One in a Million escrita por sayuri1468


Capítulo 2
A Festa de Rhonda


Notas iniciais do capítulo



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/769320/chapter/2

Som, luzes, cheiro de velas perfumadas, barulho de pessoas conversando. Haviam vários estímulos para chamar a atenção de Arnold durante a festa de Rhonda.

Porém, ele continuava encostado na parede, olhando para a porta, esperando por uma única pessoa despontar por ela: Helga G. Pataki.

 

Algo dentro dele tinha medo de que a garota desaparece de novo. Embora, ele não soubesse dizer bem porque tinha esse medo. Afinal, Helga estava fora da sua vida há seis anos. Por que ele sentia essa ansiedade?

 

“Oi Arnold!”- uma voz familiar o despertou de seus devaneios.

 

Arnold percebeu a garota de cabelos ruivos e sardas a sua frente.

 

“Lila! Oi!” - respondeu o garoto educadamente.

 

“Ouvi dizer que a Helga voltou!”

 

Arnold ficou um pouco constrangido com essa pergunta.

 

“Sim, voltou!”

 

“É por ela que você está esperando?” -Lila perguntou sorrindo.

 

Arnold sentiu o rosto corar. Lila riu da reação do garoto.

 

“Puxa, Arnold! Não sabia que ia ficar tão sem graça!”

 

“Não fiquei!”- defendeu-se o garoto, mentindo descaradamente - “Eu estou esperando por ela, porque quero saber o que aconteceu!”

 

Arnold prosseguiu ao perceber que Lila não parou de rir.

 

“Ela simplesmente desapareceu, sem deixar nenhuma carta ou dar um telefonema! Durante esses últimos anos eu sempre fiquei me perguntando se eu havia feito alguma coisa pra ela,pra ela não querer falar comigo! A gente namorava na época, e eu sabia o quanto ela gostava de mim, por isso, só pode ter sido algo que eu fiz pra ela nunca ter entrado em contato!”

 

“Arnold, calma…” - disse Lila ao ver o garoto desconcertado. “Eu sei que foi sempre difícil pra você lidar com o desaparecimento de Helga, mesmo quando a gente namorava, mas eu, sinceramente, acho que você está vendo isso por um ângulo errado!”

 

“Como assim?”

 

“Você tá colocando muito a coisa em você! Já pensou que, talvez, a Helga tivesse os próprios problemas?”

 

Arnold ponderou a respeito. Talvez Lila estivesse certa. Afinal, uma família inteira não mudaria repentinamente só por causa dele. Talvez Helga não tivesse escolha. Mas ainda assim, pensou Arnold, a ideia de Helga ter um grande problema e não se sentir confortável para contar a ele ou lhe pedir ajuda, era bem desconfortável.

 

Os pensamentos de Arnold foram interrompidos com a voz da Rhonda.

 

“Helga! Até que enfim! Entra, vamos!”

 

“Valeu, Rhonda!”

 

A visão de Helga fez o coração de Arnold parar por um instante. A garota usava calças jeans pretas, uma blusa listrada branco e vermelho e uma jaqueta de couro marrom.Os cabelos soltos e despojados, deixavam as mechas rosas ainda mais evidentes. Arnold foi atraído para ela, assim como uma mariposa é atraída para luz. Nem percebeu que deixou Lila para trás.

 

“O...oi Helga!” falou meio sem graça

 

“Arnold...oi!”. Helga demonstrava um certo embaraço também. “Preciso conversar com você, pode ser?”

 

“Claro…” assentiu, um pouco ansioso. Será que finalmente a garota contaria a respeito do seu desaparecimento?

 

“Vem, vamos pro terraço!”. Helga assumiu a dianteira do caminho, para a surpresa de Arnold.

 

Bom, não é como se Rhonda tivesse mudado de casa em todos esses anos, pensou o garoto. Mas ainda assim, não pode deixar de admirar o fato da garota conhecer tão bem os caminhos da casa da Rhonda, depois de tanto tempo.

 

“Sempre fugia pro terraço nas festas de pijama da princesa!”, explicou Helga, talvez notando a confusão de Arnold a respeito.

 

Quando atingiram o final das escadas, Helga abriu uma porta que dava diretamente a um terraço. E para a surpresa de Arnold, Phoebe e Gerald se encontravam a espera deles.

 

“Ah, vocês demoraram!” reclamou Gerald.

 

“A culpa foi minha, eu atrasei um pouco!” falou Helga.

 

“Helga, o que está acontecendo?”, perguntou Arnold percebendo que aquela não seria a conversa intimista que ele estava imaginando.

 

“Me desculpem! Eu pedi pra vocês virem aqui por que eu precisava pedir um favor pra vocês!”, começou a garota.

 

“Qual é, Pataki! Pedir um favor pra gente? Depois de tudo o que…”

 

“Eu sei, Gerald!” cortou Helga “Eu sei que eu sumi por seis anos e sei que não tenho o direito de pedir nenhum favor pra nenhum de vocês! Mas...acho que isso pode ser do interesse de vocês também!”

 

Gerald ficou quieto. Helga encarou aquilo como um convite para continuar.

 

“Hoje a tarde, passei em frente a PS 118. Parece que vão demolir a escola!”, falou Helga.

 

“O que? Não pode ser…”, exclamou Phoebe

 

“Por que querem demolir nossa antiga escola?” perguntou Gerald.

 

“Eu fui até a prefeitura para saber! Parece que ela está muito destruída e sem reparos, e a prefeitura não tem dinheiro suficiente para reformar!”, falou Helga.

 

Arnold ficou surpreso. Helga realmente tinha ido até a prefeitura aquela hora.

 

“Tá, mas e daí? O que nós temos a ver com isso?” Gerald estava visivelmente de mau humor.

 

“Olha, eu sei que essa escola é importante pra todos nós, e também pro nosso bairro!”, Helga respirou fundo, estava insegura com o que ia dizer agora. “Eu sei que talvez vocês não topem, mas eu pedi mais tempo na prefeitura para ajudar a levantar o dinheiro para a reforma da escola!”.

 

“Mas deve ser uma quantia enorme!”, falou Phoebe.

 

“ E é...eles precisam de 300 mil!”

 

“Caramba! 300 mil? Tá planejando assaltar um banco, Pataki?”, exclamou Gerald.

 

“Como você acha que podemos levantar esse dinheiro?” perguntou Arnold.

 

Helga pegou o violão em suas costas.

 

“Com um show beneficente!” falou a garota. “Se todos os antigos alunos se juntarem, tenho certeza que podemos chamar a atenção de todos, e levantar o dinheiro necessário pra salvar a escola!”

 

Arnold, Phoebe e Gerald se entreolharam, hesitantes.

 

“Pelo menos pensem a respeito!” pediu Helga.

 

“Eu aceito!” falou Arnold imediatamente.

 

“Tem certeza, cara?”, perguntou Gerald

 

“Helga tem razão! Aquela escola está repleta com a nossa história! E de muitas outras pessoas também! Meu pai estudou naquela escola!”

 

“E apesar disso, ela é a única escola primária do bairro! Se tirarem ela de lá, as crianças vão ter que viajar até o próximo bairro!”, falou Phoebe.

 

“Bom, parece que não tem escolha mesmo! Ok, Pataki! Eu topo!”, falou Gerald.

 

Helga sorriu. Arnold sentiu o rosto corar perante essa visão.

 

“Mas antes…”, começou Gerald, “Eu preciso saber se você sabe tocar isso ai mesmo!”, falou referindo-se ao violão. “Afinal, se vamos dar um show, precisamos fazer uma seleção cautelosa das atrações!”

 

Helga se mostrou hesitante. Ela olhou para os lados e percebeu que não havia mais ninguém, fora eles quatro.

 

“Está bem!”, concordou.

 

Helga sentou-se no chão, tirou o violão de sua mala habitual. Como uma profissional, apertou as cordas, certificando-se de que estavam afinadas.

 

Arnold estava empolgado. Ia ouvir Helga cantando. Era como se fosse conhecer um segredo dela. Um segredo da nova Helga.

 

Helga, por outro lado, estava nervosa. Ninguém nunca a havia ouvido tocar antes, nem mesmo sua terapeuta.

Helga respirou fundo e começou:  (essa é a música para quem quiser acompanhar: https://www.youtube.com/watch?v=Qy3PmO6lIIY )

 

“Stay,
where you are,
don't come to close,
and don't go,
to far,
I'll make you count to 100,
so I have a good chance to hide,
don't expect me to play fair,
movin on move,
even deeper inside,
I like you right there,
your photograph,
so many stories torn in half,
tape up the pieces,
and here were are back again,
frozen in place,
feeling and looking the same,
everyone knows that it's easy to smile,
safe in a frame,
safe in a frame,
stay,
I hear you coming,
what can I do to drown out this roaming,
no turning back now,
that you took the bread crumbs,
I left as a guide,
don't expect me to play fair,
movin on move,
even deeper inside,
I like you right there,
I like you right there,
stay,
stay,
stay,
stay where you are,
safe in a frame,
tried to move closer,
you only get halfway,
hand down your heart,
put out the flame,
don't come any closer,
but don't move away,
stay where you are,
safe in a frame,
tried to move closer,
you only get halfway,
hand down your heart,
put out the flame,
don't come any closer,
but don't move away,
stay,....
stay,....
stay….”



Helga parou de tocar e encarou os amigos.

“Helga...isso foi esplêndido!”, foi Phoebe quem começou. “Você que escreveu?”

 

“Sim, é...uma composição minha!”, respondeu levemente sem graça

 

“Caramba, Pataki! Jamais imaginei que você pudesse ser tão...talentosa!”, falou Gerald.

 

Arnold foi o único que ainda encarava Helga. Estava surpreso, maravilhado e confuso. Ele sempre soube que Helga era uma pessoa passional. Sempre soube da sensibilidade aflorada da garota. Mas jamais imaginou que ela cantasse tão bem. Mas, apesar de tudo isso, a música lhe incomodava um pouco. Arnold não pode deixar de sentir que a música era para ele.

 

“Bom...só temos uma coisa a fazer agora! Convencer o restante da turma!”, Gerald interrompeu o silêncio deixado por Arnold.

 

“Como fazemos isso?” perguntou Phoebe, quase se esquecendo que ela e Gerald prometeram se ignorar sempre que possível.

 

“Segunda feira, durante o intervalo! Temos o fim de semana pra pensar em alguma coisa!”, respondeu o garoto, se esquecendo do acordo também. “Podemos nos reunir na sua casa, Pataki?”

 

Helga se apavorou com essa pergunta, e Arnold notou.

 

“Ahn, podemos ir em uma sorveteria, que acham?”, Helga falou, tentando contornar a situação.

 

“Melhor não, tem muito barulho e gente! Vai ser difícil de conversar!”

 

“Vamos na minha casa!”, ofereceu Arnold. “Meu quarto é grande e vamos ter privacidade!”.

 

Helga suspirou aliviada.

 

“Fechado!” falou Gerald. “Agora que já tá tudo decidido, vamos aproveitar essa festa!”

 

Gerald foi o primeiro a sair do terraço.

 

Phoebe, percebendo que talvez Arnold e Helga precisassem conversar mais, avisou a amiga que a encontraria depois, deixando os dois sozinhos.

 

Helga iniciou o processo de guardar seu violão.

 

“Foi incrível!”, falou Arnold de repente “Você toca muito bem!”

 

Helga sorriu.

 

“Obrigada, cabeça de bigorna!”

 

Arnold sorriu.

 

“O que foi?”, perguntou a garota vendo o sorriso no rosto do amigo.

 

“Eu não sei…”, falou,’...eu acho que...é maravilhoso você ter voltado e...querer salvar nossa escola!”

 

“A PS 118 é muito importante pra mim!”, falou Helga.

 

“Pra mim também!”, concordou, “É uma pena que você não foi pra lá com a gente nos nossos últimos anos!”

 

“Pois é...mas eu sempre imaginei como seria se eu tivesse ido!”, falou a garota, sorrindo.

 

“Eu também imaginei! Todos os dias!”

 

Helga e Arnold coraram imediatamente ao perceberem o peso dessa confissão. Arnold sorriu e continuou.

 

“Eu ficava pensando se você ainda ia atirar papel em mim, me chamar de cabeça de bigorna ou coisas assim!, falou sem graça.

 

“É...Arnold, sobre isso...eu queria me desculpar…”

 

“Não, tudo bem!”, interrompeu, “Eu sentia falta! Por mais estranho que soe dizer isso, eu, de verdade, sentia falta!”

 

Um grande silêncio se instaurou entre eles.

 

Helga sabia que talvez aquele fosse o momento certo. Somente eles dois, no meio da noite. Helga sabia que teria que contar. Arnold merecia saber o motivo de seu desaparecimento.

 

“Arnold, eu preciso te contar…”

 

Mas nem bem começou e seu celular tocou. Helga respirou fundo e olhou o visor.

 

“Me desculpe, eu preciso…”

 

Não terminou a frase. Virou de costas para Arnold e atendeu o telefone.

 

“Oi Bob!...Não, tá tudo bem!...Não precisa!...Tá...eu sei, eu sei”...Pode deixar, eu volto agora! Ok...pode deixar...não, tudo bem! Tá,...tô indo!”

 

Helga desligou o celular, suspirou fundo e voltou-se para Arnold que permaneceu atento durante toda a ligação.

 

“Hey, eu vou ter que ir agora…” anunciou Helga. Embora Arnold já suspeitasse disso, devido ao conteúdo da conversa.

 

“Eu te acompanho!”, falou o garoto, querendo desesperadamente passar mais tempo a sós com Helga.

 

“Não precisa! Fica aqui e aproveita a festa!”, falou a garota. “Eu ainda sei o caminho!”, brincou.

 

Arnold não sabia dizer o porque, mas percebeu que Helga não queria que ele insistisse.

 

Helga colocou o violão nas costas.

 

“Té amanhã, cabeça de bigorna!”. Helga deu uma piscadela.

 

Arnold olhou com certo aperto no peito a amiga desaparecer pela porta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "One in a Million" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.