Marlene estava sentindo vontade de se azarar por estar levando a proposta de Sirius em consideração. Conseguia montar uma lista com mil e um motivos que poderiam levar o plano a dar errado, fora que era totalmente sem cabimento. Quem fingia um namoro falso, afinal?

Mas ao mesmo tempo, se ela não aceitasse corria o risco de Sirius desmentir tudo o que ela havia dito ao Matt, ou então ela mesma teria de fazer isso, pois não tinha como levar a mentira adiante se nunca fosse vista com seu suposto namorado agindo como um casal. O quão estranho seria se o garoto ficasse sabendo que ela inventara toda aquela situação só porque ficou desconfortável que ele tivesse descoberto sobre a carta que tinha escrito?

Sentia-se consumida por todos aqueles acontecimentos. Nem sequer tinha conseguido relaxar no final de semana, só criando hipóteses e justificativas para toda a confusão que ela mesma criara. E mesmo tendo pensado muito, não via outra saída a não ser aceitar a sugestão de Sirius. Não podia voltar atrás e desmentir tudo, ficaria parecendo uma idiota.

E talvez, bem talvez, até pudessem fazer aquilo funcionar. Eles nem ao menos se gostavam de verdade para que algum deles saísse ferido. Só precisavam ser convincentes, não poderia ser assim tão difícil! Sirius era um exímio mentiroso e tinha um incontestável poder de persuasão, não era atoa que conseguia se safar com tanta facilidade de maiores problemas por causa do seu mau comportamento. E ela não era tão ruim assim, crescer com James tinha a ensinado algumas coisas para escapar de uma bronca ou outra. 

A loira suspirou pela milésima vez, amaldiçoando-se mentalmente por ter inventado tudo aquilo para começo de conversa.

***

— Por Merlin, no que você tanto pensa, Lene? – Alice perguntou, dando um cutucão na garota. – Está o dia inteiro no mundo da lua.

Lily murmurou em concordância.

Elas tinham acabado de deixar o dormitório para ir rumo ao salão principal, jantarem.

Alice tinha total razão no que dizia, Marlene não tinha conseguido prestar atenção em muita coisa naquele dia. E Sirius ter resolvido sumir, não estava ajudando em nada. Ela finalmente tinha decido falar com o garoto que aceitaria continuar com o fingimento, mas não conseguiu encontra-lo durante todo o dia. O que servia para deixa-la ainda mais irritada.

— Nada demais! – deu um sorrisinho. – Vocês não acham que os professores estão pegando muito pesado? Faz só um mês que as aulas voltaram – ela desconversou.

Alice e Lily a fitaram, incrédulas.

— Se você não quer falar, tudo bem. Não vou insistir – Alice disse. – Mas esse sua desculpa esfarrapada não convence nem a uma mosca.

A loira suspirou.

— Mas não é nada! Mesmo! – afirmou.

Marlene não achou que seria uma boa ideia contar às amigas o que realmente estava a deixando tão distraída. Primeiro porque ela tinha agido de maneira estupidamente irracional ao inventar toda a mentirada, e segundo que elas provavelmente ririam de sua cara se contasse que estava a ponto de aceitar fingir um namoro com Sirius.

E apesar de estar evitando a todo custo trazer à tona o nome do garoto, estava se corroendo de vontade de perguntar se elas não haviam o encontrado. Afinal, já tinha o procurado por todo o canto do castelo e não achara nem sinal dele.

Porém, depois de um momento em silêncio e muito esforço de sua parte para se manter calada, ela não aguentou e acabou perguntando:

 – Vocês não viram os marotos por aí?

Alice arqueou a sobrancelha e Lily deu uma risadinha.

— Por quê? – a ruiva perguntou com um olhar divertido.

— Estou procurando James – mentiu.

— James? Ou seria o Black? – Alice provocou. – Você sequer explicou o que foi aquele beijão que deu nele no campo de quadribol.

Marlene corou e desviou o olhar.

— Não foi nada!

— Sério? Para mim não pareceu nada, foi um baita de um amasso!

Lily gargalhou, enquanto Alice continuava a encarar a amiga com um sorriso provocativo.

— Alice! – Marlene a repreendeu. – Meu Merlin!

A loira se sentiu quente, como se seu corpo inteiro estivesse pegando fogo.

— Ué, estou apenas comentando o que eu vi.

— Foi um ato impensado.

— E agora seu subconsciente te manda pular em cima do Black sem mais nem menos?

A essa altura, Lily se encontrava vermelha de tanto rir e era possível ver lágrimas se formando no canto de seus olhos. Já Marlene estava escarlate, da cor de sua gravata.

— Será que dá para esquecer essa história? – Marlene pediu suplicante.

Elas estavam adentrando o salão principal, que já estava começando a lotar de alunos para o jantar.

— Temo que não. – Alice respondeu. – Não me olhe assim! Não consegui assimilar ainda como o Black deixou de ser um... Como é mesmo que você falava? – fingiu pensar. – Ah, sim! “Canalha, idiota e sem o mínimo de noção”, para se tornar seu ficante. Ou o que quer que esteja rolando entre vocês.

Marlene grunhiu baixo, se jogando em uma das cadeiras à mesa da Grifinória.

— Por Morgana, Alice! Você está sendo um pé no saco, sabia?

Ela cruzou os braços em irritação. As garotas quase podiam ver um bico se formando em seus lábios.

Sirius, que parecia sentir os momentos mais inoportunos para aparecer – na opinião de Marlene, resolveu surgir exatamente naquele instante, acompanhado dos marotos, se sentando ao lado da loira.

Marlene suspirou, no que as duas amigas riram.

— O que está pegando? – ele perguntou descontraído, roubando uma das batatinhas que Marlene tinha começado a se servir.

Ela abriu levemente a boca em indignação, apertando os olhos na direção do garoto, mas decidiu não repreendê-lo. Se pretendia levar a mentira adiante não poderia mais trata-lo da maneira da qual estava acostumada.

— Alice e Lily estão torrando minha paciência – ela respondeu irritada.

Sirius riu das feições emburradas da loira, e decidiu que aquele era um bom momento para agir.

— Parem de pegar no pé da minha garota – ele falou com um falso tom de repreensão e um sorriso torto nos lábios.

Quando Marlene se virou para Sirius com o intuito de lançar seu melhor olhar de "Que merda você está fazendo?", o garoto se aproximou colando seus lábios em um selinho demorado.

Ela fora pega tão de surpresa que não teve qualquer reação, mesmo depois dele já ter se afastado, continuando atônica. Só voltou a si quando sua visão periférica captou Alice se esticando para dar um tapinha nas costas de Lily, que tinha engasgado com o suco de abóbora, cuspindo boa parte dele.

Lily não fora a única a ser surpreendida. James, Remus e Peter observavam os dois como se fossem uma bomba prestes a explodir. Não só eles como parte dos alunos da Grifinória que presenciavam a cena.

— Você está bem, Evans? – Sirius perguntou tentando reprimir a risada.

A ruiva não respondeu de imediato, levando alguns instantes para se recuperar.

— O que está acontecendo? – ela perguntou confusa, fitando a Marlene.

— Ah... – ela também não fazia ideia.

— Lene não falou? A gente tá meio que... Como posso dizer? Juntos... – Marlene o fitou com um olhar questionador, mas ele apenas sorriu.

— Quê?! – a voz de Lily saiu esganiçada.

— Quando foi que isso aconteceu? – James perguntou meio perdido. – Eu nem vi vocês juntos depois daquele dia no campo.

Lily e Alice acenaram em concordância.

— Não é porque vocês não viram que não aconteceu – Sirius respondeu, dando de ombros.

— E então vocês decidiram começar a namorar?

— É isso aí, Moony! – o moreno concordou. – Depois daquele beijão, não tinha muito que pensar a respeito – brincou.

Marlene soltou uma exclamação envergonhada e sentiu o rubor retomar as suas bochechas. Alice e James gargalharam.

— Bom, eu acho que você se esqueceu de dizê-la que estão juntos então – Lily falou erguendo uma sobrancelha ao encarar a amiga. – Ela estava agora pouco dizendo que não tinha sido nada demais.

Marlene achou que seria impossível que pudesse ficar mais constrangida. A ideia de que aparecesse um ser que a abduzisse parecia perfeita naquele momento.

Sirius a fitou como se estivesse ofendido, porém ela podia ver um pequeno sorriso ameaçando escapar de seus lábios. Ele estava achando tudo muito divertido, disso ela não tinha dúvidas.

— Ele não tinha dito nada sobre namoro – se justificou tentando parecer o mais crível possível. – A gente só resolveu continuar com isso, sabe?

Lily continuava a encara-la como se estivesse tentando tirar mais alguma coisa da garota, mas Marlene continuou impassível.

Por dentro ela queria matar Sirius por tê-la pego tão inesperadamente. 

— Não sabia que você curtia esse lance de flores e cartões, McKinnon – Sirius provocou. – Mas posso providenciar se você quiser...

Ele sorriu galanteador e ela teve que reprimir a vontade de rolar os olhos, se contentando em apenas retribuir o sorriso.

Dorcas que tinha acabado de se juntar ao grupo, exclamou exageradamente:

— Meu Merlin! – ela observou o casal surpresa. – O que foi que eu perdi?

— Aparentemente, Sirius e a Lene estão namorando – Lily respondeu.

Marlene não pôde deixar de notar certa desconfiança no tom de voz da amiga.

— Como assim?! Por quanto tempo eu dormi?

— Não rolou um pedido oficial ainda, Lene está esperando por algo especial – Sirius se justificou.

— Não estava esperando por algo especial, mas você sequer tinha feito um pedido – ela sorriu para ele, entrando em seu joguinho.

— Por Morgana! Nunca pensei que fosse vivenciar isso – Dorcas falou e Alice assentiu.

— Acho que nenhum de nós – Remus concordou.

— Eu sempre achei que fosse acontecer em algum momento – James contrapôs. – Vocês são parecidos demais!

— Lily já mencionou algo assim.

Marlene não quis se aprofundar mais no assunto, não gostava de mentir para os amigos e a situação estava soando ridícula de mais para ela. Mal esperava a hora de ficar sozinha com Sirius e repreende-lo por ter começado aquela teatro sem nem ao menos falar com ela antes, para que pudesse se preparar.

***

— Pads, você sabe que é meu melhor amigo, mas se você magoar a Lene vou ser obrigado a quebrar sua cara! – James advertiu, no entanto ainda sorria. – Você sabe que ela é como uma irmã para mim.

Os três estavam no salão comunal da Grifinória, eram os únicos que ainda estavam no local, já que todos os outros alunos, incluindo seus amigos, já tinham se recolhido para dormir.

Sirius deu um sorriso fraco.

James parecia genuinamente feliz por saber que os dois estavam “juntos”. E pela primeira vez naquela noite desde que tinham começado a fingir um relacionamento, Marlene viu Sirius fraquejar um sorriso. Podia arriscar que era a culpa aparecendo, porque ela mesma estava se sentindo assim.

— Isso não vai acontecer, Prongs! Você deveria estar mais preocupado com a possibilidade dela quebrar o meu coração.

James riu e Marlene rolou os olhos, dando uma cotovelada de leve em Sirius.

— Isso é uma forte opção mesmo – ele concordou.

— Parem com isso! No mundo não poderia existir alguém melhor que eu para se namorar.

— Há controvérsias... – James respondeu.

Marlene suspirou indignada,  arrancando risadas dos dois garotos. 

— Ela não fica uma graça emburrada? – Sirius perguntou, apertando as bochechas da garota fazendo sua boca formar um biquinho.

— Ah, vocês não vão ficar sendo melosos um com o outro na minha frente, né?

— Aposto que você seria o mel em pessoa se a Evans te desse uma chance – Sirius zombou.

Marlene gargalhou e James olhou para eles amuado.

— Se vocês já são insuportáveis separados, o que será de mim com vocês juntos? – falou dramático. – Já comecei a me arrepender por ter me animado com esse namoro – brincou.

Sirius deu uma risadinha, afirmando que James já deveria ir se acostumando.

 – Mas falando sério, estou muito feliz! Vocês são meus melhores amigos, é legal que estejam juntos – James sorriu.

O casal se entreolhou, tentando não parecerem culpados demais.

— Aposto que isso tem a ver com o fato de você querer muito um encontro duplo incluindo a Lily – Marlene zombou.

— Isso seria muito bacana. Inclusive, você deveria ser uma boa amiga e já ir mexendo os pauzinhos – ele respondeu rindo.

— Acho que você já está se saindo bem por conta própria – ela deu uma piscada marota para o garoto, que deu um sorrisinho tímido.

Ele e Lily tinham se aproximado desde o começo das aulas por conta dos afazeres como monitores. E se antes a ruiva já tinha concordado que James andava melhorando seu comportamento, agora estava cada vez mais tolerante com o garoto. O que não era surpresa para ninguém, James era extremamente carismático e não demorava a cativar as pessoas.

— Enfim, vou subir. Não quero continuar segurando vela – brincou. – Juízo vocês dois – ele se despediu.

Marlene esperou até ter certeza que o amigo estava longe o bastante para se virar a Sirius.

— Mas que merda foi aquela, hein? – deu um tapa no braço do garoto, que acariciou o local resmungando. – A gente tinha que ter combinado antes de falar para todo mundo.

— Que mãozinha pesada, McKinnon! – exclamou.

Ela bufou e encarou o garoto com irritação.

Sirius rolou os olhos.

— Eu vi a oportunidade e abracei – deu de ombros.

— Pelo que eu me lembre, na última vez que conversamos eu não tinha aceitado essa palhaçada.

— Mas eu sabia que você iria mudar de ideia. Você é muito previsível – a loira o encarou apertando os olhos ameaçadoramente. – Nem adianta fazer essa cara, estou falando a verdade. E no final eu estava mesmo certo, não é? – provocou.

— Isso só está acontecendo porque não quero ter que admitir que inventei um namoro e parecer idiota.

— Realmente, eu no lugar do Matt te acharia maluca. Não que eu já não ache agora!

Marlene inspirou e expirou três vezes, pedindo aos sussurros que Merlin lhe desse paciência. Tendo seus movimentos observados de perto por Sirius com um sorriso sacana nos lábios.

— Eu vou me deitar antes que eu acabe te azarado, já te aturei demais hoje – declarou se levantando.

— E eu não ganho nem um beijo de boa noite? – ele perguntou com um sorriso torto.

— Se você continuar com esse sorrisinho irritante no rosto, vai ganhar um soco de boa noite.

Sirius gargalhou.

— Sabe McKinnon, eu tenho um fraco pelas esquentadas – falou malicioso. 

Marlene grunhiu dando as costas ao garoto, caminhando para a escadaria que levava aos dormitórios.