O IMPÉRIO DOS DRAGÕES escrita por GONGSUN QIAN


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Sprites**- São semelhantes a fadas, espíritos ou criaturas que vivem em florestas.

Yang'Er**: Apelido de Mei Yang



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As roupas sujas e esfarrapadas misturados com o aspecto aflito e torturado da jovem prisioneira que passava pelos corredores da corte celestial suprema, denotava anos, talvez milênios de solidão e agonia.

Quem olhasse para a jovem deusa nesse momento nada reconheceria da mulher forte e feliz que fora um dia. Conforme andava, podia sentir seus ossos estalando. Depois de anos trancafiada dentro de uma cabaça, poder andar livremente como uma pessoa normal era no mínimo excitante. Assim que a jovem se aproximou no trono celestial, os guardas a fizeram se ajoelhar, logo ela, que odiava aquele clã maldito que na sua concepção destruiu toda sua família, sua vida, seus sonhos. Agora estava ali, ajoelhada, humilhada como uma mera mortal perante ao imperador celestial e todo seu conselho que a selou por mil anos injustamente.

— Mei Yang, princesa do reino fantasma — o som da grossa voz do imperador fez com que ela erguesse o rosto e o encarasse, depois de um milênio a expressão serena daquele homem sentado ao trono com sua enorme túnica branca sem nenhuma mancha ou amarrotado não mudara em nada, em sua cabeça sustentava a enorme coroa de ouro com pedras vermelhas contrastando com seu cabelo platinado, mostrando para todos, onde quer que ele fosse, que seu sangue era celestial. Aquele sangue repulsivo que a princesa odiava em seu mais profundo íntimo que merecia ser extirpado da face da terra. E um dia, Mei Yang faria isso, ela limparia o mundo de pessoas como aqueles seres injustos que se acham donos da justiça. Seu nome e o nome de todo seu clã que fora massacrado pelos celestiais seria finalmente inocentado. Era só nisso que ela pensava enquanto olhava toda corte de julgamento a sua volta, a impiedosa imperatriz celestial, o deus dos quatro mares que era o irmão mais novo do imperador, a deusa da terra e alguns membros que ela ainda não tinha visto. Todos a encaravam com desprezo, pensavam que sua existência tinha que ser destruída. Porém, para a alegria de Mei Yang, eles não poderiam matá-la. Sua essência obscura era o que mantinha a balança do mundo equilibrada e sem ela tudo ruiria.

Todos pararam de encarar a prisioneira quando um homem bem baixinho trajando vestes totalmente vermelhas com longos cabelos negros carregando um enorme pergaminho branco entrou pelas portas de ouro do salão em passos apressados e subiu a enorme escadaria espelhada que dava acesso ao trono celestial. O pequeno homem era Quon Xu, um imortal menor do clã dos sprites* da terra que trabalhava para o deus maior das estrelas, o deus que tudo via e tudo escrevia. E quando ele estendeu o rolo para o imperador celestial, Mei Yang soube que seu destino estava traçado, ela sabia qual seria sua sentença.

— Princesa fantasma, seu selo se enfraqueceu ao longo do milênio. Quem diria que isso aconteceria? — o som da voz do imperador foi sarcástico. Quem diria que ela conseguiria enfraquecer o selo feito pelo próprio pai celestial? — Devido ao seu crime e a sua antecipada saída da prisão, temos que decidir como terminar sua sanção. Sua pena seria de cinco mil anos, mas o selo foi aberto com mil. Sendo assim, o conselho celestial decidirá como irá proceder o resto da sua pena.

—Deveríamos matá-la, ela quase quebrou a balança que equilibra as forças do universo. — as palavras ditas pela deusa da terra foi apenas a lenha que faltava para ascender a ira no coração de Mei Yang. Foram eles que mataram sua família, não ela!

— Mesmo que quiséssemos, não podemos. A essência dela é o que mantém a ordem cósmica de pé. Precisamos do Yang para equilibrar as energias que movem o universo. — Dessa vez foi o deus da água que falou, e ele parecia seriamente preocupado com a ordem das energias que compunha o mundo. Enquanto a corte discutia sobre seu futuro, Mei Yang apenas observava a sua volta o esplendor do ambiente. Eles viveram em luxo, vestidos de seda e cobertos de ouros. O salão branco como as nuvens com as portas e janela revestidos de ouro e prata, O piso parecia um espelho e refletia o céu rosado dando algo suntuoso ao palácio, uma grande mesa forrada com vinhos e um grande banquete que ela só vira em seus sonhos, esperava o fim da reunião, e todos aqueles a sua volta se fartaria com comida, enquanto ela voltaria para seu sofrimento. Os celestiais tinham tudo, enquanto ela perdeu casa, sua família, sua honra, seu trono, até sua liberdade foi massacrada pelos interesses dos mais fortes. Mas, um dia sua sentença iria acabar, e quando acabasse sua vingança viria.

O imperador celestial chamou a atenção de todo conselho para ele. Parecia que sua sentença estava pronta. E o sorriso de deboche que saiu dos lábios da imperatriz celestial foi o suficiente para Mei Yang saber qual seria sua pena. A pior pena de todas para um imortal.

— As sete provações humanas – o imperador celestial soltou um sorriso ao olhar pra ela — Sua sentença final é ser lançada como mortal por sessenta anos terrestres. Seus poderes serão selados, assim como sua memória, de nada se lembrará de seu passado como deusa, assim como sua força será reprimida no mais profundo íntimo. Viverá como uma mera mortal. — Todos nesse momento fizeram silêncio aquilo era a prova de que o conselho concordava com a sentença do imperador celestial. Um outro rolo foi entregue as mãos do homem sentado ao trono, e ao ler o conteúdo ele sorriu. — Aqui está seu destino, sua trajetória no mundo mortal — ele ergueu o pergaminho e balançou no ar como se aquilo fosse uma diversão. — Princesa Mei Yang, como eu disse, sua forma deusa será selada e renascerá na terra como uma humana, passará pelas sete provações mortais, dor, perda, doença, miséria, fome, solidão e por último a provação de amor, completará o ciclo de nascer, crescer e morrer. Se sobreviver a todas elas poderá retornar ao seu lugar de direito, a princesa do reino fantasma. Se não conseguir morrerá na sua forma humana e a energia Yang será extinta do mundo. A balança está em suas mãos, nobre princesa.

Todos sorriram pela forma que ele se referiu a ela. Ela seria selada, passaria 60 anos como uma mortal e estaria vulnerável a qualquer ataque dos celestiais. Isso era ruim, muito ruim!

Uma mão forte segurou seus braços a fazendo levantar de forma brusca. Seu corpo foi lançado para fora do salão celestial como se fosse um mero lixo mortal. E quando Mei Yang caiu no pátio de entrada para o enorme palácio do imperador, seu coração acelerou, não foi uma aceleração normal, foi algo estranho, como se fosse uma sensação familiar. Ela só sentira isso uma única vez na vida, quando seu pai ainda era vivo. Porém, ao erguer os olhos opacos e triste ela viu um homem parado de frente para ela, suas vestes brancas eram mais simples que o do imperador celestial, mas algo sobre ele denotava superioridade, seu rosto era belo e transmitia paz. Quem era ele?

— Princesa Mei Yang, venha comigo — o jovem rapaz lhe ajudou a se erguer do chão e retirou uma mecha de seus longos cabelos negros desgrenhados pelos anos na prisão e colocou atrás da orelha. Seu toque era gentil e quando ele sorriu seu coração se aqueceu. Era como se um sol que não vira há anos finalmente viesse cobrir seu corpo frio e maltratado pela prisão. A mente de Mei Yang só conseguia pensar: Quem era ele? Mas, isso não importava, ele era um celestial, e ela iria se vingar de todos os celestiais, inclusive aquele jovem rapaz de rosto extremamente belo, firme e com os olhos bicolores, um verde o outro castanho, que parecia disfarçar seu olhar frio e trejeitos de guerreiro que provavelmente assolara grandes reinos, e matara gente em todos os níveis de crueldade. Era bem contraditório aquela descrição, contudo depois de pensar bem sobre a aparência inigualável daquele homem e seu olhar cruel, finalmente sua mente ascendeu. Ele era o deus da guerra Yan Feng. O tão famoso general dos exércitos celestiais, que nunca perdeu uma guerra, era conhecido por ser tirânico com seus inimigos, e muito leal aos seus companheiros. E sua beleza estarrecedora era famosa pelos nove céus. E mais ainda, era filho do imperador e herdeiro de todas as camadas celestiais.

— Me solte! — sua voz soou rude fazendo o rapaz lhe soltar. Mei Yang esfregou seu pulso dolorido pelas algemas que lhe prendeu por mil anos e ergueu seu rosto cansado. — Não quero sua ajuda. Posso caminhar sozinha até o palácio das estrelas.

— Pode mesmo? — ele sorriu e algo em seus olhos brilharam. — Sempre ouvi falar da princesa do reino fantasma, Mei Yang, mas não sabia que era tão rude.

— Yan Feng, deixe a princesa em paz, não está vendo que ela está sofrendo? — Mei Yang reconheceu a voz daquele homem na mesma hora. Era Ch'eng Huang, seu velho amigo que tentara lhe livrar da prisão há mil anos. Ele continuava o mesmo, nada nele mudara. Apenas a expressão alegre e doce que ele outrora ostentava, não estava mais lá. Apenas um olhar aflito que parecia ter medo do futuro. — Yang'Er*, vamos, tenho que te levar para o selo.

Ela apenas abaixou os olhos e seguiu Ch'eng pelos corredores da nona camada celestial. Nada mudara desde que estivera ali há mil anos. Os palácios cercados de flores coloridas e aquela áurea cintilante ainda era a mesma. Apenas ela sofreu mudanças, apenas sua energia mudou para algo escuro e tórrido. Mei Yang sentia nojo do seu próprio corpo sujo, na figura repugnante que se transformara. Ao estar ao lado de Ch'eng Huang percebeu enfim, como a vida foi cruel com ela.

— Qual será meu destino?

— Não sei ao certo, mas parece que nascerá como uma princesa de um reino rico e poderoso. Nada mais sei sobre sua vida terrena — Ch'eng Huang olhou para sua amiga e lhe abraçou de forma carinhosa, mas ela parecia lhe repulsar. Até entendia os sentimentos dela , ela foi traída pela raça dele. Ela devia lhe culpar também. — Yang'Er*, me escute. Eu vou te selar, então não conseguirá se lembrar de nada do que viveu, seus poderes serão trancados também. A partir de agora será uma mortal. Até que passe os sessenta anos terrestres, você não conseguirá quebrar o selo.

— Eu posso quebrar o selo antes?

— Isso nunca aconteceu, mas se você completar as sete provações humanas antes dos sessenta anos, então talvez você consiga quebrar seu selo antes do tempo. Mas, você corre perigo, ao ser selada estará vulnerável a todos os ataques dos imortais. Sabe que muitos vão tentar matá-la em sua forma humana. E sabe que se morrer nas mãos de um imortal...

— Minha existência será apagada para sempre. Eu sei. Ch'eng, quero te pedir algo. Se ainda for meu amigo como diz ser, descubra quem foi o culpado da morte do meu clã. Se eu for morrer nessa provação ou no meu retorno aos céus, quero que descubra tudo. Não posso morrer sem saber a verdade. Quem foi o verdadeiro assassino da minha família.

— Pode deixar, saiba que sou seu amigo, sempre serei. E eu vou te proteger enquanto estiver na sua forma humana. O tempo da terra não é igual ao céu. Sabe disso. Estará de volta em alguns meses. Sessenta anos na terra equivale a dois meses no céu. Nos veremos em breve. — depois de mil anos, finalmente Mei Yang sorriu. E não foi um sorriso falso. Ch'eng Haung era a única pessoa que poderia confiar naquele momento.

Os dois caminharam até o portal dos nove céus e Mei Yang viu a esfera da verdade que tanto ouvira falar. Aquele globo prateado rodeado por forte energia pura parecia querer ler sua mente. Então caminhou lentamente até aquela bola flutuante. E quando menos esperou, ela sentiu algo se prender dentro dela. Aos poucos a dor de sua vida foi passando, como se tudo que tivesse vivido nos últimos mil anos dentro daquela cabaça não fosse real. Seu corpo foi arremessado contra um portal de luz e ela fechou os olhos.

Ch'eng Huang, um pouco distante da cena, observou quando a esfera soltou o selo e prendeu o corpo de Mei Yang no ar. O brilho dos oito trigramas surgiu em sua fronte e todas suas feridas automaticamente foram saradas. Então, seu corpo sumiu pelo portal. Agora Mei Yang não era mais uma deusa, e sim uma mortal.

— Acha que ela vai sobreviver? — a voz fria e grossa de Yang Feng soou ao seu lado enquanto via a esfera se acalmar. A luz que irradiava até poucos segundos atrás, agora estava dentro da bola. Aquele era o fim!

— Sabe que todos os celestiais tentarão matá-la. Mas, eu não vou deixar!

— Eu ouvi o que ela te pediu. Se Mei Yang não é a culpada pela morte do reino fantasma, quem é?

— Eu não sei, mas eu vou descobrir. Devo isso a ela. — Cheng estava com um olhar determinado. Finalmente poderia fazer algo pela sua amiga. — Desde que Yang'Er * foi presa, o equilíbrio do mundo não é mais o mesmo, o reino mortal está em completo caos, assim como os nove céus. Seja quem esteja fazendo isso, creio que está conseguindo o que quer.

— Tem alguma suspeita?

— Não, mas vou investigar. Isso não é só sobre Mai'er, é sobre o equilíbrio da natureza. Nós, imortais e deuses, somos responsáveis por manter a ordem.

— Vou ajudar-lhe nessa busca. Afinal, sou o deus da guerra, o equilíbrio cósmico também está em minhas mãos. — Ch'eng Huang apenas sorriu. Ele estava grato pela ajuda. Mesmo Yan Feng sendo filho do imperador e da impiedosa imperatriz celestial, ele era gentil e sempre buscava a justiça.

— Vou me retirar, Mei Yang irá nascer daqui há duas horas. Preciso estar lá para quando isso acontecer. Sabe que temos muitos que desejam a morte dela.

— Tudo bem. Ficarei aqui. — assim que Ch'eng partiu, Yan Feng encarou a esfera da verdade. Seja quem que estivesse mexendo no equilibro da natureza, tinha total acesso a ela. Mas, apenas quatro pessoas iam até ali, apenas quatro suspeitos tinham naquele crime. Quem seria?

Ele se aproximou da esfera e estreitou os olhos para a luz que emanava dela. De fato, era muito bela. A luz celestial que saía dali era tão forte que seu corpo poderia ser facilmente arremessado contra a parede. Yan Feng parou a uma distância segura, algo ali não estava certo, a esfera estava irregular. Alguém estava alterando sua rotação. Quem seria o criminoso?

Sons de passos apressados e sorrateiros chamaram a atenção dele e logo Yan Feng assumiu a forma de um pequeno sprite* de um dragão branco e se escondeu por detrás da parede a espera do visitante curioso. Então, seus olhos não podiam acreditar no que estava vendo. A pessoa que se aproximava sorrateiramente pelos corredores até a esfera da verdade era...

— O que faz aqui? — Yan Feng saiu do seu esconderijo e encarou a pessoa que mexia na rotação da esfera. — Então quer dizer que é você que está mexendo...

— Ora ora, o deus da guerra descobriu... — A voz do criminoso soou perversa — Isso não é bom. O deus da guerra, o poderoso, majestoso príncipe herdeiro dos nove céus diante de mim, o que poderei fazer?. — Yan Feng retirou sua espada e mirou em sua presa, mas antes de poder atacar sentiu algo lhe atingir por detrás e paralisar seu corpo. Não conseguia sentir nada, nem um único membro. Suas mãos foram forçadas a largar a espada e antes que pudesse soltar qualquer palavra fora lançado contra a esfera que abriu para receber seu corpo que lançou um brilho o envolvendo completamente. Yan Feng pode sentir seu poder sendo selado e aos poucos sua memória sendo apagada até que ele atravessou o portal para o reino mortal. Ele renasceria como um humano. E Yan Feng não era mais o deus da guerra, era apenas um homem qualquer.  

 

 

 

     


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Notas finais do capítulo

Obrigado pela leitura e apoio, até a próxima!!!!! :)



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