Banzai! escrita por DetRood, Crica


Capítulo 9
O Espírito Ancestral




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/7684/chapter/9

CAPÍTULO 9: O ESPÍRITO ANCESTRAL

De volta à casa de Tanaka, os irmãos seguiram o ancião pela porta da frente. O pequeno Chang estava com eles.

Os olhos do velho oriental demonstravam seu cansaço. Deixou-se cair sobre o pequeno sofá e permaneceu ali, imóvel e mudo por infindáveis minutos com as mãos espalmadas sobre os joelhos e os olhos perdidos sobre a mesa de centro.

Sam sentou-se na cadeira à sua frente e o observava comovido. Dean, recostado ao parapeito da janela, seguia com a vista o garoto que caminhava silencioso pelo ambiente como que avaliando o que lhe poderia ser útil ali. Vez por outra tocava um objeto, mas sabia que um par de olhos vigilantes o seguiam.

- Bem, o que faremos agora? –o mais velho dos rapazes quebrou o silêncio, passando a mão sobre a ferida que a entidade lhe deixou.

- Realmente não sei, Dean. Não esperava que aquela coisa viesse pra cima de nós. - o caçula segurava o pequeno frasco entre as mãos - Pensei que o sândalo o levaria de volta ao mundo espiritual.

- Esperem um instante, por favor. – Inesperadamente, Tanaka ergueu - se e caminhou para um outro cômodo da casa.

- O que foi agora? - Dean questionou intrigado.

- Não sei mesmo! – o caçula indicou a cadeira ao irmão e pôs sobre a mesa um kit de primeiros socorros. - Deixa eu cuidar deste ferimento antes que infeccione.

- Só espero que o velhote tenha guardado uma carta na manga – O mais velho caminhou até GW e esvaziou os bolsos do garoto, pondo pequenos objetos de volta a seus lugares.

O menino, bastante contrariado, foi conduzido pelo outro agarrado à sua orelha, até o sofá. Com um sinal, Dean o fez compreender que não seria muito saudável levantar - se de onde estava por enquanto...

Depois de cuidar do ferimento do irmão Sam levantou-se e passou a andar de um lado ao outro da sala, preocupado com a demora de Tanaka. Não era do feitio destes japoneses largar as visitas no meio da sala, mesmo que eles não fossem bem uma visita. Vez por outra o rapaz aproximava -se da porta do corredor cerrada por uma cortina de finos bambus. Assustou-se com o vulto do senhor saindo do meio da escuridão do estreito corredor metido num kimono negro atado pela cintura por uma larga faixa em nós sobrepostos. Uma espada curta estava presa às voltas do tecido. Os pés descalços.

O Senpai não disse nada, apenas colocou-se de lado e indicou o caminho por onde os outros o seguiram, num gesto.

No pequeno quarto, o mestre indicou um tapete de sisal junto à porta onde todos depositaram seus sapatos. O pequeno Sr. Chang seguia atento os movimentos de Tanaka. Toda aquela indumentária só podia significar que algo muito importante estava para acontecer.

O ambiente extremamente limpo e bem cuidado exalava um perfume doce de flores. Se pudessem descrever aquele lugar com uma única palavra, certamente seria paz.

Todas as perguntas do universo fervilhavam dentro da cabeça dos rapazes, mas algo os impedia de macular com palavras aquele santuário.

Tanaka dirigiu-se ao pequeno altar e pôs-se de joelhos sobre as próprias pernas. Com as mãos postas à sua frente, inclinou-se numa reverência, quase tocando o chão com o rosto e permaneceu assim.

O menino puxou Sam e Dean para um canto e os fez ajoelharem - se como o outro. Os três agora punham-se respeitosamente a esperar pelo que se seguiria.

Lá fora, a brisa tocava os sinos de vento, trazendo a melodia suave até seus ouvidos.

O ancião ergueu os olhos e tomou algumas ervas de uma caixa, delicadamente ornada por motivos florais pintados à mão em vermelho e dourado.Colocou - as sobre um pequeno prato raso e, sobre elas, algumas gotas de um óleo que, a princípio, não puderam identificar. No mais profundo silêncio, onde o que se ouvia era o arfar da respiração e o tilintar dos sinos - de - vento, Tanaka acendeu a mistura e deixou - a queimar, liberando o aroma do almíscar; tomou o manuscrito do livro de orações e colocou - o sobre o Bushido. De dentro de um cetim branco bordado com peônias amarelas, retirou uma máscara secular que representava uma expressão horrenda, vermelha, o que a tornava ainda mais assustadora. Pôs o artefato encostado à parede, sobre a prateleira, junto ao Bushido e à uma pequena urna de porcelana. Dobrou cuidadosamente o tecido e depositou - o ao seu lado, sobre o tapete.

Os três assistentes observavam todos os seus movimentos atenta e silenciosamente.

Depois de uma longa reverência, Tanaka passou a recitar em sua língua materna, versos do pequeno manuscrito de seus ancestrais, numa cadência suave e tranqüila, quase uma canção.

Dean desviou o olhar para o pequeno Chang que levantou os ombros em sinal de que não conseguia entender o que o velho dizia. O menino estava surpreso por não reconhecer aquele dialeto.

Ao final da oratória, Tanaka ergueu - se e reverenciou o altar curvando o corpo três vezes; tomou a katana que estava à sua frente, retirou - lhe a bainha e voltou - se para os outros. Seu semblante, agora sereno, em nada lembrava os momentos de tensão pelos quais passara. Caminhou em direção aos rapazes e ao garoto, mantendo a espada apoiada nas palmas das mãos pelo cabo e pela extremidade oposta. Fitou cada um como se pudesse sondar - lhes a alma.

Quando os olhos de Dean foram invadidos pelo olhar do ancião, o rapaz teve um impulso irresistível e tocou a espada, segurando - a pelo meio da lâmina. Um vento mais forte soprou apagando as pequenas velas e um arrepio correu - lhe por todo o corpo. Uma sensação de leveza e força o invadiu.

O Senpai sorriu e deixou que o mais velho dos Winchesters ficasse com a katana.

- Por hora descansem, rapazes... O confronto final ainda está por vir...

- Confronto final? Mas do que o senhor está falando?

- Vamos logo, deixem Tanaka San descansar... - Chang puxava os irmãos.

- Espera aí, garoto. – Dean voltou - se para o ancião – Ainda não sabemos como vamos derrotar aquela coisa, Sr. Tanaka...

- Quando chegar a hora, meu jovem, você saberá. - Sorriu mais uma vez e entregou a bainha da espada a Dean. Tomou sua posição diante do altar, em meditação, ignorando os demais.

Os irmãos perceberam que seria inútil tentar argumentar agora com Tanaka. O que quer que tudo aquilo significasse, não seria explicado naquele momento. Voltaram à sala com todas as dúvidas possíveis e imagináveis.

- Dean, por que será que ele te deu a Katana? – Sam parou diante da parede ornada com os quadros de paisagens.

- Sei lá, Sammy. Já tentamos a espada naquele troço e não funcionou. Quer saber? Vamos voltar para o quarto e descansar um pouco. Estou morto! – Disse jogando - se displicentemente no pequeno sofá.

- Esta não deve ser qualquer katana... - GW alertou - os.

- O que você quer dizer? – Sam virou - se encarando o menino.

- Vocês não perceberam? Ela estava no altar dos ancestrais. Deve ser uma katana original.

- E daí? – Agora foi Dean quem voltou - se para o garoto.

- Daí que, provavelmente, ela pertenceu a um samurai de verdade.

- Hei, Chang, você acha que ela seria capaz de.... –Samuel deu alguns passos em direção ao garoto, erguendo uma sobrancelha como se tivesse descoberto a pólvora - ...Destruir aquela coisa?

- Quem sabe? – respondeu o menino com ares de mistério.

- Dean, eu vou procurar uma cafeteria, ok? Não vamos mais incomodar o Sr. Tanaka...

- Faça isso, Sammy, faça isso. - puxando a manta que cobria o sofá sobre si.

***


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!