Banzai! escrita por DetRood, Crica


Capítulo 5
Aventuras em Chinatown




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CAPÍTULO 5: AVENTURAS EM CHINATOWN

Toda a manhã se passara sem que conseguissem uma única informação que valesse a pena. Em quanto fingiam estarem interessados nas mercadorias, sorrisos e agrados não faltavam, mesmo sem que pudessem compreender meia palavra, mas quando tocavam no assunto, no nome de Hiroshi ou Tanaka, a comunicação se tornava impraticável. Os locais passavam a falar entre si em seu dialeto e era o fim da transação.

Ambos chegaram a conclusão que precisariam de ajuda se quisessem levar a cabo aquela investigação.

Pararam diante de uma banca de jornais.

Samuel coçou a cabeça e colocou os cabelos para trás. Sua expressão preocupada mudou quando avistou, do outro lado da calçada, uma figura conhecida surrupiando uma maçã de uma barraca de frutas. Cutucou o irmão e sorriu, apontando o garoto.

- Você não está pensan... - Dean nem pôde terminar a frase.

- Tem vinte pratas aí? – o mais jovem estendeu a mão para o irmão.

- Ah, qual é, Sammy? Esse moleque é encrenca na certa. Em que ele poderia nos ajudar?

- Ele fala a língua dos caras, Dean.

- Ta, mas como vai convencê - lo a traduzir para nós? E pior, como vai saber que está traduzindo direito?

- Não vou. Me dá a grana, anda. – Olhou sério para o irmão - Da próxima vez, eu fico com o dinheiro. Você anda muito rabugento.

- Depois não vai dizer que eu não avisei... - o mais velho pegou a carteira e passou a quantia ao outro a contra gosto.

- Você fica aqui, ok? Deixa que eu resolvo. –Atravessou a rua,indo na direção do menino que se esquivava com a fruta dentro do boné.

Sam aproximou - se do garoto e segurou - o pela manga do moleton cinza. Entregou umas moedas ao comerciante em pagamento pela maçã. Arrastou consigo a criança, que até pensou em resistir, mas foi convencida do contrário pelas duas notas de dez dólares que balançavam diante de seus olhos. Ambos atravessaram em meio ao trânsito até o outro lado, onde Dean os aguardava.

- Entendeu, Chang? - Samuel vinha explicando ao menino o seu plano.

- Você manda, chefe! – o pequeno levou dois dedos à testa, numa saudação.

- E aí, garoto, está conosco nessa? – Dean tinha um tom inesperadamente amistoso.

- Sim, senhor. Vocês pagam, eu ouço e traduzo tudinho. - o menino sorria animado - Por onde começamos ?

- Podemos começar almoçando. Estou faminto! – Dean determinou. - E você está convidado.

Sam ergueu as sobrancelhas, admirado com aquela atitude calorosa de seu irmão. Não estava entendendo essa mudança de ares assim tão repentina.

Os três seguiram para um restaurante chinês que estava na lista de Tanaka, próximo a Little Italy.

Chegando lá, foram recebidos por uma senhora de cabelos grisalhos bastante enrugada, que não passava de metro e meio de altura, metida num destes tradicionais vestidos chineses e com os lábios pintados com um batom alaranjado que lhe saltava do rosto. A velhinha literalmente escaneou os rapazes com um olhar malicioso e apontou - lhes uma mesa. Disse alguma coisa em seu idioma que fez GW prender uma risada.

- O que a velhota disse? –Dean quis saber.

- Oh, nada importante. – GW desconversou.

- Ok, o que vamos pedir, então? –Sam vasculhava o cardápio que, graças a Deus, tinha a versão em inglês ao lado de cada prato.

- Posso sugerir o frango xadrez? – o menino arriscou - É a especialidade da casa.

Os irmãos trocaram olhares e aprovaram a sugestão. Dean levantou a mão e outra senhora, ainda menor do que a primeira, aproximou - se para atendê - los. O rapaz fez o pedido que foi anotado numa caderneta, em meio a um sorriso escancarado da velhinha que denunciava a falta de uns dois ou três dentes da frente de sua arcada.

O menino coçou a nuca e retirou o boné, pondo - o sobre a cadeira vazia ao seu lado, evitando encarar os outros.

Samuel sorriu constrangido e Dean fechou a cara ao perceber que, por trás do balcão, as senhoras cochichavam e os encaravam. Sabia que estavam falando a respeito deles e não saber o teor daquela conversa o incomodava.

- Garoto, o que as velhotas estavam dizendo? –Dean questionou.

- Elas só estão animadas, Dean. - Chang procurou um sorriso convincente e estampou - o no rosto - Posso chamá - lo Dean, não é? Porque o Sam aqui já disse que posso deixar as formalidades de lado, já que somos parceiros agora.

- Parceiros? - fitou o irmão - Claro...pensei que tínhamos um contrato...mas tudo bem. Tudo pelo final dessa história que parece não ter fim.

- Você ouviu algo interessante por aí a respeito de Hiroshi, Chang? - Samuel mudou o rumo da prosa.

- Só o de sempre.

- E que seria... –continuou o caçula.

- Que o sobrinho do Sr. Tanaka está encrencado com os caras da Yakuza. Pobre Tanaka... Se enrolou todo pra salvar a pele daquele sujeito, mas não sei não...

- O que você está pensando?

- Aqui é Chinatown...

- Deu pra perceber! - Dean interrompeu com sua habitual gentileza.

- Todo mundo sabe de tudo, mas ninguém sabe de nada, entenderam?

- É mais seguro não ver, certo? –Samuel completou.

- É isso aí. Se você quer trabalhar e manter a sua integridade física, o melhor é não ver nada e falar menos ainda.

Neste momento, as duas senhoras chegaram - se à mesa trazendo travessas com o pedido. Depositaram - nas sobre a toalha. Trouxeram também os pacotinhos com hashi descartáveis e uma porção de biscoitos da sorte. Ambas matraqueavam incansavelmente entre olhares e risadinhas irritantes. Uma delas pôs a mão miúda sobre o ombro de Sam e apertou - o, assustando o rapaz e fazendo - o corar ainda mais. GW não conseguiu se conter e soltou uma sonora gargalhada. Dean assistia a tudo boquiaberto. Elas disseram algo ao menino que as respondeu.Voltaram para trás do balcão saltitantes.

- Cara, essas mulheres estão me dando arrepios. – o mais velho dos Winchesters comentou observando a animação das senhoras.

- Nem me diga. – Sam estava visivelmente inquieto - Elas são muito estranhas.

George Washington abriu os pacotes dos “pauzinhos” e começou a saborear seu prato. Foi imitado por Sam. Dean olhava os utensílios e apertava os lábios fartos num bico.

O garoto percebeu a falta de jeito do mais velho com os hashi e apressou - se em ajeitar - lhes na mão. Em vão. Não havia jeito do rapaz pinçar um pedacinho sequer.

- Não acha melhor pedir um garfo, Dean? –Sam sugeriu.

Chang adiantou - se e pediu a uma das senhoras um garfo para o acompanhante, que agradeceu, sem jeito.

Terminada a refeição, uma das senhoras surgiu e Dean gesticulou pedindo a conta. Ela, inesperadamente, respondeu também com gestos que não havia necessidade de pagamento e arrastou o menino consigo para junto do balcão e da outra. Ambas conversaram animadamente com GW e, por fim, retornaram à mesa. Os rapazes já iam levantar - se quando o garoto sinalizou para que permanecessem em seus lugares.

As velhinhas sentaram - se uma de cada lado do mais moço dos Winchesters e continuavam tagarelando entre si. Uma delas, a mais alta, passou as mãos pela coxa de Samuel e a outra percorreu o rosto do rapaz com o indicador e apertou - lhe o queixo. A expressão dele era indescritível. Dean, do outro lado da mesa, perdeu a ação diante do assédio das senhoras.

- As madames fizeram uma oferta tentadora, rapazes. – GW iniciou a negociação.

- Posso imaginar... –disse mais velho - Elas não estão querendo o que eu estou pensando, ou estão?

- Bem, elas nos darão algumas informações preciosas em troca de alguma atenção – O menino sorriu apertando ainda mais os olhos miúdos.

- Eu não vou, de jeito nenhum, dar uns amassos nessas múmias! –Dean arregalou os olhos, indignado.

- Elas não querem você, meu amigo.

- Não?

- Querem ele. - Chang apontou Sam com o olhar.

- Ham??? – Sam quase enfartou - Eu? Nah... Não mesmo!

- Ou você ou não tem papo. O que vai ser? – O menino foi categórico.

- Vamos lá, Sammy. – O mais velho estava aliviado - Tudo pela equipe, mano!

- Você é muito engraçado, Dean... Há dois minutos estava esbravejando que não se sujeitaria a isso nem por um decreto e agora acha que EU tenho que fazê - lo?!

- Pois é, maninho... – Sorriu sarcástico - E um mundo cruel... - levantou - se e saiu, deixando o irmão à mercê da sorte.

Chang seguiu Dean para fora do restaurante. Pararam mais à frente, diante de um velho cinema que tinha em cartaz um filme ainda mais velho de Kung Fu. Compraram ingressos e entraram.

O rapaz comprou dois sacos de pipoca e ajeitaram - se na última fileira do cinema. A espera pelo início da projeção parecia não ter fim.

- Pobre Sammy. – Dean comentou sem tirar os olhos da embalagem - Dessa vez ele vai ficar traumatizado.

- Você está mesmo preocupado com ele ou só está se divertindo com a situação? – o menino o encarou.

- Estou falando sério, GW. Meu irmão é todo sensível e não está acostumado a ser atacado, principalmente por duas velhotas taradas.

- Ele tem sorte.

- Tem? – o mais velho parecia surpreso - Como assim?

- Não estou falando do lance com as donas. – o menino continuou, desviando o olhar para o saquinho de pipocas à sua frente.

- Está falando de que, então?

- De ter família, sabe?

- Ah...

- Você cuida do seu irmão, não é? – seus olhinhos agora tinham um ar entristecido.

- Desde que a nossa mãe morreu.

- Foi muito difícil...Quero dizer...Crescer sem a mãe de vocês?

- Não foi nenhum playground, se você quer saber. Eu era muito pequeno e Sammy, bem, Sam era só um bebê.

- Seu pai morreu também?

- Há pouco tempo.

- Então ele criou vocês dois? – sorriu.

- Pode - se dizer que nós nos criamos.

- Não entendi...

- Depois que a nossa mãe morreu, nosso pai ficou meio obcecado com o trabalho e não passava muito tempo conosco. Eu cuido do Sam desde então.

- Vocês são muito unidos? Quero dizer, se dão bem, como irmãos de verdade?

- Mas nós somos irmãos de verdade. - Dean achou graça da curiosidade do menor - Amo o meu irmão e faria qualquer coisa por ele, se é o que você quer saber, mas não somos santos e brigamos às vezes.

- Eu também tenho irmãos. Mas não os conheço. Meu pai tinha uma foto...

- Estão na Coréia?

- Provavelmente. - o menino deu de ombros - talvez eu nunca saiba. Por isso cuido de mim e não preciso de ninguém... – virou o boné para trás e enterrou - se na cadeira acolchoada.

Dean sabia exatamente o que aquele menino queria dizer com cuidar de si e não precisar de ninguém. “Se você não conta com ninguém, não se decepciona e não sofre. Será que não? Não seja idiota. Quem sofre mais do que você, cara?” Pensou.

Ao final da sessão, Dean e Chang caminhavam pela calçada de volta à porta do restaurante onde Sam já esperava por eles, sorridente e com um saquinho de papel nas mãos.

- Mas já?! - ironizou o mais velho.

- Cala a boca, Dean. - Sam espremeu a embalagem no peito do irmão - E não vou te dar os detalhes, desista. – dirigiu - se ao menino - Isso é pra você.

- O que é isso? - Dean espichou o olho, curioso.

- É o pagamento, senhores. – o garoto retirou de dentro do envelope uma folha dobrada, escrita em chinês. Leu e remexeu o envelope pardo novamente. - Velhotas mãos de vaca! Nem pra deixar uma gorjeta. Vamos!

- Hei, hei! Vamos aonde? –Samuel estava cansado.

- Vamos nos preparar para a ação!

Sam e Dean seguiram GW de volta ao beco diante da casa de Tanaka. Era quase noite e o amigo logo estaria de volta do trabalho. Aproveitaram para tomar um banho e descansar um pouco antes de esclarecerem de vez o que estava acontecendo. Nunca imaginaram que aquele molecote seria tão dado ao suspense.

Quando Tanaka chegou, os três o esperavam na sala de estar.

Chang tinha nas mãos o papel dado pelas velhinhas e, finalmente, revelou seu conteúdo.

- Bem, é isso. – dobrou a folha, o menino - Parece, Sr. Tanaka, que o seu sobrinho foi visto com esses caras que mexem com contrabando de relíquias. Gente da pesada.

- Infelizmente, meu caro amiguinho, a prudência nunca foi uma característica marcante em Hiroshi.

- Não se preocupe, Sr. Tanaka - Sam levantou - se e foi sentar - se junto ao ancião – Nós o traremos de volta.

- Se ainda estiver vivo... - Dean concluiu, recebendo um olhar reprovador do irmão.

- Eu sei que vocês estão fazendo o melhor e sou muito grato por isso, rapazes. Mas o que mais me preocupa é no que Hiroshi possa ter se envolvido além dos mafiosos.

- O senhor está falando dos ataques que vêm ocorrendo? – Sam parecia preocupado - Acredita mesmo que ele tenha algo a ver com isso?

- Do que, especificamente, está falando, senhor? – O caçula questionou - o, fitando o irmão. - O que ele poderia ter feito de tão grave?

- Ainda não tenho certeza, mas se minhas suspeitas se confirmarem... Peço a vocês que, se encontrarem Hiroshi, tenham cuidado. Não o subestimem pela sua aparência indefesa.

- Se o senhor nos der licença, gostaria de tirar um cochilo antes de verificarmos o negócio dos contrabandistas. - Dean levantou - se e caminhou em direção ao corredor – A próxima remessa só chegará pela madrugada.

- Pequeno Chang – o idoso dirigiu - se ao menino - se desejar, pode ficar também. O sofá é todo seu.

O menino sorriu agradecido e ajeitou - se em meio às almofadas estampadas. Tanaka aproximou - se dele e fez - lhe um carinho na cabeça, agradecendo pela ajuda.

Os rapazes seguiram para o quarto.

- Sam, você não fez... errr... sabe...

- Eu não quero falar sobre isso, Dean. – Samuel desabotoava a camisa.

- Cara, sinceramente, você ganhou o meu respeito.

- Ah! Quer dizer que antes eu não tinha o seu respeito?

- Não foi isso que eu quis dizer - Dean sentou - se na beira da cama, desamarrando os cadarços - Tem que ter peito pra encarar aquelas donas.

- Não aconteceu nada, seu tarado. - Sam sorriu e deitou - se - Nós apenas conversamos.

- Conversaram? Como??? Você agora fala chinês?

- Não foi bem uma conversa... Elas falavam o tempo todo e ficavam me secando...Confesso que, a princípio, fiquei passado, mas as velhotas foram muito simpáticas. Me fizeram comer um monte de bolinhos e mostraram centenas de fotos de quando eram jovens...E até que foi bem interessante.

- Sei. Conta outra, vai... - o mais velho declarou - se incrédulo.

- Se não quer acreditar, problema seu. Agora, deixe - me dormir um pouco. Temos muito trabalho a fazer e quero estar bem acordado.

- As tais velhotas devem ser meio doidas mesmo. Primeiro escolhem você e depois resolvem ficar batendo papo...

- Dean...

- Está certo, já calei a boca, vá dormir, Sammy...

***


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