por nós, quer-nos, oprime-nos escrita por houdini


Capítulo 5
V: por nós, desperta-nos.


Notas iniciais do capítulo

Quinto fragmento, boa leitura!



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p o r n ó s, q u e r n o s, o p r i m e n o s — V

Durante o período da tarde, Emídio se dedica aos seus deveres de aprendiz ao observar o padre Hemitério realizar batizados para membros de algumas famílias que se mudaram recentemente para Coimbra. E, depois de mais algumas missas e eventos no período da noite, finalmente volta para casa.

Não há dúvidas de que está cansado; porém, ele decide ficar de vigília para o caso de Calisto entrar na casa compartilhada por ambos de madrugada. O resultado logo se mostra infrutífero, e a única coisa que o rapaz consegue é ganhar olheiras profundas no dia seguinte àquele.

Ainda, Emídio não se conforma em desistir. Segura com força o papel que tirou debaixo do colchão de Calisto em mãos e, por algumas noites mais, continua a manter-se ali; a esperá-lo; a não esquecê-lo.

Seis são os dias em que consegue manter aquela rotina; no sétimo, Emídio cai no chão da sala e ressona num sono profundo. Preso no seu estado de inconsciência, apenas ao acordar, percebendo imediatamente que passou a manhã inteira dormindo, é que o rapaz descobre que já não mais segura o papel que Calisto deixou para trás.

Ou seja, Calisto esteve ali; e, definitivamente, Emídio supõe, teria partido para sempre.

Naquele momento, sente o esforço vão lhe pesar as costas cansadas. No peito, é como se a dor já não pudesse mais ser comedida. Ele o segura e, apenas naquele momento, é que se vê chorar num silêncio soturno.

É pedir demais que não desapareça por entre minhas mãos? Aparentemente, é. Emídio não entende o porquê. É como se Deus o julgasse por não ter conseguido compreender o suficiente as razões de seu melhor amigo.

A coisa que o faz se levantar do chão empoeirado é a fome; todavia, ao se pôr a mastigar a primeira fruta que encontra numa cesta, seu apetite se esvai. Então, naquele dilema entre continuar a se alimentar ou não, Emídio pensa no que poderia fazer com relação a todo o conflito existente dentro de si.

Eis que é tomado por uma ideia simples: a de procurá-lo pela cidade.

Por conseguinte, com o ânimo um pouco mais feroz, Emídio termina de mastigar a fruta, sai de casa e se dirige à igreja para avisar ao padre Hemitério que não iria ajudá-lo naquele dia — não explica o motivo em detalhes, mas, felizmente, o homem entende.

Sua jornada de procurar em cada buraco de Coimbra a pessoa que tem tirado suas noites de sono começa.

A cada residência, rua e bairro que passa, uma esperança é levantada; apenas para ir descobrindo, pouco a pouco, que não é todas as vezes são nada. Contudo, uma vez que Calisto visitou sua casa na noite anterior, de uma certeza Emídio pode se agarrar: a de que ele continua na cidade.

Em algum lugar, mas ainda assim na cidade. É impossível nas condições dele se mover para tão longe num período tão curto de tempo, afinal.

Escurece o céu, a chuva abaixa; as pessoas começam a se retirar das ruas lamacentas que lhe sujam as botas de couro. Emídio não se rende — encontrar o rapaz de cabelos tão claros quanto a lua é sua prioridade.

Pois nem mesmo se lembra de pedir a Deus por um bocado de sorte.

O sucesso de sua pequena — e crucial — missão depende, apenas, de resistência e força de vontade. Emídio sacrificaria seu tempo para possuir as duas sem pensar duas vezes, caso isso significasse fazer as coisas voltarem ao normal.

E é então que, à beira-mar, seus olhos reconhecem os de Calisto por um piscar.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler!



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