por nós, quer-nos, oprime-nos escrita por houdini


Capítulo 6
VI: por nós, compreenda-nos.


Notas iniciais do capítulo

Sexto fragmento, boa leitura!



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p o r n ó s, q u e r n o s, o p r i m e n o s — VI

“Calisto!” Emídio grita, se abobalhando na procura de enxergá-lo melhor em meio aos fios grossos de chuva. Aproxima-se um pouco mais do outro. “Por onde esteve?”

O olhar do amigo delata surpresa; ainda, com a voz controlada, Calisto rebate a pergunta com outra, “E por que você está aqui?”

“Estive te procurando, oras!” Emídio franze o cenho ao disparar a resposta. Consegue sentir a água do mar, meio agitada àquela hora, molhar seus pés, e é então que se controla. “Você não disse para onde iria. Achou que eu não ficaria preocupado?”

Calisto aperta os lábios. Após se permitir respirar profundamente, com o rosto virado para as águas do mar, repete as palavras da outra vez, “Você não entenderia. Nunca entenderia. Eu já te falei isso.”

Frustração cresce no peito de Emídio. Seus olhos tremem, tremem por sentir que seu amigo não confia tanto assim em si; tremem por achar que, talvez, mesmo que não saiba o porquê, o está prejudicando.

Porém, ao invés de parar ali, de desistir quando já está na linha de chegada, o jovem pede, com tal complacente tom de voz que nunca imaginaria que saísse pelos seus lábios, “Então me faça entender. Por favor, Calisto. Me faça entender; eu quero entender você.”

Emídio se ajoelha na frente dele, sentindo os joelhos se molharem com a água salgada — assim como o tecido que os cobrem. Nos seus olhos, quase uma súplica; não vá embora novamente sem dizer nada.

Meio sem jeito, Calisto o observa de cima. Seu silêncio, aterrador.

O vento forte logo indica a realização de um mal presságio, e então, Calisto observa: não deve perder mais tempo por ali.

“Há mais ou menos um mês, a senhora Dália me enviou uma carta.” Ele começa, recebendo um incentivo silencioso de Emídio para que continuasse. “Nela, contou sobre sua doença, uma enfermidade que os médicos não só disseram que não possuía cura, como também falaram que a chance de ela morrer por conta disso era alta.”

Emídio se propõe a interrompê-lo — para perguntar o motivo de não ter lhe dito de algo tão importante antes — mas Calisto o cala ao continuar, “Assim, ela me perguntou se eu não poderia ajudá-la de alguma forma, afinal, a senhora Dália sabia que eu poderia tentar. E eu, da minha parte, respondi que sim.”

“Entendo. E como você pretendia fazer isso...?” Emídio pergunta, quase sentindo o coração parar por conta do suspense.

Já o sabe, internamente; mas custa-lhe admitir que sim. Precisa ouvir dele para que, dessa forma, sua mente, em profunda negação, assuma aquilo como algo real.

Se aguentaria a queda, isso teria que descobrir.

“Eu pretendia...” Calisto para e, após isso, se agacha para ficar na altura dele. Olham-se olho a olho. São tão próximos naquele instante que Emídio não tem certeza de que respira. “Eu pretendia descobrir como fazer um remédio que realizasse um milagre.”

E eu o fiz. Sussurra Calisto rapidamente, a ponto de que, mesmo quando estão sozinhos na praia, só Emídio o escuta.

“Calisto...” É a única coisa que Emídio consegue dizer no momento. Seu pulso se torna frenético depois de ouvir o que ele tinha a dizer, o que o faz tremer de forma fraca. “Calisto, você é...?”

A pergunta permanece suspensa no ar até que o outro rapaz a responda, “Um bruxo, não. Sou um curandeiro.”


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler!



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