamente. Elisa suspirou, recolheu a louça e saiu do quarto.

Killian estava impaciente, de braços cruzados, andando de um lado a outro no corredor. Assim que viu a moça saindo, foi diretamente à ela.

— E então?

— Ela tomou metade da xícara, mas eu consegui aplicar a pomada… Ainda sobrou um pouco, espero que as doses sejam suficientes. - Elisa deu de ombros.

— Pelo meu conhecimento, em três dias de uso contínuo ela já vai apresentar melhoras. - ele assentiu - E isso é tudo que podemos fazer por hoje.

— Tudo bem. - ela suspirou - Eu vou me recolher…

— Ótima ideia! Amanhã podemos treinar durante o amanhecer! - ele sugeriu animadamente.

— Me parece bom. - Elisa sorriu.

— Então, boa noite, Lady Elisa. - ele pegou a bandeja e se virou para retornar à cozinha.

— Ah, Killian! - ela o chamou - Hum… Eu estive pensando… Bom, eu nunca poderei agradecer o esforço que tem feito por mim, não tenho muito que oferecer em troca… Mas considerando as poucas qualidades diferenciadas que tenho, pensei em te oferecer aulas de leitura…

— A senhorita quer me ensinar a ler? - ele franziu o cenho.

— Sim. Você é muito inteligente e imagino que aprenderia rápido. Sem falar que isso só aumentaria sua experiência com… Bem, com tudo. Existem livros sobre tudo! E também tenho certeza que surpreenderia Cornélia.

— Nossa, eu adoraria! - ele sorriu surpreso - Muito obrigado, Elisa.

— Ótimo! - ela retribuiu o sorriso - Então espadas pela manhã e livros pela tarde!

— Feito. - ele assentiu novamente e retomou seu caminho.


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Notas finais do capítulo

O que dizer dessa brotheragem entre Killian e Elisa? E o que será de Cornélia? Essas são respostas para os próximos capítulos.
Aguardamos feedback! Beijos ♥



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