Crow on Ice escrita por Caique Morningstar


Capítulo 4
Mormaço




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— Por que essa cara de tacho, Sasuke?

Eu tirei meus pensamentos do estado mental e físico de Sakura para me focar no presente.

— Nada demais, chefe. Apenas irritado porque o Yamanaka não quis nos deixar entrar. Foi difícil conseguir fazer o serviço naquela noite. — E o rosto de Sakura flutuou para minha mente novamente.

Meu chefe riu com gosto.

— Você é um ótimo mentiroso.

— Uma das coisas que me faz ser tão bom no que faço.

— Então você vai manter o preço de trezentos e cinquenta?

Eu sorri.

— Quinhentos. Eu não abro mão.

— Ora, vamos, Sasuke, seja razoável, você consegue comprar uma casa com isso…

— Chefe. Você está me pedindo para assassinar um grupo de pessoas altamente perigoso e protegido, cujas identidades você não tem, e estou sozinho nessa. Quando o primeiro deles morrer, os outros ficarão em alerta máximo, dificultando ainda mais meu trabalho. Se eu for pego, não serei preso, e sim assassinado. Acho que, na verdade, eu deveria aumentar o preço. Minha vida vale bastante para mim.

— Você não vai morrer.

— Você não pode garantir. Você deixou isso bastante claro, e o atentado no Middle Mountain poderia ter sido fatal. Setecentos é um valor razoável, não acha?

Ele fez uma careta.

— Vamos manter os quinhentos.

— Fechado — eu disse, estendendo a mão para selar o acordo. A muito contragosto, ele a apertou.

— Conseguiu alguma informação relevante, apesar do que aconteceu?

— Apesar de eu quase ter morrido — frisei — consegui um nome. Konan.

— Uma mulher? — Ele ergueu as sobrancelhas.

— Sim — respondi, sem dar atenção à surpresa dele. — Estou tentando rastreá-la, mas a Akatsuki é muito boa no que faz.

— Seu irmão que o diga.

A raiva queimou dentro de mim e eu fechei os punhos compulsivamente. O chefe estava esfregando os olhos e não viu. Me controlei.

— Você sente falta dele?

Eu encarei o homem velho sentado à minha frente. Podia ver a diversão dançando no olhar dele ao me provocar falando de Itachi.

— Mais do que você sente, provavelmente. — Minha língua foi mais rápida que meu controle. — Afinal, se você realmente se importasse, não teria deixado ele morrer.

Mordi a língua. Ele sorriu.

— Gosto de ver que você é apenas um garoto por trás dessa máscara.

O telefone do chefe apitou. Eu me mantive impassível.

— Trabalho de rotina para o Muninn. Um dos nossos informantes deu com a língua nos dentes.

Peguei meu próprio celular, analisando o endereço que ele tinha compartilhado.

— Alguma informação extra?

— Não. Apenas efetue a remoção conforme o protocolo.

 

 

— Desculpe pelo acontecido, Sasuke.

— Espero que você tenha tomado as devidas providências para evitar que uma situação dessas se repita.

— Não se preocupe com isso. O garçom que te deu a bebida envenenada já foi removido, e os outros estão sendo acompanhados de perto.

— E você descobriu quem foi o mandante?

— Ele não quis contar. Mas alguém deve ter descoberto o que você ia fazer lá, e o mandaram te silenciar antes que você pegasse muitas informações.

Eu suspirei.

— Essa Akatsuki está dando mais trabalho do que deveria.

— Você está perseguindo gente muito perigosa. O que te deu na cabeça?

— Negócios, Yamanaka. Negócios.

 

 

Vasculhei contas bancárias, fóruns na internet e arquivos policiais naquele domingo, picturing qualquer informação, mesmo que minúscula, sobre essa tal Konan. Ela seria a minha porta de entrada para a Akatsuki.

Depois de algumas horas de trabalho, consegui uma foto distante de uma câmera de segurança em preto e branco e o nome de um local: Padaria Mignon.

 

 

Aquele trabalho de fachada seria um mormaço se não fosse pela presença de Sakura. Era divertido provocá-la, tentar descobrir até onde eu precisava ir para ver por trás da muralha de gelo.

Na terça-feira, a muralha se despedaçou fácil demais. O telefone dela tocou. Poucos segundos depois de atender, ela pediu dispensa à Tsunade, o rosto em pedaços. Eu não sabia que notícia ela tinha recebido, mas parecia grande e doloroso.

 

 

Mais tarde, Tsunade veio falar comigo.

— Você e Sakura não conversam sobre assuntos pessoais, não é?

— Não.

— Imaginei. Ela é… — Tsunade parou, procurando as palavras certas, mas desistiu. — Enfim, sei que eu não devia dizer nada se ela não comentou com você, mas acho que você precisa saber. O pai dela morreu hoje.

Mantive minha expressão neutra.

— Eles nunca tiveram uma boa relação, mas foi muito triste mesmo assim. Então, toma cuidado com o que for dizer pra ela, tudo bem? Pode não parecer, mas ela está muito frágil.

— Claro, Tsunade.

Ela sorriu.

— Você é um bom garoto.

Discordei.

— Posso perguntar do que ele morreu?

Tsunade franziu os lábios.

— Acidente de carro.

Eu queria perguntar mais, mas a expressão séria de Tsunade me calou.

 

 

Naquele dia, fui pela segunda vez à Padaria Mignon, procurando pela Konan. Com meu notebook aberto em uma das mesas, passei duas horas observando o movimento de pessoas, tentando identificar suspeitas. Era divertido. Eu precisava encarar as mulheres, analisar seus traços e relacioná-los com a imagem que eu havia visto. Elas ruborizavam diante do meu olhar. Algumas sorriam e tentavam falar comigo, mas essas eu dispensava. Konan fazia parte de uma organização criminosa, e não estaria lá se não soubesse se misturar na multidão. Ela não chamaria atenção para si mesma de forma tão tola.

Ou, talvez, eu estivesse errado.

Uma mulher de cabelo azul vibrante entrou na padaria, e eu a cataloguei rapidamente. Até o corte de cabelo era o mesmo da imagem da câmera de segurança, mas aquela cor foi uma surpresa. Azul? Sério?

Ela notou meu olhar e ergueu as sobrancelhas para mim. Eu dei meu sorriso charmoso. Ela tentou evitar, mas deu um pequeno sorriso de volta.

A padaria estava vazia. Quando ela fez suas compras e estava a caminho do caixa, eu entrei no caixa na frente dela. Olhei para a atendente.

— Dois cafés, por favor.

— Como vai ser o café?

— O meu vai ser preto, sem açúcar, por favor. O outro… — Olhei para Konan. — Como você vai querer?

Ela parecia se divertir. Tinha um rosto jovem, e parecia que não tinha muitas oportunidades de sair ou de interagir com pessoas. Senti um pouco de pena, mas logo a abafei.

— Você está comprando um café pra mim?

— Sim — respondi, incisivo.

— Estou com pressa.

— O café não demora a ficar pronto. Como vai querer? — perguntei novamente, reforçando o charme no meu sorriso. Eu sabia como parecer sensual. A atendente ofegou, e eu nem estava olhando para ela.

— Vou querer um Mocha gelado, então.

Ergui a sobrancelha.

— Chique. Então, um preto sem açúcar e um Mocha gelado, por favor.

Eu ainda estava sorrindo. A atendente ruborizou.

— C-claro.

Paguei em dinheiro e pegamos nossos cafés. Puxei a cadeira para que ela se sentasse, o que ela fez com gosto.

— Você parece fazer sucesso com as mulheres.

— Em geral faço — respondi, bebendo meu café. Estava ótimo. Ela olhou curiosa para a bebida em minha mão.

— Você é muito corajoso por beber isso. Detesto café forte.

Dei de ombros.

— Combina comigo.

Ela sorriu.

— Então, o que faz por aqui, além de comprar café para mulheres aleatórias?

— Nada demais, ah… Desculpe, não perguntei seu nome.

Ela hesitou.

— Konan.

— Prazer, Konan, meu nome é Sasuke. — Eu sorri mais uma vez e, juntos, ingressamos em uma conversa baixa e cheia de mentiras.

 


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