Preto|Branco escrita por Sensei Oji Mestre Nyah Fanfic


Capítulo 8
Perdendo a cabeça




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— Sinto muito por tudo o que aconteceu em sua vida nesses últimos meses. Confesso que eu sou um dos culpados do inicidente na sua vida...

— Incidente? Incidente, doutor? — bateu a palma da mão contra a mesa enquanto Ramírez observava sentado na sua cadeira. — Vocês destruíram a minha vida pessoal e a minha vida profissional! Um psicopata racista está dentro do meu corpo fazendo as maiores barbaridades por culpa de vocês!

Ramírez sentiu-se culpado. Minutos antes quase foi morto por um capanga de James, tornou-se um alvo depois da renúncia do senador. Convidara Zachary e Crawford para a sua sala.

— Sinto muito, rapaz. O Jimmy simplesmente manipulou a todos nós. A mim o que prevaleceu foi uma chantagem de proporções dramáticas.

— Não tire o seu da reta, doutor. Quando tudo isso vier à tona, o senhor também precisará pagar por isso — falou Crawford de um modo repreensivo.

Crawford acertou na afirmação. Mesmo que houvesse uma causa muito forte para a chantagem de Strannix, o doutor Robert nunca deveria ter aceitado.

— Fui fraco.

A porta da sala abriu repentinamente, revelando uma moça com um bebê de um ano nos braços. A filha e o neto de Robert.

— Esperei o senhor para o almoço.

— Estou numa reunião de emergência. Não vou almoçar hoje.

— Dá tchau pro vovô — ele segurou o neto, beijou-o e devolveu para a filha.

Assim que ela saiu, Ramírez concordou em dizer toda a verdade. A decisão foi tão instantânea que nem mesmo Zach esperava.

— Jimmy e eu fomos colegas de faculdade de medicina. Ele era o cara mais inteligente da sala e isso foi por todos os semestres que o curso durou. Conheceu a minha família, sou de Porto Rico. Mas depois que colocou ideias malucas na cabeça como o transplante em animais, o egoísmo só aumentou. Ele sabe que sou latino-americano, já visitou meus parentes e não tinha preconceitos. Tudo mudou desde a morte da Candance, esposa dele. Minha filha, Laura, casou com um ator mexicano e passaram a viver na ilha Porto Rico, mas há um ano eles tiveram que se mudar para a Cidade do México por dois meses e lá tiveram o Juarez. Infelizmente meu neto não tem cidadania americana, pois não nasceu em território americano. Porto Rico é território americano, mas não nasceu lá. Pedi ajuda para o Jimmy que se comunicou com o senador Nelson. Mexeram os pauzinhos e fizeram uma certidão falsa para meu neto.

— Droga, doutor. O senhor se encrencou mesmo, hein? — falou Zach.

— E não é? Demoraria anos para Juarez ter a cidadania com o presidente atual que é contra imigrantes. Mas toda a vida o Strannix relembrava esse detalhe e me chantageou no dia que você chegou aqui em coma. Sua mulher chorou muito quando soube da sua falsa morte.

Zach se sentou, com as mãos na cabeça e olhando para o chão. Vendo o sofrimento alheio e agora o seu neto, Ramírez tomou coragem para depor contra o cientista maluco. 

— Preciso sumir por uns dias. Jimmy vai tentar me matar a qualquer custo.

— Não vai ser problema. Tomo conta do senhor — disse Crawford.

Era a luz no fim do túnel para um ex-policial negro desesperado. A justiça contra James Strannix terá de acontecer mais cedo ou mais tarde.

...

Na tarde daquele dia, horas após a morte de Derek Bauer, Sasha Beringer e Winona Poter retornaram para a delegacia,  o sargento viu o capitão Broward na frente da porta de sua sala. O ancião parecia estar sério ou descontente com as atitudes do sargento.

— Venha para o meu gabinete.

Os dois foram para a sala e Broward fechou a porta.

— O que que deu em você, meu jovem? Incubi esse cargo a você porque eu admiro toda a sua competência como policial. Mas no último mês suas atitudes são lastimáveis. Em duas semanas você chegou atrasado oito dias e sem dar nenhuma explicação; não faz mais plantão quando é preciso; trata mal os outros policiais; não investiga direito os casos que eu deixo contigo; não atende minhas ligações quando necessário... e muitas outras coisas.

— Sério isso, capitão?

Broward pegou um lenço e enxugou a testa suada. Ficou se sentindo desconfortável por um momento, foi à gaveta, tirou um frasco com comprimidos.

— Tomara que eu não me arrependa de ter te dado esse cargo. Saia.

Sasha quase surtou em sua sala. Parou a raiva e se concentrou no nome do remédio do capitão, pesquisou na internet. A surpresa era que os comprimidos eram receitados para pressão alta.

Broward deixou o vilão sobrecarregado com tarefas. Oito da noite, ele chegou no apartamento e praticamente desabou na cama. 

— Alô, quero contratar uma acompanhante.

A prostituta chegou meia-hora depois. Ele retirou toda a roupa enquanto jogava a mulher sobre a cama.

Winona abriu a porta do apartamento e viu a meretriz sair com duzentos dólares. Sasha fumava cigarro, nú, olhando a rua na janela de vidro do apartamento.

— Que merda era aquela?

Ele tatuou, dias antes, o seu atual corpo com tribal do lado direito do peito, o braço, o antebraço. Virou-se para Poter e soltou uma a argola de fumaça pela boca. Não tinha vergonha nenhuma em estar do jeito que veio ao mundo.

— Boa noite para você também, querida.

— Fala sério, Sasha. Pensei que confiasse em mim, que fôssemos...

— Casados?

— Você contou seu segredo a mim. Eu te ajudei hoje na captura do Bauer. Que consideração!

Ele não ficou com pena da moça pelo ciúme que ela sentia. Vestiu a cueca boxer e fez flexões no chão.

— Fala alguma coisa!

— Bate a porta... quando sair.

Winona não ficou mais um segundo no apartamento. Assim que ela pegou o elevador, Sasha ligou para alguém.

— Siga a policial loira que sair do prédio.

Poter entrou na viatura policial, tirou um microfone de dentro da farda e ficou segurando o volante ainda com muita tristeza. O trabalho de espiã era pesado, principalmente quando se está se apaixonando pelo alvo.

O carro preto seguiu a viatura a mando de Sasha.

...

Mansão de Strannix

Dias depois...

Louis não queria descer para a sala de jantar, não gostava de ficar sentado numa mesa tão grande com uma pessoa que ele sequer conhecia. Mesmo com os apelos da sua mãe, não cedeu e ficou no quarto.

— Deixa ele, querida. Deve ser difícil para um menino de sete anos se acostumar com essa mudança brusca.

— Fico preocupada. O pai já não é mais um exemplo a ser seguido. Só você, querido, ficou do meu lado — ela segurou na mão dele.

James sorriu e voltou a beber a sopa. A interação dos dois não era de cumplicidade como quando era com Zach. O jantar antigamente era mais divertido e agradeciam a Jesus pelo alimento. Como Strannix era mais agnóstico do que judeu, não costumava fazer orações.

— Como foi o prêmio?

Ele mostrou o Nobel para ela. A medalha de ouro, o certificado e mostrou o cheque de um milhão de dólares. Brittany pediu para ele doar o dinheiro a uma instituição de caridade, mas James desdenhou ao dizer que o dinheiro ficará para a BioCorp.

— Terminou, querida?

— Sim.

— Podem retirar a louça — ordenou aos empregados.

Ele deu apenas um beijo curto na noiva e se trancou no escritório.

Do lado de fora da mansão, um motoqueiro deixou uma caixa lacrada no portão da mansão. Brittany, que cuidava do jardim, viu os seguranças mexendo, foi até eles e pediu a caixa. O segurança passou um detector de metais e numa máquina de raio-x que ficava na guarita. Segundo ele era prevenção contra armas químicas.

— Parece ser uma bola. Acho que não há nada perigoso.

— Obrigada.

Levou a caixa para o escritório, entrou com a permissão do doutor e disse ter sido endereçada para ele.

Strannix retirou todas as fitas, retirou outra caixa. Uma secreção pútrida era visível a partir desse ponto. Assim que ele abriu, presenciou a cabeça de Winona Poter. Brittany desmaiou e ele quase vomitou. Os seguranças foram chamados e quase perderam seus empregos.

— Acorde, senhora — disse Myrtle colocando álcool em seu nariz.

— Cabeça... aquela cabeça. O que diabos era aquilo? — visivelmente assombrada.

O telefone fixo da casa tocou, Myrtle atendeu e deu para o seu chefe. Ele fez questão de ir para outro cômodo atender.

— Quem é?

— Gostou do meu presente de noivado? Fala, velho. Eu me vinguei, você viu? Ivan, Derek, Winona... todos eram espiões contratados por você. A Winona quase conseguiu, mas eu sinto cheiro de traição a quilômetros e descobri que ela gravava nossas conversas no trabalho. As gravações foram destruídas e me certifiquei de que nada acontecesse contra mim.

— Joachim, como vai meu nazista de estimação? Como vai os ossos do seu pai?

— Hehehe. Não vai me atingir, velho.

— O que você quer, garoto?

— Uma aliança. Sim, vamos nos unir. Eu gostei da minha nova vida. Sou bonito, forte, policial e com cinquenta mil embaixo do colchão. Temos um problema em comum e seu sobrenome é Scott Thomas. Aquele retardado está em Nova Iorque tentando reunir provas que te incrimine e com certeza vai me derrubar também.

— O que propõe?

— Quero um valor de cinco milhões só para matar Thomas. A metade adiantado e a outra com o presunto dele no necrotério. E aí?

Durante a conversa, Brittany escutava James a falar com um indivíduo com a mesma voz do seu marido. Havia linha cruzada no telefone do escritório. James esqueceu desse pormenor e foi atender no seu quarto. Portanto, a advogada descobriu a monstruosidade do noivo.

No dia seguinte, ela dispensou o motorista, levou Louis para a escola e foi na direção da BioCorp. Um carro bateu no seu e dele saiu um homem com balaclava preta, portando um revólver, pedindo para ela entrar no outro carro.

— Por favor... não faça isso! Quanto quer?

Crawford retirou a balaclava, surpreendendo a moça. Os dois se conheciam muito bem, pois era o padrinho de Louis.

— Que é isso, Guy?! Você me sequestrou?

— Calma, Brittany. Precisava disso para distrair os capangas do seu noivo.

Ele dirigiu o carro em alta velocidade, despistando o sedan preto dos dois seguranças.

O veículo entrou num daqueles estacionamentos verticais, subiu ao terceiro andar. Crawford pediu que a amiga saísse do veículo.

— Agora pode me explicar o que está havendo?

— Pode parecer loucura... meu Deus. O Zach não é o Zach... posso dizer que há um impostor dentro do corpo do seu marido.

Ela ficou séria, não demonstrou nenhum sentimento.

— Sabia que não acreditaria.

— Se o Zach não é ele, onde está?

— Aqui — o homem vestia uma camisa moletom preta. Um capuz cobria-lhe o rosto, dificultando Brittany de ver a identidade do homem.

...

— Mamãe, quero mais pipoca.

— Calma, filha. Dolfinho, pode pegar mais na cozinha?

— Claro... e desde quando me chamam de Dolfinho?

Os três assistiam a um filme na sala de casa. Dias se passaram desde que Zach viajou para Boston. Samantha continuava cuidando de Emily, agora com a ajuda de Willard. Os dois se deram muito bem.

— Aqui — entregou a pipoca para Sam e voltou a sentar no sofá.

Victor entrou na casa com o semblante sinistro, foi para a cozinha e murmurou bastante.

— Como eu quero bater em viado hoje. Ei, Sam, cadê a cerveja?

— Ow! Vai ficar gritando com a minha filha aqui? Vai comprar com o teu dinheiro.

Ele foi para a sala e encarou Adolf. Chamou o rapaz para dar um volta na comunidade a fim de conhecer alguns membros da irmandade. Willard olhou indeciso para Samantha, porém cedeu ao pedido de Cherokee. Pegou a camisa xadrez, vestiu por cima da camiseta e saiu com o mais velho.

— O tio Adolf saiu!

— Victor, Victor, aonde vai levar esse garoto?

Um ariano parou o carro perto deles e os convidou para entrar. Tempo depois eles foram para a mesma garagem abandonada que Bauer morrera.

— Aonde vamos, Victor?

— Calma, rapaz.

Assim que entraram, o motorista fechou a porta atrás, a luz foi acesa e cinco homens arianos apareceram.

— O que significa isso, cara?

— Eu disse que queria bater em viado — Victor pegou um pedaço de pau. — Você é o viado.

Adolf sentiu que havia sido descoberto, mas somente Sam havia descoberto o seu segredo. Ao olhar Victor com um pau, o motorista ariano estalando os dedos, os outros homens rindo como se estivessem prestes a matar uma presa, seu único pensamento foi que morreria ali mesmo, espancado e humilhado. Lágrimas caíram dos seus olhos.

CONTINUA...


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Notas finais do capítulo

Putz, e agora Adolf? Que crueldade o Victor vai fazer. Isso não se faz, menino.



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