Bree.

Não entendi o que aquilo significou de fato, mas o líder concordou com os dizeres de Riley e ordenou que nos mostrassem nossos devidos cômodos. A garota loira caminhou com passos apressados na minha direção. Me estreitei ainda mais para perto do homem ao meu lado, e seu sorriso cresceu ao perceber o medo que tinha dela. Não que eu achasse que Riley me defenderia, ou algo do tipo. Mas, de qualquer forma me sentia mais segura com ele do que com qualquer outra pessoa daquele lugar.

— Não precisa ter medo – disse com aquela voz angelical – Vou mostrar o seu quarto.

Ela caminhou na frente e eu a segui com receio.

Quando a porta foi fechada ainda sentia os olhares de vampiros em nossas costas.

Não demorou muito para que chegássemos em um dos menores corredores daquele castelo, com várias portas e iniciais nele. Nada foi dito durante o caminho, nem mesmo o barulho de nossos sapatos eram ouvidos. Andávamos em passos pouco mais rápidos do que um humano poderia. Engoli seco ao sentir a queimação em minha garganta, não haviam humanos próximos, mas apenas o pensamento já era suficiente para me enlouquecer.

Paramos em frente a uma das portas, era uma das que não haviam letras.

— Pode ficar com esse – falou, entrando no mesmo e dando espaço para que eu fizesse o mesmo.

A ideia de estar no mesmo cômodo com Jane Volturi sozinha não me agradava. Tentei esconder meu medo, mas ao jugar por sua expressão, eu não era uma boa atriz.

O quarto era bom. Na verdade, parecia ótimo. Maior do que todos os quartos que já havia passado durante a minha vida, a cama no centro dele fez com que uma expressão de dúvida surgisse em minha face. Nós não dormíamos. Queria perguntar se aquele já havia pertencido a alguma outra pessoa antes de mim, mas não o fiz.

— Você vai ficar bem –  disse para si mesma, com os olhos atentos em cada canto do quarto, como se quisesse se certificar de que não havia nada de errado – Mas, se posso sugerir algo, é que fique longe de Demetri.

Franzi o cenho.

— O quê? – de fato, não havia entendido.

Ela estava sendo legal ou me ameaçando?

Não consegui decifrar isso em sua voz.

— Fique longe dele. Demetri Volturi é um galanteador e você é carne nova, literalmente. Então... – deixou a frase morrer – Apenas siga o meu conselho.

Assenti mesmo sem entender direito o que aquilo significava. Demetri não parecia estar querendo algo a mais quando falava comigo. Simplesmente parecia ser gentil e até mesmo sentir um pouco de pena, sentimento esse que eu já estava começando a me acostumar.

Mas, de qualquer forma eu concordei, não seria louca de descordar.

Os olhos vermelhos de Jane percorreram o quarto mais uma vez. E outra. Antes de lançar um sorriso animado e sair pela porta. Se ficasse mais um dia naquele lugar certamente enlouqueceria.

Quando finalmente estava sozinha resolvi conhecer um pouco do quarto. Em uma das portas brancas podia encontrar um banheiro com utensílios prontos para serem usados, o que mais uma vez fez com que a dúvida novamente voltasse a minha mente – será mesmo que não pertencia a outra pessoa? Na outra porta, tinha um closet com poucas peças de roupas, e todas estavam novas, nem mesmo tinha cheiro de outro alguém nelas – havia verificado. Por fim, decidi que poderia tomar um banho e trocar de roupa, para que por fim, pudesse sentir-me melhor.

De fato, após o processo que demorou pouco menos de uma hora eu me sentia melhor, principalmente ao ver o meu reflexo no espelho. Os cabelos ainda estavam molhados, mas não mais sujos ou desgrenhados como antes. No corpo e rosto também não haviam marcas de terra. As roupas não eram de todo ruim. Eram escuras demais e muito arrumadas, mesmo que tentasse escolher a mais simples, acabei com um vestido preto e rodado que ia até pouco acima do joelho.

Ainda com os pés descalços ouvi a porta sendo aberta e fechada em seguida. Meu corpo todo ficou rígido, se fosse qualquer um dos novos vampiros eu não atenderia. Ao inspirar o cheiro percebi ser Riley e deixei que os ombros caíssem em alívio. O encontrei encostado na parede próxima a janela, encarando o lado de fora, só então percebi que ali havia uma varanda que dava uma bela vista ao jardim. Riley virou-se em minha direção, analisando-me. Pude perceber que ele também havia se trocado, mas ao contrário de mim, suas roupas eram mais confortáveis.

— Você está bem? – perguntou soltando a cortina e dando alguns passos em minha direção.

Não respondi, apenas assenti desviando o olhar.

Meus pés caminharam até a cama e sentei na mesma, sentindo o conforto.

— Obrigada – os olhos vermelhos de voltaram em minha direção, parecia surpreso – Por não me deixar para trás.

Ele concordou, mas mudou de assunto.

— Nos querem no jardim para o treinamento.

Franzi o cenho sem entender.

— Treinamento?

— Fazemos parte deles agora, Bree – era a primeira vez que ouvia meu nome sair de sua boca de uma forma mais carinhosa e eu até gostava da sensação – Teremos que lutar.

— Lutar? – despertei – Eu não sei lutar!

— Você aprenderá – me garantiu.

— Riley, eu vi como lutaram na clareira. Não consigo fazer o mesmo!

— Acalme-se – pediu – Victoria me ensinou. Posso ensiná-la também.

— Tudo bem.

Certamente lutar não era um de meus hobbies, mas teria que lidar com isso se quisesse continuar viva, principalmente agora, depois de juntar-me a corte vampiresca. Riley fez sinal com a cabeça para que fossemos até lá e eu o segui. Ao chegarmos no próximo ao jardim já podia ouvir grunhidos e rosnados vindo de vampiros que já estavam lutando, quando finalmente pude ver, haviam três duplas separadamente.

Olhei para o vampiro ao meu lado de relance e vi seu olho brilhar, Riley realmente gostava de poder e aquilo não parecia ser algo muito legal.

Demetri lutava com o irmão-gêmeo Volturi e ao julgar por suas expressões aquela briga ia além do casual. O grandão lutava com um outro homem que havia visto uma única vez no salão principal, e ele parecia estar levando a melhor. Jane Volturi parou de lutar com uma mulher – estranhamente bonita demais – para me encarar com um sorriso nos lábios.

— Bree! – gritou animada, fazendo com que todas as outras também parassem. Só então percebi que até mesmo Aro Volturi e seus irmãos se encontravam observando as lutas em um canto – Junte-se à nós e mostre o que sabe fazer.

Estremeci parada no mesmo lugar.

— Não posso.

Ela franziu o cenho, aumentando ainda mais o sorriso.

— Por que não? – quis saber.

Toquei a saia do vestido.

— Não trouxe roupas apropriadas para uma luta.

Aro observava tudo com olhos de águia e um sorriso presunçoso nos lábios. Enquanto eu já havia percebido ter deixado Jane com bastante raiva, sem nunca ter feito nada para atingi-la.

— Eu trouxe – Riley se intrometeu, avançando alguns passos – Quem se disponibiliza?

Reprimi a vontade de rir.

Félix foi o primeiro e único a dar um passo à frente, mas Riley não gostou muito. Não por medo, mas estava mais do que claro que não era com ele que o vampiro queria lutar. Seu olhar percorreu na direção de Demetri com um olhar sugestivo, o Volturi riu antes de avançar alguns passos na direção de Riley para que pudessem começar a luta. Mas, eu não fiquei para ver. A mulher que antes lutava com Jane passou por mim, insinuando que eu a acompanhasse e o fiz, todas as atenções estavam presas na luta então nem se deram conta de que não estávamos mais ali.

— Me chamo Heide – disse sem parar de andar – E pelo o que eu vi mais cedo, Jane quer a sua cabeça em uma bandeja e não sossegará até conseguir.

Suspirei quando entramos na biblioteca, não havia ninguém.

— Eu não fiz nada – garanti – Eu juro.

Heide riu enquanto eu me encostava em uma das mesas.

— Eu acredito em você.

— Obrigada!

— Mas, sei onde está o seu erro – falou tocando os meus cabelos – Demetri.

Franzi o cenho.

— Demetri? Quer dizer, Jane me disse mais cedo que eu deveria ficar longe dele por ser um galanteador, o que nem faz tanto sentido, mas o que ele tem a ver com isso?

Ela sentou-se em uma das cadeiras, com os olhos fixos em mim. Heide parecia ser bem legal.

— Demetri e Jane Volturi são conhecidos por serem o casal-não-assumido mais ioiô de Volterra. Eu não estava aqui, mas dizem que desde que Demetri chegou eles estão juntos. Mas brigam e separam o tempo inteiro. Na verdade, Jane mandava e Demetri fazia, sempre foi assim, até o dia em que aquele cabeção me ouviu e cansou de ser seu súdito.

Eu ri.

— Por isso ela odeia você?

— Você realmente fica melhor sorrindo, sem medo – elogiou – Bem, não só por isso. Dormimos juntos algumas vezes.

Arregalei os olhos.

— Nesse caso, acho que ela tem motivos, não?

— Eles não estavam juntos em nenhuma das vezes – defendeu-se – E também porque fiz o mesmo com o irmão dela.

— Uau.

— Não me julgue.

— Não estou – me defendi.

— Está sim – retrucou – O casalzinho brigou mais uma vez antes de ir para Forks, atrás de vocês, com direito a pilares do castelo quebrados e tudo. Pois é, eu sei. Digamos que nesse momento eles não sabem manter a classe.

— Isso é surpreendente.

— Uhum. E então eles viajaram e encontraram vocês – disse.

— Tudo bem, e daí?

— Demetri gostou de você, então, Jane odeia você – palpitou.

— Acho que ele só queria ser gentil – dei de ombros.

Ela riu.

— Você é ingênua, Bree. O mesmo acontece com Riley.

— O que Riley tem a ver com isso? – perguntei.

— Demetri gostou de você, então, Riley o odeia.

Me levantei da mesa no mesmo momento.

— Você está doida!

— Você gosta dele – disse para si mesma.

— É claro que não – bufei.

— Então, posso investir? – perguntou sorrindo em um tom de provocação.

Senti meu rosto queimando, mas assenti contragosto, antes de sair da biblioteca.

— Claro que sim.