Sem Truques no Amor escrita por Hunter Pri Rosen


Capítulo 7
Referências por toda a parte


Notas iniciais do capítulo

Olás!

Demorei, mas cheguei :-)

Avisinho: A fic terá 9 capítulos no total e pretendo terminá-la nos próximos dias porque estou tentando colocar ordem nas minhas fics em andamento e respirar um pouco kkkkkk



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Uma coisa eu não posso negar. Com Sam longe do bunker e eu precisando me distrair com qualquer coisa para não pensar tanto naquela linda cabeleira digna dos comerciais da L’Oréal, pude me focar bastante na recuperação da minha graça e fiz alguns progressos.

Cada vez que eu sentia falta do meu Winchester preferido, tentava me transportar para algum cômodo da fortaleza. Cada vez que eu ia parar no quarto dele por engano, estalava os dedos e fazia o seu precioso travesseiro explodir numa nuvem de plumas — só para reverter a destruição depois. Cada vez que me lembrava do flagrante envolvendo Sam no banho, tentava criar coisas aleatórias no meio da sala para me distrair. Posso dizer que me diverti bastante com o Xbox de última geração e fiquei muito bom nos passos de dança, especialmente em Moon Walker.

Também fiz pequenas manipulações em objetos já existentes, pois sempre amei um bom truque desse tipo. Na garagem do bunker, há uma série de carros clássicos que pertenceram aos Homens da Letras e um deles virou a imagem e semelhança da Máquina do Mal. Não resisti ao ímpeto de me transformar no Dick Vigarista por um momento.

Dia a dia, fui evoluindo mais um pouco. E quando senti meus poderes mais estabilizados e a graça mais forte, decidi arriscar algo ousado e me materializei dentro do sonho no qual Sam estava mergulhado naquele momento da noite. Confesso que a falta que vinha sentindo dele foi um fator que me influenciou bastante a ir até lá. E também a necessidade de confrontar Sam, porque o fato dele de ter fugido do que claramente está rolando entre nós vinha me incomodando muito mais do que eu consegui suportar.

No fim, o teste saiu melhor do que a encomenda. Eu disse ao caçador coisas que estavam entaladas na minha garganta, tirei ele do sério com provocações nos momentos oportunos e ainda de quebra... teve aquele beijo. Sou tão velho quanto esse problemático planeta azul e já provei mais bocas do que consigo lembrar, mas nunca senti algo tão eletrizante quanto a onda de euforia que os lábios de mel de Sam Winchester foram capazes de despertar em mim. Nunca foi tão... bom.

Bom.

Como pode uma palavra tão simples ser tão perfeita em sua definição?

Foi uma pena apagar a lembrança do beijo da mente de Sam, mas era o combinado e fiquei feliz demais quando ele me beijou de volta para trapacear no acordo. Torço para que ele se renda ao que sente por mim um dia — sim, porque ficou claro feito água que ele sente alguma coisa bastante forte também —, pois dessa forma a lembrança irá voltar como se sempre tivesse estado lá.

— Ah, Sam...

Largado na poltrona reclinável que criei no centro da sala principal do bunker, bebericando um martini que nunca acaba, assisto Cidade dos Anjos numa tela de cinema também fruto do meu poder celestial.

Ando tão carente desde que Sam caiu na estrada, que a cena na qual o anjo Seth descobre o prazer carnal nos braços da amada Maggie me faz suspirar e confabular baixinho:

— Podia ser a gente, mas você não colabora.

De repente, uma pessoa pigarreia em algum lugar atrás de mim, levando-me a ficar de pé imediatamente e olhar na direção da entrada do bunker. Surpreso ao ver Sam de volta e parado na metade da escada com uma mochila pendurada no ombro, revezando um olhar intrigado entre mim e o filme água com açúcar, estalo os dedos e faço a mágica se dissipar.

— Há quanto tempo você está aí?

Simplesmente tenho que perguntar isso, é muito importante para a minha dignidade no momento. Não é novidade que gosto dele, mas Sam não precisa saber que andei sentindo sua falta ao ponto de suspirar confissões assim.

Ele estreita o olhar e, quando responde, é de um jeito enigmático:

— Tempo suficiente.

Não sei se fico aliviado por ele não entrar em detalhes ou mais constrangido. Aliás, ainda não acredito que eu, justo eu, fico sem jeito diante do caçador. O que a carência e a saudade não fazem...

Sam termina de descer os degraus e para na minha frente a uma distância segura. Percebo que, apesar de não estar radiante por me reencontrar, também não parece furioso e perturbado como estava quando partiu. Decido entender isso como um pequeno e importante progresso, e me sinto um pouco melhor e mais seguro ao ver as coisas por esse lado.

Com exceção do nosso beijo, Sam lembra de tudo que eu lhe disse àquela noite no sonho. E se ele chegou aqui tão rápido, é porque resolveu voltar para o Kansas pouco tempo depois da minha aparição. Parece que minha estratégia surtiu efeito, afinal. Aposto que o caçador não gostou nenhum pouco de ser chamado de covarde e está de volta para me provar o contrário.

Bom. Muito bom.

— Não se preocupe, Gabriel. O seu segredo está a salvo comigo.

Franzo o cenho, sem entender ao que exatamente Sam está se referindo. Acho que me distraí com seus lindos olhinhos verdes e perdi o fio da meada. Maldição...

Ele aponta para o lugar onde a tela de cinema ficava e esclarece com um mínimo sorriso:

— Não sabia que você gostava de filmes românticos.

Um mínimo sorriso bem do cretino, diga-se de passagem!

Senti um calor especial na minha graça ao vê-lo de volta, mas agora começo a ficar com raiva de Sam. Ele está se divertindo às minhas custas!

Fecho a cara e cruzo os braços antes de alfinetar:

— Eu não gosto, só ando com muito tempo livre nas últimas semanas.

No semblante que surge na sequência, é nítido que ele entendeu a crítica velada. Arqueio as sobrancelhas para reforçar, esperando que o caçador fujão diga alguma coisa a respeito.

E ele diz. Muito sem jeito, meio a contragosto, mas enfim abre a boca:

— Você estava certo.

Sorrio com insolência e cutuco a onça mais uma vez:

— Ótima maneira de começar uma DR, reconhecendo que eu estava certo e você, errado. Prossiga, sou todo ouvidos.

Ele ri de leve e, com um dedo em riste, me contraria:

— Primeiro, isso não é uma DR. E eu não estava totalmente errado, tive meus motivos para agir como agi e não vou pedir desculpas por isso.

— Certo — limito-me a aquiescer, com azedume.

Mantenho o olhar fixo em Sam, esperando que ele se explique melhor pelo menos. Captando o que quero, sua postura muda. Ele fica mais sério e, ao mesmo tempo, um tanto inquieto. Por fim, encolhe os ombros e articula de maneira franca com a bendita cara de cachorrinho abandonado:

— Gabriel, eu... Eu tive que ir embora. Você estava certo numa coisa, eu estava mesmo fugindo, mas fiz isso porque precisava de um tempo para... pensar. Achei que caçar me ajudaria a colocar a cabeça em ordem.

— E colocou?

Ele meneia a cabeça de leve.

— Algumas peças? Sim. Outras? Nem tanto.

Um sorrisinho irresistível e torto estica meus lábios.

— Quer ajuda para encaixar o que falta? Eu posso ser ótimo em quebra-cabeças. E em tantas outras coisas...

E assim, um homem feito, com dois metros de altura, enrubesce de um jeito inesperado e encantador. Touché.

— No momento, eu só quero um banho.

Sam anuncia isso de uma maneira tão espontânea, sem segundas intenções, tentando encerrar a conversa, porém eu não consigo evitar minha reação. Arqueio as sobrancelhas sugestivamente, recordando o último banho que ele tomou por essas dependências, e imagino como seria bom se isso fosse a insinuação de um convite.

Um segundo depois, o espanto com ar de revolta toma conta do rosto dele.

— Um banho sozinho! Pelo amor de Deus, Gabriel... Você não vai esquecer aquilo nunca?

— Você vai?

Sam não responde. E nós dois sabemos que não é preciso. A resposta está bem ali, nos seus olhos e num novo rubor que surge nas bochechas.

Tentando conter a tensão que deve revirá-lo por dentro agora, Sam ajeita a mochila no ombro algumas vezes e se mexe sem sair exatamente do lugar. Respira exasperado e, antes de enfim passar por mim e se retirar feito um foguete, retruca num tom meio seco:

— Eu vou tomar um banho sozinho e depois nós conversamos.

A parte final me enche de uma esperança genuína. Se ele quer continuar a conversa, então talvez o progresso tenha sido ainda mais significativo. Ponto para mim!

Ainda estou comemorando por dentro, quando escuto um guincho animalesco — e, infelizmente, familiar — vindo do corredor para onde Sam seguiu, além de um arquejo de surpresa do próprio caçador e depois o som de poderosos disparos.

— Ai, não... — resmungo, revirando os olhos.

[...]

Um bater preciso de asas e chego voando lá antes que se dê a tragédia. Posiciono-me entre Sam e o monstro humanoide, dono de uma cabeça bizarra e imune às balas, que está prestes a atacá-lo.

— Tchanram!

Com um estalar de dedos, a coisa se dissipa no ar feito fumaça e o perigo tem fim.

Atordoado, Sam abaixa a arma e grita:

— O que diabos era aquilo?!

Dou um tapinha no ar, entendendo o assombro como um elogio ao realismo do Demogorgon que criei.

— Ficou igualzinho, né? Foi mal, esqueci de desfazer o truque.

— Você fez aquilo?!

Ok... Acho que Sam não está admirado com o meu talento, ele está P da vida comigo. O que é um exagero, não há necessidade de fazer uma tempestade em copo d’água por tão pouco.

— Digamos que Cidade dos Anjos não foi a única coisa que andei assistindo enquanto você estava fora, Sam. Era muito tempo livre para matar. Então, eu achei essa série...

Stranger Things, eu conheço — ele me interrompe entredentes, o olhar faiscando.

Sorrio levemente para ele e murmuro um gracejo:

— Nerd.

O olhar endurece e me fulmina, enquanto Sam questiona com uma boa dose de advertência:

— Então você achou que seria divertido recriar monstros enquanto eu estava fora?

Abro um pouco os braços num tipo de floreio.

— Uma vez Trickster, sempre Trickster.

Sam respira fundo, estreita o olhar e, quando volta a se pronunciar, o tom é cortante feito uma navalha:

— Não acha que você deveria ter gastado o seu vasto tempo livre com algo mais útil? Pensando numa forma de rastrear Miguel, por exemplo? Você disse que me ajudaria a trazer o meu irmão de volta. Era o combinado.

E com isso, ele consegue acabar com o meu bom humor e abalar a minha paciência em tal nível, que passo a gesticular no mesmo tom:

— O combinado era trabalharmos juntos, Sammy Boy. Em troca da minha consultoria angelical, você me ajudaria a entrar nos eixos de novo. Acontece que você jogou o acordo para o alto quando foi embora, e eu tive que improvisar para me recuperar sozinho. Se te interessa saber, esses truques valeram a pena. Foram divertidos sim, podem parecer fúteis, mas serviram a um propósito maior. Minha graça vai muito bem, obrigado, e eu sou o velho Gabriel de novo.

Seu olhar oscila, a máscara de repreensão perdendo força. Sam pode não admitir, mas sabe que tenho razão e parece mexido com a revelação final. Ele desvia o olhar para um ponto qualquer do corredor, depois volta a me encarar e enfim rompe o silêncio:

— Fico feliz por você. De verdade. E... — Ele trinca os dentes por um instante, parecendo com raiva, só que não de mim. — E foi injusto jogar a minha responsabilidade em cima de você desse jeito. Dean é meu irmão e, ao invés de procurar por ele, eu estava por aí sem rumo, sem foco...

Ele para de falar, e eu capto a tristeza que perpassa seus olhos enquanto ele luta para disfarçar. E isso é suficiente para que eu saia da defensiva e diga:

— Correção, você estava por aí salvando vidas, caçando coisas... — Faço uma pausa, e um meio sorriso surge em seu rosto. — Bitch, please... Não me faça completar essa frase, ela é o cúmulo do brega.

O meio sorriso se alarga com a provocação. Entretanto, depois se torna triste e o olhar de Sam, introspectivo.

— Eu usei o negócio da família como uma desculpa, Gabriel. — Ele ergue os olhos na minha direção, engole em seco e acrescenta num tom sincero de confissão: — Para me afastar de você. Quando fui embora, eu escolhi esquecer que você era a minha melhor chance de encontrar o Dean. Na hora, eu não dei a mínima para isso ou qualquer outra coisa. Para variar, fui um tremendo egoísta.

Um riso ácido e sem o menor humor escapa dos seus lábios. Diante disso, uma necessidade irresistível de fazê-lo se sentir melhor acende dentro de mim. E, sem que eu me dê conta, já estou falando a primeira coisa que me vem à cabeça:

— Você voltou, é o que importa, não é tão egoísta quanto pensa. E eu ainda sou a sua melhor chance.

Sam me encara com uma surpresa tangível. A esperança reluzindo em cada traço do rosto depois.

— Ainda é?

Nunca foi minha intenção deixá-lo na mão, afinal. Eu fiquei com raiva quando ele foi embora e foquei apenas na minha recuperação, mas nada me deixaria mais feliz e bem comigo mesmo do que ajudar Sam Winchester em qualquer coisa.

É pensando assim que tomo uma importante decisão.

— Quer saber de uma coisa? Enquanto você não recuperar o Deanno e eu não chutar o traseiro emplumado do Miguel para Far Far Away, acho melhor não tocarmos no outro assunto. Vamos resolver o problema primeiro, Sam. Depois, se você ainda quiser, como eu com certeza ainda vou querer, então... Então nós encaixamos aquelas peças que faltam. Sem pressa, sem pressão, sem truques.

Sorrio, embora por dentro eu me questione como vou conseguir resistir a ele, ao ímpeto de flertar, à vontade dolorosa de beijá-lo de novo.

— Você faria isso? Você... esperaria? — Sam pergunta, e aqui está a carinha de cachorro abandonado e na chuva.

A expectativa genuína por uma confirmação me leva a sufocar meu desejo por ele. Penso em quantas vezes Sam preteriu o irmão por causa de relacionamentos amorosos que surgiram no seu caminho e em como deve ser importante para ele agora quebrar esse círculo vicioso.

Decidido a manter meus sentimentos por Sam em suspenso custe o que custar e ajudá-lo a ficar bem com ele mesmo até encontrar o irmão, tudo o que digo é:

— Por você? Absolutamente.

Ele me encara em silêncio, visivelmente agradecido e com a esperança renovada. Sinto-me bem por ele estar bem, e essa sensação me aquece por dentro. Estendo a mão e arremato:

— O que me diz? Temos um novo acordo?

Sam Winchester sorri. E não há nada mais lindo no mundo do que esse sorriso. Palavra de honra de um arcanjo que já viu de tudo.

— Obrigado, Gabe. De verdade.

O caçador segura a minha mão de volta. Um aperto firme e caloroso. E não há nada mais perturbador no mundo do que a corrente elétrica que seu toque causa em mim, viajando para o centro do meu peito e aquecendo a minha graça como se ela estivesse mais... viva do que nunca.

Podem me chamar de convencido, mas pela respiração entrecortada e o olhar mais luminoso que dominam Sam, tenho certeza que ele sentiu algo muito parecido. Algo igualmente forte.

Antes que me afastar dele se torne uma tarefa impossível, solto sua mão e me despeço arqueando as sobrancelhas algumas vezes com ar divertido. Então, estalo os dedos e minhas asas me levam para outra parte do bunker, deixando um farfalhar para trás.


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Notas finais do capítulo

Eu escrevi com bloqueio criativo, então desculpem se não ficou uma Brastemp kkkkkk

Beijos e inté o próximo!



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