Cartas para um beija-flor escrita por Charbitch


Capítulo 13
Carta 13 – Carnaval




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6 de novembro de 2018

Querido beija-flor,

O tema da vez é a música "Lover Why". Ela reflete bem o meu questionamento: amor, por quê? Por que teve que acabar assim? Por que nossas flores morreram? Por que você teve que ir? Responda-me enquanto choro ao som de um solo de guitarra: oh, amor, por quê? Merecíamos isso? Não, não! A vida é tão injusta! Há tantos rapazes morando na minha cidade, mas não quero nenhum deles. Que sina, mon Dieu, justamente o que eu amo mora a quilômetros de mim! Eu esperneio como uma criança de seis anos, debato-me na cama, chame-me de mimada, mas me recuso a aceitar o fim.

Hoje desabafei com a minha colega. Disse que você era perfeito e que eu lamentava a sua perda. Eis que ela me disse: "Se fosse perfeito, vocês ainda estariam juntos. Não adianta persistir em algo sem futuro". Pois é... É verdade. Acho que posso dar uma resposta à pergunta da música. Amor, por quê? Porque não era pra ser. Simples assim.

~*~

Agora passemos à música que inspirou essas cartas: "Codinome Beija-Flor". Imagino que os leitores mais atentos já tenham captado a referência desde o início. Chamo-o de beija-flor, nunca pelo nome. Não te dou um rosto, não te dou uma identidade. Você é um beija-flor, um beija-flor que se convertou em ser humano para me brindar com seu beijo de esperança. Não direi pra qualquer um na rua quem você é, beija-flor, não se intimide, esse é o nosso segredo: só eu sei quem você é, onde mora, sua cor de cabelo, sua altura e suas feições. Aos que me leem, só darei direito a especulações.

Você está a salvo, minha boca é um túmulo. Dou-lhe a privacidade necessária. Mesmo que esses textos se espalhem, ninguém te reconhecerá na rua. Cada leitor verá no beija-flor a figura do próprio amado, não necessariamente a figura do meu. O beija-flor será impessoal. Qualquer um poderá se identificar com ele. Mas você, ah, amor, você será um caso à parte. Se um dia você me ler, saberá que estou falando de você. Quem sabe me procure? Quem sabe se revele o dono do codinome beija-flor? Não sei, não sei. De toda maneira, protegerei seu nome por amor.

~*~

"Chão de Giz" é a próxima música. A letra é longa e praticamente não se repete. O eu-lírico conta a história de um rapaz jovem que se apaixona por uma mulher mais velha (e casada). Os dois se conhecem no Carnaval e exprimem suas fantasias ocultas. Em meio a transas e cigarros, engatam um caso proibido. Porém, depois que o Carnaval acaba, a mulher se recusa a assumir o rapaz, pois não quer acabar com o próprio casamento. Ele, louco de amor, decepcionado e machucado, escreve uma canção sobre o intenso e breve romance que viveu. O resultado é uma composição brilhante, repleta de metáforas complexas, referências obscuras e lirismo obsceno.

Nós somos um chão de giz: belo e efêmero. A chuva um dia haverá de lavá-lo, pois você seguirá o seu caminho, eu também seguirei o meu. Mas jamais me esquecerei de nosso Carnaval. Eu o guardo na alma, guardo-o no coração. Assim como Zé Ramalho eternizou sua amada, eu te eternizo hoje. Não me interessa quantas camisas de força eu tenha que vestir para sanar essa loucura, ou quantas camisas de vênus eu tenha que usar para impedir o contato direto com as carnes de outrém. Você é como eu imagino a loucura e o sexo, não há outro parâmetro cabível.

Esse chão de giz me marca como tinta permanente. Nossos confetes não somem; eles ainda colorem minhas lembranças. Somos Pierrot e Colombina, consegue sentir? Ah, meu beija-flor, ainda te tenho dentro de mim!

Com amor,

Da sua eterna flor.


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