Preto|Branco escrita por Sensei Oji Mestre Nyah Fanfic


Capítulo 7
A figura por trás da desgraça


Notas iniciais do capítulo

Pru.



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HOSPITAL AVIGDOR MOSAM - BOSTON

06 DE JULHO DE 2018

O médico e diretor do hospital, Robert Ramírez, terminou o seu trabalho por volta das treze horas no horário local. Desceu para o subsolo em que funcionava o estacionamento, desligou o alarme do seu carro e caminhou para a direção dele. Os papéis de sua pasta caíram no chão, fazendo o portorriquenho apanhar e se atrasar mais ainda.

Um homem com capuz preto se aproximou e apontou uma pistola por trás.

— Calma, rapaz.

— Strannix mandou lembrança.

Um barulho de tiro ecoou.

 

NOVA IORQUE - 2 DIAS ANTES

Cerrou o punho e bateu com força sobre a mesa do barzinho, chamando a atenção de alguns clientes que ignoravam as comemorações nas ruas. Após ouvir da boca de Crawford sobre a sua esposa, Zach ficou com vontade de matar Sasha não importava se machucasse o seu próprio corpo para isso. A fúria em seus olhos fez com que ele pedisse bebida alcoólica para passar a sensação ruim.

Crawford falou mais sobre as atitudes do impostor: a respeito do seu envolvimento amoroso com a policial Poter, do escândalo que fez no hospital, da morte de um cara que já estava preso e que acarretou a demissão do amigo e até mesmo o fato que ele havia roubado a conta bancária de Zachary.

— Mas que filho da puta! Ele está estragando a minha vida.

— Se eu fosse você tomaria uma providência imediatamente.

— E é para isso que eu vim, amigo. Estou hospedado na casa da ex do canalha.

— É osso.

— Nem me fala. E eu andei pesquisando sobre uma certa pessoa. Justamente o homem que está com minha mulher, James Strannix. É o seguinte, acho que ele fez a troca de corpos em mim e no Sasha Beringer. Tem o dedo dele nisso, eu tenho quase certeza. Queria tanto a sua ajuda... envolve viagem.

— Caramba, Zach. O que vou dizer à Wanessa? Tá, vai.

Um policial fardado entrou no bar e caminhou ao lado da mesa dos dois. Zach abaixou o boné, escondendo o rosto até ele sair.

— Não posso dar bobeira. Estou com o corpo de um procurado pela justiça. Seguinte: preciso que venha comigo até Boston. Acredito que encontrarei as respostas lá.

O ruivo bebeu mais um gole da cerveja e assentiu. Talvez se arrependeria, mas não podia deixar o seu melhor amigo na pior.

Enquanto isso, Victor não quis acreditar que o seu amigo e pessoa que mais admirava havia trocado de corpo justamente por um negro e, pior, o homem que o prendeu dois anos antes. Tentou reformular as ideias, pois a ficha não estava caindo de maneira alguma.

— Aí, cara, você sabe a admiração que eu tenho com tu, mas não posso andar por aí com um negro. A irmandade vai me condenar.

— Não precisa andar agarrado a mim. Quero apenas que faça um favor.

— Fala.

— Melhor entrarmos no carro. Levarei você até a um lugar que poderá extravasar o seu racismo.

Eles entraram num sedan preto e partiram para um caminho distante da comunidade. Foi quase uma hora de carro até chegar num lugar abandonado, um armazém. Ao entrar no prédio, viu uma luz branca no meio de uma sala totalmente escura. Os policiais corruptos que seguiam Sasha acenderam as luzes, revelando uma pessoa sentada na cadeira.

— Esse cara... — Victor reconheceu.

— O homem que livrou a sua pele no julgamento dois anos atrás. Ele foi uma testemunha falsa que eu paguei, lembra-se?

O homem negro havia sido capturado a mando de Sasha. Segundo ele, o refém morava em Boston desde sempre, mas no dia que havia sido comprado, estava na cidade de Nova Iorque.

Retirou a faixa dos olhos e a fita da sua boca.

— O que querem comigo?

— A verdade. Seu nome é Ivan Jamall Smith, 42 anos, casado, tem filhos, vive em Boston desde 2008, há dez anos. Ivan, não sei se se lembra, mas este homem, Victor Cherokee fora julgado pela morte do Pastor Johnson. No último dia o senhor salvou a vida dele, porque um homem inteligentíssimo chamado Sasha Beringer comprou o seu testemunho. Quando Beringer fez contato pela primeira vez foi por uma mensagem via WhattsApp de um sujeito querendo se prontificar a ajudar no caso em troca de um valor em dinheiro. Vocês concordaram em fazer tal acordo.

— Não sei do que está falando, senhor policial.

— Numa das conversas o senhor dizia ser do interior de Nova Jersey, mas esta semana mandei meu pessoal investigá-lo e descobrimos que é de Connecticut, mudou-se para Boston, e mentiu para Sasha. Algo a dizer?

O moreno ficou relutante. Sasha não teve muita paciência com o prisioneiro, pediu a maleta de tortura. Winona abriu e revelou vários objetos.

— Pegue, Cherokee. Você vai fazer isso com ele.

— O homem que me salvou de levar 30 anos?

— Sim. Ele não quer cooperar comigo.

Entregou um prego de dez centímetros e um martelo. Policiais retiraram os sapatos da vítima e seguraram seus pés. Victor respirou fundo até começar a martelar o pé esquerdo dele. A dor lancinante fez Ivan gritar, mas logo teve a boca coberta com uma mordaça.

— Vai falar quem te contratou? Alguém com muitos interesses está por trás disso tudo, não é?

— VÁ À MERDA!

O pé direito foi perfurado. Winona se afastou um pouco, trêmula por ter tido a experiência de ver uma tortura.

— Não ouvi. Quer falar algo mais? Não?

Ele pegou um tipo de alicate grande, ordenou que seus capangas pegassem as mãos dele e esticassem seus dedos. Numa vez só, Sasha cortou o mindinho direito, espirrando sangue em seu rosto.

— Vai falar, camarada? Preciso me limpar.

Saiu do armazém, entrou no carro, enxugou o rosto e voltou para a sessão de tortura.

Sem dois dedos, Ivan começou a falar.

— Sou contratado de uma empresa de segurança particular chamada Phoenix. Fui designado para espionar aquela comunidade... para obter informações privilegiadas.

— E?

— Hehehehe... vocês são trouxas mesmo, inclusive o branquelo que me pagou. Eu tinha um informante que me passava informações privilegiadas e eu repassava para o meu chefe em Boston.

— Quem é o informante?

— Me soltem.

— Fala logo e eu juro que deixo você livre na sequência.

Ivan pediu para ele se aproximar e contou discretamente perto da sua orelha. Sasha ficou satisfeito, mas não surpreso com a pessoa traíra da irmandade.

— Espera. Você disse que me libertaria.

— A morte também nos liberta — enfiou um canivete em seu peito.

Victor, suando frio, foi orientado a voltar para casa e a ficar atento ao impostor.

...

Samantha foi ajeitar as roupas do loiro quando viu o celular de Adolf sobre a cama e num site aparentemente com conteúdo gay. Ela desviou a sua atenção ao vê-lo sair do banho.

— Já vou sair...

Ele pegou o aparelho e deduziu que a anfitriã havia visto o conteúdo. Vestiu-se, desceu até a uma salinha que funcionava como escritório que ela trabalhava como vendedora online.

— Viu alguma coisa?

— Sente-se aqui — pegou um banquinho e botou para o rapaz se sentar. — Sim, vi.

— Droga.

— Não precisa se preocupar comigo. Sei lidar com as pessoas das mais variadas diferenças, afinal sou vendedora. Só peço que tome cuidado ao deixar seu aparelho por aí em sites pornográficos gays, porque Victor mora comigo e se ele ver isso vai ficar furioso.

— Tem razão. Você acha que estou traindo a irmandade? Eu já fiz bullying chamando um rapaz de viado na escola pelos seus trejeitos, mas nunca quis admitir que eu era um o tempo todo. Entrei na irmandade por causa das minhas ideologias políticas. Eu acho que sou um fracasso.

— Eu não acho. Você deve ser o que você quiser. Se ser judeu nazista, negro racista ou gay fascista deixariam alguém satisfeito, quem sou eu para falar o contrário? Ou pode ser um gay que não defende pautas políticas, porque vamos ser sinceros que eu também acho uma chatisse ficar levantando cartaz na Times Square toda semana por pauta LGBT que ocorre em alguma parte deste país. Jesus, os dois lados são cansativos. Quando foi que o ser humano se tornou tão maniqueísta?

— Eu não pretendo militar em nada.

— Respeito isso. Seja feliz, seja gay, case com seu homem dos sonhos, tenham um cachorrinho lindo e morem no interior do Texas. E a vida que se segue, não é mesmo?

Adolf abraçou Samantha pelo conselho que recebeu. As palavras da mulher animaram e muito o rapaz.

Victor chegou desconfiado em casa por causa da verdade acerca da verdadeira identidade de Zachary. Perguntou a prima se ele não havia chegado, mas lembrou das palavras de Sasha para fingir que nada aconteceu.

Sam correu para fora da casa assim que seu carro parou em frente. Como a casa não tinha garagem, o carro era estacionado ao lado. Zach saiu do veículo e logo foi pressionado por ela.

— Trouxe algo pra mim?

— Deixa pelo menos eu respirar antes.

— Está muito abatido, amigo. O que será que houve? — perguntou Victor.

— Nada. Fui procurar um conhecido.

Sam fez questão de levar Zach para dentro de casa e fazer um lanche a ele. Ainda queria porque queria fazer sexo, pois acreditava ser Sasha — apesar de Sasha ser abusivo, ela sempre o perdoava.

No dia seguinte, Zach pediu para Sam cuidar do amigo Adolf enquanto estivesse em viagem para Boston. Sem detalhar os motivos, ele beijou a ruiva pela primeira vez no rosto.

— Sua filha vai querer saber de você.

— Voltarei, Sam.

Colocou uma mochila com roupas no banco de trás do carro e saiu.

...

Crawford estava na estrada, fora de Nova Iorque, foi pego pelo loiro. Os dois rodaram a rodovia federal até a fronteira dos dois estados, a mesma rota que Brittany pegou quando foi visitar Zach no hospital. A sorte maior era não ser pego por nenhuma blitz.

— Você foi tratado neste hospital antes de ser dado como morto. Lembro de saber disso pela sua esposa.

— Nem me fale disso. Alguém naquele hospital sabe o que aconteceu comigo. Sei até quem é.

Pararam num motel e ficaram a noite dormindo. Na manhã seguinte, entraram em Boston e foram disfarçados para a mansão do cientista.

— Que elitista. Olha o tanto de segurança.

— Aqui que minha mulher e meu filho estão morando.

A mansão possuía um muro com plantas trepadeiras que deixavam um verde vivo. Cerca de seis seguranças faziam a vigilância de fora.

Um carro preto parou na calçada e dele saíram Brittany e Louis. O menino correu até o portão e o segurança abriu. Zach ficou com os olhos marejados.

— Sinto muito, cara.

— Tudo bem. Primeiro preciso resolver meu problema com o hospital — dirigiu.

A mansão do cientista era deslumbrante tanto por fora quanto por dentro. Havia espaço até para cinema e jardim. Louis corria pelos cômodos, aparentemente contente após uma traumática mudança.

— Filho, cuidado para não esbarrar em algo — Brittany mudou de visual, adotando um cabelo liso até os ombros e carregando uma maquiagem pesada no rosto. Seu semblante era de frieza.

— Senhora Strannix, o patrão ligou mais cedo. Ele ganhou o Nobel de Ciência — avisou a governanta.

— Obrigada, Myrtle.

Subiu para a suíte, preparou uma banheira com espumas para relaxar os músculos tensionados. Lembrou da cena do beijo de seu marido no outro lado da rua. Ainda vivia traumatizada.

 

HOSPITAL ISRAELITA AVIGDOR MOSAM

— Gostaria de conversar com o doutor Robert Ramírez. Sou Guy Crawford.

— O doutor está para sair para o almoço. Ele não pode atendê-lo. Quer que eu coloque o senhor na agenda dele?

— Pra quando?

— Daqui a três semanas.

Crawford se afastou da recepção e caminhou pelo hall de entrada do hospital. Ligou para Zach,voltou para a mulher.

— Tudo bem, pode anotar aí no seu computador.

Zachary caminhou disfarçadamente, sem ser visto pelos seguranças, até uma porta que dava para a área restrita aos trabalhadores. Desceu para o estacionamento no subsolo e aguardou o médico. Viu um rapaz com capuz preto atrás de uma coluna.

— Strannix mandou lembrança.

O tiro ecoou. A arma do sujeito havia disparado para cima quando Zachary o interceptou por trás. Numa breve luta, a arma caiu e o homem teve que fugir dali.

— Muito obrigado! Muito obrigado!

Zach sorriu para o médico, mas logo deu um soco no seu rosto.

— Ficou louco?

— Isso foi por ter trocado o meu corpo, doutor.

Ramírez imediatamente soube que o homem era Zachary Scott Thomas que havia sido vítima do T.C da BioCorp.

...

Derek Bauer, atual líder supremacista do estado de Nova Iorque, foi capturado por policiais quando voltava do trabalho. Foi colocado numa garagem abandonada, sentado e com venda nos olhos.

— Quem está aí?

Sasha retirou o pano preto.

— Victor com um tira preto? Que decepção.

— Decepção é um membro supremacista fazer negócios com o judeu que traiu Roy Beringer. Sim, Ivan cantou igual canário que você e James Strannix planejaram a traição ao meu... ao Roy.

— O que você tem a ver com isso?

— Você capturou aquele mendigo e o pastor Johnson para dá-los a Strannix. Fala a verdade! Como as cobaias morreram no teste, o velho preferiu se livrar dos corpos e encenar tudo aquilo com o Victor.

Bauer engoliu em seco. Teve que dizer toda a verdade. James Strannix havia contratado Bauer três anos antes para vigiar a família de Roy.

— Diga para o infeliz do Sasha que ele também foi traído por Victor. Ele fazia parte do esquema.

— Mentira! Eu apenas sequestrei os dois e te dei aqui nesta garagem. Você sempre me mandava ir embora logo depois.

Derek revelou que dois carros pretos paravam fora. Uma picape levava as vítimas enquanto Strannix observava tudo do sedan.

— Era um esquema. Aquele cientista louco vigia todos a todo o tempo. Roy e Sasha foram patos, HAHAHAHA!

Sasha retirou o paletó preto, arregaçou as mangas da camisa preta, pegou um galão de gasolina e derramou sobre o punk.

— Acontece, meu amigo, que sou Sasha Beringer. Aquele velho me fez trocar de corpo.

— O-o quê? 

Acendeu um fósforo e queimou Bauer na presença de Victor e dos policiais corruptos. Voltaram para o carro.

— Ei, Sasha. Agora que você sabe a verdade, vai confrontar o cientista e voltar a ser como era.

Ele olhou para Victor e botou os óculos escuro.

— E quem disse que eu quero voltar a ser branco?

Winona ficou horrorizada.


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Notas finais do capítulo

Parece que o Sasha gostou do novo corpo. A coisa está ficando séria para o protagonista. Ele vai ter que resolver o quebra-cabeça sobre a troca de corpos, reconciliar com a mulher e depois obrigar Sasha a mudar de volta. Coitado.



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