A arte de se expressar escrita por TMfa


Capítulo 17
17 - Aquele em que Kyouka e Momo conversam


Notas iniciais do capítulo

Eu amo a amizade dessas duas, ejá deve ter ficado meio obvio que imagino o Bakugou como um irmão mais velho, desculpe-me, humanidade, mas a vida tem dessas, e a natureza me produziu, então culpe a ela.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/769240/chapter/17

Depois do jantar, Yaoyorozu preparou um bule com seu chá preferido, colocou duas xícaras em uma bandeja, desculpou-se com Todoroki por não acompanha-lo hoje e subiu para seu quarto. Quando estava no meio da primeira xícara, duas batidas na porta anunciaram a chegada de Kyouka.

— Ei – chama Jirou timidamente com todos os seus travesseiros e edredons.

— Ei – ecoa Momo pondo-se de pé – eu fiz chá para nós, Gold Imperial – sorriu ela radiante.

— Oh, céus, me desculpe – suspirou Jirou cansada - Eu devo ter deixado você desesperada se você abriu a sua última caixa do seu chá favorito.

— Eu guardei para ocasiões especiais, e essa parece uma ocasião especial – apaziguou Yaomomo docemente enquanto guiava Jirou até a cama.

— Mas não era pra ser – gemeu ela engatinhando na cama de Momo com todos os seus pertences nas costas, fazendo-a parecer um amontoado de tecidos ambulante. – É uma coisa estupida e sem sentido, que não devia ter a menor importância.

— Eu não penso assim, se é importante o suficiente para te deixar nervosa, então não deve ser tão estúpido quanto você pensa.

Kyouka bufou debaixo dos cobertores assim que deitou-se atravessada na cabeceira da cama, totalmente escondida e em silêncio. Momo esperou, bebericou um pouco de chá, sentada no outro extremo da cama, a badeja com chá entre elas.

— Então, vai me dizer o que aconteceu ontem à noite? – instigou Momo, tentando conter sua curiosidade para não afugentar a amiga.

— Eu praticamente chutei Yoarashi do meu quarto – a voz abafada de Jirou gemeu de debaixo dos cobertores.

— Algum motivo especial para isso?

— Ele é um idiota!

— Ele fez alguma coisa para você? Por isso você estava tão nervosa hoje? – Silêncio – Kyouka!

— Ele não fez nada! – respondeu ela tirando o edredom do rosto bruscamente, os cabelos ficando uma bagunça – Esse é o problema! Ele não fez nada demais, eu não devia ficar irritada, ou envergonhada. Ele só foi estupidamente sincero! – Ela soltou um rosnado e se enfiou nos edredom de novo – Eu me odeio.

— Me desculpe, eu estou confusa – declarou Momo deixando sua xícara na bandeja – Você está irritada por que queria que Yoarashi mentisse para você?

Jirou balbuciou alguma coisa que Momo não pode entender por causa do abafamento dos lençóis. Yaomomo suspirou irritada e engatinhou até o lado da amiga e puxou o tecido bruscamente, expondo a cabeça e o tronco de Kyouka.

— Pare com isso e me explique direito! – ordenou Momo. – Eu passei o dia preocupada com você e quase tive um ataque quando encontramos Inasa e não consegui impedir a ideia do jantar com medo por você. Então agora você vai sentar aqui e me contar o que aconteceu!

Kouka engoliu em seco. O lado irritado de Momo raramente aparecia, Jirou não queria descobrir do que ele poderia fazer.

— Desculpe, eu não queria te preocupar – começou Kyouka, agora sentando-se – É que... eu não sei como explicar.

— Comece explicando o que aconteceu.

— É só... – Kyouka suspirou com o esforço mental – Ele diz umas coisas que... Grrr!

— Isso não foi muito esclarecedor, Kyouka. E não me diga que ele é muito sincero, me diga as palavras dele.

— Ele meio... meio que faz uns elogios exagerados, quer dizer, você viu hoje, certo? Que porra foi aquela de o jantar não importar para ele se eu não estiver lá? Ele não tem coisa melhor para fazer do que dizer uma coisa dessas!

— É isso? – piscou Momo, todo esse nervoso por isso? Ela não sabia se ficava irritada ou aliviada, escolheu o último.

— Não, Momo, não é isso. É tudo isso! Ele fala como se eu fosse, sei lá, a oitava maravilha do mundo, e fala como se isso fosse um fato – explicou Kyouka revirando os olhos – ele não está tentando me impressionar, ou tentando me fazer sentir melhor, ele simplesmente diz por que é o que ele pensa.

— E qual o problema disso? – perguntou Momo entregando uma xícara de chá à Jirou.

— Qual o problema disso? – ecoou Jirou surpresa – Qual o problema disso?! Momo, não é um simples elogio, ou algo como “Oh, você faz isso muito bem” – ela citou de um jeito caricato - é mais como “Ninguém faz isso melhor que você” ou “Você é incrível e eu fico feliz só de assistir você tocar”! Você me conhece, sabe o quanto isso é vergonhoso para mim!

— Kyouka, são só elogios. E você toca muito bem! Você está longe de ser mediana e você sabe disso – Acalmou Momo procurando os olhos da amiga – não precisa se envergonhar quando alguém elogia seu talento musical por que nunca vai ser suficiente.

— Não é só sobre música, Momo – suspira Jirou irritada, sua melhor amiga não estava fazendo isso fácil para ela – É sobre tudo, sobre como eu treino, como eu luto, meu sarcasmo, minha... aparência – Kyouka corou nessa última parte, então lembrou a opinião de Inasa sobre seu rosto corado e o rubor aumentou.

Momo não respondeu, ela apenas tomou outro gole de seu chá para esconder o sorriso em seu rosto.

— Pode parar! – exclamou Kyouka observando a reação da amiga – Retire todos esses pensamentos idiotas da cabeça.

— Eu não estou pensando nada – defendeu-se Momo erguendo uma mão em sinal de paz.

— Sim, você está. Viu? É isso que me deixa louca! Todo mundo interpreta errado o que ele diz. Ele não pode simplesmente dizer essas coisas e agir como se não fosse nada, embora seja nada para ele.

— Como você sabe que não é nada para ele?

— Até tu, Brutus?! – arfou Kyouka fingindo-se traída.

— Só estou dizendo – Momo bebeu outro gole de chá – Você é inteligente, bonita, talentosa, por que a surpresa que alguém possa gostar de você?

— Ele. Não. Gosta. De. Mim. Ele é muito animado e empolgado com tudo, sempre vê o lado positivo. Ele mesmo me contou: Não tem nada no mundo que ele não goste. É por isso que eu sei que ele é sincero quando fala comigo, e também sei que não significa nada demais.

— Ok, vamos supor que você esteja certa.

— Eu estou certa.

— Vamos supor – insistiu Momo – Se não é nada demais, então por que você se importa, ou por que não pede que ele pare?

— Ok, eu vou explicar a primeira pergunta com uma história – começou Kyouka fingindo indiferença – ontem à noite, quando você mandou Todoroki para nos interromper, eu o chamei de “Pai” e disse a ele que você era a “Mãe”.

— Você o quê?!

— Exatamente o que você ouviu. Obviamente, eu fiz isso como uma brincadeira, mas isso não importa agora, certo? Por que eu insinuei para ele, da mais remota maneira possível que vocês poderiam ser um casal. Você quer me matar agora? – debochou ela.

— Eu provavelmente vou!

— Por que você se importa com isso? É só uma insinuação, não tem nada demais, ainda assim, isso deixa você desconfortável e eu posso ver todas as artérias do seu rosto de tão vermelha que você está! É por isso que eu me importo.

— Ok, eu entendi – resmungou Momo afundando nos travesseiros com os braços cruzados. – Eu não posso acreditar que você fez isso!

— Vocês dois viraram uma novela – Kyouka revirou – Honestamente, ele só toma chá à noite por sua causa.

— Não é verdade, ele costumava tomar chá na casa dele também.

— Toda noite? Religiosamente depois do jantar? – debochou Kyouka – Claro.

— É sério! Ele deve estar tomando agora.

— Não, não está – cantarolou Kyouka – passei pela sala comum, e ele me deu boa noite antes de subir para o quarto. E nem tente me dizer que ele já terminou de tomar o chá, porque quando cheguei aqui sua xícara não estava nem na metade!

— Você desviou o assunto totalmente! – protestou Yaomomo ruborizada – Você não respondeu a segunda pergunta.

— Que pergunta?

— Por que você não pede que Yoarashi simplesmente pare de falar o que te deixa desconfortável?

— É o mesmo que pedir para ele parar de respirar. Ele não consegue! – Gemeu Kyouka – Eu pedi uma vez, ele só piorou as coisas.

— Como assim? – Silêncio – Kyouka?

— Promete não rir? – Momo acenou com a cabeça – Nem... você sabe, olhar o duplo sentido?

— Só diz!

— Ok, ok. Eu pedi para ele parar de olhar pra mim quando, bem, quando meu rosto fica uma bagunça. – Kyouka olhou para Momo, só para checar a expressão calma da amiga – Ele perguntou o porquê e depois ficou falando que gostava de olhar porque... era bonito – ela checou novamente, Momo disfarçou bem – Então eu disse que ele não podia, porque me deixava desconfortável. E agora, toda vez que eu fico corada ele tenta desviar, mas sempre olha! E faz aquela cara estúpida de cachorro sem dono!

— Bem – Momo tomou outro gole de chá para não desrespeitar a promessa que fez – Então por que você não manda ele embora? Ele claramente se importa com você, e não digo desse jeito – interpôs ela ao prever uma crítica de Kyouka – Mas ele vai embora em uma semana, se você só, não sei, dizer que não quer mais vê-lo, ele vai respeitar sua decisão, não?

— Foi o que Aizawa-sensei me falou – contou Kyouka deixando sua xícara de volta na bandeja e enrolando-se nos lençóis protetoramente – É muito difícil! Ele não fez nada de errado, e eu não consigo dizer não quando ele fica triste. Ele acaba com aqueles olhos de cachorrinho. Eu não posso chutar um cachorrinho, Momo! – As duas riram do comentário gemido de Kyouka. – Eu nem consigo bater nele, se Kaminari fizesse essas idiotices eu o espetaria com meus fones e o atacaria até ficar no modo Whey.

— Às vezes eu tenho pena do Kaminari-kun – comentou Momo terminando sua xícara e pondo a bandeja no chão para ambas terem mais espaço.

— Além do mais, eu não quero manda-lo embora, entende? Eu gosto dele, talvez eu queira espanca-lo toda vez que ele fala essas coisas, mas a maior parte do tempo nós conversamos e é divertido. Eu posso falar com ele sem medo, sabe? Não há nada que ele não se empolgue, ele não acha esquisito, nem estranho. Eu posso falar o que eu quiser com ele, porque eu sei que ele não vai julgar.

— Agora eu me senti ofendida – protestou Momo erguendo-se – Tem alguma coisa que você não fala comigo por medo de mim?

— Não é isso, Momo – Jirou riu – É só... não é a mesma coisa.

— Claro que não é! Eu sou sua amiga há mais tempo. Você o conhece por uma semana e se sente mais a vontade com ele que comigo – birrou ela cruzando os braços.

— Claro que não – disse Jirou depois de uma gargalhada – Eu adoro conversar com você, sério, mas... Se você começar a falar de química comigo ou, de compras, ou mesmo chá! São suas coisas favoritas, eu vou te ouvir, eu vou perguntar, eu posso até gostar, mas não é o mesmo que você conversar com alguém que ama tanto quanto você.

— Eu vejo seu ponto – acalmou Yaoyorozu retornando aos travesseiros.

— Se você conversar com Yoarashi sobre tudo isso, ele vai reagir da mesma forma de quando nos viu tocar ontem à noite. E isso é muito legal. Eu posso ser uma nerd da música mesmo sem outros nerds por perto.

— Isso é... fofo.

— Sim, é. – concordou Kyouka suspirando, ela deitou de lado e apoiou a cabeça na mão - E ele é gentil também. Claro, de um jeito não convencional, mas hey, eu considero Bakugou um amigo, meus critérios de amizade ignoram o convencional – ironizou ela com um sorriso.

— Bem, eu não sei o que fazer então. – confessou Momo mordendo o lábio inferior.

— Você podia pedir a ele para parar com isso – brincou Kyouka se esgueirando para o colo de Momo.

— E dizer o quê? “Com licença, Yoarashi-san, você poderia de dizer palavras apaixonadas para Kyouka-chan?”

— Não são palavras apaixonadas – resmungou Jirou tentando erguer-se do abraço de Momo, a outra garota não deixou, apertando-a gentilmente contra si e rindo da amiga.

— Foi uma sugestão. Estou aberta a ideias.

— Nós sempre podemos pedir ao Bakugou para ameaça-lo – ironizou Jirou – O bomberman adora irritar os outros. – Ambas riram do comentário – Mas eu estava falando sério sobre você pedir que ele parasse. Ninguém resiste ao seu olhar de cachorrinho.

— Eu não tenho olhar de cachorrinho!

— Claro que tem! É por isso que eu não consigo me irritar com vocês dois em primeiro lugar. – bufou Kyouka arrumando seu edredom – Eu estou cobrando hoje a sua oferta de ontem sobre ser meu travesseiro – informou Kyouka aconchegando-se em Momo.

— Ok, mas por favor, não me chute.

— Não posso prometer – concordou Kyouka bocejando. – Boa noite, Momo.

— Boa noite, Kyo-chan.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A arte de se expressar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.