Já estava quase na hora do jantar quando Kyouka desceu. A classe 1-A estava toda no salão principal confortavelmente esperando a comida chegar ao dormitório para se unirem na cozinha para a refeição. Bakugou estava gritando alguma coisa para Kaminari e Kirishima estava tentando acalmá-lo.

— Kyouka-chan – Chamou Asui acenando ao lado das outras garotas.

Jirou aproximou-se das garotas se aconchegando em seu camisão com mangas tão longas que cobriam suas mãos.

— O que há com o Bakugou? – perguntou ela sentando-se no sofá ao lado de Momo e Tsui.

— Não temos certeza, ninguém prestou muita atenção – respondeu Ochako.

— É, geralmente ele grita sem motivo, então só ignoramos – concordou Mina – estávamos falando sobre Todoroki – continuou ela baixando o tom da voz e esfregando as mãos conspirativamente.

— O que tem ele? – questionou Jirou franzindo o cenho.

— Isso é exatamente o que queremos descobrir – começou Hakagure no mesmo tom de Mina.

— Não é nada, Kyouka-chan – desconversou Momo corando – Todoroki-san tropeçou, eu estava perto então o segurei.

— Eeeeee, nosso amigo meio a meio ficou vermelho e não conseguiu falar nada! – completou Mina aproximando-se de Momo com um sorriso malicioso.

A campainha tocou e todos olharam para a porta imaginando ser a comida.

— EU ATENDO, EU ATENDO – gritou Kirishima correndo para a porta com Sero e Kaminari nos calcanhares.

Os três soltaram um “Oh” decepcionado quando perceberam que ainda não era seu jantar e sim Yoarashi Inasa, vestido com uma blusa branca social, a calça e o chapéu da Shiketsu. Ele segurava um pequeno pote de isopor em suas mãos com hashi embalados em cima.

— Me desculpem! Eu posso voltar outra hora se for um inconveniente para a turma! – exclamou ele imaginando que o desapontamento era por causa de sua presença.

— Relaxa, cara. Pode entrar – Kirishima acalmou puxando-o para dentro.

— Não que você não seja bem-vindo, mas o que você está fazendo aqui? – perguntou Sero.

— Ooooh – começou Kaminari sugestivamente – Ele veio treinar com a Jirou – Denki estava segurando um riso debochado quando ele sentiu um baque em suas costas e o batimento cardíaco de Jirou sacudindo-o por dentro.

— Ainda é cedo, Yoarashi – disse Jirou calmamente caminhando até ele.

— Eu sei, você pediu que eu viesse depois do jantar. Então, como nós já recebemos nossa comida, pensei que a 1-A já tivesse jantado.

— Ah cara, será que nós somos os últimos a receber o jantar? – gemeu Kaminari esfregando a mão na barriga.

— Você pode comer o meu – ofereceu Inasa esticando a vasilha que havia trazido – Eu pensei em comer depois, mas você pode comer agora e eu como o seu quando chegar.

— Sério?! – os olhos de Kaminari brilharam.

— Não – negou Jirou pondo a mão sobre a vasilha de Inasa – Ele pode esperar como nós.

— Ei, Jirou! É a comida dele, ele que decide! – reclamou Kaminari.

— Ela tem razão cara, não é justo você comer antes de nós – gemeu Sero também esfregando a barriga.

— Me desculpem, eu deveria ter trazido mais comida! – começou Inasa corrigindo a postura e assumindo um olhar determinado.

— Por que você trouxe sua comida em primeiro lugar? – perguntou Jirou em tom monótono com uma pitada de confusão – Você poderia só ter comido no dormitório provisório com os outros alunos da Shiketsu.

— Ontem eu a fiz comer sua comida já fria, então hoje sou eu quem vai comer assim – respondeu ele austero.

Jirou bufou e revirou os olhos, às vezes ele era tão...

— Claro que não – começou ela franzindo o lábio – Vamos todos comer quente hoje – terminou ela socando seu ombro levemente e lhe dando um sorriso.

Inasa olhou de volta e retribuiu com um sorriso... meigo? Foi o que pareceu para Kyouka, às vezes ele era tão...

— Eu ainda posso comer sua comida?! – questionou Kaminari brotando entre os dois, esperançoso.

Aquilo irritou Jirou profundamente. Então a campainha soou novamente, desviando a atenção de todos para a porta. Dessa vez era o tão esperado jantar. Todos da turma A foram para a cozinha e Inasa, a convite de Jirou, os acompanhou. Ele sentou-se perto dos garotos, entre Midorya e Kaminari, com Jirou bem próximo, entre Kaminari e Momo. Mina não foi muito a favor do garoto da Shiketsu invadir sua turma.

Midorya, como o bom fã boy que é, estava conversando animadamente com Inasa sobre a peculiaridade do garoto dos ventos. Na noite anterior, o usuário do One for All ainda estava um pouco tímido em pedir tantos detalhes para o outro garoto. Agora, com a permissão total de Yoarashi, Midorya mal tocava na comida e desejava ter seu caderno de anotações na mesa de jantar.

— Não, não, os tubos de ar no meu uniforme de herói são para passar ar quente por eles. Assim é mais fácil para eu voar. Usando ar frio eu teria muito mais trabalho, já que ele tende a descer.

— Mas você disse que pode mudar a temperatura do vento – retrucou Midorya antes de enfiar uma porção na boca.

— Sim, e a pressão, por isso consigo controla-lo. Mas isso não impede que eu use o ar disponível para acelerar as coisas para mim – continuou Yoarashi feliz por explicar a maravilha que o vento pode fazer – Mudar temperatura e pressão ao mesmo tempo exige muito da minha concentração. E nunca se deve tirar a atenção da batalha! – terminou ele erguendo o punho inspiradoramente.

Mina soltou um grunhido de desprezo e virou o rosto arrogantemente para o lado. Não importava o que Inasa dissesse, ela ainda tinha arranhões do dia anterior e sua amiga podia estar ajudando o imbecil, todavia Kyouka poderia estar em muito pior estado que ela.

— Mina! – repreendeu Jirou do outro lado da mesa.

Ashido estava de frente para ela entre Asui e Uraraka, consequentemente, muito próxima de Inasa também.

— O quê? – resmungou ela mais alto do que Jirou gostaria – Esse cara fez uma bagunça com a gente só por achar divertido e agora janta com a gente como se não tivesse quase nos matado ontem.

— Mina, para! – pediu Jirou irritada agora mais alto que antes.

— Ele age como um vilão, Kyouka-chan, e vem jantar com heróis estud...

— Ashido!! – Jirou levantou batendo as mãos na mesa.

Isso definitivamente teve um efeito. Infelizmente não foi só em Ashido, a turma toda parou para olhar uma Jirou curvada perigosamente na mesa com um olhar assassino que só Kaminari e Minetta conheciam (quando tentavam algo pervertido em suas amigas). Bakugou foi o único que pareceu não dar tanta importância soltando um “Tch” e recostando-se na cadeira para assistir melhor a cena.

— Me desculpe, não foi essa minha intenção – declarou Inasa triste.

Aquilo amenizou a expressão de Jirou. O garoto era tão animado que Kyouka julgou-o incapaz de ficar triste. E isso apertou um pouco seu coração.

— Eu sei que agi mal, de forma impulsiva, como sempre faço. – continuou Inasa com a voz calma ressoando firme como sempre, somente seus olhar cabisbaixo demonstravam seu descontentamento. – Farei o meu melhor para mudar isso. Entendo se todos se sentirem desconfortáveis comigo aqui.

— Ei, cara! Nada disso, você é bem-vindo! – interrompeu Kirishima erguendo-se também.

— É cara. – concordou Kaminari – Ashido, qual é?! – choramingou ele com um olhar suplicante para a menina rosa.

Ashido só cruzou os braços e ergueu uma sobrancelha.

— Mina-chan, não acha que está exagerando? – perguntou Asui ao seu lado.

— Talvez devêssemos esquecer o que passou e jantar sem ressentimentos – concordou Momo com um sorriso para Mina.

Não é fácil negar um pedido de Momo, Mina sabia disso, ela apenas suspirou e deixou os braços cair.

— Só perdoa esse idiota logo! – resmungou Bakugou comendo – Eu não aguento mais olhar para essa cara estúpida de cachorro sem dono que ele está fazendo!

— Ok, ok! – concordou Mina erguendo os braços e jogando a cabeça para trás – Me desculpe. Eu exagerei, né? – sorriu ela estendendo a mão para Inasa.

Ele pareceu surpreso por um segundo, então aceitou a mão de Mina e seu sorriso empolgado retornou rápido até demais.

— Deixe-me agradecer com paixão por seu perdão! – agradeceu Inasa apertando a mão de Mina e sacudindo amplamente deixando a garota um pouco assustada.

— Ok, ok – riu Jirou – Segure a paixão, dos ventos – ela apoiou a mão nas de Inasa e Mina parando o movimento exagerado de Yoarashi – Nós acabamos de amansar Ashido, não queremos q ela volte atrás, certo?

— Certo! – concordou Inasa com um aceno forte de cabeça.

— Vamos comer! – gritou Kaminari ao lado de Jirou fazendo a garota se encolher um pouco.

Todos voltaram a comer, exceto Bakugou - que não havia parado - ele já havia terminado e foi lavar seu prato. Não demorou muito para terminarem a refeição. Depois de lavarem seus pratos boa parte da turma foi dormir já que o dia fora cansativo e o seguinte também seria. Os demais caminhavam para o sofá do hall a fim de conversarem um pouco antes de deitar com uma promessa a Ida que não dormiriam muito tarde.

Jirou estava contando à Momo um pouco sobre as aulas de Aizawa sensei (sua amiga ainda estava ofendida por Jirou não ter pedido sua ajuda, contudo estava percebendo que as aulas com Shinsou estavam sendo mais produtivas). Enquanto isso, Momo tomava uma xícara de chá costumeira após o jantar, para ajudar a dormir melhor.

— Ei, Yoarashi – chamou Jirou. O garoto que observava o diálogo de Kaminari e Kirishima virou-se para ela – Espere aqui, ok? Eu vou pegar algumas coisas no meu quarto antes de sairmos.

— Sim.

Ele parou onde ele estava enquanto Jirou dirigiu-se para o elevador. Ele ficou observando enquanto a porta fechava. Enquanto isso os outros chegaram ao sofá e perceberam que Inasa ainda estava parado olhando para o elevador.

— Ahn... Você vai ficar aí parado? – perguntou Kirishima.

— Ela pediu – informou Inasa como se fosse algo lógico.

— É, mas... Você pode sentar – disse Kaminari desconfiado do sofá erguendo uma sobrancelha.

 - Ok! – exclamou Inasa andando lentamente para os outros.

Sentados no Hall estavam Kaminari, Kirishima, Sero e Sato em um sofá, Mina, Momo e Todoroki (que realmente só estava acompanhando Momo em seu chá sem nenhuma razão específica) em outro. Mesmo sobrando um espaço para Inasa ao lado de Todoroki, o controlador de vento decidiu sentar-se em uma poltrona a parte.

Não que Inasa desse tanta importância assim para isso, no entanto, fora Midorya e Jirou, não havia muito interesse de sua parte nos alunos da 1-A, e ele ainda nutria certo ressentimento por Todoroki. Contudo, sentar-se nessa poltrona não foi a melhor escolha. Yoarashi percebeu que ali ele estava exatamente no foco de todos os demais, deixando-o um pouco desconfortável.

Houve um curto silêncio constrangedor antes de Kirishima fingir uma tosse.

— Então, ahn... sobre o que estávamos falando antes? – ele dirigiu-se a Kaminari.

— Também não lembro – informou o loiro visivelmente desconfortável.

— Então, Yoarashi-san – começou Mina apoiandoo rosto nas mãos e os cotovelos nas coxas – O que exatamente você e Jirou-chan fizeram ontem?

— Oh, nós andamos um pouco, aí olhamos para um carvalho, depois eu montei bonecos de neve e tudo explodiu em mim – resumiu Inasa calmamente. Como se suas palavras tivessem todo o sentido.

— Quê? – soltaram Kaminari e Kirishima confusos.

— Midorya comentou algo sobre o seu treinamento – disse Shoto sem expressão – Parece bem... inusitado.

— Kyouka-chan tem treinado com muitas pessoas ultimamente – falou Momo fazendo beicinho e afundando no sofá antes de tomar mais gole de seu chá. Ela ainda estava com uma pontada de ciúmes por não ser incluída no desenvolvimento heroico de sua amiga.

— Oh, não é um treinamento – corrigiu Inasa se sentindo mais confortável – Jirou-san deixou claro assim que saímos. Ela está apenas me ajudando a me expressar melhor.

— Bem, um pouco contraditório, né? – riu Kaminari – Jirou não é exatamente expressiva.

— Oh, você acha? – perguntou Inasa curioso – Para mim ela parece incrivelmente expressiva. Foi muito prazeroso conhece-la melhor ontem.

— Ah, foi é? – ronronou Mina com um sorriso malicioso. Agora ela havia encontrado algo interessante.

— Com certeza! – continuou Inasa agora muito empolgado – Estou muito ansioso para saber o que faremos hoje. Ontem Jirou-san me fez ver muitas coisas incríveis.

— Tipo o quê? – Isso pegou a curiosidade de Momo. A garota adora aprender.

— Oh, Jirou-san me compreendeu sem eu mesmo ter me compreendido. Então falamos sobre nós, e nossas individualidades e como podemos ter visões diferentes sem nenhum dos dois estar errado. Então ela me disse como tem o próprio mundo e, por um momento – Inasa deu uma pequena pausa e abrandou a voz – ela fechou os olhos... eu não sei se ela percebeu que estava sorrindo, mas ela parecia tão bem, tão... – ele suspirou - Eu não sei como, mas eu pude ver o mundo pelos olhos dela quando ela fez isso. – ele recostou-se novamente na poltrona - Eu espero um dia me expressar assim.

Inasa segurava um pequeno sorriso e seus olhos não mantinham sua expressão determinada de sempre, ao invés dela, uma forma gentil e suave se apresentava neles. Os outros não esperavam esse tipo de declaração tão aberta de Yoarashi e não sabiam como reagir.

Até mesmo Todoroki erguia um olhar de surpreso com a xícara de chá a centímetros de seu rosto. As duas garotas estavam com olhares apaixonados e Mina suspirou quando inclinou a cabeça de lado.

O som do elevador se abrindo trouxe todos de volta em um susto. Jirou saiu com uma pasta executiva e um enorme casaco dobrado ao meio nos braços além daquele que ela vestia. Inasa pulou da cadeira em ansiedade para saber o que fariam essa noite.

— Aqui. – disse Jirou jogando o casaco de Inasa para ele – Obrigada, é muito confortável.

— Obrigada por mantê-lo – agradeceu Inasa segurando o casaco.

— Isso é dele? – pergunta Momo – É aquele casaco que estava na sua cadeira?

— Uhum – concorda Jirou.

— Oh, o que é isso? – diz Inasa apontando para a pasta na mão de Jirou.

— Oh, é uma surpresa para você – responde ela andando em direção à porta.

— Oh, eu quero! Posso ver?! – disparou Inasa indo atrás de Jirou tentando pegar a pasta - O que é? Por favor, me deixe ver.

Jirou apenas riu de Inasa tentando pegar sua pasta enquanto ela a escondia atrás de si e mantinha-o afastado com a mão em seu esterno.

— Calma aí, dos ventos. Eu vou te dar mais tarde, agora ponha o casaco, sim? – comandou ela calmamente dando dois tapinhas no peito de Inasa – Até mais, pessoal – Despediu-se ela acenando para os amigos no sofá.

Ninguém respondeu, ainda estavam todos um pouco confusos com o que aconteceu. Os dois saíram deixando os alunos da turma 1-A olhando para porta.

— Mas o quê? – Kaminari soltou em um sussurro.

— Isso foi tão fofo! – gritou Mina saindo de seu estupor.

— Fofo? – perguntou Todoroki.

— Ei, devagar aí, Ashido – alertou Kirishima.

— Own, parece que nós temos um novo shipp – suspirou Mina.

— Shipp? – ecoou Todoroki.

— Só ignore – aconselhou Momo – Mina-chan sempre imagina coisas além da realidade.

— Como é? – reclamou Mina pondo as mãos na cintura – Você viu o jeito deles. Como não shippar os dois? – argumentou suspirando.

— Você disse a mesma coisa mais cedo, lembra? – Momo relembrou a amiga sobre os comentários de Mina sobre o treinamento de Jirou e Shinsou.

— Não é mesma coisa. – resmungou ela fazendo beicinho e cruzando os braços.

— E o que ela tava fazendo com o casaco dele? – reclamou Kaminari ligeiramente irritado – Momo, você disse que estava no quarto dela?

— Não piora as coisas Denki! – repreendeu Kirishima ameaçando o amigo com o punho.

— Viu? Denki-chi também percebeu. – apontou Mina.

— Bem, eu concordo com Yaomomo, vocês devem estar vendo coisas – comentou Todoroki

— Claro que você concorda com a Momo – Mina revirou os olhos.

— Bem, considerando que ela é a primeira da nossa classe e você e Kaminari são os últimos, eu tendo a concordar com ela.

— Ei! O que você quer dizer com isso? – protestou Denki.

— Eu acho que está na hora de todos irmos para a cama – sugeriu Momo erguendo-se – Não estamos nem no meio da primeira semana, devemos poupar energias para nossos treinos.

Com alguns protestos todos subiram. Momo e Todoroki passaram primeiro na cozinha para deixar suas xícaras de chá vazias e depois foram para suas camas.