Orquídea Vermelha escrita por Mrs Jones, QueenOfVampires


Capítulo 7
I'll Need More Paper


Notas iniciais do capítulo

Hey, pessoas! Mais um capítulo para vocês... E que capítulo hein? Muitas emoções à frente! Esperamos que gostem, boa leitura!



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Seguindo a pauta do Capitão, a tripulação do Queen Anne’s Revenge pernoitou na Ilhota de Burterre para que se prosseguisse a substituição do mastro danificado. Aos marujos foi permitida uma noite de arruaça, enquanto Lady Elisa mais uma vez se enclausurara em seus aposentos com seu infindável tricô.  Cornélia, por sua vez, irritada demais para até mesmo cogitar sair em busca de um amante, permaneceu no navio, roncando. Killian Jones não saíra com os marujos, ele mesmo, optando por recolher-se a sua rede no deque acima do porão.

Raiando o dia, Barba Negra retornou acompanhado de Smee, incrivelmente sóbrio. Cornélia já iniciara os trabalhos do dia, bem antes da sete da manhã, quando os marujos começaram a se arrastar em direção ao navio.

— Cornélia! - exclamou Barba com um bocejo, uma garrafa pendendo de sua mão - Mal raiou o sol e já se encontra de pé? Por Deus, permita-se acordar após as sete, não sou funcional pela manhã.

— Não é minha a culpa se passou a noite toda desperto - retrucou ela calmamente, sem dirigir ao seu pai o olhar - Já despertei o cozinheiro, trate de apressar o seu pessoal, quero esse mastro finalizado em duas horas.

— Senhorita, não é prudente se apressar - opinou Smee, achando que a colocação do mastro levaria bem mais de duas horas - Os homens ainda estão sonolentos, convém sermos cautelosos.

— É impressão minha ou estamos apressados? - questionou Barba, a cara inchada devido à bebedeira e o sono escasso - Estamos apressados, Smee?

— Ah não, Capitão, temos tempo! - e o Imediato se voltou para Cornélia, em ar desafiante - Temos tempo!

— Não temos não! E, de fato, eu não considero oportuno arrastar a nossa estadia nessa Ilhota. Tão logo repararmos o mastro zarparemos. Fortuna e sucesso se constroem com esforço e afinco, talvez seja por isso que o maneta achou conveniente parasitar a fortuna de outros - e, dizendo isso, a ruiva lançou ao pai um olhar significativo, afastando-se antes mesmo de ele ter tempo para réplica.

Killian Jones ia se arrastando na tarefa de requentar a comida do dia anterior para o desjejum. Em determinado momento, cochilou recostado aos barris de rum, acordando de rompante com a entrada do furacão Cornélia.

— Cozinheiro! - bradou ela, irritada ao notar que sequer metade da refeição estava pronta -  Mas o que foi que eu fiz para merecer subordinados como você? Se ao menos o fabuloso Barba Negra fosse tão firme e impiedoso quanto se gaba de ser, vocês, vermes preguiçosos, aprenderiam a ser produtivos.

Ele ia dizer que sua sonolência se devia ao fato de ter sido acordado antes da hora. Meia hora antes, Cornélia berrara em seu ouvido com potência suficiente para derrubá-lo da rede, fato que muito o irritara, para além de atordoar sua cabeça. No entanto, julgou prudente permanecer calado, uma vez que a Primeira Imediata retornara do convés com as narinas dilatadas.

— Faça uma mistura para manter esses miseráveis sóbrios e não ouse cair no sono outra vez, ou o pendurarei pelo gancho sobre os tubarões.

Killian estremeceu, levando a ameaça com seriedade. Antes que Cornélia deixasse a cozinha, porém, ousou perguntar-lhe o que julgava adequado servir aos marujos para curar a ressaca.

— Gengibre, alho, alecrim! Será que eu tenho de ensinar tudo? Eu devia orquestrar sozinha esse navio, nunca precisei de homens para coisa alguma!

E saiu marchando, sua cabeleira eriçada às suas costas.

Passados poucos minutos, Lady Elisa se juntou ao restante da tripulação para o desjejum. Mais da metade dos homens se encontrava pálida, com horrorosas olheiras formando vincos profundos nos olhos. Bem, a jovem não estava muito distante disso, ela mesma.

— Ah não, perdi o sono... - ela respondeu, quando Barba Negra lhe perguntou se ela virara a noite tricotando.

— Outra vez, Elisa? Ora, logo você que vive rezando - é claro, Cornélia exibia um ar de desconfiança - O seu Deus devia poupá-la dos pesadelos, não acha?

E a jovem apenas assentiu, evitando prosseguir a conversa. Um marujo veio carregando um caldeirão, que depositou no centro da mesa. Os tripulantes torceram o nariz para a mistura que se encontrava no mesmo, já sabendo do que se tratava. Não era incomum que o falecido Floyd lhes preparasse um tônico para sobriedade.

— Tomem logo! Encham o caneco! Quero aquele mastro de pé em duas horas!

— Cornélia… - o Capitão fez careta, recusando a mistura - Que azucrinação!

— Vamos! - ela insistiu, enfiando a mistura sob o nariz do pai, de modo a obrigá-lo a beber - Cozinheiro, esse é seu copo!

Killian foi surpreendido ao trazer a comida. Pela mesa, os marujos enrolavam em tomar a mistura, bebericando aos pouquinhos com caretas.

— E por que é que tenho de beber? - o cozinheiro se afetou - Não deixei o navio ontem à noite. Estou bastante sóbrio!

— Sirva de exemplo! - e, chocados, Barba Negra, Lady Elisa e Smee assistiram a ruiva forçar a mistura ao cozinheiro, que por pouco vomitou após uma série de caretas - Mas que frouxo! Hum, a de Floyd era mais forte…

— Se a de Floyd era mais forte, creio que a senhorita aguenta bem essa, então… - num movimento veloz, Killian prendeu os braços de Cornélia em suas costas, a imobilizando.

— NÃO OUSE! ME LARGU...

Killian virou o copo que pegou da mão de um dos marujos direto na boca da Primeira Imediata, que engoliu aos engasgos a mistura.

Todos os presentes se calaram imediatamente, nunca viram alguém rebater qualquer provocação ou agressão de Cornélia daquele jeito. A mesma estava estupefaça com a ousadia do cozinheiro, ele a largou e ela se debruçou na mesa tossindo e o encarando com um ódio que parecia a queimar por dentro. Killian tinha um meio sorriso estampado no rosto, ele realmente se divertira com a pequena vingança.

Todos olhavam de Cornélia para Killian como suricatos curiosos, esperando quem faria o próximo movimento, nervosos e temendo pela vida do rapaz. Barba Negra já estava se doendo pela perda de mais um pretendente, Lady Elisa tinha certeza que Cornélia o jogaria no mar, isso se não o cortasse em pedaços ali mesmo.

Então, rápida como um gato, a ruiva girou o corpo para pegar impulso e acertou um chute certeiro na cara do homem, arrancando um coro de “Uh” da tripulação. Killian cambaleou para o lado urrando de dor, segurando o próprio nariz, que certamente quebrara pois estava jorrando sangue, e Cornélia marchou em direção à sua cabine sem dizer mais nenhuma palavra.

Diante da ação inesperada, os marujos voltaram a comer naturalmente, alguns decepcionados pela falta de ação e outros surpresos. Lady Elisa correu para socorrer Killian à mando do Capitão.

— Mas o que é que tem na cabeça? - ela perguntou, em desaprovação, conforme continha o sangramento com um pedaço de pano rasgado - Desafiar Cornélia dessa maneira, em frente à toda a tripulação. Você está pedindo para morrer.

— Alguém tem de descer ao nível dela, não? - ele deu de ombros, a camisa empapada de sangue - Ela precisava de uma lição, simplesmente não pude me colocar em posição subalterna, me deixando ser humilhado.

— E fez muito bem, meu caro! - Barba Negra sorriu em satisfação, dando tapinhas no ombro do cozinheiro sem medir sua força - Se ao menos eu tivesse sido mais autoritário… Vê-se que não fui um pai muito enérgico, permiti que Cornélia se transformasse em uma besta incontrolável. Bem se vê que o jovem Killian dará conta do serviço, não é, Elisa?

E, diante do muxoxo de concordância da jovem senhorita, o dia transcorreu sem mais escândalos.

 

Possuída de raiva de Killian, Cornélia decidiu o ignorar o restante do dia, de modo que direcionou toda sua energia em gritar com os marujos para que adiantassem o serviço. Tão logo a tarde findou e o navio já estava pronto para seguir viagem. E como o mar estava tranquilo, não precisava de muito esforço para manter a embarcação no rumo, de modo que a tripulação tinha seu merecido descanso, assim como o Capitão que não fizera nada o dia todo, mas ainda assim se sentia esgotado e por isso fora dormir cedo.

A ruiva estava apoiada na borda do convés, observando a noite estrelada que se formava, sem uma nuvem sequer, tão serena que parecia uma pintura.

— Senhorita, vou me recolher. Precisa de mais alguma coisa? - Lady Elisa perguntou, se aproximando de Cornélia.

— Não, obrigada. - ela respondeu simplesmente - Boa noite, Elisa.

Lady Elisa foi em direção à sua cabine, encolhida em seu xale por causa do vento frio. Ela trancou a porta atrás de si e encarou o infindável tricô que estava em cima de sua cama e torceu o nariz para ele, o jogando para o lado de qualquer jeito. Ela se abaixou e puxou um baú que estava debaixo de sua cama, era bem antigo, resultado de algum saqueamento feito pela tripulação, Elisa enfiou a mão embaixo do colchão e de lá puxou a chave do mesmo.

Abriu o baú, que continua inúmeras folhas de papel escritas, algumas agrupadas e presas por algum tipo de barbante. Ela as tirou cuidadosamente para que não amassassem e pegou as folhas em branco no final do baú, junto com uma pena e um pequeno pote de tinta. Visto que ela não tinha uma mesa no quarto, afinal, para quê uma dama usaria uma mesa? Elisa fechou o baú e o usou de apoio para seus papéis.

— Vamos ver o que sai hoje… - molhou a pena cuidadosamente - Quem sabe alguma coisa mitológica, como deuses… Universos onde tudo é feito com metal...

Lady Elisa começou a escrever a medida que sua imaginação ditava as palavras, descrições de mundos surreais preenchiam boa parte das folhas que se encontravam trancafiadas no baú, assim como, graças às narrações inconvenientemente detalhadas de Cornélia, diversos contos eróticos.

A vida que Elisa tivera no convento fora regada de opressão, se não fosse o fato da Bíblia existir, ela não poderia ter aprendido a ler ou escrever, as freiras não permitiam que ela lesse algo que não fosse o Livro Sagrado ou os folhetos das missas. Mas mesmo assim ela o fazia escondida, achava os mundos fictícios encantadores, tanta leitura acabara por aguçar a mente da jovem, a deixando cheia de ideias. Como o acervo, não só no convento mas dentro do navio também, era escasso, ela não viu outra opção senão começar a escrever suas próprias ficções. Escondida, é claro.

O que pensariam de uma dama escrevendo baboseiras irreais e fantasiosas, ou as perversões que escapavam de sua mente às vezes? Ela tremia só de pensar na possibilidade. Por isso passava várias noites em claro, colocando toda a inspiração no papel, fingindo que estava tricotando um lençol horroroso que a mesma já começara a odiar de tanto que o arrastava para cima e para baixo.

— Hum… Vou precisar de mais papel… - ela olhou para o lado e constatou que seu estoque estava acabando, precisaria pegar mais na próxima vila onde aportassem - Não posso perder a ideia do universo de metal...

Enquanto escrevia, ela gostava de conversar consigo mesma e repetir diálogos em voz alta para constatar se funcionavam.




Dia após dia e os ânimos no navio não eram dos melhores. Após zarpar de Burterre, o Queen Anne’s navegou sem ancorar, fato que incomodava não apenas os superiores na hierarquia da tripulação, mas também Lady Elisa - que já findara seu suprimento de papeis - e Killian - que não sabia mais com o que alimentar os colegas.

Barba Negra apenas ancorava quando tinha os porões cheios de mercadoria para troca ou venda. Infelizmente, desde a venda do açúcar em Burterre, não toparam com uma embarcação sequer que pudessem saquear. Outros capitães piratas passaram amistosamente pelo navio de Barba, mas saquear seus iguais era um ato infame, para além de covardia ingrata: se Barba Negra era um grande pirata, devia muito de sua fortuna aos colegas piratas que, direta ou indiretamente, o haviam ajudado.

— Não seria mais fácil aportar em uma vila qualquer e comprar provisões? - questionara Elisa, abanando-se como quem está acostumada a receber as coisas sem fazer esforço.

— E chegar de mãos abanando?! - exclamara Barba, sempre em tom exagerado - Ah não, Elisa, que humilhante seria!

— Capitão, em breve o cozinheiro nos alimentará com lascas de assoalho…

Como o mar não estivesse propício à pesca, em breve os últimos resquícios de carne não passariam de ossos roídos.

— Bom, não permitirei que cheguemos a essa situação - ele coçara a cabeça, pensativo - Não me resta muita solução, então. SMEEEE!

— Capitão?

— Smee, meu caro amigo, não resta outra escolha. Teremos de saquear uma vila.

— Capitão! - Lady Elisa se chocara, juntando as mãos por cima da boca - Que covardia!

— Já que prefere as lascas de assoalho, Elisa, pedirei ao cozinheiro que retire as tábuas velhas do porão - Cornélia, que escutava a conversa do leme, se intrometeu - Capitão, a vila mais próxima está umas 30 milhas para oeste. Convém preparar os lerdos para o ataque.

Os lerdos, é claro, eram os marujos. Vinham fazendo corpo mole desde que se tornara mais escassa a comida. Óbvio, Cornélia estivera irritada com tal comportamento, fato que tornavam propícias as suas explosões de humor. Desde a afronta de Jones em forçá-la a tomar a mistura para ressaca, ela o maltratava sempre que possível, berrando com ele e criticando até mesmo os menores deslizes do cozinheiro. Agora, com as provisões em falta, ela o acusava de não ter regrado bem as porções.

— Saquear inocentes, o que você acha? - Elisa perguntava a Killian, que estava às voltas com as panelas vazias.

— Acho uma medida desesperada que nos salvará da azucrinação de Cornélia. Não fosse o mau temperamento, eu diria que ela se virou num diabo por estar faminta.

— Pobre Killian - riu-se Elisa - Eu disse que não era prudente enfrentar Cornélia.

— Berros e críticas não me abatem, sabe. Ela tem de se esforçar mais se quiser me colocar para correr.

Faminta ou não, Cornélia se encontrava enérgica como sempre. Gritando ordens pelo convés, logo adentrou a cozinha, berrando e ecoando sua voz zangada pelas paredes.

— O que está fazendo, cozinheiro? Não me ouviu dar ordens de preparação para o saque? Deixe as panelas! Apanhe uma espada ou o que quer que saiba manejar sem arrancar o próprio olho. Elisa, saia do caminho! Vá se enfurnar na sua casa de boneca e não nos atrapalhe.

Atendendo às ordens, ambos Killian e Elisa deixaram a cozinha, com Cornélia em seus calcanhares.

Ao cair da noite, alcançaram o porto de uma vilazinha minúscula, construída ao pé das montanhas, quase em meio à vegetação. Ao que parecia, o pessoal da vila não estava acostumado a receber visitantes. Ou, talvez, fosse a ameaça da bandeira pirata que os assustara. O fato é que, após um burburinho, gritos e correria sucederam a chegada da tripulação de navegantes. Mulheres e crianças se apressaram em buscar o abrigo das casas, enquanto uns poucos homens se armaram de modo a defender a população.

— Preparem-se, homens! - Cornélia já empunhara suas espadas - Não percam tempo, não desperdicem suprimentos e não me tragam outro padre!

Killian deu uma risada leve com o comentário e se juntou aos marujos. Assim que atracaram no cais, colocaram a prancha e uma horda de piratas desembarcou energicamente, tomados pela adrenalina de saquear um lugar.

Barba Negra desceu logo após terminar de acender o último pavio em sua barba, seguido por senhor Smee e Cornélia, que caminhava com a pose de uma modelo em passarela.

Os habitantes da ilha vieram para cima da tripulação de uma vez, mas não tiveram a menor chance, não conseguiram sequer derrubar a muralha de piratas, foram completamente estraçalhados pelos marujos, que logo em seguida começaram a invadir casas para roubar o que encontrassem, por todos os lados se escutavam gritos de crianças e mulheres desesperadas.

Barba, Cornélia e Smee pararam para dar uma boa olhada no local antes de prosseguir.

— Creio que o mercado fique no centro da vila. - Smee sugeriu, apontando uma pequena rua que era mais larga que as demais - Há de ter grãos e frutas.

— Mande que seus homens peguem o máximo de animais que conseguirem, precisamos de carne. - Cornélia apontou um galinheiro nos fundos de um casebre - Eu vou atrás de algo de valor.

E se separou dos outros para buscar algum tesouro que pudesse haver na vila. Killian saía de uma casa, frustrado por estar vazia, quando a avistou seguir sozinha e decidiu acompanhá-la.

Enquanto toda a ação ocorria, Lady Elisa saiu do navio coberta por sua capa mais discreta, seguindo pelos lugares mais escuros e tentando não ser notada. Ela ficou bons minutos encolhida contra uma parede enquanto homens de Barba Negra pilhavam o que parecia ser uma mercearia. Assim que eles saíram, ela entrou e foi direto para os fundos do lugar, sabia que os proprietários desse tipo de estabelecimentos usavam papéis para controlar o estoque e fazer cálculos.

Se sentia idiota, arriscando-se tanto por algo tão bobo. Mas era uma das poucas coisas que a fazia feliz na vida, no final das contas valia a pena. E de fato, ela encontrou uma quantidade razoável de folhas amareladas, não era tanto quanto queria, mas teria que ser suficiente.

Ela os colocou dentro de uma pequena bolsa que levara e se cobriu mais uma vez com a capa para sair. Mais que depressa, se enfiou nas sombras e seguiu o mais rápido possível na direção do navio, quando já conseguia avistá-lo, sentiu uma mão agarrar seu braço com força.

Por instinto, ela gritou e tentou estapear o atacante, mas foi impedida pelas mãos fortes do homem.

— Lady Elisa? - um dos marujos, Wilfred, a reconheceu na mesma hora - Mas o que a senhorita está fazendo aqui?

— Eu… eu… Me largue! - ela se afastou dele - Eu fui… Bom, eu precisava de novas roupas íntimas. E achei prudente ser discreta quanto a isso.

— Oh! - o marujo ficou corado - Perdoe a intromissão. Mas poderia ter pedido à senhorita Cornélia, não?

— Ela me mandaria vestir os sacos de batata.

— Verdade. - o marujo sorriu e assentiu - De qualquer forma, deixe-me acompanhá-la de volta ao navio, é mais seguro.

— Obrigada. - Elisa abriu seu sorriso mais encantador, aliviada por ter conseguido contornar a situação e seguiu para o navio acompanhada pelo jovem.

Tão logo foi entregue em segurança no convés, o marujo retornou à vila e Elisa foi se trancar em sua cabine, torcendo para que o rapaz não abrisse a boca para falar de sua escapada com ninguém.

Nos confins da vila já deserta, Cornélia entrou no que deveria ser o lar de quem quer que comandasse a vila, pois não demorou a encontrar um monte de “tesouros” amontoados, assim como cestas de legumes e ovos, galinhas penduradas pelos pés, ovelhas e porcos no quintal. Ela pegou um saco e começou a enfiar as poucas moedas nele, assim como tudo que parecia ter algum valor, mais tarde mandaria os homens irem buscar a comida.

Quando já estava pronta para sair, ela ouviu um ruído em suas costas e girou sua espada em direção ao recém chegado com intenção de rasgar a garganta de quem fosse. Por sorte, Killian era tão veloz quanto e conseguiu segurar a lâmina com seu gancho antes mesmo que chegasse perto dele.

— Você precisa parar de me atacar toda vez que eu me aproximo de você. - ele ergueu uma sobrancelha.

— Se você não se aproximasse de forma suspeita, talvez eu parasse de te atacar. - ela se virou novamente, dando às costas à ele - Não que você não mereça uma espada atravessada no pescoço depois do que aprontou.

— Eu fiz com você o mesmo que fez comigo. - ele deu de ombros - Você esteve tanto tempo fazendo o que queria com qualquer um naquele navio, incluindo seu pai, que esqueceu que nem todo mundo é obrigado a aturar seus surtos quieto.

— Por que está aqui? - ela ignorou o que ele falou - Não deveria estar seguindo o capitão como um cachorrinho?

— Pensei em vir garantir que estava segura. - Killian deu um meio sorriso, assumindo seu tom provocativo - Nunca se sabe quando alguém pode aparecer por trás e surpreendê-la.

— Você só pode estar brincando com minha cara… - Cornélia resmungou revirando os olhos e se afastou dele, adentrando a casa em busca de mais coisas.

Killian a acompanhou, enquanto ela desmontava tudo buscando qualquer objeto de interesse, ele apenas olhava ao redor, convencido de que estar ali era uma perda de tempo.

— Cornélia, não há nada aqui. - ele falou quando a viu jogando tudo que havia dentro de um velho baú para trás.

— Hum… Nunca se sabe, cozinheiro.

— O que você espera encontrar? Um homem para você?

— Quê? Do que está falando?

— Estamos no navio há um bom tempo… E você não saiu no último lugar que aportamos, devo deduzir que...

E a espada de Cornélia passou de raspão ao lado do rosto do jovem. Ele olhou despreocupadamente para a lâmina fincada na viga de madeira ao seu lado e novamente para a ruiva o encarando com raiva.

— Da próxima vez acertarei direto nessa sua boca grande.

— Tantas ameaças… - ele retirou a espada com um pouco de esforço - Estou começando a duvidar do que dizem sobre você.

— Quer pagar para ver, homem? - Cornélia se levantou num salto e se colocou na frente dele, estufando o peito para conseguir alguma moral, não que ela precisasse de muitos artifícios para impor sua presença.

— Hum. Eles dizem todos os dias que você vai me matar, no entanto, aqui estou eu. Você se gaba de sua incrível capacidade de comandar o navio, mas ainda deixa que seu pai tenha a última palavra. Expõe aos quatro ventos suas promiscuidades, mas eu não tenho visto tudo isso… De fato, mal a vi beijar um homem sequer.

A ruiva franziu o cenho, mais uma vez chocada com a ousadia do pirata em falar com ela daquele modo.

— Tem razão. De fato estou sendo muito boazinha com você. Se devolver minha espada, faço questão de cumprir minha promessa de matá-lo agora mesmo.

Ela fez menção de pegar a espada, mas ele a ergueu para longe do alcance dela.

— Não precisa me matar para que eu não conte seu segredinho por aí, senhorita.

— Que segredo?

— Que a senhorita não é tudo isso… - ele pressionou os lábios - Digo, se realmente a fama que tem procedesse, acho que teria muitos homens aos seus pés, não a temendo.

— Onde está querendo chegar com essa conversa mole, cozinheiro? - ela travou o maxilar e cerrou os punhos.

— Eu estou começando a ver que a senhorita me parece tão pura quanto Lady Elisa, com exceção da língua afiada, claro. - ele abriu um sorriso ousado - Mas cão que ladra não morde.

E mais uma vez, uma situação quase rotineira desde que Killian chegara ao navio, Cornélia foi tomada por uma raiva tão grande que parecia possuída. Ela apertou o pescoço dele com uma mão e o empurrou com força contra a parede, o marujo arfou sem ar, mas antes que pudesse recuperar o fôlego ou afastar a ruiva, ela esmagou os lábios no dele, o surpreendendo.

Killian largou as suas armas no chão devido ao choque do beijo, o beijo mais agressivo que recebera na vida. Só quando percebeu que estava desperdiçando tempo ficando surpreso, ele decidiu retribuir na mesma intensidade. Envolveu a cintura da Primeira Imediata com seus braços e a puxou para si. Cornélia levou sua outra mão diretamente para os cabelos do homem, os agarrando com força. Ela afrouxou o aperto no pescoço dele e deslizou os dedos até seu peito, o puxando mais para si pela camisa.

Contagiado pela intensidade da ruiva, ainda a mantendo no lugar, ele agarrou a coxa de Cornélia com sua única mão e a ergueu.

Então, tão rápido como o momento começou, ele terminou com Cornélia se afastando abruptamente de Killian.

Ambos estavam arfando, vermelhos devido ao calor e incapazes de dizer uma palavra sequer. Ela se recompôs, pegou suas armas, o saco com os itens furtados e seguiu em direção à saída da casa, deixando o alerta para o marujo.

— Esteja ciente de que se abrir a boca sobre isso, a próxima crença estúpida que acabarei sua é a de que eu não o mataria.


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Notas finais do capítulo

E então? Comentem aí o que acharam tanto das revelações de Lady Elisa quanto desse final! PORQUE É DISSO QUE O POVO GOSTA! Nos vemos nos próximos, até mais!



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