Poliana Moça escrita por esterjuli


Capítulo 5
Meu Porto Seguro


Notas iniciais do capítulo

Oláaaa, estou de volta com mais um capítulo! Dessa vez não demorei, espero conseguir continuar postando semanalmente! Muito obrigada a todos que leram até aqui e por terem tido interesse pela fanfic, ao invés de olharem a sinopse e desistirem! Fico muito feliz com cada visualização que recebo. Isso com certeza é um grande estímulo pra continuar escrevendo. Então, novamente, muito obrigadaaa! S2 Espero que gostem do cap. novo.



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Pov. João

Agora era pra valer, eu estava em São Paulo e, novamente, era eu por mim mesmo. Tá, talvez eu esteja exagerando um pouco. Não tô sozinho como quando cheguei pela primeira vez não. O caminho pode até aqui pode até ter sido sofrido, mas valeu a pena. Aqui eu encontrei um monte de amigos arretados, que se importam de verdade comigo. E ói que ainda nem falei do Feijão que desde que eu encontrei, virou meu cabra-réi pra qualquer aventura. Quando voltei pra o Ceará, levei ele comigo. Os anos se passaram e a nossa amizade só se fortaleceu, agora ele pode até tá veinho e não ter tanto pique quanto antes, mas enquanto ele estiver comigo, não me importo de andar mais devagar pra que ele me acompanhe ou de carregar ele nos braços quando fica cansado. É o mínimo que posso fazer pra agradecer por tudo que ele já fez por mim.

Como eu falei, estava de volta em São Paulo. Na verdade, há algum tempo atrás eu já tinha voltado, desde sempre tive vontade de morar aqui e agora que ia fazer faculdade, as oportunidades são bem maiores por aqui. Claro, o fato de poder estar perto dos meus amigos e da Poliana ter voltado também influenciaram minha escolha. Quando cheguei, fiz a prova pra uma faculdade daqui, que era bem conhecida por ter um curso de música muito bom. Resultado, passei. Rapaz, pense que eu fiquei feliz. Aprontei minhas malas e procurei um cantinho pra ficar. Achei um apartamento perto da região em que meus amigos, a padaria e a Ruth Goulart ficavam. Morei só com o Feijão por um tempo, até voltar pra Fortaleza pra passar as férias com meus pais.

Depois do que aconteceu com o meu pai, tentei fazer com que minha mãe viesse morar comigo. Ela aceitou, mas disse que por enquanto ela não tava pronta pra ir pra São Paulo, que ia ficar em Quixadá, pois ainda estava se recuperando e eu entendo. Se perder meu pai foi tão difícil pra mim que vivia em pé de guerra com ele, imagina pra mãe que sempre o amou. Enquanto isso, eu fico aqui, preparando a vinda dela. O próximo passo era arranjar um emprego pra eu poder me sustentar e sustentar mãe, pelo menos até ela conseguir um trabalho aqui. Fui até a padaria do Durval, ver se tinha uma vaga pra mim na padaria. Ele disse que no momento não tinha como ajudar, porque já tinha contratado mais funcionários do que deveria. Mas também disse que tinha uma sugestão.

— João, porque tu não vais na Ruth Goulart? Soube que estão procurando por alguém para ajudar na limpeza. Penso que como tu já tivestes estudado e até morado lá, seja um bom ambiente para o seu primeiro emprego.

— Má, que ideia massa! Brigado, Durval! Deixe eu correr logo, que essa vaga de ouro eu não posso perder. – eu disse, apertando sua mão em agradecimento e saindo por cima de tudo. Cheguei rapidinho na Ruth Goulart. Vi o Lindomar no meio do pátio e fui cumprimentar ele.

— Lindomar, cabra-réi! Que saudade que eu tava de tu – eu disse dando um aperto de mão e depois um abraço.

— João! Quanto tempo que não te vejo, garoto. Tanto tempo que nem um garoto você é mais. Olha só, já tá quase maior que eu.

— É, pois é. Dei uma espichada nesse tempo que fiquei longe. Lindomar, eu vim aqui pra saber da vaga de emprego – eu disse, esperançoso.

— Ah sim! Vamos comigo até a diretoria. Você teve sorte, foi um dos primeiros a vir. – ele falou e então fomos para a diretoria. Chegando lá, tinha um cara saindo da sala da Ruth, Lindomar me disse que aquele tinha sido o segundo a vir. Minhas esperanças diminuíram, não esperava por concorrência. Então, entramos na sala da Ruth.

— B-boa tarde, Dona Ruth. Licença. Sou eu, o João. Lembra? – comecei a falar um pouco nervoso.

— Oi João! Claro que lembro. Não esqueço de nenhum dos meus alunos, quem dirá de você que entrou de um modo não muito convencional. – ela disse, se levantando para me cumprimentar.

— Pois é, né. Ganhar uma bolsa de um comitê não deve acontecer todo dia. Ainda mais pra colocar um menino que veio lá de cima – eu disse, perdendo um pouco do nervosismo.

— Lá de cima? Como assim? Da parte de cima do Brasil? – ela perguntou, expressando confusão.

— Também, mas o que eu quis dizer é que eu sou um anjo. Vim de lá de cima, entendeu? – quando vi que minha piada não tinha funcionado para quebrar o clima de tensão e que ela mal tinha mudado de expressão eu disse: - É... n-na verdade eu quis dizer que eu vim lá de cima, da casa de máquinas, onde eu morei por um tempo, lembra?

— Ah sim, lembro-me bem, mas digamos que não é uma das melhores lembranças. Aquilo podia ter causado muita confusão. – eu engoli seco - Mas então João, a que devo sua visita? – ela perguntou com expressão séria, porém um pouco mais amistosa do que de costume.

— Então, eu soube que a escola tinha aberto vagas pra trabalhar na limpeza da escola. E como eu acabei de me mudar pra cá e preciso de um emprego pra me sustentar, eu pensei em me candidatar pra essa vaga. – eu disse, ajeitando a postura e tentando parecer o mais profissional possível.

— Humm.. entendo. E porque eu te escolheria? O que você tem que os outros candidatos não? – Ruth perguntou com olhar desafiador.

— E-eu, bom eu conheço a escola como ninguém. Por ter morado aqui eu conheço cada canto dessa escola. E outra, eu posso fazer de tudo, lavo banheiro, conserto coisa, vigio as crianças, se precisar até os dutos eu limpo. – eu falei confiante.

— É, até que é um bom argumento, mas não sei se é o bastante para me convencer. – ela disse, cruzando os braços.

— Ói, eu sei que eu posso não ter sido o melhor aluno dessa escola e que você nem vai tanto com a minha cara – eu disse e ela olhou espantada – Não te tiro a razão, eu era meio abestado quando criança e quando alguém pisava no meu calo, eu não tinha sangue de barata. Mas, os anos passaram e eu aprendi a me controlar, posso te garantir que o João que eu sou hoje é muito diferente do que chegou nessa escola há anos atrás. Passei por muita coisa que me fizeram aprender, inclusive pela escola, que com certeza foi muito importante pra formar a pessoa que eu sou agora. Ficaria muito feliz de ser escolhido, mas se não puder, tudo bem, pelo menos fico feliz de poder te agradecer por tudo que você e todo o pessoal da escola me proporcionaram. – Falei e me levantei pra sair, estendi a mão para cumprimentar a Ruth e ela hesitou por um momento até retribuir. Então me virei pra sair.

— João – ela me chamou, então me virei. – Os candidatos que vieram até então não se saíram muito bem, tem algum tempo que o anúncio foi colocado e apenas duas pessoas vieram até então. Como você é uma pessoa que eu conheço e sei que posso confiar, eu vou te dar essa chance, mas não desper... – eu a interrompi com um abraço.

— Muito obrigado, Dona Ruth! Você não vai se arrepender de jeito nenhum. Vou ser o melhor funcionário que a senhora já teve. – eu disse comemorando e ela me olhou um pouco espantada com o abraço repentino.

— Agora já não sei mais se estou certa da minha decisão – ela falou, enquanto arrumava seu terninho. – Mas já que já tomei. Vou ser fiel a minha palavra. Depois vou te falar sobre algumas regras de conduta no ambiente de trabalho. Mas já adianto uma: De agora em diante, não me abrace, não gosto de abraços. – ela disse, levemente ameaçadora.

— S-sim, Dona Ruth. Desculpa, precisava demonstrar minha gratidão. – eu disse, nervoso. Ela deu um sorrisinho.

— Tudo bem, dessa vez passa. Pode ir agora. – ela disse, indo abrir a porta para mim.

— Certo. Até logo, Dona Ruth. Obrigado pela oportunidade. Boa tarde. – eu disse e então, saí. Assim que saí, sabia que precisava correr pra casa da Poliana pra contar tudo o que tinha acontecido. Por sorte, a casa dela não era longe, logo cheguei. Já era final de tarde e eu realmente esperava que ela não tivesse saído. Toquei a campainha umas duas vezes, lembrei que a Nanci, provavelmente não estaria lá, já que agora ela não trabalhava mais na casa da Poliana. Comecei a achar que não tinha ninguém na casa, até que ouvi o barulho da chave e vi a porta se abrir. Do outro lado, para minha surpresa, quem tinha aberto a porta era justamente o motivo da minha visita.

— Poliana! Que bom que você tá aqui! Preciso te contar o que aconteceu. Garanto que você vai gostar e... – falei sem parar até perceber que a Poliana não estava muito bem. Ela parecia abatida, como eu raramente via. – Oxe, o que foi que aconteceu? – eu falei, enquanto entrava na casa. Ela tentou dar um sorrisinho, provavelmente pra que eu não me preocupasse. Não funcionou, só me deixou mais preocupado.

— Não foi nada, João. Eu só não estou me sentindo muito bem hoje. – ela falou, não me convenceu.

— Sei de um remédio que pode curar esse mal-estar fácil, fácil. – eu disse – Uma boa e velha conversa. – assim, fomos sentar no sofá e eu perguntei de novo – Pronto, agora pode me dizer o que foi que aconteceu? E não adianta dizer que não foi nada, porque eu te conheço mais do que a palma da minha mão, sei que tu não tá bem. – eu disse e ela suspirou.

—  Ai, João! Eu tava tão feliz por voltar pra cá, achei que tudo voltaria a ser como antes, que eu iria encontrar meus amigos e parentes e seria a maior festa. – ela disse, com uma voz um pouco embargada.

— Mas não foi exatamente assim? – eu disse.

— Sim, claro. A minha chegada foi maravilhosa, o outro dia também. Mas agora que eu voltei pra casa e finalmente encarei a realidade. É muito mais tenso. Olha só pra casa, só se passaram quatro anos e ela já está ficando aos pedaços, nós não temos mais condições de arcar com uma casa desse tamanho. Eu sei que todo mundo deve pensar que por termos nos mudado de país, nós estamos ostentando uma fortuna, mas não é bem assim. Tia Luíza propôs justamente que viajássemos para tentar de novo, porque nossa situação financeira não estava das melhores. O tio Marcelo é de família rica, mas a Dona Glória está com Alzheimer faz algum tempo e mal lembra dos filhos dela, é uma situação muito complicada, que provavelmente ainda vai causar muita briga na família. E ainda tem o bebê chegando, o que significa que mais gastos virão por aí e eu preciso ajudar de alguma forma porque eles ainda não têm emprego aqui e... – ela falou aquilo tudo quase sem parar de respirar, tive que interromper.

— Poliana! Respira. Inspira. Respira. Isso. – eu disse, enquanto respirava junto. – Agora calma! Eu sei que é muita coisa, mas tu não pode querer resolver tudo sozinha. Não tem como.

— Eu sei, João. Mas é frustrante, eu preciso ajudar de alguma forma. – ela disse com uma expressão triste.

— E tu vai! Tu sempre arranja um jeito de ajudar, tu só não precisa se aperrear toda e querer resolver tudo de uma vez. Tu não precisa carregar o peso do mundo nas suas costas. – eu disse, enxugando uma das lágrimas que já desciam pelo seu rosto. – Tem mais alguma coisa, né? Você não costuma ficar tão pra baixo se não estiver sobrecarregada de problemas. – assim que eu falei, ela desatou a chorar. Eu puxei ela pra perto e a abracei, para que ela pudesse chorar no meu ombro, como tantas outras vezes. Era bom saber que ela se sentia tranquila em poder desabafar comigo, assim como eu me sinto com ela. Fiquei calado, esperando até que ela se sentisse bem pra falar. Ela se soltou do abraço e falou.

— Hoje, quando eu cheguei aqui. A falta do Antônio me doeu muito, muito, muito. Acho que até cruzar essa porta eu ainda tinha esperança que, de alguma forma, ele estivesse aqui, me esperando. Nem o fato de ter reencontrado o Bento fez eu me sentir melhor. – Bento? Aquele abestado tinha voltado pra São Paulo? Resolvi silenciar meu ciúme para ouvir a Poliana, ela precisava. – Talvez se eu pelo menos tivesse estado no enterro dele, essa ideia teria se fixado mais. Quando eu soube da notícia foi tão chocante, foi como perder outro parente, mas o pior era saber que eu perderia a chance de vê-lo pela última vez, de homenageá-lo. Minhas últimas provas da escola foram péssimas, porque eu não consegui me concentrar, pensando em como eu queria ter me despedido melhor do Antônio, como eu queria ao menos ver ele mais uma vez, mas já não era possível. – ela falava, enquanto enxugava as lágrimas que desciam pelo seu rosto.

— Agora entendi. Olha, Poliana. Meu palavreado num é tão bonito quanto o seu e eu posso até não ser o melhor conselheiro, mas eu posso tentar. Você se lembra do dia da sua despedida? Naquele dia, tu fez questão de escrever uma carta pra todos que tu conhecia, pra poder mostrar como tu era grata por ter conhecido todo mundo. Aquele foi, sem dúvidas, o melhor presente que eu poderia ter ganhado. Assim, que tu entrou no avião, alguns de nós já começamos a ler a carta no aeroporto mesmo. Uma dessas pessoas foi justamente o Antônio. Lembro muito bem que logo depois de ter lido a minha carta, fui procurar ele, que era uma das únicas pessoas que ainda estavam por lá. Quando cheguei perto notei que ele estava chorando como eu nunca tinha visto, tu sabe como é difícil ver o Antônio chorar. Dei um abraço nele e logo depois, ele me disse que era muito grato por poder ter convivido contigo durante esses anos, que tu era um anjo que tinha descido do céu pra iluminar a vida de todas as pessoas a sua volta e que tinha mudado completamente a vida naquela mansão. Ele ainda falou que não sabia se ia poder te ver de novo, porque nunca se sabe sobre essas coisas. Eu falei “Deixe de bestage, má. O sinhô ainda vai viver mais uns 30 anos no mínimo.” Ele riu e disse que não tinha medo, que pra ele já bastava tudo que ele já tinha vivido e que era muito grato pela vida dele. Tu com certeza deixou a vida dele muito mais feliz, Poliana. Eu não acho que ele quisesse uma “boa despedida”, até porque todos os momentos que viveram poderiam ser “boas despedidas”. Você nunca foi deixar pra demonstrar seu amor, quando já era tarde demais. – parei um pouco e lembrei do meu pai, ela pareceu ter entendido, porque segurou minha mão e apertou forte, como se dissesse “Vai ficar tudo bem”. Essa menina, até quando tá mal se preocupa com os outros – Bom, garanto que agora ele tá lá de cima cuidando da gente. E com certeza, não quer que tu se sinta culpada por algo que não é culpa sua. Vale muito mais demonstrar o amor durante a vida, do que depois da morte.

Eu terminei de falar e ela parou de chorar aos poucos. Em seguida, me abraçou forte. – Obrigada, João. Muito, muito obrigada. Obrigada por ser meu porto seguro. – confesso que essa última frase fez meu coração acelerar, sorri e abracei de volta, esperando que aquele abraço nunca acabasse.     


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam do Pov. do João? Escrevo mais capítulos dele? Quais foram suas partes favoritas? Espero saber de todas as reações de vocês ao capítulo nos comentários, críticas construtivas também são muito bem-vindas, só assim posso melhorar a qualidade da Fic cada vez mais. Muito obrigada por lerem e até o próximo capítulo.

P.S: Eu achei fofinho.

P.S²: Bento e João vão fazer faculdade de música na mesma região. Que coincidência, não?



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