Preto|Branco escrita por Sensei Oji Mestre Nyah Fanfic


Capítulo 2
Troca


Notas iniciais do capítulo

Agora a treta começa kkkk



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ESTOCOLMO, SUÉCIA

Um mês depois do trágico incidente com o helicóptero em Nova Iorque, James Strannix visitou a capital do prêmio Nobel. Seu maior sonho é finalmente ter a chance de ser reconhecido mundialmente pelo seu trabalho de transplante de consciência feitao em animais no laboratório da BioCorp. No entanto, o prêmio de 2018 estava muito mais difícil, porque dois cientistas de renome estavam na disputa acirrada.

— E o comitê?

— As chances do senhor melhoraram, mas os favoritos do Nobel de Ciência está com o indiano Shakkar Houani, conseguiu clonar espécies de peixes em extinção, e temos o australiano Sebastian Lutz, conhecido por ter planejado o novo  método de detecção de terremotos com duas semanas de antecedência.

— Ora... o que tem tão de especial nisso? Esses caras são uns malditos ideólogos. Peixe tem aos montes no mar e terremoto existe desde que este planeta respira. Agora com a tecnologia de transplante de consciência podemos revolucionar a ciência.

— Senhor, a Suprema Corte autorizou apenas com animais pequenos. Esse tipo de teste é obsoleto para alguma revolução científica.

James se levantou da cadeira, pegou a bengala e caminhou até a janela do hotel.

— Precisaríamos de cobaias mais úteis, não acha?

— A Suprema Corte deu causa perdida com HRW v BioCorp. Aqueles caras dos direitos humanos venceram. Não se pode usar animais maiores ou... humanos.

— Mas ninguém precisa saber. Você vai falar, Michael?

— Não, senhor.

...

Brittany ficou sentada na cama, olhando as fotos do seu casamento. Lembranças boas vieram-lhe à tona, mas logo a tristeza por saber que o seu cônjuge não respondia ao tratamento.

Zachary sofrera traumatismo craniano desde que bateu a cabeça fortemente contra uma parede de concreto. Desde então era mantido em coma induzido durante todo o mês que esteve internado. O médico deu a chance para a família do policial desligar os aparelhos, porém a sua esposa vetou essa possibilidade.

— Brittany — disse uma senhora afroamericana ao aparecer na porta do apartamento da advogada.

— Mamãe — as duas se abraçaram.

A senhora O'Neal foi para a casa da filha a fim de ajudá-la na mudança para Boston. Os médicos do hospital conveniado com a BioCorp poderiam tratar melhor o problema cerebral de Zach.

— Ainda acho que você deveria reconsiderar a proposta do médico.

— Não, isso não. Ainda tenho esperança que ele vai se salvar.

— Se você diz... Vai pegar a estrada?

— Claro. Eu adoro dirigir. E Massachusets é bem aí perto. Louis e eu teremos um tempo como filho e mãe.

— Não deixe de ligar pra mim quando chegar.

Horas depois, o carro da advogada passava pelas estradas americanas. Louis brincava com seus bonecos quando questionou a ausência do seu pai.

— Papai está indo de avião, querido.

— Posso ver ele?

— Ainda não.

— Por quê?

— Não faça mais perguntas. Papai está numa missão especial e precisou ficar fora, mas ele volta. Ele vai voltar... vai voltar.

O carro parou num drive-thru. Brittany pediu dois sanduíches e refrigerante. O caminho para Boston era exaustivo. Teve que alugar um quarto de motel de beira de estrada para passar a noite. No dia seguinte voltaram para a estrada.

— Já chegamos?

— Estamos chegando.

A placa indicava a entrada para o estado de Massachusets. Logo Boston apareceu no horizonte.

Ela alugou um quarto de hotel bastante aconchegante. Sua irmã mais velha havia chegado na cidade para passar uns dois dias com Louis enquanto a mãe dele visitava o moribundo no hospital.

 

HOSPITAL ISRAELITA AVIGDOR MOSAM

O helicóptero com Zachary entubado chegou por volta do meio-dia. Dois médicos e vários ajudantes levaram o homem que estava na maca para o andar da UTI.

Brittany passou meia-hora aguardando o médico liberar a sua visita.

— Querido... o que vai ser de nós agora? Como vou poder explicar ao Louis?

O médico responsável pela transferência de Zach conversava com uma pessoa em seu escritório.

— O que você está me pedindo é antiético. Não posso pegar um dos pacientes, mesmo em estado terminal ou vegetativo, e liberar para o T.C da BioCorp. Sabe que a suprema corte, a opinião pública, a mídia, políticos conservadores e progressistas, todos são contra. Se isso vaza, estarei perdido.

James Strannix sentou-se no sofá bege do escritório.

— Quem contaria? Você?

— Por Deus. Mesmo que fosse autorizado, os parentes jamais deixariam.

— Doutor Ramirez, o senhor precisa entender que a ciência só avança com sacrifícios. Graças às experiências cruéis dos nazistas alemães, fascistas italianos, comunistas soviéticos e orientais japoneses, nunca teríamos a tecnologia de hoje. E a família nem precisa saber.

O médico respirou fundo. O portorriquenho transpirou. Seu passado o condenava, Strannix sabia disso, por isso sempre conseguia ceder às chantagens do mais velho.

— Eu já tenho o nome para ser a minha cobaia.

— Jesus...

— Zachary Scott Thomas. Por isso autorizamos a transferência dele para cá. Amanhã esse homem vai morrer de repente e teremos a nossa cobaia.

— Eu vi a esposa dele. Tenha compaixão, senhor Strannix.

— Eu tenho, senhor Ramirez. Melhor do que morrer, é ter a chance de viver num outro corpo.

Ramirez autorizou que a falsa morte de Zach Thomas acontecesse. Na manhã seguinte, Brittany, sua irmã e os parentes do policial receberam a péssima notícia. Duas enfermeiras deram a falsa notícia sobre a morte do homem. Houve um clamor e logo uma oração ao redor do suposto defunto.

 

Dois dias depois, o pastor fazia o discurso religioso perante dezenas de familiares e amigos. Ninguém acreditava que o jovem e atlético Zachary morreu depois de passar um mês em coma.

Estranhamente o caixão permaneceu fechado. O médico legista deu a informação que a tentativa de reanimação com pressão e choque havia deformado o corpo e o rosto dele.

O caixão, com uma bandeira americana, entrou no buraco e logo o túmulo vedado. Policiais deram tiros para o alto como forma de prestar homenagem.

 

IML DE BOSTON

O médico legista e o doutor Strannix entraram no recinto onde se guardava os cadáveres em gavetas. O homem abriu e revelou Zach mantido vivo por meio de aparelhos.

— Isso vai dar uma merda.

— Claro que não. Para todos os efeitos este homem está morto. Ai meu Nobel... ai meu Nobel.

— Tá, mas precisa de outra pessoa para a experiência. Quem será o besta que vai se submeter a isso?

— Já tenho alguém em mente.

...

PENITENCIÁRIA DE NOVA IORQUE

O carcereiro passou o cassetete nas grades e parou na cela de Beringer.

— Acorda, bonitão. Você tem visita.

O loiro se levantou, escovou os dentes e se olhou no espelhinho da parede. Passou a mão nos cabelos e sorriu. Foi levado pelo carcereiro para a sala de visitas.

Victor Cherokee aguardava o melhor amigo do outro lado do vidro. Pegaram o telefone e conversaram.

— Há dois anos eu que tava nessa situação. Como vai, amigo?

— Péssimo. Fiz uma burrada daquelas.

— Pois é sobre isso que vim. A irmandade não te perdoou por ter abandonado os cinco irmãos de causa enquanto tentava fugir naquele helicóptero.

— Era só o que me faltava.

— Temos um novo líder regional. O Derek Bauer. Ele ficou no seu lugar.

— Aquele filho da mãe! Ele praticamente era o meu empregado doméstico. Agora quer dar um de chefe? Aquele merdinha. Escute, Cherokee, eu preciso sair daqui.

— Como?

— Eu não posso ser julgado. Vou ser condenado à perpétua. Fui pego em flagrante. Mas eu não sei como. Apenas topo qualquer coisa pra cair fora da prisão.

Conversa vai conversa vem, Beringer se despediu do amigo e voltou para a cela. Um traficante negro na cela da frente ficou fazendo graça com o loiro.

— Que foi, crioulo safado? Tá me achando bonito? Vai à merda! Maldito Bauer, o que é seu tá guardado.

 

À noite, um helicóptero pousou no campo da prisão. Minutos depois o diretor e dois guardas abriram a cela de Beringer. Sem entender o que houve, foi conduzido para a aeronave ainda com as mãos e os pés algemados.

 

SEDE DA BIOCORP

Na periferia de Boston, um complexo de laboratórios se estendia a uma área de até vinte hectares. O prédio principal lembrava uma cúpula branca cheia de janelas. No teto havia um heliponto onde o helicóptero pousou.

— Pra onde estão me levando? — os guardas haviam colocado um pano preto na sua cabeça.

Sasha foi deitado a força numa cama. Seus membros foram amarrados, inclusive seu pescoço. Retiraram o pano e os olhos azuis dele viu a sala branca ao redor.

— Que merda é essa?

— Você está sob meu poder agora.

— Jimmy Strannix, seu maldito! O que vai fazer comigo?

— Quero você. Vou me explicar, eu quero o seu cérebro, o seu eu, a sua alma, o seu corpo. Você foi escolhido para trocar de corpo com outra pessoa.

— Merda! Fala sério?

Strannix autorizou dar uma dose cavalar de propofol para o loiro que desmaiou quase imediatamente.

Uma máquina ultra-moderna abriu uma parte do crânio de Zach e soltou lasers para curá-lo do estado vegetativo. Cada laser era da espessura de um fio de cabelo, centenas num tipo de capacete transparente.

— Ele já teve melhora. O hipocampo foi restaurado. — disse uma doutora.

— Excelente. Até amanhã pela manhã ele sairá do coma. Mas antes dele abrir o olho vamos fazer a troca de consciência.

 

No dia seguinte...

O laboratório foi preparado para o excepcional transplante de consciência humana. Ambos os pacientes foram deitados em macas um ao lado do outro. Fios e mais fios saíam de uma máquina bastante potente e se conectavam ao cérebro e medula espinhal deles.

— Um processo demorado que vai valer à pena.

— Doutor Strannix, o senador Nelson no telefone.

Em conluio com a BioCorp, o senador federal democrata Shappiro Nelson aceitou que o teste fosse feito. Se desse certo, tentaria convencer seus pares e a suprema corte.

Todas as memórias, incluindo aquelas que ficavam no subconsciente foram trocadas com sucesso. Era como se o espírito ou a vida de um tivesse passado para o outro. Oito horas com buracos na cabeça, os dois foram liberados. Médicos estancaram o sangramento do crânio, limparam qualquer resquício de nódulos ou coágulos e fecharam as cabeças deles.

— Foi um sucesso!

A equipe da BioCorp aplaudiu a audácia do procedimento.

— Senador, o teste foi um sucesso. Obrigado, senhor. Abram o champanhe.

Strannix comemorou com uma pequena festa no seu gabinete. Os médicos beberam e festejaram.

As duas vítimas... ou melhor, as duas cobaias permaneceram em coma induzido por pelo menos um mês para que o cérebro de cada qual se adaptasse com suas novas lembranças.

...

Junho de 2018

O homem sonhou que estava com a sua família. Brittany, Louis e ele brincavam num parque de diversões. Abraçava o filhinho, colocava-o no cavalinho do carrossel, comiam pipoca. A família Thomas junta novamente. Entretanto, o sonho acabou.

Zach, com a visão turva, acordou dentro de um carro. Passou pelo menos cinco minutos para acordar definitivamente e ver que estava num veículo. Olhou para os lados. Confuso, lembrou da última coisa que fez quando estava acordado: entrar no helicóptero para prender Sasha Beringer.

— Moço, o senhor pode me dá cinco dólares pra ajudar minha irmãzinha? — falou um garotinho negro.

— Nã... ten... Não tenho... — sua voz estava rouca.

Sem saber onde estava, Thomas saiu do carro e foi caminhar pela calçada. Era um lugar com muita movimentação de pessoas. Esbarrou num policial.

— Desculpa, senhor policial. Acontece que...

— Tudo bem. Tá com problemas?

— Eu também sou policial e acordei desorientado.

— Hum... Pode ficar tranquilo. Não vou te delatar para a corregedoria. Agora vê se maneira na "marvada".

— Onde estamos?

— Tá de brincadeira? Estamos no Texas, amigo.

— Ah, sim... O QUÊ?!!!

— Não gostei do seu grito. Quer ser preso? Vaza daqui.

Zach não entendeu o porquê de ter acordado num carro numa rua do Texas. Era do outro lado do país!

Algumas ruas depois, ele viu dois jovens negros parados na esquina.

— E aí, manos? Podem ajudar um irmão?

Os dois fuzilaram Zachary com os olhos. Momentos depois eles deixaram o homem com o olho roxo.

— Eu só queria pedir uma informação!

— Cara maluco. Falando como se fosse negro.

— Pois é, esse branquelo.

Zach não entendeu. A ficha caiu quando olhou para as suas mãos e viu a tonalidade bem mais clara. Olhou pelo vidro de uma loja o reflexo do corpo de Sasha Beringer. Ele desmaiou no meio da rua.


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Notas finais do capítulo

HRW = Human Rights Watch

:)



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