Banzai! escrita por DetRood, Crica
Quando Sam tocou a maçaneta da porta, alguém bateu na madeira, do lado de fora.
Imediatamente, os irmãos trocaram olhares sugestivos. Dean sacou e engatilhou sua arma, posicionando - se de encontro à parede, ao lado da porta.Samuel acenou para que Chang saísse da linha de tiro, girou a chave e, num supetão, atirou o visitante inesperado sobre o sofá.
- Sarah?! – ambos exclamaram surpresos.
- Olá, Sarah. - Dean cumprimentou - a, acenando com a pistola e dando um passo atrás, meio sem jeito.
- Olá, rapazes. - engoliu em seco - Recepção calorosa...
- Desculpe - nos, mas não estávamos esperando visitas. - o mais jovem ajudou a moça a levantar - se, dando - lhe a mão.
- Não foi o que pareceu, Sam.
- Você ainda não disse o que está fazendo aqui. - Dean foi direto.
- Preciso falar com o Sr. Tanaka. São negócios. E vocês?
- Nós também estamos trabalhando. - o caçula respondeu, indicando o assento.
- Sei... Aquele tipo de trabalho?
- É, esse mesmo. Velhos hábitos são difíceis de mudar... - o mais velho fez graça. - Mas que negócios tem com o Sr. Tanaka?
- Ele negocia algumas antiguidades para nós. A última carga foi extraviada e, segundo alguns contatos, pode estar em Chinatow.
- Provavelmente. - Sam concordou - Soubemos que alguns acontecimentos não muito convencionais são bastante comuns por aqui.
- Vejam, rapazes, eu realmente precisava falar com o Sr. Tanaka. Já tentei sondar por aí, mas as pessoas não falam comigo.
- Nem me diga... - Dean cruzou os braços - Sabemos bem o que é isso.
- O que, especificamente, você perdeu, Sarah?
- São objetos pessoais do período feudal japonês.Muito raros.
- Que devem valer uma nota, não é, moça? –Chang intrometeu - se na conversa.
- Valem mesmo. –Sarah dirigiu - se ao garoto - Mas quem é você, rapazinho?É parente do Sr. Tanaka ?
- Não, senhorita, apenas um amigo. – estendeu a mão para a jovem - George Washington Chang às suas ordens: tradutor, intérprete, guia turístico, caçador de tesouros e assombrações nas horas vagas.
Sarah devolveu o cumprimento com um sorriso radiante. Os olhinhos de Chang brilharam como num desenho animado. Mas o encantamento desapareceu com a bofetada que levou atrás da cabeça por ter a língua maior do que a boca e já ir denunciando a natureza da tarefa para a qual fora contratado, assim a qualquer um, mesmo que Sarah não fosse qualquer um.
- Se bem conheço o Senpai, a senhorita pode esperar sentada.
- O sr. Tanaka está lá dentro, Sarah - Samuel comentou - Mas não acredito que vá recebê-la ou a qualquer pessoa, no momento. Seu sobrinho está desaparecido, o que o deixou bem abalado.
- Sinto muito. Mas então é por isso que vocês estão aqui? Por causa do desaparecimento do rapaz?
- Sim e não. - Dean indicou a porta à moça - Mas, na verdade, precisamos sair para resolver algumas coisas – abriu a porta, guiando - a para fora - o Sam te explica tudo mais tarde, não é, maninho?
Sam estava confuso com a atitude do irmão. Certamente algo estava acontecendo para que Dean enxotasse a jovem daquele jeito. Apenas concordou com a cabeça e acenou uma despedida.
- A gente liga, Sarah. – fechou a porta.
A moça ficou boquiaberta parada diante da porta fechada à sua frente. Decidiu não insistir e retornar ao antiquário.
- Mas que diabos foi aquilo, Dean?!
- Precisava nos livrar dela ou você ia começar com aquele papo furado de não posso me envolver, não devemos, não podemos e ia acabar melando o lance todo.
- Espera aí! Que lance?! Não estou sabendo de lance nenhum!!! - Samuel estava ficando irritado.
- Já vai saber,amigo. Eu só preciso pensar nos detalhes primeiro. - Dean andava de um lado para o outro da sala - Quem sabe um passeio de carruagem ao luar, heim? O que acha?
- Do que você está falando, afinal???
- ... – o mais velho ergueu as sobrancelhas, enfiou as mãos nos bolsos da calça e encarou o caçula.
- O que ?! Qual é, Dean, vai começar com essa coisa outra vez?
- Não vou começar com nada, está bem ? Se não quer aproveitar a vida, problema seu. – voltou-se para o garoto - Vamos embora, Gafanhoto. Temos muito a fazer.
- Sim, senhor! – Chang seguiu o rapaz.
- Ei! Vocês dois! Esperem... vão fazer o q... – o mais jovem passou a mão pelo cabelo,jogando-o para trás. Não adiantaria dizer mais nada porque seu irmão e o menino já iam pelo meio do beco em direção à rua.
Enquanto caminhava a passos largos, Dean revirava a agenda do celular, mas nada lhe parecia satisfatório. Ateve-se ao lado do Impala estacionado na calçada e soltou:
- O que vamos fazer agora? Aquele teimoso não vai querer...
- Por que o Sam não toparia sair com a Sarah ? Ela é uma gata! - o menino comentou revirando os olhinhos.
- Porque ele é um idiota. - respondeu o outro recostando-se na porta do veículo.
- Dean... ele não é gay, é ?
- Claro que não! De onde você tira tanta bobagem? - Parou pra pensar e pôs uma expressão preocupada no rosto - Eu espero que não...Não. - sacudiu a cabeça, afastando o pensamento que teve - Claro que não!
- Sei lá... a Sarah é linda e super gostosa...e aquele sorriso...Uau!
- Moleque, olha o respeito!
- Foi mal. – o menino corou – Acho que podemos dar um jeito de juntar aqueles dois... - GW pegou seu celular e fez uma ligação.Acertados os detalhes com a pessoa que estava do outro lado da linha, Chang acenou para que Dean se aproximasse e contou - lhe, ao pé do ouvido, seu plano.
***
Na casa de Tanaka, Sam passou a tarde vasculhando a internet em busca de algum sinal dos objetos mencionados por Sarah. Não encontrou nada além de uma dor de cabeça.
O ancião ainda estava recolhido meditando quando Dean e Chang retornaram.
Sam havia tomado um analgésico e cochilava sobre a cama desforrada.
Dean trazia um pacote nas mãos. Aproximou-se do irmão seguido pelo menino e observou-o com cuidado.Fechou o laptop que estava ligado sobre o criado-mudo e sentou-se à beira da cama, ao lado do irmão. Chang saiu.
- Sammy... - chamou-o com delicadeza para não assustá-lo.- Sammy...você está bem?
-Dean?... – Esfregou os olhos - Foi só uma dor de cabeça. – o caçula sentou-se ao lado do outro - Onde vocês se meteram a tarde inteira? Já estava ficando preocupado.
- Andamos fazendo umas perguntas por aí. Você não tem noção da quantidade de gente que esse garoto conhece.
- E...
- E parece que temos uma luz no fim do túnel. Amanhã à noite vão embarcar um monte de muamba numa empresa transportadora perto daqui. Descobrimos que ela pertence a um testa-de-ferro da máfia.
- Acha que as coisas da Sarah podem estar lá?
- Provavelmente. - entregou uma embalagem que estava dentro da bolsa que trazia consigo ao caçula. - Isso é pra você.
- O que é isso? – Samuel sorriu, abrindo o pacote - Não é meu aniversário.
- E preciso de data especial pra te dar um presente? E aí, o que achou?
- É uma bela camisa, Dean. E bem cara. Não precisava gastar comigo. Nem tenho onde usar roupas assim e ...
- Pois hoje você tem. - levantou-se vitorioso - Vá tomar um banho e ponha sua roupa nova porque nós vamos jantar fora.
- Mas...
- Nem uma palavra! Estou doido de fome e o Chang disse que conhece uma cantina que serve um canelone espetacular.
- Desde quando você e o Chang começaram a combinar jantares ?
- Cara, ele só deu a dica. Eu não vou sair com um pirralho pra jantar. Essa noite, somos nós dois. Vamos aproveitar a vida só um pouquinho, ok?
- Está certo. Você manda. Mas isso está muito esquisito... - dirigiu-se ao banheiro - Muito esquisito mesmo...
***
A cantina de Giovanni Traveri ficava em Little Italy, perto da avenida principal. Havia fila na porta quando os irmãos chegaram, por volta das sete da noite. Sam vestiu a camisa nova e até um pouco do perfume, por insistência do irmão.Verificaram a reserva feita por Chang,ao telefone, no início da tarde e foram encaminhados à mesa pelo simpático e sorridente maitre.
Aquela era realmente uma casa italiana. A decoração em verde, vermelho e branco, as fotos de imigrantes, em preto e branco, espalhadas pelas paredes e as mesas redondas forradas com toalhas alvas, tendo ao centro de cada uma, um arranjo de pequenas flores coloridas e uma bela vela que foi imediatamente acesa pelo garçon que trouxe a carta de vinhos.
Para não correr o risco de o irmão pedir uma cerveja gelada e uma porção de batatas fritas, Sam pediu que o rapaz sugerisse o vinho.
- Bem, estamos aqui. – Samuel estava ainda muito desconfiado daquela animação.
- É. Mal posso esperar para atacar. – desdobrou o guardanapo e já ia prendê-lo à gola da camisa quando percebeu o olhar do irmão.Imitou o caçula, abrindo o pano sobre o colo.
Quando o pedido chegou, uma bela morena, num estonteante vestido preto atravessou a porta.Os cabelos impecavelmente arrumados emolduravam seu rosto delicado e destacavam os olhos azuis.
Os rapazes levantaram - se para recebê-la. Sam quase derrubou a cadeira. Estava perplexo. Não podia acreditar que Sarah conseguira se pôr ainda mais bonita. Dean revirou os olhos, rindo-se do mau jeito do irmão e puxou a cadeira para acomodar a jovem. Sentou-se novamente e conferiu o relógio.
- Isso é uma coincidência ou... – Sam não concluiu seu pensamento porque o celular de Dean tocou.
O mais velho atendeu a chamada,”Pontualidade britânica”,pensou. Disse duas ou três palavras e desligou.
- É uma pena, pessoal, mas terei que deixá-los. - levantou - se.
- O que foi Dean? Problemas ? – o caçula preocupou - se.
- Nah... nada sério. - afastando-se - Mas não se acanhem, crianças. - saindo de costas - Aproveitem o jantar e batam um papo, dancem um pouco, divirtam-se... por mim... e... fui.
- Acho que estou entendendo. – Sam estava constrangido.
- Ele não é muito sutil... - Sarah comentou sorridente.
- Não mesmo. - o rapaz sorriu também, acanhado. - Mas como nos encontrou aqui?
- Dean ligou à tarde para se desculpar e disse que poderíamos jantar juntos e que teriam algumas pistas sobre os itens que perdi, mas acho que o objetivo não era bem esse. - a moça sorria com os olhos.
- Definitivamente, não. - Sam tentou desculpar-se - Olha,Sarah, eu...
- Tudo bem, Sam. Adorei a surpresa.
***
Do outro lado da rua, Chang aguardava a chegada de Dean junto ao Chevy.O rapaz aproximou-se sorridente, cumprimentando o menino. Entraram no automóvel e permaneceram ali, espiando. Tinham uma perfeita visão do salão do restaurante através da grande vitrine iluminada. Estrategicamente posicionada, a mesa de Sam ficava junto ao vidro, rente à calçada.
- Garoto, dessa vez você se superou – Dean sorriu animado.
- Obrigado. Não foi nada. - o pequeno se ajeitava no banco do carona, envaidecido com o elogio. - E agora ?
- Agora damos um tempo pra ver se vai ficar tudo bem e, depois, damos o fora. - Pegou uma nota de vinte na carteira e entregou-a ao menino.
***
Dentro do restaurante, o casal conversava.
- Bem, então agora pode me explicar que tipo de serviço estão fazendo para o Sr. Tanaka? – Sarah investiu. - Ele nunca mencionou vocês antes.
- Na verdade nós o conhecemos há poucos dias. –Sam brincava com os próprios dedos, nervoso. - O sobrinho desapareceu e, como tinha o número de nosso pai, conseguiu nos achar pelo celular de Dean.
- Mas pessoas desaparecidas não são caso de polícia, tipo FBI ?
- São, mas o rapaz não desapareceu exatamente, entende?
- Oh... compreendo. Um “desaparecimento” especial, certo?
- É isso. - Samuel, sorriu exibindo suas covinhas.
- Adoro quando você faz isso.
- O que ? –repetiu o gesto fazendo brilharem os olhos da moça.
- Esse sorriso. –Sarah tocou a mão de Sam, impedindo-o de tamborilar os dedos sobre a mesa - Senti muito a sua falta, Sam. Você disse que ia ligar...
- Andamos meio ocupados...Eu até queria...verdade...mas às vezes é complicado. Esse nosso estilo de vida não facilita muito os relacionamentos.Mas você poderia ter ligado.
- Sei... e você atenderia? – Sarah encurralou-o com um olhar.
- Certamente! Eu também senti a sua falta. Pensei muitas vezes em ligar, mas sabe como é ...
- Dean me contou ao telefone que vocês tiveram alguns problemas nos últimos meses e que você falava a respeito de voltar.
- Dean tem uma boca enorme.
- Não brigue, Sam. Seu irmão tem aquela casca grossa, mas bem lá no fundo, é um cara legal. Um amor. Ele realmente se preocupa com você.
- Até demais, pro meu gosto. – o rapaz franziu o cenho, contrariado.
Neste exato momento, um dos funcionários aproximou-se de um quarteto de cordas sentado ao fundo do estabelecimento e cochichou - lhes algo. Os músicos levantaram e puseram-se a tocar uma linda canção italiana. Alguns casais tomaram o espaço livre ao centro do salão.
Sarah gostou do que ouvia e cantarolou uma frase, sorrindo. Tomou Samuel pelas mãos e arrastou-o para a pista de dança.
O rapaz segurou-a pela cintura e ela aproximou-se, recostando o rosto sobre seu peito. Pôde perceber o ritmo acelerado dos batimentos cardíacos. Sorriu e levantou os olhos, encontrando o olhar doce e amendoado do rapaz. Seguindo o balanço suave da melodia, Sarah deslizou a mão sobre o braço de Sam, acariciando sua nuca.Vez por outra, enrolava os dedos nos cabelos escuros dele, em movimentos circulares e delicados. Samuel sentia arrepios a subir-lhe pela coluna. Aquele perfume que ela exalava era inebriante.Trouxe-a ainda mais perto e declinou a cabeça, quase tocando-lhe os lábios.Continuavam a movimentar-se ao ritmo da música cantada por uma voz masculina, porém, quase sussurrada. Ambos, com os olhos semi-cerrados, respiravam aquela atmosfera sedutora e se deixaram levar.
***
Do outro lado da rua, ainda dentro do Impala...
- Finalmente! - Dean bateu as mãos como num aplauso - Esse é o meu garoto!
- Missão cumprida. - respondeu Chang.
- Que tal uma pizza?
- Estou dentro!
Dean sorria satisfeito quando arrancou com o carro.
***
Na manhã seguinte, Sam entrou em casa quando todos estavam já estavam envolvidos nos preparativos para a empreitada que enfrentariam mais tarde. Cumprimentou-os e sentou-se.
Com um sorriso no canto da boca, Dean fitou seu irmão.
- Se está esperando um relatório, desista. - afirmou o caçula.
- Eu perguntei alguma coisa, por acaso?
- E precisa? Basta essa sua cara pra saber que você está se roendo de curiosidade.
- Cara, por quem você me toma?! – o mais velho dobrou um mapa que tinha nas mãos, indignado.
- Você é um santo, Dean... - caminhou até a porta do corredor - Vou tomar um banho e dormir um pouco. Ah, a propósito - voltando-se para o irmão - Obrigado, por tudo.
- Disponha, maninho – Dean devolveu num sorriso de satisfação, talvez de malícia.
Chang assistiu a tudo calado e sorriu, ansioso pelo que aconteceria naquela noite.
***
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