Estações escrita por HinataSol


Capítulo 2
O dia para alistamento


Notas iniciais do capítulo

Oi!
:)



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Parecia haver alguma árvore plantada acima do teto daquele lugar, pois, sobre a cabeça dos homens ali presentes, existia um tipo de raiz de tamanho consideravelmente grande e extremamente seca – quase esfarelando. 

Possuía ainda, naquele cômodo de cor escura, um par de lamparinas nas paredes dispostas paralelas umas às outras. Apenas uma se encontrava acesa e na parte onde sua luz não conseguia incidir, na sombra, as duas figuras sussurravam. 

— Você está prestes a fracassar. Sempre soube que seu anseio por poder acabaria destruindo tudo a nossa volta, mas confesso que se superou dessa vez. Quando for descoberto, Hiruzen lhe abaterá. 

O velho homem, sentado sobre as próprias pernas naquele chão de madeira, levou o braço útil até a altura do rosto e virou a copo de chá que estava em sua mão após inspirar o vapor do líquido quente. 

— Ele é um covarde. Diferente de mim. – Então o velho estreitou os olhos, vendo o outro tossir e cair sem vida sobre o chão. Logo ingeriu o resto do líquido, tranquilo. 

Aquele era apenas um peão. 

 

 

 

 

 

Seis anos depois 

 

— Hoje é o dia! — Exclamou o jovem rapaz, dando golpes no ar, empolgado. 

A moça atrás dele pôs a mão sobre a face, tapando a boca, e sorriu. 

— Não seja tão afobado, Naruto-kun. Primeiro precisamos conseguir entrar para a força. 

— Não há dúvidas de que conseguiremos. — Ele garantiu e continuou andando. 

A jovem menina que o acompanhava parou e o olhou. 

As duas coisas que ela sempre mais admirou em Naruto eram sua determinação e confiança sem limites. 

— Huh!? — Naruto a olhou por cima dos ombros e arqueou uma das sobrancelhas. — O que foi, Hinata? 

Ela então despertou e deu uma pequena corrida para chegar até ele. 

— Você estava longe, hein? No que estava pensando? — Ele perguntou novamente, sorrindo. 

Hinata enrubesceu. 

— N-Não é nada. — Ela titubeou e logo emendou: Veja! Já consigo avistar a cidade daqui. Vamos logo, senão vamos nos atrasar. 

Ela passou a sua frente com passos apressados e um pouco desajeitada. 

Naruto pôs as mãos sobre os cabelos loiros — de cor intensa —, coçou a cabeça desajeitadamente e depois deu de ombros. 

O dia estava como sempre esteve nos últimos seis anos; apático. 

Enquanto caminhavam até o posto de alistamento, Hinata observava Naruto pelo canto dos olhos. Era um hábito já um tanto antigo dela reparar nos fios rebeldes que nunca ficavam alinhados sobre a cabeça dele; via os risquinhos na bochecha dele, a expressão descontraída e alegre, as roupas de cores quentes e vivas, apesar de tudo. 

Ela abaixou levemente os olhos. Naruto e ela eram opostos. 

Ele é forte. Ela pensou. 

Naruto reparou na forma como ela andava. Os ombros pareciam mais encolhidos, como se estivesse na defensiva. Não gostava de vê-la assim. 

Diante disso, pôs as mãos sobre um dos ombros dela e disse: 

— Não se preocupe. Você é forte, Hinata. Nós treinamos bastante. Você vai conseguir, com certeza! 

— Eu não estava pensando nada disso — Ela tentou despistar. 

— Está tudo em seus olhos. — Ele sorriu. 

— É engraçado como sempre sabe o que as pessoas estão pensando, como estão se sentindo. — Ela resmungou e suspirou um sorriso. 

— Hun! Você diz isso, mas é sempre você que sabe o que eu estou pensando. — Ele acusou-a, cruzando as mãos atrás da cabeça e fazendo um biquinho. 

Eles riram. 

Eram sempre assim. Conheciam muito bem um ao outro. Afinal, eram melhores amigos há tempos. 

Hinata era de uma família nobre em Konoha, os Hyuuga; já Naruto era órfão. 

Naruto Uzumaki cresceu em um abrigo para crianças, um tipo de orfanato em Konoha no qual as crianças não eram obrigadas a passar o dia todo. Era mais como um lugar onde as crianças e jovens podiam ir para dormir e se alimentar, apenas para não viverem como moradores de ruas. 

Graças a isso, ele vivia andando pelas ruas e vias de Konoha em busca de algo para fazer, afinal ficar em casa o dia todo era chato e parado demais para ele. 

Foi em uma de suas andanças, há seis anos, num fim de inverno — alguns meses antes de ser publicado o decreto do embaixador Hiruzen — que Naruto conheceu Hinata, a irmã mais nova dela e o seu irmão mais velho — Hanabi e Neji. 

Embora possuíssem muitas posses, riquezas e servos, o senhor Hiashi Hyuuga, pai dos três irmãos, era rígido e dizia não querer ter filhos molengas ou que não soubessem se virar sozinhos, por isso os mandou à cidade para fazer compras. 

Na verdade, mandou Hinata para fazer compras e Neji para vigiá-la e a fazer companhia, Hanabi foi de intrometida. 

Segundo ele, as compras seriam capazes de medir a responsabilidade de ambos. 

Mas hilário mesmo era ver os irmãos discutindo sobre besteiras. 

Hanabi queria comprar doces e Hinata relutava não querendo ceder (pois amava doces, todavia deveria ser responsável), enquanto Neji se mantinha neutro como se nada visse. 

Naruto estava ali perto e, vendo a situação, se intrometeu e então deu alguns doces para Hanabi. 

Ele havia ajudado um vendedor de ramén (um tipo de macarrão com carne e legumes num caldo, comum em Konoha) a servir os clientes dele mais cedo e, com o dinheiro o qual recebera, resolveu comprar algumas besteiras para comer e, quando viu a menina fazendo certa pirraça para convencer a irmã, ele a comprou o doce. 

Ele também ofereceu aos outros dois em um gesto de simpatia, mas Neji foi sisudo e ainda falou que a mãe sempre os advertia para não aceitar doces – nem nada – de estranhos e mandou Hanabi jogá-lo fora. 

Naruto então fez uma careta e começou a discutir com Neji o qual parecia nem ouvir o que ele dizia, deixando-o ainda mais irritado. 

Hinata então pediu que eles não brigassem e para amenizar a situação fez a apresentação entre eles. 

Naruto surpreendeu-se ao saber que eles eram do famoso clã Hyuuga e, da mesma forma, eles ao saberem que Naruto não tinha família. 

Eles eram novos na época, Hinata tinha completado dez anos de idade recentemente, Neji em breve faria doze e Hanabi ainda não completava sete. 

Era engraçado como três pessoas criadas juntas e com os mesmos costumes eram diferentes como os três irmãos. 

Neji era um cara rígido, de poucos sorrisos — ou quase nenhum — Não era chato, todavia. Só sério e protetor. Uma pessoa legal, diga-se assim. 

Hanabi era a mais agitada. Não tinha vergonha de dizer o que pensava e, algumas vezes, constrangia quem estava ao redor – e, na maioria das vezes, Hinata era quem estava ao redor. 

E Hinata era comedida. Ela era a mais equilibrada dentre os três (não que os irmãos fossem desequilibrados, nada disso). Ela era, em alguns momentos, muito concentrada e noutros distraída; vezes muito inteligente, em outras, hum... boba?! 

Naruto definiria ela como seu oposto. Já que ele era agitado — até mesmo hiperativo —, e ela muito calma e paciente. 

Mas a questão é que a partir daquele momento eles acabaram se tornando amigos. 

 

 

Foi poucos meses depois, que um fenômeno estranho aconteceu. 

Na passagem da primavera para o verão, ao invés de a temperatura morna subir e esquentar ainda mais, o contrário aconteceu. Começou a esfriar. 

A princípio, ninguém se preocupou muito; às vezes, isso acontecia mesmo. 

Mas logo todos ficaram preocupados, pois o frio estava avançando. Alguns dias depois, algo inusitado aconteceu. Nevou. 

E, dali para frente, o que deveria ser um verão quente e vívido, se tornou um inverno frio e rigoroso. 

O povo estava assustado, passando frio e na escassez, pois as plantações e o que poderia estar sendo colhido morriam. 

O rei, que havia viajado, não retornou. 

O povo estranhava, pois até pouco tempo atrás, o rei, como bom rei que era, não costumava deixar Konoha por muito mais que alguns dias ou semanas, somente quando necessário. Mas, estranhamente, nos últimos quase dois anos, ele viajava constantemente e da última vez que viajou não voltou. E foi quase ao mesmo tempo que o rei desapareceu e a temperatura abaixou. 

Nas suas ausências, o rei deixava Hiruzen Sarutobi em seu lugar à frente do reino e, assim sucedeu-se. Hiruzen era embaixador e, desde aquele dia — que o rei sumiu — estava no comando do povo de konoha. 

Hiruzen, então, expediu um decreto criando um grupo de expedicionários que iriam percorrer o mundo, se necessário, para encontrar uma solução para aquele problema. Ele também colocou a inteligência do reino para tentar entender o que estava acontecendo com o clima. 

O velho Sarutobi desconfiava que algo havia entre o sumiço do rei e o frio que assolava o reino, e tinha viva a esperança de encontrarem o seu líder e entender o que estava acontecendo. 

Mesmo agora, seis anos depois, ele acreditava nisso e, por isso, mantinha o recrutamento para a força, no intento de manter o povo esperançoso, principalmente os jovens e as crianças — algumas destas que nunca vivenciaram o calor do verão ou até mesmo o frio do inverno. 

Naruto e Hinata eram alguns dos que tinham esperança de poderem vivenciar o verão de novo, e de verem a neve caindo ao seu tempo. 

Poderia parecer besteira, mas o que realmente aconteceu foi que as estações do ano não mais existiam, não foi só o verão que deixou de existir, a primavera não existia, o outono também não e até mesmo o inverno parecia não ser tão real. Era algo inexplicável, um clima mórbido, não havia vida, nem mesmo o frio parecia ser frio. 

Vez ou outra, alguém afirmava sentir uma variação na sensação térmica, mas ninguém acreditava e logo isso também cessou. 

 

 

 

O posto de alistamento era uma sala mediana com portais largos os quais ficavam abertos. E, quando eles adentram o local, viram uns olhares meio tortuosos. 

Poucos eram os que ainda se sentiam motivados a sair pelo mundo, sem um rumo, em busca de algo que não sabiam e de alguém que a maioria acreditava não mais viver. 

Hinata olhou para alguns soldados e mexeu no braço, incomodada. 

Naruto assinou o nome na ficha e entregou-a ao soldado ali. 

Logo após ele, Hinata pegou a caneta e assinou seu nome também. 

Quando o soldado viu seu nome, ele sorriu e assobiou surpreso, antes de carimbar o papel e devolve-lo à Hinata. 

— Uma Hyuuga! — Exclamou. 

— É! É! É! — Naruto disse apressado, enquanto empurrava Hinata pelos ombros em direção à sala de espera dos recrutas. 

— Obrigada — Ela disse. 

Ele apenas sorriu. 

Às vezes, aquilo acontecia. Quando viam algum Hyuuga, o povo sempre ficava em cima. Era como se eles fossem de outro mundo. 

A sala de espera era ampla e possuía piso de madeira, era bem arejada e havia muitas cadeiras e bancos ali enfileirados rigorosamente. Havia várias janelas dispostas uma ao lado da outra e duas portas; a pela qual eles entram e outra à frente. 

Hinata olhou ao redor, estranhando algo. 

— Onde estão os outros? 

Naruto ergueu uma das sobrancelhas. 

Será que chegaram atrasados? 

Não. Hinata e ele saíram cedo justamente por ela morar longe e não quererem chegar tarde. 

Então será que... Não, não podia ser... 

Ou podia? 

— Acho que somos só nós dois. 

Após ele dizer isso, apareceu um homem ali.  

Não era baixo, mas também não era tão alto assim. Tinha o cabelo e olhos castanhos, pouco moreno e uma marca parecida com uma cicatriz leve no meio do rosto passando pelo nariz horizontalmente. 

— Olá, jovens, sou Iruka Umino! Vou leva-los até Kakashi-san! — O homem era simpático, Hinata notou. — Hum!? Naruto? 

— Ah, Iruka-sensei! Não acredito que você é quem irá nos liderar. — Naruto disse e riu, sentindo-se contente. 

— Ah! Não serei eu quem irá lidera-los. A propósito onde estão os outros? 

Hinata e Naruto se entreolharam. 

— São só vocês, não é mesmo? — Ele suspirou — Não pensei que viriam muitos, mas só vocês dois... — Ele resmungou. 

— Iruka-sensei! Não fique nos desmerecendo! — Naruto o apontou o dedo de modo acusador. 

O tal Iruka bateu as mãos sobre o colete esverdeado, que usava sobre a camisa de manga comprida, como se o limpasse. 

— Ah, é Iruka-sensei, certo? — Hinata perguntou — Porque achou que viriam poucas pessoas? Só há recrutamento uma vez ao ano, achei que mais gente participava. 

— Bom, não há muitos se mostrando esperançosos ou motivados, realmente. Hiruzen-sama tenta manter os jovens animados, mas os pais acham que é muito perigoso e acabam incentivando os filhos a não participarem. Aliás, você não é da família Hyuuga? — Ele finalmente notou, reparando seus olhos. 

Os membros da família Hyuuga curiosamente possuíam olhos singulares, não vistos em qualquer outro lugar, eram esbranquiçados então eram facilmente reconhecidos. 

— Acho que você é a famosa Hinata. O Naruto fala bastante de você, mas não disse que você tentaria entrar para o grupo de expedicionários. Nem acredito que deixaram você participar! — Ele completou, verdadeiramente pasmado. Seria a segunda pessoa da família mais importante de Konoha a integrar a força, ou ao menos tentar. E era uma garota, pequena e magra. 

— É... eu também ainda não entendo como o Hiashi deixou ela vir... — Naruto comentou. 

— Hiashi? Ah, é mesmo! Naruto comentou que você é filha do líder da família. — Iruka lembrou — É irmã mais nova do Neji-kun, certo? — Ele concluiu e perguntou, porém logo se repreendeu, balançou a cabeça e disse: Ah, isso não é importante... venham! 

Ao atravessarem a outra porta que havia na sala, Iruka os conduziu por um corredor, não muito extenso até chegarem à porta de uma outra sala. 

O Umino deu batidas leves na porta e a abriu. 

— Kakashi-san, estes são os recrutas desse ano. — Ele disse e deu passagem para que Naruto e Hinata pudessem entrar. 

Kakashi os fitou, suspirou e com as mãos cruzadas abaixo do queixo resmungou: entendo. 

Ele que estava sentado em sua cadeira, atrás de uma mesa de madeira, levantou e foi em direção a uma janela pequena que ficava atrás da cadeira. 

— Acho que me conhecem ou pelo menos ouviram falar de mim. Sou o capitão Kakashi Hatake e, como podem ver, mesmo com os esforços do embaixador Hiruzen não há muitos candidatos ao grupo de expedição.  

— Ah! Você é aquele soldado que leu o pergaminho do decreto! — Naruto apontou, lembrando do nome e da aparência do soldado; cabelos cinza espetados e uma cara de preguiça — Você parecia ser mais alto... ou eu é quem era pequeno... — o jovem ponderou, coçando o canto da bochecha, distraído por um momento. 

— Vou ser sincero com vocês, crianças. 

Ele suspirou e se virou para os dois jovens e o Umino. 

Naruto e Hinata olharam para Iruka. 

— Não posso simplesmente integrá-los a um grupo assim, de qualquer forma, entretanto não tenho como escolher quem irá integrar ou não esse mesmo grupo, pois é notório que não tenho uma variedade de opções. Não quero desmerecê-los, mas não posso exigir ou esperar muita coisa de vocês. Então, se passarem no meu simples teste de aptidão física, eu os integrarei ao grupo de expedicionários.


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Notas finais do capítulo

Tudo bom?!
:)



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