Ambos acordaram confiantes naquele dia. Após um ano de trabalho intenso, após um ano imaginando esse dia, temendo ele, falando sobre ele, lutando para que quando chegasse tudo ocorresse bem. Finalmente chegara. O dia da reunião do conselho. O sucesso do lançamento ontem acendeu a esperança de que em pouco tempo, seis meses no máximo, poderiam ser equilibradas as contas da Ecomoda e saírem desse redemoinho que nem se lembram mais onde e como entraram.

Apesar dessa confiança, havia um questionamento pequeno: Como seria depois? Planejaram tanto aquele único dia que o que viria depois dele não foi contado. Na primeira hora laboral, Armando reafirmou a Betty seu desejo de que conversassem após o fim da diretoria, ela com seu olhar compreensível e doce concordou. A promessa que fez foi clara: Terminar tudo com Marcela naquele mesmo dia. Sabia que Beatriz contava com isso, com sua palavra. Até mesmo a própria Marcela desconfiava que faria, pois chorava com Patrícia em sua sala sobre isso.

Quando prometeu aquilo a Beatriz, como um meio de neutralizá-la para depois descumprir seus sentimentos já haviam mudado, mas agora… Agora tudo mudou mais do que esperava. A amava e precisava e queria cumprir. E para isso era necessário avisar Mário sobre sua decisão.

Enquanto a conversa acontecia e os olhos de Armando eram abertos para uma nova perspectiva que não estudou (sobre como seria egoísta de sua parte abandonar um barco que ele mesmo afundou e na qual dependia a vida de sua família e funcionários), Betty saiu de sua sala para a do chefe em busca de uma promissória do Banco Montreal.

Todas ficavam em seu poder, mas uma em particular esqueceu com Seu Armando, queria ter todas em mão e arquivar, já que era certo que em alguns meses diriam adeus aquela situação. Buscou entre as gavetas da mesa do escritório onde encontrou um envelope com vários papéis aleatórios de diferentes funções. Revirou um por um até um impresso em especial chamar sua atenção, pegou e começou a ler.

Estimado Presidente,

Aquí están las instrucciones para que continúes tu rutina de horror con Betty.

En primer instancia encontrará las tarjetas que deberá continuar colocando en el escritorio cada mañana a su monstrete con su respectivo detalle. No se le vaya a olvidar, por que yo no voy a estar para hacerlo. Escribir esas tarjetas fue más difícil que nunca, por que con las anteriores al menos me contaba lo que pasaba la noche anterior. Los tétricos besos que le daba, las palabras para hacer el horror, digo el amor con ella.

Cada detalle de su itinerario de espanto, cuando menos me servia para escribirle algo. Así que estas tarjetas contienen sentimientos neutrales, supongo que durante estos días tendrá que volver al suplicio de besarla, y seguramente de acostarse con ella.

Igual aquí va la poesía barata que le fascina a ella, poesía para feas enamoradas. Como el monstrete debe estar ilusionada con la ausencia de Marcela lo mas seguro es que esté esperando que Ud. le dedique todas las noches a ella, y tendría razón en pensarlo. Pero ojo, debe tener cuidado, Marcela no lo va a descuidar. Seguramente Patricia le va seguir los pasos y si Ud. da motivo Marcela le va cancelar el matrimonio, y tiene deseo de hacerlo y Ud. sabe mejor que nadie que eso es lo ultimo que debe admitir. Ese matrimonio debe hacerse contra viento y marea.

Yo le sugiero que mañana la lleve al evento de Adriana Arboleda, no se le hará extraño para nadie que vaya con ella. Tómese unos embellecedores, llévela a la casa y si se inspira lo suficiente acuéstese con ella. Si...si...si....si ....ya sé la cara de mártir que debe de estar poniendo al leer esto. Pero Ud. como que ya no padece tanto el horror de acostarse con ella. Ya esta anestesiado así que hágalo mañana y salga de eso de una vez. Ella quedará contenta y se la quita de encima por unos días. Ah pero eso sí, yo no le presto más mi apartamento...no señor...Ud. me dañó el record....que digo dañó, me lo volvió pedazos, hasta el portero se burló de lo fea que era la mujer que llevó.

Por otra parte mi estimado Dr. el hecho de que mañana se la quite de encima por unos días, no significa que se descuide. Mantenga la rutina de tarjetas y detalles que vienen aquí, por que Don Nicolás Mora sigue detrás de Betty y detrás de EcoModa,y no quiero que cuando regrese me tenga la noticia de que la descuido y la dejo en manos de ese tipo, por que eso sería lo mismo que haberle entregado la empresa a él. Y bueno espero que esta semana sea menos horrible que las otras que ha padecido con ella, pero siempre lleve en la cabeza este lema “Beso a Betty por no perder a EcoModa”..... “Le hago el amor a Betty para no perder a EcoModa”....piense que con cada beso, con cada terrible caricia Ud. se está asegurando de que Betty jamás nos haga una jugarreta.

Por ultimo le recuerdo que durante estos días Ud. tiene que ser muy especial, no solo por mantener a salvo a EcoModa, sino por que hay que forzarla a que maquille los informes para la junta que viene. Hermano, ella ahí nos tiene en sus manos, y si se ve reúnete a colaborarnos, pues cierre los ojos, tómese otros embellecedores, aliste frases sensibles y llévesela para la cama más próxima....a por que yo le digo, no hay nadie más feliz que una fea después de hacer el amor. Bien mi estimado Presidente, se que terminara de leer estas instrucciones completamente asqueado, pero piense en una cosa....este infierno no va ser para toda la vida. Ud. volverá a ser el hombre feliz rodeado de mujeres bellas, cuando ella nos devuelva la empresa.

Animo Presidente.

Atentamente,

Mario Calderón

Betty estava destruída por dentro e por fora. Não conseguia acreditar que aquilo que acabara de ler era tudo uma armadilha. Estava arrependida amargamente de ter ajudado no embargo da empresa, estava furiosa por ter deixado se enganar desse jeito. Queria tanto, mas tanto entregar eles dois. Seu coração clamava para ter sua dignidade de volta, mas agora tudo já estava feito. Iria entregar o falso balanço conforme o que planejaram, porém seria a última vez que Armando a veria. Por fim, decidiu que vai se demitir.

Suspirando profundamente e de modo automático arrumou as papeladas de volta ao lugar de origem, enxugou suas lágrimas e lavou seu rosto e com o restante de coragem que ainda tinha fora para a sala de reuniões.

Ao chegar lá, todos já estavam presentes, incluindo um resignado e triste Armando após ser convencido de que deveria se casar. Após sua entrada, o Sr. Roberto pediu para que o grupo se sentasse e, em seguida, o mesmo anunciou:

     ─ Antes de começar a reunião, gostaria de dizer que aconteça o que acontecer que tratemos tudo como uma grande família que sempre fomos e que o assunto morra aqui, sem criar intrigas. Ah, iremos fazer análise de todos os documentos e só depois, somente depois iremos opinar.

 Todos fizeram que sim com a cabeça e entregou as pastas para cada um.

Passaram horas mirando papéis, acompanhados das irônias de Daniel a cada argumento que Beatriz lançava em defesa do balance e do trabalho feito ao longo do último ano, uma vez ou outra quando exagerava Armando dava pausa em seu olhar de admiração para a brilhante proteção de Betty à sua administração e o respondia como deveria, logo tudo era pausado por um de seus pais. Também advertiu Marcela com uma expressão rígida após duas viradas de olho durante o discurso de Beatriz e assim ela parou e ignorou a presença da assistente da presidência.

Já Hugo estava ocupado demais em suas revistas de moda, assim como Gutierrez que aproveitava-se para olhar as modelos daquelas folhas. Já perto do fim, uma rápida interrupção pela chegada de Maria Beatriz Valencia aconteceu e logo conclui-se que a gestão de Armando Mendoza fora um sucesso. Mas para Betty aquele não era o fim daquela tortura, o assunto empresarial se encerrou dando início a um novo tópico. O casamento.