Preto|Branco escrita por Sensei Oji Mestre Nyah Fanfic


Capítulo 3
As aparências enganam


Notas iniciais do capítulo

Começa a melhor parte. A odisséia de Zach e Sasha.



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O dono da loja botou um ventilador sobre a cadeira e o ligou. Zach foi levado para dentro das dependências e o vento fez o trabalho. O rapaz acordou num instante.

— Calma, rapaz, calma.

— Onde estou?

— Austin no Texas.

A lembrança acerca da sua nova aparência veio à mente. Pediu um espelho ao velhinho barrigudo dono da tabacaria.

— Aqui.

— Droga.

— Você chamou a atenção de muita gente. Aqueles caras te deram uma surra mesmo. Quer que eu denuncie?

— Não... eu preciso voltar para o meu carro.

Um pouco atordoado, Zach se levantou, agradeceu ao bom homem e saiu da loja. Não tava entendendo absolutamente nada sobre aquilo. Acordou com a aparência do cara que foi preso no dia do seu acidente. Caminhou de volta para o carro e entrou.

Com as mãos sobre o volante, o agora homem branco de olhos azuis tentou lembrar de mais coisas. Pegou um calendário no porta-luva e viu 17 de junho de 2018. Quase dois meses!

— Preciso achar um jeito de voltar pra casa.

Deu partida e saiu dali.

Sua mente apenas mostrava lapsos de memórias sobre uma conversa. Não entendia o porquê a voz do chefe da sua esposa estava em sua mente tão constantemente. Ligou o rádio.

"O presidente Donald Trump fará um comício MAGA hoje em Austin. Novas informações com..."

"E agora a notícia esportiva. O clube de futebol Dallas venceu..."

"Música Country"

"Notícia urgente! Um policial dado como morto foi encontrado pela família no leito de um hospital em Boston. O rapaz chamado Zachary Scott Thomas, 32 anos, foi supostamente enterrado mês passado, mas logo foi descoberto ter sido uma farsa..."

— Não pode ser. Eu estou aqui!

Ele quase atropelou um jovem universitário. Este ficou parado na frente do carro, aproximou-se e bateu no vidro. Zach abaixou.

— Joachim?

— Hein?

— Sou eu, Joachim. Eu trabalho no Walmart. A gente foi para aquele rolê da irmandade. Lembra? Bater em viado e judeu.

— Ah! Faz tanto tempo. Entra.

— Valeu — o loiro oxigenado entrou no carro. — Mas a gente se viu há três meses apenas. Não é tanto tempo.

— Pra... mim é. Hehehe. Mas me conta essa história de Joachim — ele começou a dirigir.

— Ué, não é seu nome? Joachim Sasha Beringer? Caramba, parece lesado. Bateu com a cabeça em algum lugar?

— É que eu estou meio de ressaca, sabe? Dormi demais.

O mais novo olhou com muita tenção ao loiro. Achou um tanto diferente da última vez que se encontraram.

— Bom, como vai a família?

— Minha mãe morreu, meu padrasto foi preso por estuprar um pederasta e meu irmão mais velho tá foragido porque matou um crioulo. Tirando esses fatos, eu estou legal.

Ele ficou esperando algo do mais velho. Zach, disfarçado, tentou puxar assunto.

— Esqueceu meu nome, seu puto. Hahaha. Tá bom. Adolf. Adolf Willard. A gente se conheceu naquele encontro anual da KKK que teve na Carolina do Sul. Lembra?

— Humph. Lembro. Foi demais... Mas eu tava na casa de um colega aqui no Texas. Só que bebi tanto que me perdi.

— Você pode vim pro meu apê, cara. O bom é que você pode ligar para o Victor. Eu tenho certeza que ele vem te buscar.

...

No dia anterior, Brittany recebeu uma ligação. A morena desligou o telefone com o coração quase saindo pela boca. Pegou o primeiro vôo para Boston.

No hospital Avigdor Mosam, a advogada correu para se encontrar com o diretor Ramirez. Este falou umas mentiras bem convincentes.

— Ele era como se fosse John Doe. Estava internado num hospital do interior.

Ela viu o corpo do marido deitado numa maca. Acariciou sua face quando a mão dele agarrou seu punho. Os olhos castanhos encararam o ambiente ao redor, incluindo a moça. John Doe, para Brittany era Zach, ficou sentado imediatamente. Seus olhos pareciam os de alguém que acabava de vir ao mundo. Sua mente estava embaralhada e a voz rouca.

— Meu amor. Você está vivo. É um milagre. Um milagre de Deus.

Ele se afastou quando a moça tentou beijá-lo. Brittany mais uma vez tentou dar um abraço, mas o homem desvencilhou-se.

— Minha senhora... quem é você?

— Não acredito. Você esqueceu de quem eu sou. — Brittany saiu atordoada para falar com o médico.

Beringer lembrou da vez que foi levado da prisão para um tipo de hospital desconhecido. Olhou para as suas mãos e surtou.

— Não pode ser...

Ele se levantou da maca e entrou no banheiro que havia no quarto. O espelho revelou a aparência de Zach. Suou frio, tremeu. Já não havia mais um cabelo loiro, olhos azuis e pele ariana.

— MALDIÇÃO!!! — deu um soco no espelho, quebrando-o e cortando o pulso.

Aproveitou que não havia enfermeiros por perto, saiu e foi até um telefone público perto do elevador. Pediu uma ficha a uma pessoa que passava no corredor e ligou para o seu melhor amigo.

Victor Cherokee atendeu ao telefonema.

— Quem é?

— Victor?

— Como sabe o meu nome?

— Pode parecer loucura, mas sou eu, Sasha.

— Que voz é essa, bicho? Eu conheço a voz dele, portanto cê não pode ser ele.

— Ah, não sou eu? E quem te deu um ingresso pra assistir ao Super Bowl de 2015? 

— Ah, é você mesmo.

— Sabe aquele dia que eu conversei contigo? À noite, uns caras me levaram para um tipo de hospital secreto. Aquele escroto do Strannix me sequestrou.

— Minha nossa.

— E depois disso, meu amigo, a coisa ficou preta, literalmente. Acordei num leito de hospital em Boston...

A ligação foi interrompida quando o doutor Ramirez apareceu e Brittany o abraçou. Beringer ficou sem jeito, mas não podia chamar a atenção.

— Eu... não sei o que me deu. Tive um lapso na memória, por isso me esqueci de tudo naquele momento. Mas agora eu me lembrei que você é a mulher da minha vida.

— Ah, amor. Quando eu falar com a família, ninguém vai acreditar.

O homem teve alta e voltou com Brittany para Nova Iorque. A mulher estranhou o gelo que o "marido" deu por todo o caminho. A família de Zach e Brittany deu boas-vindas ao antes defunto. Sasha teve que se segurar para não chamar a atenção.

O avô de Brittany, um velhinho rabugento, mas de bom coração, olhou com desconfiança o marido da neta. Mesmo confinado numa cadeira de rodas, ele era bem ativo.

— Esqueceu meu nome, rapaz? Parece que nem é você!

— Vovô! O Zach bateu com a cabeça, ficou meses em coma e agora está com um pouco de amnésia. Aos poucos ele vai recobrando a memória.

— Sei não. Parece que alguém trocou de lugar com ele. Tá muito diferente.

Louis correu e pulou nos braços do homem. Sasha empurrou o garotinho que caiu e bateu a cabeça no chão. Nesse momento, todos ficaram olhando incrédulos para ele.

— Eu disse que esse cara não é teu marido. Mas ninguém ouve o velho.

— Meu filho... desculpa. Eu estou com problemas na cabeça e não consegui reconhecê-lo. Perdoa o papai?

— Tá doendo, mamãe.

— Querido, você tá sangrando na cabeça. Levarei você ao médico agora mesmo.

Sasha se levantou e pediu que todos fossem embora. A família se despediu, mas as coisas ficaram tensas.

Louis teve apenas uma concussão, tomou analgésicos e foi liberado. Brittany chegou em casa e viu o marido sentado no sofá jogando Xbox com os pés sobre a mesinha e bebendo cerveja.

 — Okay. Agora precisamos conversar.

— Opa. Não precisamos conversar. Precisamos namorar, tirar o atraso da vida. Sermos felizes. — Ele se levantou e agarrou por trás.

— Zach, para. Que mão boba é essa?

— Sabe, eu tinha meus preconceitos, minhas dúvidas, mas até que enxerguei pra vida e agora sou um novo homem. O que a gente precisa é de uma cama e o resto o destino se encarrega.

Usou de força para arrancar os botões da camisa de Brittany e deixá-la de sutiã. Tentou abaixar a sua saia, mas a moça estranhou a atitude troglodita do marido.

— Agora é sério. Amanhã a gente vai num terapeuta pra ver esse seu problema.

— Não preciso de terapeuta. Preciso de vaginas, uma cerveja e muito cigarro.

— Zach, estou te desconhecendo!

— Aquele frutinha deixou de existir. Agora o garanhão aqui vai ter que tirar o atraso. Vem Sam, vem.

— Quem é Sam?

Sasha parou por um tempo. Percebeu na besteira que acabou de falar. Naquela noite, o suposto Zachary dormiu no sofá.

...

Austin, Texas

Adolf levou o colega para o seu apartamento no centro da cidade. O ambiente era meio apertado, mas dava para dormir no sofá da sala.

— Não repara a bagunça. Como eu moro sozinho, não preciso de faxineira. Se bem que é muito fácil contratar uma empregada imigrante.

— Obrigado por tudo, amigo. Mas eu tenho que voltar para Nova Iorque o quanto antes.

— Vai de avião?

— De carro. Com o meu carro.

— Ahuahua. Ficou louco? É longe demais. Vai sair do oeste até o leste com aquela lata velha? Fala sério.

— E o que eu faço?

— Liga pro Victor.

— Não, isso não. Depois eu penso numa outra maneira. Tenho que tomar um banho.

Entrou no banheiro, tirou a jaqueta, a blusa e viu a marca mais odiosa de todas: a grande tatuagem da suástica em suas costas. Imediatamente teve uma crise de desespero. Chorou enquanto ficava sentado no sanitário.

— Quem sou eu?

Adolf bateu na porta.

— Que foi?

— Vai querer o Shampoo?

— Não precisa.

Mergulhado nas lamúrias internas, Zach fez força para tomar banho. Ao sair do cômodo, viu a mesa com comida.

— E isso?

— Cerveja e pizza.

— Pede comida japonesa. Não quero ter uma artéria obstruída antes dos 40.

— Sasha Beringer pedindo comida japonesa? Você não dizia que era comida de gente fresca?

— Mudei, tá bom?

— Tá.

O entregador apareceu em vinte minutos e deu a comida para o proprietário do apartamento. Zach agradeceu em oração e comeu. Adolf não parava de olhar para o loiro.

— Não vai comer?

— Vou sim.

— Que é isso no seu braço?

— Nada.

Uma marca roxa no braço direito de Adolf chamou a atenção do mais velho. Pelo jeito era um hematoma causado recentemente por alguém.

— Cara, você nunca se importou com isso mesmo. Você precisa se concentrar para voltar pra casa.

Zach se dispôs para ajudar a limpar o que sujou. Sentiu o pulso coçar antes de ver uma pequena elevação dentro da pele. Entrou no banheiro e viu que uma luz azul saía do objeto. Pegou uma faca e cortou a sua carne. Mesmo sangrando e sentindo dor, ele tirou o chip que fora implantado no seu novo corpo.

 

BIOCORP

— Avise para o chefe. A cobaia n°3 conseguiu descobrir o chip localizador. — falou um dos técnicos.

James Strannix tomou vinho durante uma conversa no gabinete do senador Nelson no Capitólio de Washington DC. 

— A américa precisa desse conhecimento como pioneira e para isso o prêmio Nobel é o primeiro passo.

— Se essas cobaias trocaram mesmo de mente então foi um grande sucesso. A questão agora é tentar convencer o meu partido nas duas casas.

— Jogo duro.

— Sim. Somos minoria nas duas casas, mas nas midterms temos chance de vencermos na Casa. O Senado que é difícil. E ainda tem o Trump que vetaria qualquer coisa.

— Mas que eu saiba, uma deputada democrata estava à frente de uma campanha contra o TC da BioCorp. Eu a odeio muito.

— Felizmente as eleições vão renovar muita coisa. Espere e verá.

Os dois brindaram. A mensagem sobre Zachary apareceu no celular do cientista. Seu semblante foi de descontentamento, mas não surpresa.

...

Nova Iorque

Victor ajudou a sua tia alemã para ir à igreja do bairro. Viu um carro preto parado perto da casa, se aproximou e foi puxado para dentro.

— Que merda é essa? Quem são vocês?

— Sou o James Strannix. Sabe... sou conhecido por seu amiguinho nazista.

— Hein? Não estou entendendo...

— Tá vendo a minha guarda-costa? — uma mulher afroamericana apontando uma pistola na direção do delinquente. — Esta é a Patty. Uma mulher negra, e você odeia os negros. Se eu pedir a ela que atire em suas bolas, ela vai fazer com todo o prazer. Violência gera violência.

— Tá, tá, tá. O que você quer?

— Quero saber se Sasha fez contato contigo?

— Não...

— Apenas me diga quando o ver aqui na cidade. Ele vai parecer mais diferente que o de costume. Por causa do eletrochoque, ele ficou descaracterizado. Também tem o fato dele ser procurado pela justiça.

— Certo.

— Aqui está o meu cartão. Caso você faça alguma inconsequência, juro que mato você, sua família e a família dele. Agora vá.

Cherokee correu para a casa da sua prima. Samantha King passava o tempo mexendo no celular quando assustou-se com as batidas na porta.

— Já vai. Que que você quer, Victor?

— Algo sério, prima. Fui deixar a nossa tia na igreja... um carro...

— Gente, seu pulmão tá quase saindo pela boca. Senta aqui. Agora fala.

Sentado na cadeira e mais descansado, Victor conversou sobre a conversa que teve com o cientista.

— Estou lascado. Esse senhor deve ser do governo, illuminati ou a mando da Wall Street.

— Que loucura! Precisa de uma camisa de força.

— Escuta! O Beringer está vivo. Ele me ligou de Boston e me disse umas coisas esquisitas. Hoje esse chefão me para na frente de casa me ameaçando caso eu não fale sobre o Sasha.

— Ai, meu Deus. Tá vendo. É nisso que dá se envolver com essa maldita irmandade. Vocês passam dias e dias fazendo discurso de ódio. Claro que isso atrai inimigos.

— Ele ameaçou a nossa família. Isso inclui você e a Emily.

— Não precisamos ficar em pânico. Tenho que entrar em contato com o Beringer o quanto antes.

...

Joachim flertava com uma policial em sua mesa no meio do expediente. Seu chefe, capitão Broward, chamou-o para ir a campo e ficar responsável de um caso de vendas de drogas.

— Manda outro, patrão.

— Pensei que adorasse o trabalhado de campo. Agora saia.

Assim que ele saiu, os demais policiais bateram palmas. Faixas com Bem-Vindo, até mesmo um bolo.

— Pensei que tinha morrido. Parabéns, parceiro.

— Não foi nada. Eu fiquei em coma e fui negligenciado pelos médicos. Agora as coisas serão bem melhores que antes.

A policial Poter trouxe um bolo com uma vela. Recebeu em troca um tapinha em sua bunda, deixando-a desconcertada.

Durante o trabalho de campo, ouviram uma chamada para o Brooklyn.

— No bairro dos negros?

— Como assim?

— Nada.

Eles pararam num daqueles blocos com apartamentos precários. Entraram e viram uma boca de fumo com vários usuários. A maioria eram jovens brancos. Pela janela viu um rapaz contando dinheiro enquanto atravessava a rua. Correu, deixando o parceiro para trás e apontou a pistola na cabeça do suposto traficante. O homem, negro, virou e sorriu ao ver o outro.

— Que foi? Tá me achando com cara de palhaço?

— Por favor, bro, deixa eu vazar. Pago cinco mil pela minha liberdade.

Sasha bateu com puro ódio ao traficante negro. Os moradores viram aquilo, mas não ficaram alardeados, afinal era um policial negro batendo num negro.

— Tá bom. Vamos levá-lo.

— Tá bom nada.

Ele empurrou o colega policial e assumiu o volante. Dirigiu para um lugar ermo, num beco sem saída. Lá pegou o traficante, colocou-o de joelho e esvaziou o pente em sua cabeça.

— Que merda você fez?

— Bem-vindo a revolução.


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Notas finais do capítulo

:)



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