Banzai! escrita por DetRood, Crica


Capítulo 8
O Confronto




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CAPÍTULO 8: O CONFRONTO

 

 

A algumas ruas do porto estacionaram o carro, pois viram movimento de ‘suspeitos’ no local. Dois homens metidos em ternos caros, e um se parecia muito com o gordo que estava no desembarque da mercadoria que foi pelos ares, graças à ajuda de certos rapazes de fora da cidade.

 

Tanaka ficou no carro e Chang desembarcou sem que os irmãos dessem conta. Atrás deles, seguiu seus passos, como um pequeno rato que ninguém percebe a presença.

 

Os dois homens andavam pelas ruas com pouco movimento e os irmãos os seguiram a pé, da forma mais discreta possível, tentando se misturar aos locais.

Num instante, eles “dobraram” uma esquina bem angular, e devido àquele cruzamento em especial ser movimentado, os perderam de vista.

 

Dobraram a mesma esquina, e entraram numa rua bem escura e sem movimento.

 

- Onde eles foram parar? – Sam olhava para os lados, mas era como se eles tivessem evaporado no ar.

 

Dean sentiu alguém se aproximando por trás, mas não teve tempo de sacar sua arma. Foi imobilizado pelo mesmo gordo que o atacara antes no píer. Ao mesmo tempo Samuel levou um ‘mata - leão’ do outro oriental mais alto do que ele. Chang, rápido como um lagarto, se enfiou entre os entulhos próximo da entrada do beco ao lado.

 

- Estão perdidos, turistas? - O careca sufocava Dean com seu braço mais gordo do que forte.

 

Do outro, Samuel tentava se desvencilhar, sem muito sucesso.

 

- Ou devemos dizer tiras? – O homem alto apertava com força o pescoço de Samuel, que já estava quase sem ar.

 

- Gordão, se fôssemos tiras vocês sairiam dessa vivos, o que não vai acontecer! – Dean apesar de estar numa situação desfavorável nunca perdia a postura.

 

- Ih, a loirinha é valente Liu, veja só! – O oriental obeso apertava a garganta de Dean sem maiores dificuldades.

 

- Sorte deles estarmos desarmados hoje, hein Ryu... Mas vão ter o que merecem por serem bisbilhoteiros!

 

- Soltem os rapazes, lutem com quem sabe lutar!

 

Tanaka apareceu por entre as sombras, com a mochila branca nas costas, e dela rapidamente tirou um nunchako, soltando - a no chão.

 

- Hey, velho, não se meta conosco, pro seu bem! – O bandido alto, por um momento, parou de apertar Samuel.

 

- Vocês estão com medo de perder pra um velhinho, gueixas? – Com os olhos semicerrados e meio sorriso, Tanaka manuseou com perfeição as barras de marfim unidas por correntes de aço, para espanto dos mafiosos e até dos irmãos, que não davam muito crédito a ele até então.

 

Na hora, os dois orientais largaram os rapazes no chão e foram em direção ao velho.

 

- Hoje o velhinho vai se encontrar com seus ancestrais... – Ryu estalava os dedos e olhava com fúria para Tanaka.

 

- É, e com passagem só de ida... – Liu girava o pescoço, fazendo - o estalar alto.

 

Os dois andavam em círculos em volta do velho, que em posição de ataque estava atento a qualquer movimento de seus oponentes.

 

- Kyai!

 

Tanaka em seu primeiro movimento acertou em cheio a cara de Ryu, que deu alguns passos para trás, com o nariz a sangrar, quebrado. Liu avançou no velho, que num movimento baixo circundou sua arma por entre os pés do outro, e ao puxar as barras com rapidez, o fez levar um belo tombo de costas.

 

Os garotos voltavam a si, já em pé, e quando foram na direção de Tanaka, perceberam alguma coisa errada no ar.

 

Os dois mafiosos cambaleavam em direção ao fundo do beco, quando todos ouviram um grunhido vindo das sombras mais escuras do lugar.

 

De repente, na escuridão de uma das paredes do beco, surgiu a criatura. Os olhos cor de violeta denunciavam de fato que tipo de espírito Hiroshi havia invocado, e infelizmente servido de meio para que ele realizasse toda aquela matança, que não tinha momento para terminar.

 

- É isso mesmo, ele invocou um Inu! – A expressão do rosto de Tanaka não era nada animadora ao se deparar com a criatura.

 

Não deu tempo de Tanaka e os rapazes gritarem para os homens que havia algo lá. Numa fração de segundos, a criatura dilacerou os dois, cada um em uma pata, restando apenas pedaços de carne disformes no chão. Ficou de costas para a entrada, admirando o resultado de sua fúria.

 

- Uma gracinha de cachorro, hein! – Dean sacou sua arma, andando calmamente em direção ao fundo do beco.

 

- Cara, o negócio não é físico, balas não adiantam! Só algo especial poderá esgata - lo ao mundo espiritual! – Sam sussurrou para o irmão, impedindo - o de avançar.

 

- Samuel, rápido, pegue a espada dentro da mochila! – Tanaka fazia sinal para que os rapazes fizessem o máximo de silêncio, pois aparentemente a criatura não percebeu a presença deles até então.

 

- E por acaso o senhor vai encarar o bicho sozinho? – Dean, ao sinal do velho, já dava alguns passos para trás.

 

- A espada está com sândalo, se atingi - lo, ele volta na hora pro lugar de onde veio – Tanaka observava todos os movimentos do Inu. Lembrava - se de seu sobrinho, e de que mesmo de má conduta, não merecia este triste fim...

 

Samuel voltou com a espada a passos leves, entregando - a a Tanaka.

 

- Nós o distraímos e o senhor ataca!

 

- Tudo bem, Dean... Mas cuidado, ele é muito esperto! – Tanaka empunhava a espada, caminhando como um gato na direção da criatura.

 

Os rapazes procuraram no entulho qualquer objeto que fosse capaz de fazer barulho a longa distância. Entre os sacos e caixas quase viram Chang, que escondido dentro de uma caixa de papelão assistia a tudo, estupefato.

 

Cuidadosamente pegaram algumas latas e foram na direção oposta a Tanaka. Lançaram os objetos no fundo do beco, que bateram numa velha caçamba enferrujada. A criatura estava cheirando e mexendo na carne das suas vítimas, e aquele barulho chamou sua atenção. Quando se levantou e olhou para o fundo do beco, para saber o que era, Tanaka tomou impulso numa das paredes paralelas e num salto cravou a espada nas costas do Inu.

 

- Só espero que o sândalo dê certo, Dean... – Samuel ao lado do irmão, próximo aos entulhos da entrada estava atento a todos os movimentos.

 

Qual não foi a surpresa dos três, quando o Inu soltou um rugido, mas não de dor, e sim de fúria. Virou - se para Tanaka, que caíra em pé próximo à caçamba, e fitou - o no fundo dos olhos. Por um instante o velho sentiu a presença de seu sobrinho.

 

Mas algo deu errado. Aquela atitude de nada adiantou. Só fez com que a criatura ficasse mais enfurecida. Noutro rugido, a criatura puxou a espada que a transpassava, e num golpe tranqüilo partiu - a em dois pedaços, como a um graveto, e em seguida foi em direção a Tanaka.

 

- Fique longe dele, Lulu! – Dean já descarregava seu rifle nas costas da criatura, em vão.

 

Mas aquilo foi suficiente para que o Inu percebesse que os irmãos estavam lá. Virou - se na direção deles, dando as costas para Tanaka, que com movimentos rápidos saiu do fundo do beco, caindo próximo aos rapazes.

 

- Corram!

 

Sam pegou a mochila do chão e os três correram o máximo que suas pernas podiam agüentar. Iam em direção ao final da rua, que terminava numa grande avenida iluminada e cheia de trânsito.

 

Por entre as sombras das paredes o Inu se movimentava, quase alcançando Dean e atingindo de raspão seu ombro direito.

 

- Seu filho da p...!! – Sem parar de correr, levou a outra mão ao ombro que sangrava.

 

Mais alguns passos e os três chegaram ao final da rua, iluminada e movimentada.

 

Olharam para trás e não perceberam qualquer sinal da criatura que os perseguia.

 

- Que merda foi aquilo?! – Dean se encolhia por causa do ferimento, que apesar de leve, doía de forma irritante.

 

- Hei, moleque, onde você se meteu? – Samuel avistou o pequeno Chang correndo na direção deles, esbaforido. Os olhos pequenos estavam mais arregalados do que das personagens de animes...

 

Na esquina iluminada por grandes lanternas vermelhas os quatro permaneceram estáticos, a respiração pesada, tentavam entender o que havia acontecido há minutos atrás.

***

“Chegando ao Reikai ,o Mundo Espiritual, Isao e Aya atravessaram o Sanzu no Kawa ,o Rio dos Mortos, e entraram no Shinpan, os Portões do Julgamento. Enma - Dayo (Senhor Supremo do Mundo Espiritual) condenou as almas pela desonra que cometeram em vida.

Isao foi despido de suas vestes e espadas e condenado a vagar pela terra até poder recuperar sua honra. Aya foi enviada ao limbo até que seu amor fosse capaz de resgatá - la.

Na província, os corpos dos jovens foram cremados e suas cinzas depositadas em duas urnas.

A dela, enterrada fora dos muros da cidade para que qualquer lembrança de sua existência fosse apagada. A dele, entregue a sua família que foi expulsa da região e despojada de todos os seus bens.

As duas almas foram condenadas a permanecerem separadas, até surgir a oportunidade de redenção.”

 

***


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Notas finais do capítulo

Olá. Outra ilustração do DougSCar para nós: O pequeno Senhor Chang.