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——— ——— Lugar Nenhum, Todo Lugar

———— conselho ———————

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Havia uma mesa de formato circular e oito cadeiras  similares a tronos disposta ao redor dela, cada um dos assentos sendo ocupado por uma figura, três mulheres e cinco homens se encontravam sentados numa discussão acalorada.

— Cavalheiros — uma das figuras anunciou num tom mais alto, tomando para si a atenção dos demais. — E senhoras —  logo completou —, agora que discutimos os assuntos que mais nos demandam a atenção, tenho algo que é de interesse mútuo e talvez igual urgência.

— O que seria este algo? — uma figura perguntou.

— Veja — respondeu e então do centro da mesa um holograma surgiu.

Mostrava uma mulher. Era magra, tinha o rosto comum e usava um rabo de cavalo. Seus cabelos eram castanhos e tudo nela exalava normalidade até o momento em que ela falou.

— Agente de Infiltração, Mila Savoi, codinome Fantasma se apresentando — a mulher bateu uma continência antes de continuar. — Meu esconderijo foi comprometido às dezenove horas e quatorze minutos deste dia, portanto presumo que este será meu último relatório — Um tom de pesar pairava na voz da mulher.

“Nas últimas buscas nos complexos, cidadelas e colônias em Marte há algumas semanas foi constatado uma arma de nome indefinido sendo construída em solo marciano. Tentei buscar por mais informações nas milícias locais mas as únicas pistas obtidas eram vagas, foi dito que a arma ‘nunca seria suspeita’ e que ‘poderia acabar com a Terra’, contudo, acredito que foi relevado pelos filtros de informações”.

Uma pequena agitação se seguiu em alguns dos oito à menção da Terra.

“De qualquer forma, eu encontrei o que supostamente é essa arma. Sua forma, eu já enviei imagens dela, é a de uma mulher humana que tem por volta de vinte a vinte e cinco anos. Ela está aqui em Marte, no complexo de Asmos a cinquenta quilômetros da colônia russa de Reznov. Seu nome é Blake Silver, não é um alvo hostil, ou ao menos não demonstra. Também não parece ser algum tipo de combatente”. Um estrondo abafado pela transmissão pode ser escutado e logo em seguida o som de passos.

“Encerrando transmissão, foi uma honra.”

Assim o holograma desapareceu e o ambiente, antes escuro para o melhor foco na transmissão, aos poucos começou a clarear até a luz crepuscular costumeira que possuía. As oito figuras permaneceram num silêncio mortal beirando o macabro por alguns instantes até que lentamente algumas começaram a se pronunciar.

— Como você conseguiu esta gravação, Ares? — era uma das três mulheres quem havia perguntado, sua voz era pesada e parecia preocupada.

— Eu tenho meus próprios contatos, Atena, dentro e fora da FAUNT — respondeu a figura de olhar macabro. — Eu consegui isto apenas ontem, foi necessária muita persuasão da minha parte.

— E para você, usar palavras no lugar de armas, significa muito — a figura identificada como Atena completou. — De quando é esta gravação?

— Final de novembro.

— É recente, então — uma outra figura se intrometeu, parecia ser bastante velho. — E é de nosso interesse. Esta “arma” que mencionou, do que se trata?

— Infelizmente não possuo tal informação — Ares respondeu. — Apenas especulações, mas esta arma pode ser alguma espécie de vírus contra alguma forma de onda. Rádio, satélite, internet. Talvez sejam estes os alvos da “arma”.

— Esperava mais do que isso — o ancião disse em meio a um gemido de desgosto. — Entretanto, se as especulações forem verdadeiras, qual seria o objetivo de tal vírus na Terra?

— São muitas possibilidades — uma quarta figura falou. — Não é novidade para nenhum de nós que Marte planeja uma insurreição contra a Terra, nós mesmos apoiamos direta e indiretamente. Talvez o malware seja um primeiro ataque e um direto nas comunicações.

— Isto seria problemático, para todos nós. Imaginem, nosso maior consumidor sendo destruído ou dizimado — falou o ancião, havia certo temor em seu tom de voz.

— Já imaginei isso, Zeus — a figura de Ares falou. — É por isso que já ativei um de meus Titãs para ir atrás desta arma. Estou bastante confiante sobre ele, em seu corpo estão instalados aprimoramentos militares de ponta.

— Muito bem, está em suas mãos, Ares — Zeus falou após alguns segundos num recluso silêncio. — Contudo, Odin irá observar todo o progresso deste seu Titã. Esta reunião está encerrada.

Aos poucos as figuras que também se mostraram como hologramas foram aos poucos desaparecendo até que restara apenas Ares e um segundo homem que olhavam um ao outro com olhares frios.

— Espero que as aventuras do Titã te entretenha, Pai de Todos.

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—————— Arredores de Nova Iorque

—— Asher ————————

————— 3/12/2127

Fazia frio como era de costume no final de outono e a casa, um agradável chalé de luxo feita especialmente para ele, contrastava com o restante da cidadezinha de boas condições. Nunca houvera algum ataque de milicianos, tampouco algum importunação do governo ou de corporações, era um local pacífico e digno de se viver até a mais avançada idade.

O sol deslizava timidamente para o céu enquanto a cidadezinha aos poucos acordava. No entanto, naquele chalé distante dos demais, o dia parecia já haver começado havia muito tempo. Com um copo de uísque em mãos, arquivos e mais arquivos para se ler e vestindo apenas calções, lá estava ele murmurando suas próprias besteiras.

— Meu doce, mande uma mensagem para Damian, diga a ele para parar de ser tão estraga prazeres e para começar a aproveitar a juventude enquanto ainda é jovem.

— Sim — respondeu a voz de uma mulher enquanto bebericava seu uísque. — Senhor, estou recebendo uma chamada vinda da senhorita Hicks.

— Diga a ela que não estou em casa — resmungou.

— Por isso mesmo eu já me antecipei em hackear seu sistema — outra voz feminina soou. Involuntariamente suspirou e cerrou os dentes. — Adoraria vê-lo se possível, meu amor.

— Eu não adoraria, Hicks — resmungou, se acomodando na sala de estar, onde em sua televisão a imagem de uma bela mulher apareceu. — O que você quer?

— Não seja tão rude, Asher — respondeu a loira com um falso tom de ofensa, para logo lhe lançar um olhar malicioso. — Preciso de você no meu escritório o quanto antes, meu amor.

— Está tão desesperada por uma foda, Hicks? — caçoou um sorriso zombeteiro se formando em seus lábios. — Aposto que você pode encontrar bastante homens para te satisfazer num piscar de olhos.

— Não é sexo o que eu quero, embora não o recuse caso seja você quem ofereça. Aliás, quem é você para falar da minha líbido sendo que não consegue se satisfazer nem mais com duas mulheres?

— Pare de me espionar — rosnou. — É desagradável.

A mulher sorriu e era um sorriso tão belo que faria o homem de qualquer homem se aquecer, embora fosse um sorriso de zombaria; mas não aqueceria o coração dele.

— Conversas à parte, não quero que você me foda, pelo menos não agora — ela continuava exibindo aquele sorriso cheio de malícia. — Os cabeças da corporação querem lhe dar algum trabalho, provavelmente testar esses novos aprimoramentos no seu corpo.

— Que tipo de trabalho? — bebericou novamente o uísque.

— Apenas sei que é arriscado — ele sorriu e se ergueu, deixando ainda mais claros seu músculos fortes e definidos, ao menos os músculos que restaram. — Acho que você não deveria aceitar.

— Por acaso sou um de seus cães para aceitar suas ordens, Hicks? — murmurou um pouco enraivecido.

— Não — a loira respondeu, sentindo-se um tanto contrariada. — Sou sua superior, o que te torna quase o mesmo.

— Quase — frisou. — Falou bem, quase, não o mesmo. O que significa que posso te ignorar completamente e aceitar o trabalho.

— Você vai morrer ainda.

— Todos nós iremos — devolveu. — Minha morte só será mais emocionante ou deplorável. Vai depender da situação. Até depois, Hicks, tenho duas mulheres me esperando. A não ser que você queira ver tudo.

Com um bufar a loira encerrou a transmissão deixando o recinto novamente silencioso.

Foi um momento para se aproveitar a calmaria.