Draco deslizou a mão pelas costas de Astoria até enroscar uma mechinha do cabelo escuro em seu dedo indicador. Ele vivia por momentos assim: observá-la à meia luz, no meio da noite, em silêncio. A força da presença de Astoria, ainda que perdida nos próprios pensamentos como agora, tinha o poder de espantar todos os seus demônios pessoais.
Era estranho como, mesmo com o passar dos anos, ela ainda o comovia com a mesma intensidade. Ele havia trabalhado – ele ainda vinha trabalhando – incessantemente para se perceber como uma pessoa razoável. O peso era quase sempre insuportável. Mas então ela o olhava, e, mais do que isso, o via de verdade.
E isso era o suficiente para que ele continuasse tentando pelo resto da vida. Nada do que ele pudesse fazer o isentaria de tudo que ele havia feito - de tudo que sua família havia feito. No entanto, ele gostaria de se certificar de que o que quer que viesse pela frente, fosse sempre margeado pelo que ele nunca mais gostaria de repetir ou reviver fora de seus pesadelos.
A construção daquela casa em Wiltshire, por exemplo, nas propriedades Malfoy, mas longe o suficiente da mansão de seus pais, era o maior e mais importante símbolo do seu estamento. No entanto, nada lhe enchia tanto de orgulho quanto o seu próprio casamento.
Quando a sua história com Greengrass havia começado, Draco ainda estava quebrado em mais sentidos do que ele tinha capacidade de entender. Gradualmente ele pôde perceber melhor quem era, quem havia sido, mas mais importante, quem ele gostaria de ser. Astoria havia lhe mostrado – em palavras, em gestos e as vezes apenas permitindo que ele desfrutasse de sua companhia - que ninguém se encerrava em uma única característica. E que estar vivo por si só era estar em uma dolorosa e contínua construção.
Ele havia adotado a perspectiva dela, por fim. E agora colhia os pequenos frutos de um relacionamento que havia dado um jeito de crescer e prosperar ainda que em um solo árido: a intimidade de enrolar uma mecha do cabelo dela distraidamente no dedo enquanto a observava.
— Acho que estou grávida. - ela sussurrou devagar, num fio de voz que quebrou o silêncio.
Draco sentiu uma vertigem. Toda a sua conjectura quase otimista sobre o que o levara até ali ruiu rapidamente enquanto ele se sentia abraçado pelo terror.
— Astoria...