Do amor ao oceano escrita por Miss Koroleva


Capítulo 4
Reencontro




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/770327/chapter/4

As semanas passaram rápido e,muito diferente do que se esperava,não houveram mais acontecimentos estranhos: Tudo parecia seguir o ritmo natural,fato que também não diminuiu no trabalho de todos a bordo. Depois de mais de um mês desde que tudo ocorrera, finalmente estariam de volta em casa. Aquele foi o último embarque do ano e,logo que chegassem ao porto de Nice,poderiam respirar mais tranquilos,já que outra equipe ia ficar no lugar durante o período em terra.
— Nem tô acreditando que a gente já vai voltar! Acho que não ter um relógio sempre a mão faz o tempo passar mais rápido! - Alya parecia empolgada,abraçando Nino com vigor.
— Com certeza! Só mais um mês de serviço fora do navio e,depois,dois meses de férias! Quem diria que ia valer a pena desse jeito trabalhar em todos os feriados do ano? - O rapaz gesticulou com as mãos.
— Oh,com total certeza,Nino! A gente emendou os feriados pra salvar as emergências do resgate… Valeu cada segundo gasto!
— Eu sei disso,amor. - A abraçou pelas costas,dando um beijo leve em seu maxilar - Agora a gente precisa levar os animais pro centro terrestre e continuar o tratamento. Eles tão muito estranhos daquele jeito,mesmo com o soro que criamos…
Alya sentiu a tensão se realocar. - Pois é… Conseguimos evitar que a maior parte morresse,porém, sobreviver em cativeiro não é solução. Talvez alguém na cidade consiga descobrir o que há…- A morena cravou o olhar no horizonte,observado o sol parcialmente obscurecido pelas nuvens,pensativa. - Os exames da Mylene apontaram lesões hepáticas e tumores nos animais. Quando fui analisar nos tecidos,os cistos pareciam estar congelados,como se fossem bombas relógio esperando apenas alguém apertar o botão… Isso tá fora de qualquer caso que eu já tenha visto antes! - Respirou pesadamente,tentando expiar o cansaço que sentia de não ver uma situação resolvida.
Marinette se aproximou a passos largos do casal - Desculpa interromper vocês,mas o Ivan pediu pra avisar que vamos atracar em torno de uma hora. Ah,e eu e a Mylene precisamos de ajuda pra separar e retirar os materiais dos setores!
Eles se olharam de canto, seguindo-a em silêncio para concluir o que fora solicitado. A tensão da situação desconhecida anuviava suas cabeças de maneira intrincada.
Quando,enfim,desembarcaram,a sensação de pisarem em terra firme forneceu uma sensação imediata de alívio. Estar em casa era quase uma raridade nos últimos tempos,entrar de férias em seguida e poder aproveitar os últimos meses do ano em família,então,era ainda mais difícil de acontecer. Depois de diversas viagens de ida e volta carregando os últimos animais e itens para o pequeno caminhão da associação responsável,puderam então organizar as próprias coisas e colocá-las na caminhonete de transporte. Marinette foi a última a descer e a guardar seus itens pessoais, parando em seguida para observar serena a visão das ondas colidindo com as rochas mais á frente do local,gerando espuma que chegava perto do cais. Era sempre agradável meditar ali e colocar os pensamentos em ordem.
Seu momento de quietude,no entanto,não durou muito,pois começou a escutar uma voz lhe chamando de perto.
"Marinette!…"
A princípio,pensou que fosse algum de seus amigos,mas as coisas começaram a ficar estranhas quando notou que todos estavam distantes os suficiente para que não ouvisse tão claro e próximo um chamado deles.
"Marinette!…"
Quando se ateu ao chão,buscando a origem da voz,observando pelo meio das madeiras da construção,visualizou uma barbatana verde cruzar a água cristalina e agitada,quebrando uma pequena onda no local.
"Mas o quê…Será que pode ser?…" - Pensou,sentindo seu coração começar a se agitar pela aflição.
Resolveu seguí-la até o final do cais onde,curiosamente,as ondas praticamente se extinguiam,formando um pequeno lago cristalino de água salgada, no qual ela deveria ser capaz de enxergar algo extraordinário,mas nada parecia diferente.
Ela girou a cabeça de um lado a outro,percorrendo a construção em L com o rochedo,que era praticamente abandonada,sem sucesso.
— Certo,eu tô alucinando… Só me faltava essa,ver coisas e agora ouvir vozes me chaman… - No exato segundo em que se preparava para voltar de onde viera,uma voz masculina desconhecida ecoou novamente.
— Marinette? - Ela se virou assustada,em direção á ponta,onde encontrou um rapaz com os braços apoiados numa construção rústica de mesmo material que dava acesso ao mar. - É você,não é?
Ele tinha exatamente a mesma fisionomia da criatura que vislumbrara durante o mergulho,mas era,decerto, diferente: Seu rosto era inteiramente humano,onde era possível visualizar até mesmo a pele levemente bronzeada e orelhas um pouco pontiagudas,porém muito parecidas com as humanas, além dos mesmos olhos verdes,dotados de uma coloração natural e mais comum. Ele parecia feliz em vê-la. Ela,no entanto,devolveu com um olhar desconfiado,lutando contra seus instintos,tentando se aproximar a pequenos passos dele. Talvez ele não fosse quem ela estava pensando que era. - Sou eu… E quem é você?
— Meu nome é Adrien. Eu gostaria de falar com a senhorita… Acho que estou com algo que lhe pertence.
Ela arqueou a sobrancelha,alteração da fisionomia que não pareceu passar despercebido por ele,cuja alegria pareceu se retrair quando ela cruzou os braços no peito, impassível. - Algo que me pertence? E,aliás,como é que você sabe o meu nome?
Ele entreabriu os braços apoiados,revelando uma faca sob o piso,muito semelhante á que perdera recentemente,pegando-a pelo cabo e estendendo com a parte cortante voltada em sua própria direção. - Bom,estava escrita na lâmina. Imaginei que fosse o seu nome,M'lady rainha dos oceanos…
De imediato,o olhar da mestiça se expandiu e sentiu uma explosão de felicidade imediata tomar conta de seu corpo. - A minha faca de mergulho! Eu não acredito! - Ela se aproximou o suficiente do rapaz,pegando rapidamente o objeto de sua mão e a observando cuidadosa. Era idêntica a que tinha perdido. Ela devolveu o olhar surpresa. - M-mas como você a encontrou?… Eu perdi ela no meio do mar,ninguém consegue descer naquela profundidade e voltar sem sofrer uma descompressão violenta…
O loiro pareceu não entender a confusão.- Eu a encontrei no fundo,mas quando voltei para devolver,você já não estava mais lá… - A voz de Marinette congelou. Era possível que ambos fossem a mesma pessoa? - E eu não pude agradecer devidamente por você ter salvo a minha vida,então...
— Esperaí,como é? Eu salvei a sua vida?… - Gesticulava ansiosa,tentando se afastar de costas lentamente de onde ele estava. - Não,olha,acho que você se enganou,eu nunca te vi antes…
Ele aumentou um pouco o tom de voz,afirmativo. - Eu tenho certeza que era você. Mesmo usando uma máscara de mergulho,você tem o rosto igual... E eu sei que você tá com medo,mas não precisa se afastar assim… - Ela então parou,olhando para os próprios pés,tentando disfarçar o nervosismo e a timidez. - Se eu fosse te machucar,não teria te devolvido a sua faca e,agora que você a tem,poderia perfeitamente me atacar...
Ela inspirou fundo,tomando coragem de encará-lo novamente - E-eu não vou te atacar! Eu só não... Não acredito que aquilo foi real,parece loucura demais para mim...
— Bom,é loucura pra mim também, acreditar que uma humana me salvou,mas cá estamos. - Ele riu,descontraído,dando de ombros. - E eu sou eternamente grato pelo que você fez. Sabe-se lá que destino teria se você não… - Ele baixou o olhar,a voz trazendo certa tristeza. - Bem,você já imagina... Muito obrigado!
Marinette resolveu baixar a guarda e chegar próximo de onde ele estava,cruzando as pernas e se sentando á sua frente,forçando-se a encarar a situação nova. - Me desculpa por tentar fugir,eu… Eu me assustei de verdade com tudo isso,mas… Acho que também preciso te agradecer...
O tritão a encarou com a cabeça tombada para o lado. - Me agradecer? Pelo quê?
Ela fixou o olhar no rosto dele,aproveitando o impulso para falar antes que perdesse a coragem. - Você me puxou da frente do navio antes de eu perder a faca… Se não fosse você,talvez eu tivesse o mesmo destino que ela. - Ele devolveu o olhar,enrijecendo as costas um pouco espantado pela afirmação direta. - Então,obrigada!
— Eu agi por instinto... - Ele desviou um pouco o rosto,tentando não transparecer o leve rubor.
— Você tem reflexos rápidos,isso é incrível! - Ela riu baixo,se sentindo um pouco mais a vontade. - Bem,será que você pode me explicar uma coisa?
— Claro! O que quer saber? - Se inclinou mais próximo dela,observando atento.
— Se você é mesmo aquele…Hã,sereio?...
— Tritão. - Ele corrigiu.
— Isso,aquele tritão… Por quê quando te vi da primeira vez você estava de um jeito e agora está de outro? Digo… Antes,a sua pele estava quase inteira preta e os seus olhos…Não sei,pareciam muito mais brilhantes… E agora você está assim,parecendo uma pessoa comum!
Ele sorriu. - Ah,isso! Digamos que eu tenho algumas... Habilidades especiais! Quando resolvo usar,acabo ficando diferente,do mesmo jeito que você falou...
— Se você tem "habilidades especiais",como diz - Mencionou as aspas usando os dedos. - Por que não conseguiu se libertar sozinho?
— Mas eu consegui. Da primeira,porque foi onde eu pude usar. Mas não contava que ia acabar preso de novo e como não dá para reativar ele num período curto de tempo, eu…
Ela o fitou espantada,tentando se recordar do que tinha visto. - Ei,como assim de novo?! Peraí... Foi você quem queimou aquela rede?
— Sim,fui eu… Você chegou a ver?!…
— É lógico que vi! A coisa mais estranha do mundo,uma rede que conseguiu queimar debaixo d'água,eu não ia perceber? Mas como você fez isso?… É impossível! - A de olhos azuis se desconcertou por alguns instantes,mas não tivera tempo de ouvir a resposta, pois escutou outra voz chamando seu nome ao longe: Alya,que provavelmente estava á sua procura. - Droga… Eu… Acho que já vou indo… - Sua voz saiu firme,levantando o corpo num único movimento para se retirar.
Adrien deu um pequeno salto da água,apoiando o peso do corpo no outro braço,segurando em sua mão antes que ela resolvesse sair do lugar,deixando visível uma parcela de sua cauda,idêntica á que Marinette vira naquela ocasião. - Espera!… Você precisa mesmo ir?…
Ouvira novamente seu nome ser chamado,se aproximando de onde estavam - Preciso… Senão vou deixar meus amigos preocupados. Fora que alguém pode te ver e eu não sei se isso ia ser boa coisa…
O tritão segurou sua mão com mais força. Seu olhar trazia tristeza pela despedida. - Será que… A gente pode se ver amanhã?
Ela o encarou incrédula. - A-amanhã? M-mas por quê?…
O loiro baixou o olhar, um pouco envergonhado. - Eu… Gostei de conversar contigo… Você poderia voltar para me ver?
A mestiça pensou um pouco. O rapaz não parecia uma ameaça e ele parecia se agradar da presença,a ponto de pedir para que voltasse. Além disso,ela ainda detinha curiosidade sobre a própria existência materializada á sua frente. Mesmo que não estivesse certa se era a decisão a se tomar,seu tempo se esgotou quando ouviu passos se aproximando de onde estavam e precisava dar uma resposta rápida para que ninguém mais o visse. -Sim,eu… Eu volto amanhã. Me espere aqui mesmo,antes do sol se pôr!
O tritão sorriu satisfeito com a resposta,soltando a mão da moça e permitindo que ela se afastasse. - Vou te esperar,Marinette! Até amanhã!
— Até! - Ela acenou,vendo-o sumir veloz do local quando a sombra estranha se aproximou,nadando em direção ás regiões mais afastadas. Ela mantinha o olhar longínquo quando ouviu a voz que a procurava muito mais próxima.
— Finalmente te achei! Caramba,não some assim! Ficamos te procurando por todo o lugar,que diabos você tava fazendo aqui?
A pergunta certeira a fez inventar uma desculpa necessária,colocando uma mecha do cabelo que havia se soltado atrás da orelha. - E-eu…Eu tava vendo uma família de tartarugas passear por aqui! A coisa mais linda,Alya! Você perdeu!
— Ain,sério? Da próxima vez me chama,eu adoro vê-las nadando em liberdade! - A de óculos passou o braço pelos ombros da mestiça,puxando-a de volta. - Agora vem,vamos voltar pra casa… Estávamos te esperando pra pegar carona,não desperdiça! - Marinette riu,enquanto se aproximavam do local.
Logo que as duas entraram no veículo,o mesmo seguiu rumo ás regiões mais habitadas da cidade,deixando cada um dos integrantes em suas residências,exceto Mylene e Ivan,onde ambos desceram na casa dos pais dela,já que iriam passar o fim de semana juntos. Marinette foi a última a sair,se despedindo amigavelmente do colega de trabalho que dirigia o veículo e,então,reabrir a porta da padaria de seus pais,ouvindo o característico sininho tilintar acima.
— Mãe,pai! Cheguei! - O cheiro de doces inundou suas narinas,acompanhado da visão de seus pais surpresos pelo seu retorno. Sua mãe largou a caixa onde guardava as encomendas e correu ao seu encontro,dando-lhe um forte abraço,seguida de seu pai,que abraçou as duas carinhosamente. - Que saudade eu estava de vocês!
— Nós também,querida! Como foi a viagem? - Sabine parecia empolgada e não fazia questão de esconder.
— Foi ótima,eu… Fiz muitas coisas novas! Ah, tivemos um serviço puxado dessa vez,Antibes estava um caos total! - Marinette se aproximou dos dois,contando uma parte dos detalhes da viagem,obviamente tendo de ocultar o encontro,por assim dizer.
Durante o resto da noite,jantaram juntos,aproveitando o tempo que teriam com a filha em casa,enquanto ela narrava histórias engraçadas e absurdas que testemunhara durante o período de trabalho,fazendo todos á mesa reagirem e começar uma conversa muito animada,que só foi terminar com o início da madrugada,quando concluíram a arrumação a cozinha e resolveram ir deitar.
Marinette subia as escadas para o andar superior,quando sua mãe chamou-lhe calmamente.
— Eu esqueci de te perguntar,filha: Como anda a reforma na casa? Você disse que não ia ficar muito mais conosco,as coisas já estão acertadas por lá?
A mais nova desceu alguns lances,apoiando-se no corrimão - Já está praticamente tudo pronto,mãe. Eu só preciso passar para supervisionar a pintura da área externa,que ainda está bem desgastada por causa da maresia. Mas já tinha terminado de mobiliar tudo antes de embarcar nesta última viagem. Exceto o quarto dos espelhos,que eu só passei para limpar mesmo… - Ela suspirou baixo,com certo desânimo. - É o único que eu ainda não tenho coragem de mexer em nada,tem tantas memórias morando ali …
Sabine se aproximou,dando-lhe um afago - Sei que é difícil pensar nisso,Marinette. Mas agora aquela é a sua casa,preserve o que você achar que deve,mas não esqueça que o tempo segue para todos. Quem sabe um dia você não dá uma utilidade nova àquele cômodo? -. A chinesa deu uma risada descontraída,determinando bem a subjetividade na frase.
Marinette riu,negando divertidamente com a cabeça - Aí,mãe! Você não existe! Mas,quem sabe um dia,né?… Eu também tenho vontade de ter uma família... Boa noite! - Resolveu subir para o seu antigo quarto,observando os detalhes únicos da parede e decoração,os quais registraram boa parte de sua vida. De tão exausta que estava,colocou um pijama e resolveu deitar direto na cama. Ela jamais imaginaria que um único dia pudesse ter tantas reviravoltas.
Mas seus pensamentos finais se concentraram no tritão que conhecera: Adrien tinha algo que,apesar de soar absurdo,trazia a ela uma sensação de familiaridade. Talvez fosse o choque inicial,mas agora,mais do que antes,ela estava realmente empolgada para reencontrá-lo e,quem sabe,conversar melhor sobre as questões que lhe atiçavam a curiosidade,incluso a pergunta que não lhe fora respondida. Aguardando ansiosa pelo dia seguinte,ela cerrou os olhos,rendendo-se a um merecido descanso.

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Se você gostou,deixe um comentário! Próxima semana teremos capítulo novo,fiquem de olho!
Nos vemos em breve! ♥️



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Do amor ao oceano" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.