— Essa aula de poções está um saco! – Sirius murmurou.

— Não está não, e se você estivesse prestando atenção também iria gostar – a loira respondeu enquanto fazia anotações.

— É meio difícil me concentrar com você do meu lado – ele a provocou sorrindo maroto.

Marlene revirou os olhos.

— Se você não vai mesmo prestar atenção, poderia pelo menos ficar quieto para que eu possa? – ela falou com certa irritação na voz.

— Você está sendo chata, McKinnon!

— Eu posso afirmar que é ao contrário! Por que você não se sentou com o Remus?

— Porque eu achei que essa seria a mesa da diversão! E eu não poderia deixar minha namorada sozinha após ter sido trocada pelo Prongs.

— Tão comovente! Você é mesmo um cavalheiro – ela sorriu sarcástica para ele.

— Tudo pela minha garota!

— Bom, sua garota apreciaria muito se fosse falasse menos e ajudasse mais.

Marlene falou e indicou os ingredientes dispostos na bancada. Sirius suspirou alto, se arrastando desanimado na cadeira para que pudesse alcançar a superfície de madeira. A contra gosto, ele passou a seguir as ordens que a garota lhe passava, vez ou outra recebendo algum tipo de repreensão, o que gerava certo atrito entre eles.

— Você é tão irritante, por Merlin!

— Se você fizesse as coisas exatamente como eu mando, eu não teria que te chamar a atenção.

— Sem chances do Prongs se juntar a Evans na próxima aula do Slughorn!

— Acredite, eu não vou sentir sua falta, você e uma porta daria no mesmo.

— Ei! – ele exclamou indignado. – Pelo menos acabamos, não aguentaria mais dez minutos disso.

Marlene o encarou pronta para dar uma resposta não muito educada quando alguém parou em frente aos dois.

— Olha só o temos aqui – Slughorn sorriu, olhando para o caldeirão. O professor mexeu a poção, analisando por alguns instantes. – Vocês formam uma boa dupla!

— Eu não tenho tanta certeza assim – Sirius murmurou emburrado e Marlene suspirou.

— Ah, mas como não? Vocês fizeram um ótimo trabalho. A poção de vocês do Morto Vivo me parece excelente!

— Obrigada professor – Marlene sorriu.

— Não por isso! Devo acrescentar que é bom ver vocês dois juntos, a senhorita McKinnon tem sido uma ótima companhia para o senhor, Black.

Marlene mordeu os lábios para conter a vontade de rir. Se Sirius já estava mal-humorado antes, após o comentário do Slughorn, o garoto ficou ainda mais.

— Inacreditável! Será que alguém poderia ser mais intrometido? – o moreno exprimiu irritado quando eles saíram da sala.

— Por que você está tão bravo? Ele não falou nenhuma mentira. Todo mundo sabe que eu sou incrível! – ela respondeu sorrindo e Sirius revirou os olhos. – A boa moça e badboy, tão clichê.

— Nesse caso, a boa moça seria eu – ele respondeu, fazendo a loira dar risada.

— Por que deste mau humor todo hoje? Acordou de TPM?

— Você é tão engraçada!

A garota soltou uma risadinha e passou um dos braços ao redor dos ombros de Sirius.

— Vamos logo te dar um pouco de comida, você fica insuportável com fome!

O garoto não se opôs e os dois caminharam juntos até o salão principal, onde o almoço estava sendo servido, se juntando ao restante de seus amigos que já estavam no local.

— Você vai estar livre no próximo horário? – Sirius perguntou após um tempo. – A gente podia ficar no pátio um pouco.

— Se for para você ficar sendo um saco, então estarei ocupada!

— Problemas no Paraíso? – Alice perguntou divertida.

— Nada de mais, só Sirius sendo o irritante de sempre.

— Eu sendo irritante? Você quem estava me enchendo até minutos atrás!

— Se com enchendo você quer dizer tentando fazer uma poção decente, então eu estava mesmo.

— Eu já estava ficando nostálgico me lembrando de quando vocês não podiam ficar cinco minutos perto sem implicarem um com o outro – Remus falou risonho.

— Sim, confesso que até senti falta – James concordou sorrindo.

— Só um milagre para me fazer conviver com o Sirius sem me estressar pelo menos um pouco – Marlene falou.

— Faço de suas palavras as minhas – ele rebateu.

A loira apenas rolou os olhos sem se dar ao trabalho de responder.

— Lily, você acha que hoje a tarde a gente consegue terminar o dever de Aritmância? – ela perguntou para a amiga. 

— Ah, é que eu tinha combinado de estudar com o James hoje – Lily respondeu ao mesmo tempo que James assentia com a cabeça. 

Marlene concordou com um sorrisinho. A situação era engraçada para ela, já que Lily era a encarnação perfeita do nerd e geralmente era ruiva quem tinha que ficar cobrando Marlene dos estudos, não ao contrario. No entanto, o fator James parecia ter entrado como um tornado na vida da garota e eles andavam literalmente grudados um no outro.

A loira não se importava de terminar o trabalho sozinha, porque não só Lily merecia aquilo, já que ela parecia bem mais leve e animada desde que ela e James começaram com esses encontros, mas o garoto também estava merecendo aqueles momentos entre eles, James havia esperado tanto por aquilo.

Por mais que a ruiva negasse a todo custo durante praticamente todos os anos que estiveram em Hogwarts, Marlene sabia que James era o cara certo para ela, e não era só porque o garoto era uma das pessoas de quem ela mais gostava no mundo, mas porque ela sabia que ele trataria Lily da maneira doce e gentil da qual ela merecia, e Marlene sempre teve certeza que fim eles estariam juntos, ou talvez fosse só sua vontade falando por ela, de qualquer maneira, estava feliz em ver os dois felizes.

— Onde é que você vai? – Sirius perguntou quando Marlene se levantou.

— Fazer o dever de Aritmância – ela respondeu arqueando a sobrancelha.

— Quer dizer que quando se trata da ruiva você faz de bom grado?

— Sim! – deu os ombros.

— Eu sou seu namorado, merecia um tratamento melhor – ele falou a seguindo para fora do salão.

— Namorado de mentira – ela acrescentou sussurrando.

— Isso não vem ao caso, e você prometeu que iria ficar comigo no pátio!

— Eu não prometi nada!

— Mas você gosta de ficar lá fora e eu posso até te ajudar a terminar seu dever – Sirius disse e a garota o encarou descrente. – Estou falando sério!

— Ok! – ela suspirou.

Sirius entrelaçou sua mão com a dela e os dois se encaminharam até o lado de fora do Castelo, sentando em um dos bancos vagos. Marlene tinha vontade de azarar Sirius por suas ideias sem noção às vezes, já era novembro e o frio se fazia bastante presente, que tipo de gente achava agradável ficar parado do lado de fora no frio? Ela sinceramente não conseguia entender, ainda assim, resolveu dar um desconto já que o garoto cumprira com sua palavra e a ajudara a terminar seu dever, então ela achou que poderia fazer aquele esforço por ele.

— Faz carinho no meu cabelo – ele pediu, ou mandou, ela não conseguiu ter muita certeza, deitando com a cabeça no colo dela.

— O quê?

— Você sabe, colocar a mão na minha cabeça e ficar mexendo nos meus cabelos, algumas pessoas chamam isso de cafuné.

— Eu sei o que é, palhaço!

— Então faz! – ele olhou para ela sorrindo e a garota bufou. – Qual é, McKinnon!

Marlene suspirou e levou as mãos nos cabelos dele, acariciando os fios negros que já estavam quase na altura dos ombros do garoto. Ela nunca admitiria isso em voz alta, mas há alguns anos ela morreria por um momento como aquele, e já até tentara imaginar qual seria a sensação, se os cabelos dele eram tão bons para acariciar quanto ela julgava que era. A Marlene do passado ficaria feliz em saber que eles eram tão macios quanto pareciam.

— Isso é bom! – ele sussurrou com os olhos fechados.

— O que há com você? Acordou carente?

— Algo do tipo.

Ela sorriu negando com a cabeça.

— Toda a sua atitude é só pose, você não passa de um filhotinho de cachorro – ela respondeu e ele riu. – Literalmente.

— Um cachorro muito bonito se você quer saber.

— Eu duvido muito disso.

— Tá aí outra coisa que eu tenho que te mostrar quando a gente voltar para casa.

— Você anda falando com muita certeza de que vou querer te ver. Já estou te aturando todos os dias aqui na escola.

— Eu sei que você ama minha companhia, McKinnon!

— A julgar pela quantidade de vezes que você tem me obrigado a ficar com você, acho que é ao contrário.

Sirius rolou os olhos e murmurou que ela estava muito enganada. Marlene sorriu e mudou de assunto:

— Dói? Quando você se transforma? – ela perguntou. – James me falou que não, mas é tipo um padrão ou o que?

— É, não dói, no começo eu me sentia meio esquisito, porém eu já acostumei.

— Quando James me contou eu surtei, fiquei com medo de dar algo errado em algum momento e ele ficar um cervo para sempre.

Sirius gargalhou.

— Não seria assim tão ruim.

— Nem brinca, se a tia Euphemia sonhar com algo assim ela morre e ressuscita só para matar vocês dois.

— Consigo imaginar ela fazendo alguma coisa desse tipo mesmo – ele respondeu sorrindo. – Por falar nisso, você vai mesmo passar o Natal lá em casa?

— Não sei, se meus pais continuarem com essa história de querer te conhecer, é provável que sim.

O moreno gemeu.

— Onde eu fui me meter – Marlene riu.

— Não vai ser assim tão ruim, eles só estão fazendo graça, já que sabem muito bem quem você é. Sua alma gêmea faz questão de falar de você para qualquer coisa que tenha ouvido – Sirius deu risada.

— O que eu posso fazer? Ele é o homem da minha vida!

— Ah, mas eu não tenho duvidas – a loira respondeu.

***

O salão comunal já estava vazio a não ser por Marlene e Sirius. A garota ainda estava sem sono quando Alice e Dorcas subiram para se deitar, então ela decidiu esperar Lily voltar da ronda e Sirius resolveu ficar com ela fazendo companhia. Eles não sabiam exatamente quanto tempo se passou quando o casal voltou, no entanto já era bem tarde, disso eles tinham certeza.

Os dois, Lily e James, estavam tão entretidos entre eles mesmos que nem sequer perceberam que não estavam sozinhos. Marlene abriu a boca para anunciar sua presença, mas Sirius foi mais rápido, colocando uma das mãos nos lábios da garota, puxando-a para perto, em uma espécie de abraço com o outro braço, para impedi-la de se levantar.

— Boa noite, Jay – Lily falou baixinho, com um sorriso tímido nos lábios.

— Boa noite, Lily – o garoto respondeu, sorrindo para ela da mesma forma. – Eu gostei muito do tempo que passamos juntos hoje.

— Eu também! Aprecio bastante sua companhia – a ruiva disse.

Marlene não podia ver com clareza, mas poderia jurar que a amiga estava corando.

— Eu também aprecio muito a sua – James respondeu.

Marlene e Sirius viram o garoto se aproximar ainda mais de Lily e acariciar o rosto dela. A loira se sentiu um pouco mal por estar presenciando um momento do qual não deveria, no entanto, estaria mentindo se dissesse que não queria saber o que estava de fato rolando entre seus amigos.

— Eu quero muito te beijar agora – James confessou.

— Você pode fazer isso – a voz de Lily era quase um sussurro.

E então aconteceu, James terminou com o espaço que ainda existia entre os dois, beijando a garota, que retribuiu o beijo sem qualquer hesitação.

Marlene observou a cena levemente surpresa, ela sabia que eles estavam avançando, porém não tinha noção de até que ponto. Ela voltou a processar as informações novamente quando Sirius se mexeu ao seu lado, com a intenção de se levantar. Conhecendo o garoto como conhecia, ela o puxou de volta, tentando impedir que ele estragasse o clima, mas é claro que não deu certo. Afinal, Sirius era muito mais forte que ela.

Ele deu a volta no sofá em que eles estavam, com um sorriso grande nos lábios.

— Você percebe a injustiça, McKinnon?! Esses dias eu estava sendo ameaçado de levar uma detenção porque nós estávamos nos beijando no salão comunal, mas olha isso aqui. Os nossos lindos monitores fazendo o mesmo – ele falou em voz alta, se deliciando com a situação.

Lily e James se afastaram rapidamente. Os dois encararam Sirius assustados.

— Idiota! – Marlene se inclinou no encosto do sofá para conseguir alcançar o moreno. Deixando uma tapa forte em seu braço.

— Ai, Marlene! – ele reclamou.

— Vocês estavam nos espionando? – Lily perguntou numa mistura de acanhamento e irritação.

— Não, não foi a intenção. A gente estava esperando vocês voltarem da ronda, quando vocês chegaram eu tentei falar que estávamos aqui também, só que Sirius me impediu.

— Eu vou te matar, Black! – James falou, seu rosto estava corado. Ele definitivamente estava mais constrangido do que bravo.

— Foi mal, Prongs! Eu só queria saber se todo esse grude tinha uma razão – Sirius deu de ombros.

— Eu poderia te azarar agora mesmo – Lily falou ameaçadoramente.

— Quê isso, Evans?! Não se esqueça que eu sou seu cunhado – ele sorriu em falsa inocência.

A ruiva revirou os olhos.

— Vamos subir Marlene, antes que você fique sem namorado – ela falou autoritária, Marlene se levantou prontamente.

— Você não vai me dar nem um beijo de boa noite? – Sirius perguntou para a loira, no entanto, antes que ele pudesse se aproximar, Lily a puxou para longe dele.

— Sem beijinhos para você – ela falou, conduzindo a amiga até a escada que levava aos dormitórios femininos.

Marlene nada disse, apenas se segurou para se manter impassível. Quando elas estavam a uma distância segura, ela olhou para a amiga com um sorriso nos lábios.

— Você e o James, hein!

— Nem começa! – Lily soltou emburrada.

— Lily, eu juro que não tive intenção! – Marlene a fitou com seu melhor olhar. – Você vai me dizer desde quando está rolando entre vocês?

— Não!

— Qual é, eu estive esperando esse casal acontecer por tanto tempo – ela soltou indignada.

Lily tentou continuar séria, mas Marlene viu um esboço de sorriso surgir.

— Desde aquele dia em Hogsmeade.

— Ah, Lily, eu estou tão feliz! – ela soltou em uma espécie de grito sussurrado. – Você está feliz?

— Sim, quer dizer, James é tão... Eu só consigo me perguntar por que estava tão resistente por todos esses anos. Ele é... Melhor do eu poderia desejar.

Marlene soltou um suspiro animado puxando a amiga para um abraço.

— Eu ainda vou ser madrinha dos filhos de vocês! – ela decretou fazendo Lily rir.