Poliana Moça escrita por esterjuli


Capítulo 4
O Pianista


Notas iniciais do capítulo

Volteeei! Eu sei, eu sei. Demorei muito, mas a vida é assim, corrida. Então, não consegui postar nesse tempo. Peço desculpas, mas para mostrar como não desisti da Fic, aqui vai mais um capítulo. Espero que gostem! Foi feito com muito amor.



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Pov. Poliana

Depois de um fim de semana agitado, tinha chegado a hora de voltar para casa. Acordei exausta por ter conversado a noite toda com as meninas, mal podia esperar pra deitar na minha cama, no meu quarto do qual eu sentia tanta falta. Me despedi de todo mundo e prometi voltar no outro dia. Tio Durval se ofereceu pra me levar, mas eu disse a ele que preferia ir caminhando pra poder matar um pouco da saudade que eu estava da cidade. Caminhei um pouco e passei pela Ruth Goulart, a escola dos meus sonhos, continuava parecida, os alunos começavam a chegar com seus rostos nada empolgados, assim como em toda manhã de segunda. Até encontrei o Lindomar, dei um abraço nele e continuei caminhando.

De repente, tive uma vontade enorme de ir a um lugar que era um dos meus favoritos da cidade. Após algum tempo de caminhada, cheguei ao parque que eu tanto gostava de ir. Continuava lindo, cheio de gente, de pássaros e animais. Lembro das tantas vezes que fui ali quando precisava pensar em alguma maneira de ajudar alguém ou quando estava passando por algum momento difícil. Mas a memória que mais me vem à cabeça quando lembro desse parque, é a de quando conheci meu amigo Bento. Não esqueço daquele dia que estava sendo péssimo, até eu encontrar ele e fazer uma amizade que foi tão importante pra mim, na verdade, que é muito importante.

Mas, infelizmente, não mantivemos mais contato durante esses 4 anos que passei fora. Quando a Dona Marlus, a mulher que cuidava dele, faleceu, o Bento foi mandado para o conselho tutelar e foi impedido de sair até que encontrassem um novo lar pra ele. Passou-se um bom tempo e ele não foi adotado, é muito difícil para alguma família querer cuidar de um menino com necessidades especiais. Nós mantemos contato, claro. Eu visitei ele sempre que pude, nós trocávamos cartas sempre. Mas assim que eu me mudei pra Europa e mandei uma carta com o meu novo endereço, ele nunca mais respondeu, mandei várias cartas depois dessa. Sem resposta. Chorei por uma noite inteira, era muito doloroso perder contato com um amigo tão querido.

Enquanto eu vagava pelas lembranças, o tempo passou mais rápido do que eu tinha percebido. Olhei o relógio e vi que já passava das 9, se eu não me apressasse, minha tia iria ficar uma fera. Corri para sair da ponte em que eu estava e quase me bati com alguns pombos que passavam apressadamente por mim. Olhei para a direção que eles estavam indo e meus olhos começaram a se encher de lágrimas de imediato, o lugar, quer dizer, a pessoa para a qual os pombos estavam voando, era um rapaz com duas muletas, que encostado em uma árvore, jogava pedaços de pão para os pássaros. Corri o mais rápido que pude em direção a ele, quando cheguei mais perto, diminui o ritmo, até parar. Uma insegurança bateu, talvez não fosse ele, ou talvez ele não quisesse mais ser meu amigo, certamente parou de me mandar cartas por isso.     

— Alice? - Uma voz conhecida interrompeu meus pensamentos. Olhei pra frente e vi que o Bento olhava para mim com um sorriso estampado no rosto. Meus medos caíram por terra. – Procurando pelo coelho?

— Bento! Não acredito que é você mesmo! Quanto tempo! Como você cresceu!! – Corri para abraça-lo, com cuidado para não derrubar ele.

— Haha! Já vi que continua a mesma por dentro, por fora você também mudou muito. De volta à cidade? – Ele perguntou com ar acolhedor.

— Siiim! Cheguei ontem! E você? Não tinha se mudado pra longe daqui? Depois que você foi para o conselho nunca mais tinha te visto aqui no parque. Eles deixaram você sair? – Parei para respirar um pouco.

— Pois é, eu já fiz 18, agora sou responsável por mim mesmo. Passei na faculdade de música que fica aqui por perto e aluguei um apartamento próximo dessa área também. Depois que fiz 16, eu comecei a trabalhar para poder ter essa independência quando chegasse a idade adulta. – Ele falou, com o vocabulário perfeito de sempre. Era um orgulho ver que o Bento tinha se virado tão bem nesses anos.

— Uau! Que demais, Bento!!! Fico muuuito contente que você possa finalmente estudar música como sempre quis. Com certeza vai ser o melhor aluno da turma. Senão da faculdade. – Eu disse entusiasmada, ele sorriu modesto.

— Que nada, músicos muito melhores do que eu, frequentam aquela faculdade, mas estou muito empolgado de poder aprender mais com pessoas tão boas. Sem contar que a biblioteca de lá é ENORME! – Ele sorriu olhando para o chão como fazia as vezes. – Tá, mas chega de falar de mim. E você? Como foi na França?

— Ai, Bentoo!! Foi incrível! Não tem como expressar em palavras a experiência. Aprendi tanta coisa, vi tantas paisagens incríveis, inclusive aprendi uma língua nova. Sem contar que eu, a tia Luíza e o tio Marcelo nos unimos muito nesse tempo. Foi tudo maravilhoso! Quer dizer, nem tudo. Teve a parte de ficar longe de parte da minha família e dos meus amigos que foi muito dolorosa. Aliás... Bento, tem uma coisa que eu tenho que perguntar. – Eu falei e ele pareceu não premeditar qual seria a pergunta. – Porque você não respondeu minhas cartas depois que eu fui pra França? – perguntei um pouco apreensiva com a resposta.

— Boa pergunta... Bom, pouco antes de você ir embora, lembra que eu te mandei uma carta dizendo como minhas dores tinham piorado e como eu estava esperando uma vaga para iniciar um tratamento intenso que talvez fosse a única alternativa para diminuir as minhas dores? – eu assenti – Pois é, assim que você foi embora, o conselho conseguiu essa vaga pra mim. Porém esse tratamento era em outra cidade, tentei te mandar meu novo endereço por carta, mas acho que você já tinha ido para Paris. Basicamente, quando você me mandou a carta eu já não estava mais em São Paulo. Talvez o pessoal do conselho tenha recebido a carta, mas digamos que eles não são as pessoas mais atenciosas do mundo e nem se deram ao trabalho de enviar a carta para mim. Esse tempo sem me comunicar com você me fez sofrer bastante, até porque seu nome era um dos mais presentes no meu Livro da Alegria. – a esse ponto eu já não conseguia segurar as lágrimas, ele sorriu e deu um passo à frente com as muletas, dando sinal para que eu o abraçasse. E foi o que eu fiz.

— Bento, eu senti tanto a sua falta!!! – Falei entre as lágrimas. -  Fico tão feliz de ter te reencontrado. – Ele sorriu. E um som incomum interrompeu nossa conversa. Era a barriga do Bento roncando, assim como no dia que nos conhecemos.

— Bento! Ainda com esse velho costume de usar sua comida pra alimentar os pombos e ficar com fome. – Eu falei fingidamente ameaçadora. Ele deu de ombros e sorriu.

— Alguns velhos hábitos nunca mudam – Sorrimos e eu o convidei para ir até a minha casa para comer alguma coisa. Então olhei no relógio e vi que já estava perto das 10.

—  Meu Deus! Como já é tarde! Minha tia vai ficar furiosa comigo! – eu falei e Bento riu.

— Como eu disse, alguns velhos hábitos nunca mudam. – não consegui segurar a risada também. Assim, fomos em direção a minha casa. No caminho continuamos conversando.

— Bento, e a leitura? Continua tendo como hábito? – não consegui não dar uma risadinha por lembrar da última frase que Bento tinha dito.

— Ah, mas é claro! Sempre! Hoje eu trouxe alguns que peguei na biblioteca da cidade. Estou lendo um pouco de literatura estrangeira agora, os clássicos como “O Grande Gatsby” do F. Scott Fitzgerald e “O Velho e o Mar” do Hemingway. Mas como ainda gosto bastante de literatura infantil, também estava lendo “Matilda” do Roald Dahl. Eu já li várias vezes esse último, porque me identifico muito com a Matilda e com sua paixão pela leitura e sede pelo conhecimento. – Eu não conseguia conter o sorriso quando o Bento começava a falar dos livros.

— SIM! Também amo “Matilda”. É um dos meus livros favoritos. – A conversa fluiu tão bem que num instante já estávamos em casa. Abri a porta para o Bento e não fiquei muito surpresa ao ver que a tia Luíza estava sentada no sofá esperando por mim. E a expressão dela não era muito amigável.

— Poliana! Onde você estava?! Porque não atendeu nenhuma das chamadas que eu fiz? Seu tio me avisou que você tinha saído da padaria às 8:00. Como pode ter demorado duas horas pra chegar em casa? Estávamos todos preocupados. O Marcelo até foi te procurar. – a tia Luíza quando estava brava era como eu, não parava de falar.

— A culpa do atraso da Poliana foi minha. – o Bento se pronunciou.

— Desculpe, Bento. Eu mal te cumprimentei por causa do estresse, como vai? – minha tia pareceu se acalmar mais.

— Estou bem, mas eu só queria dizer que a Poliana parou para conversar comigo por isso se atrasou. – Bento continuou a se explicar.

— Não, Bento. Na verdade, a culpa é minha, eu demorei um bom tempo para chegar ao parque porque estava matando a saudade da cidade e o tempo passou que eu nem vi. – eu falei – Desculpa, Tia. – a Tia Luíza respirou fundo e adquiriu um semblante mais calmo.

— Tudo bem, Poliana. Dessa vez passa, porque você estava com saudade daqui e eu de certa forma entendo. Mas, que fique claro que eu não quero que isso se repita. Custava pelo menos manter contato pelo celular?

— Ih é, eu acho que eu esqueci meu celular na casa do tio Durval, hehe – eu disse em tom envergonhado.

— Tá vendo! Como é você, não fico surpresa. – tia Luíza falou com olhar irônico. – Agora, vão na cozinha, a Nanci se ofereceu para fazer algumas guloseimas, já que acabamos de chegar e mal tínhamos comida em casa. – comemorei e guiei o Bento até a cozinha. Assim que chegamos lá, já deu pra sentir o cheiro de um daqueles bolos que só a Nanci sabe fazer. Corri até ela e dei um abraço, surpreendendo-a.

— Poli! Que bom que você chegou! Já estava ficando com saudade novamente! – ela disse me abraçando de novo. – E esse rapaz? Bento? É você?! Meu Deus! Como você cresceu!!! Nem parece aquele menininho de antes. Tá bonitão, hein? – Nanci falou do mesmo jeito brincalhão de sempre. Fazendo Bento dar um sorriso tímido.

— Nanci! – falei rindo. Mas a Nanci tinha razão, o Bento tinha mudado e ele realmente estava mais bonito, não estava tão diferente assim, ainda mantinha os óculos de grau e o estilo de roupas continuava o mesmo. Mas estava bem mais alto, menos magro e agora tinha mudado de penteado, sua antiga franja, agora não existia mais, fazia parte de uma espécie de topete. Mas o que me deixava mais feliz, era ver que ele parecia muito mais saudável do que antes.

— Mas você não estava no conselho, Bento? – Nanci perguntou.

— Sim, mas agora que já sou de maior, saí de lá e estou morando em um apartamento aqui perto. Vou frequentar a faculdade de música daqui dessa região. – ele falou, orgulhoso de si mesmo.

— Que maravilha! Então quer dizer que vamos receber mais visitas de agora em diante, hein? Fico muito feliz, a Poliana então, né? – Nanci sorriu.

— Sim! Sim! Estou muuuito contente, contente, CONTENTE! De poder rever o Bento. Senti muita falta dele. - sorri pra ele que retribuiu.

— Bom, agora meu bolo está pronto, sentem ali que já, já eu sirvo pra vocês. – Nanci falou e assim fizemos. Assim, continuamos a colocar o papo em dia.

— Poliana, mas eu tenho uma pergunta a fazer. – ele falou com um tom um pouco preocupado.

— Pode perguntar, Bento – eu sorri.

— Eu já vi sua tia, a Nanci e sei que seu tio Marcelo saiu pra te procurar, mas cadê o Antônio? -  acho que essa era certamente a pergunta mais dolorosa que eu poderia ouvir naquele momento. Desde que voltei para a cidade, o momento que eu mais temia era o que eu chegaria em casa e perceberia que não encontraria o Antônio me esperando. Saber que ele não estaria resolvendo alguma coisa na rua e voltaria logo pra casa. Acho que até ouvir essa pergunta, na minha mente eu tinha criado a ilusão de que era só uma questão de tempo até o Antônio entrar pela porta com aquela alegria contagiante dele. Não consegui segurar as lágrimas, elas simplesmente vieram e não pararam de cair, mesmo que eu tentasse impedi-las para não assustar o Bento. – P-Poliana, me desculpe, foi algo que eu disse? – Bento ficou afobado diante das minhas lágrimas, o que me fez sentir ainda pior. Era inútil tentar parar de soluçar. Vendo a cena, a Nanci que tinha ouvido tudo, chegou com os pedaços de bolo, colocou-os na mesa com uma lágrima tímida descendo sobre seu rosto.

— Bento, não tem nada a ver com você. Acontece que há alguns meses atrás, o Antônio faleceu. Foi tudo muito rápido e ainda não conseguimos superar muito bem a dor. Sabe, o Tonho era como se fosse da nossa família e é bem duro pra gente, lidar com a realidade. – Nanci falou e vi que estava sendo o mais forte possível para não desabar na nossa frente. Enquanto isso, eu não tinha toda essa força, mas sabia que eu precisava reagir de alguma forma, senão o Bento iria se sentir mal por ter perguntado.

— Bento, não se sinta culpado pela pergunta. Eu que estava tentando mascarar o sofrimento com a fantasia de que ele estaria aqui e te reencontrar me fez relaxar um pouco mais da tensão de não encontra-lo aqui. Por isso reagi assim, desculpe. – eu tentei dar um sorrisinho pra deixar o clima menos pesado, falhei, o Bento parecia ainda mais triste.

— Sinto muito pela perda de vocês! De coração. Dá pra ver que o Antônio era uma pessoa incrível. Garanto que o tempo que vocês passaram com ele, foi cheio de ótimas experiências. – ele falou, tentando nos consolar. Logo lembrei do conselho que tinha dado ao João no outro dia e resolvi jogar o Jogo do Contente.

— Obrigada, Bento! Estou melhor. – suspirei fundo e enxuguei as lágrimas. – O Antônio foi como um avô pra mim, como eu nunca pude conhecer os meus, fico muito de feliz de ter tido a companhia dele. – sorri, me sentindo um pouco melhor.

Começamos a comer o bolo, talvez o chocolate anestesiasse um pouco da dor. E de fato, melhorou. Continuamos a conversar sobre outras coisas e logo estávamos felizes de novo. O Bento almoçou com a gente e passamos mais uma tarde conversando. Já no fim da tarde, ele disse que precisava ir, pois ainda tinha que resolver algumas coisas para a faculdade que iria começar em breve. Prometemos nos encontrar em logo, então ele foi embora. Caminhei até o sofá e me deitei, refletindo um pouco, enquanto olhava pro teto.

Ouvi alguns passos, logo vi a nasci olhando pra mim de cima. Ela sentou no braço do sofá perto da minha cabeça e começou a fazer carinho nos meus cabelos, como se sem dizer palavra alguma, dissesse “Vai ficar tudo bem” e eu sabia que iria, mas agora era muito difícil pensar que isso era possível. Talvez o João estivesse errado, talvez eu não seja tão especialista assim no Jogo do Contente.


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Notas finais do capítulo

T-T Esse foi um pouco triste né? Mas feliz também. Bom, quero saber a opinião sobre esse capítulo, se gostaram ou não. Por favor, se puderem escrever comentários, eu agradeço, pois me impulsiona a escrever mais e me ajuda a melhorar a história. Obrigada por terem lido! Até o próximo capítulo.

P.S: Se leu até aqui, parabéns, você ganhou um "spoiler". O próximo capítulo, provavelmente vai ser POV do João.



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