Banzai! escrita por DetRood, Crica


Capítulo 6
Carga Explosiva




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CAPÍTULO 6: CARGA EXPLOSIVA

“A província de Omi estava em festa pela união de duas famílias e poderes.

Os adornos dourados e as estátuas dos quatro leões guardiões dos elementos em cada canto da construção contribuíam para que a decoração especial feita com arranjos florais trouxesse o clima ideal para o momento.

Mas havia uma pessoa que levava em seu coração sentimentos completamente opostos aos que o dia fazia sugestão.

 Aya foi preparada pelas amas e levada ao encontro de seu futuro esposo. Estava vestida tradicionalmente com um opulento Uchikake, a vestimenta tradicional das noivas orientais, em tons de vermelho bordado com fios de ouro, tornando sua beleza natural mais aparente.

Mas sua tristeza era enorme e visível a qualquer um.

A cerimônia transcorreu normal e naturalmente, como havia de ser.

Ninguém percebeu que um dos aprendizes não estava presente. Era Isao, que havia tomado uma decisão que faria com que seu destino e o de todos os seus descendentes mudasse completamente seu curso.

A delegação que retornava a Ako, já com o casal de esposos, foi interceptada por um jovem samurai munido de sua katana e sua wakisashi, a segunda espada, um pouco menor do que a primeira.

Todos morreram pelas lâminas de Isao, exceto Aya. Pois ele havia decidido declarar seu amor pela princesa.

Levou - a para um lugar seguro, onde consumaram todo o sentimento que havia entre as suas almas.

Sabiam que a atitude deles era a prova de que a honra do clã e a honra do Bushido foram manchadas, e sabiam que isso traria conseqüências nada confortáveis para ambos.

Concordaram em praticar o seppuku, um pacto de morte, na esperança de se unirem eternamente.

Mas infelizmente isso não aconteceu...”

***

Algumas horas mais tarde, os irmãos Winchester estavam escondidos atrás de um container, no porto de Nova Iorque, à espera dos contrabandistas e possivelmente de Hiroshi.

Um navio cargueiro atracou onde Chang havia indicado e, rapidamente, dezenas de orientais carregavam caixas e mais caixas que desciam pelo guindaste. Dois homens em ternos elegantes gesticulavam e davam ordens aos demais. Não havia sinal do sobrinho de Tanaka.

O som de latas rolando chamou - lhes a atenção e dos criminosos também, que correram para a escuridão, voltando em seguida trazendo uma criança pelo braço que se esperneava.

Os rapazes não entendiam o que os outros diziam mas reconheciam muito bem aquela silhueta  magricela e a voz esganiçada.

 - Mas que merda! O que esse pirralho está fazendo aqui?

 - Dean, temos que tirar o garoto de lá. Eles vão matá - lo!

 - Eu sei, Sammy, eu sei. – o mais velho sentou - se de costas para o monte de caixotes que os ocultava na noite e coçou a sobrancelha, irritado - Fique aqui, já volto. – sussurrou e saiu.

 - O que você v... - Sam nem terminou o que ia dizer porque seu irmão já ia longe.

Dean retornou com algumas granadas, as pistolas e um rifle.

 - Segura aí. – entregou o rifle ao caçula.

 - O que vai ser? –Samuel sabia que situações extremas requerem medidas extremas.

 - Está vendo aquela luz vermelha no pé da escada do navio?

 - Estou.

 - Acha que consegue acertar as granadas daqui?

 - Cara, você está maluco? Com a luz do dia já seria difícil, mas está escuro pra caramba!

 - Bem, irmãozinho, a sua inteligência não tem utilidade nenhuma agora então, só posso contar com a sua pontaria. Dá ou não dá?

 - Tá, mas como vamos tirar o garoto de lá?

 - Isso deixa comigo. Me dá  um minuto e atira, depois volta pro carro e me espera lá.

 - Ok Dean, tenha cuidado.

 - Eu sempre tenho - afastou - se agachado e parou, de repente.  – E, Sammy... Vê se não erra... – saiu.

Samuel olhava o relógio, aguardando tenso, enquanto seu irmão se posicionava para o resgate. Sabia que não poderia errar e isso o deixava ainda mais nervoso, mesmo sabendo que tinha uma excelente pontaria. Seu pai os havia treinado muito bem, mas ter a vida de Dean e Chang em suas mãos era outra coisa. A questão ali não era acertar garrafas num poste ou latas atiradas no ar. Apoiou o rifle no caixote à sua frente, apertando o cabo da arma contra o ombro. Uma gota de suor correu - lhe pela face apesar do ar gelado da madrugada.

Mais próximo do navio, Dean esgueirava - se por entre as pilhas de caixas. Avistou um homem alto e gordo, completamente careca e mal - encarado, segurando o menino pelo braço. Depositou os explosivos junto à pequena lâmpada vermelha e levou consigo uma granada. Correu em meio às sombras e posicionou - se bem próximo ao criminoso que guardava a criança. Ouviu as vozes dos homens inquirindo George num tom irritado. Um deles esbofeteou o pequeno. Dean olhou o relógio e conferiu a munição da pistola. Em alguns segundos estaria tudo acabado.

Samuel viu o ponteiro menor de seu relógio chegar ao 12, mirou e atirou, provocando uma forte explosão que trouxe todos os homens do píer para junto do incêndio que começava a se formar no local. Havia um buraco na lateral do navio e o fogo se alastrava pelas caixas.

Aquele que parecia o chefe da operação de contrabando voltou - se para os outros e gritava, dando - lhes ordens em sua língua. O grandalhão permaneceu onde estava, segurando o menino. Aproveitando - se da confusão, Dean pôs a arma na nuca do meliante e ordenou que soltasse seu amigo. Não era necessário falar inglês para que o oriental compreendesse o que o rapaz queria e largou a criança.

Uma segunda explosão ocorreu e, numa fração de segundo, as mãos potentes do japonês estavam apertando a garganta do rapaz. O menino apanhou um pesado pedaço de madeira e golpeou o criminoso, fazendo - o soltar o outro. Ambos correram em direção à escuridão. Podia - se ouvir o crepitar das chamas e sentir o calor do fogaréu enquanto o som das sirenes se aproximava. Ao tempo em que Dean e Chang corriam, o gorducho disparava contra eles.

Finalmente alcançaram a rua onde Sam os esperava com o motor ligado. Partiram em disparada, deixando para trás um rastro de destruição.

***

Era dia quando retornaram à Chinatown.

 - Cara,dessa vez a gente extrapolou! - o caçula tinha uma expressão pensativa. - Ainda bem que os caras não sabem quem provocou todo aquele estrago. Eu não gostaria de ter a Yakuza na minha cola.

Dean e Chang trocaram olhares. Ambos sabiam que poderiam ser reconhecidos e que, no bairro chinês, todo segredo tem seu preço.

Dentro da casa, Tanaka meditava diante do altar de seus ancestrais quando os rapazes chegaram. Levantou - se e foi ter com eles.

Depois de ouvir o relato dos últimos acontecimentos, Tanaka revelou aos irmãos o que descobrira, enquanto resgatavam o pequeno Chang.

 - Acredito, meus caros, que não haja nada que possamos fazer por Hiroshi agora.

 - Como assim? – GW questionou meio irritado - Nós quase morremos procurando pelo seu sobrinho, Tanaka San, e o senhor vai desistir?

 - A questão não é essa, pequeno amigo. Hoje cedo encontrei um antigo livro com orações muito poderosas que está na família há séculos. Não sei por que não percebi antes, mas ele estava aberto numa página onde há um ritual antiqüíssimo de invocação. Temo que minhas suspeitas venham a se confirmar.

 - O que seu sobrinho invocou, afinal, Sr. Tanaka? –Samuel quis saber.

 - Provavelmente, um Inu.

 - Que seria...

 - Um espírito bastante violento que precisa de um corpo físico para se manifestar no nosso plano. - explicou o Senpai.

 - Grande! – Dean deixou - se cair na poltrona - E como se mata essa coisa?

 - Este é o nosso problema. – o ancião, encarou-os.

 - Ok, Ok! – Dean levantou - se - Já sei o que vem agora: Sam, para o computador e nós vamos babar em cima de um monte de livros velhos e empoeirados. Provavelmente vou ter uma crise alérgica e muita dor de cabeça, além de perder o meu soninho embelezador, não é?

 - Dean! – o caçula repreendeu o irmão.

 - Vamos logo com isso. Quanto mais cedo começarmos, mais cedo terminamos. – Dean pôs as chaves do carro e a carteira no bolso. - E você, garoto, faça valer o seu pagamento e mostre a direção da biblioteca pública.

***

Do outro lado da cidade, uma conversa estava em andamento.

 - Como é que é? Roubada? Incêndio? A polícia checou o navio, mas não encontraram a carga? Que absurdo!

O tom de voz feminino não era nada amigável para quem o ouvia.

 - Desculpe - nos, mas uma vez no porto, isso é problema de vocês, e da polícia local – A voz masculina do outro lado do mundo respondia num inglês enrolado, justificando que não era mais da responsabilidade do Museu Nacional de Tóquio o “acidental desvio” da remessa de pequenas antiguidades consideradas sem muita importância, que foram negociadas por uma compradora dos Estados Unidos.

 - Tudo bem, verei o que posso fazer... De qualquer forma, agradeço pela atenção dada...  – A voz feminina, já mais calma, encerrava a ligação internacional.

Após alguns minutos e alguns telefonemas mais tarde, conseguiu um certo endereço no bairro de Chinatown, do único negociador de antiguidades honesto, que algumas vezes conversou pelo telefone.

Decidiu que iria até lá para tentar saber do real paradeiro de suas encomendas. Não pelo valor, mas pelo que seu trabalho significava para ela.

– Posso até me meter em confusão, mas eu preciso conferir essa história de perto!” – Pensava consigo, arrumando suas coisas para cruzar a cidade.

***


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