O Recomeço escrita por Katherine


Capítulo 5
V




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Bree.

A resposta não foi imediata. E também nem poderia ser. Riley abriu a boca na tentativa frustrada de que algo saísse dali por algumas e torturantes vezes, mas eu não precisava mais ouvir, já tinha uma resposta. Até o momento eu ainda não havia parado para pensar em como me sentiria quando soubesse da verdade, os sentimentos me inundaram em uma fração de segundos, imaginei que aquilo também tivesse algo relacionado com o mundo sobrenatural, não faria o mesmo tão rapidamente se ainda fosse humana. Meus olhos estavam semicerrados e os dentes trincados, como um bicho prestes a atacar. Não estava magoada, aquele sentimento passava longe. Cada pequena célula do meu ser gritava por raiva. Mas assim como ele, nada saia da minha boca.

— Bree – ele disse, finalmente – Podemos sair daqui?

Neguei com um aceno, passando por ele rapidamente. Mas ouvia passos me seguindo e sabia muito bem do que se tratava. Ouvi meu nome saindo de sua boca mais algumas vezes, mas fingi não escutar. No final das contas, quando já estava próxima ao meu quarto ele usou sua habilidade – mais aprimorada que a minha – e prendeu-me na parede, para que pudesse lhe dar atenção.

— Me escute! – gritou, segurando meus braços com força – Por favor, me escute.

Fechei os olhos, controlando a respiração. O aperto envolto dos meus punhos se afrouxou e eu sabia que conseguia sair dali, mas não queria. Precisava de uma explicação.

— Estou ouvindo – dei a deixa para que ele começasse a se explicar.

— Me desculpe, Bree. Não queria ter feito isso com você!

Ele se afastou um passo quando eu abri os olhos.

— Não posso acreditar – escondi o rosto entre as mãos – Você mentiu!

Ele me olhou de forma torturada, mas não deixei me abalar.

— Não, eu não menti. Não disse que Victoria tinha te transformado!

— Não? – ele negou – Mas, fez com que todos acreditassem nisso.

— Você não entendeu – disse.

Cruzei os braços na altura do peito. Aquela raiva não era comum em mim.

— Me explique, Riley!

Houve um suspiro vindo de sua parte, e em seguida ele adentrou pela porta do quarto que agora pertencia a mim. Encarei o corredor, certificando-me de que não havia ninguém nele, antes de o seguir para o quarto. Riley estava encostado em uma das paredes próximas a estante. O maxilar estava trincado, quase como se sentisse raiva, mas esse sentimento não podia pertence-lo naquele momento. Seus olhos presos em mim, enquanto o trajeto até a cama parecia durar uma eternidade. Não sentei, mas me encostei na mesma, buscando algum tipo de apoio.

— Eu não transformei ninguém, além de você, Bree – franzi o cenho sem entender o que aquilo queria dizer – Victoria era a responsável por isso. Eu não sei qual era o critério, mas ela mesmo gostava de escolher quem trabalharia para matar a Swan, mas você não foi uma escolhida. Eu cuidava de tudo enquanto ela estava fora, você sabe. Ela me fazia acreditar que era o certo a se fazer.

— Por favor, não enrola.

— Não estou – esbravejou – Mas se quer saber exatamente o que aconteceu precisa conhecer toda a história.

— Eu estava lá, Riley. Não preciso que me conte tudo.

Ele rolou os olhos antes de continuar.

— Um deles havia sumido aquela noite, Victoria não demoraria tanto tempo para chegar e as coisas estavam fugindo do meu controle. Eram para ser discretos, mas nem todos eles me ouviram. Então eu tive que ir atrás dele. Não havia ido longe, então tive que rastreá-lo, e quando cheguei você estava lá.

Me sentei na cama bruscamente interrompendo a sua fala.

— Mas, então... não foi você que me transformou? – perguntei.

— Foi. Não me orgulho disso, quero que saiba. Você é nova, Bree. Podia ter vivido tanta coisa...

— A nossa diferença de idade não é tão grande – dei de ombros, desviando o olhar. Sua fala havia me incomodado mais do que toda a conversa.

— Ele está morto. Tive que fazer isso, ia matar você, essa era a intenção. Quando consegui fazer com que ele te soltasse você já estava sem vida, eu não tinha ideia do que estava fazendo. Então o matei e mordi você. Queria que estivesse vida, só isso. Victoria não soube disso, ela havia mordido tantas pessoas que você era só mais uma da qual ela não se recordava.

Suspirei.

Estava mais calma no momento, mas de qualquer forma ainda me sentia pouco enraivecida.

— Você nunca me contou – acusei, em um tom mais baixo voltando a olhá-lo.

— Tive medo – confessou, encarando qualquer ponto fixo que não fosse eu – Foi isso. Tive medo da sua reação.

Levantei-me da cama, dando alguns passos em sua direção.

— Eu tento, Riley. Mas não consigo entender. Eu juro que tento!

— Me sinto responsável por você – deu de ombros – Félix disse que é por conta da transformação, mas eu sei que não é por causa isso.

Aquilo parecia um daqueles momento clichês de filmes e séries, mas eu temia que a reposta não fosse a mesma que eu esperava, na verdade, eu nem sabia de certo o que esperava. Então, Heide estava certa? Eu estava nutrindo sentimentos por Riley Biers?

— Então, o que é? – perguntei, com a voz fraca.

— Eu não sei. Quero cuidar de você – ele esticou a mão para que tocasse o meu cabelo, e eu senti o meu corpo inteiro gelar – E te manter segura. Não posso afirmar que isso signifique algo à mais, porque eu realmente não sei, Bree. Só... não precisa se afastar. Por favor.

Deixei com que os ombros caíssem e por fim respirei fundo, estando completamente calma. Não podia considerar que Riley havia “salvo a minha vida” mas, se não fosse a sua mordida eu não estaria com os olhos abertos. Claro, houveram terríveis momentos depois do acontecido e agora estávamos lidando com mudanças drásticas, mas em todos os momentos podia perceber que não estava pensando somente nele. Eu também estava inclusa. Não seria de todo ruim assim dar-lhe uma chance. Além do mais, eu não tinha para onde ir e nem com quem ficar. Riley era o mais próximo de família que eu tinha no momento.

— Eu não vou à lugar algum – confessei.

Pude ver sua expressão suavizar aos poucos, mas ele ainda mantinha o cenho franzido.

Toquei a sua mão, que estava em meus cabelos, puxando-a para mais perto do meu rosto. Riley pareceu não se importar com todo o resto no momento, e finalizou o espaço que havia entre nós rapidamente. Antes mesmo que eu pudesse piscar, seus lábios tocavam os meus com certa urgência. Não podia negar que também queria. Suas mãos que antes estavam presas em meu rosto, se alojaram em minha cintura, deslizando pela lateral até o local. A sensação era muito boa. Riley fazia com que eu me sentisse segura daquela forma, em seu abraço. Ele se afastou brevemente, mas não precisávamos parar. Minhas mãos foram ao seu rosto, o trazendo para mais perto novamente. Mas antes que pudéssemos aprofundar o beijo Riley se afastou novamente, desta vez não o puxei, e ele não me olhou. Apenas inalou o ar fortemente. Queria perguntar do que se tratava, mas preferi ficar em silencio.

— Vamos sair daqui – ele disse, me puxando pela mão para fora do quarto – Vem.

— O que? O que foi? – perguntei.

Foi a minha vez de inalar o cheiro, e então pude sentir meu corpo se encher de adrenalina. Fazia poucas horas que eu havia me alimentado, mas mesmo assim o cheiro do sangue já me enlouquecia. Heide havia chegado com a janta, e pela minha percepção os humanos caminhavam no andar de baixo. Encarei Riley e pela sua expressão pude ver que estava nervoso. Eu queria sair dali. Deveria sair dali! Mas não consegui, meus pés armaram corrida para a escada mais próxima, mas antes que pudesse chegar senti braços se apertando envolta da minha cintura. Gritei e cravei minhas unhas nos braços dele. Naquele momento eu não queria mais sair. Eu queria sangue. Só isso. Uma nevoa preta atingiu o corredor, vindo diretamente em minha direção, imaginei que fosse Alec, mesmo sem vê-lo. Tentei me desvencilhar, mas já era tarde demais. Parei de me debater, me entregando a escuridão.


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