Lay down next to me

Don't listen when I scream

Bury your doubts and fall asleep

Find out I was just a bad dream

Let the bed sheet soak up my tears

And watch the only way out disappear

Don't tell me why Kiss me goodbye

Apparat, "Goodbye"

Numa manhã amena em Asgard, Frigga pediu para que Heimdall lhe contasse sobre sua filha e sobre o marido. Dois verões se passaram desde que viu os dois partirem e cada estação em Asgard significava muito tempo. O homem de armadura e olhos de ouro podia ver todos os reinos de Odin, embora não fosse capaz de enxergar os corações de todas as criaturas. Se ele pudesse, então saberia das cores fúnebres do interior da princesa, do coração que já não batia dentro de seu tórax.

Ele narrou a cena com precisão, sobre a névoa que o Pai de Todos e sua Executora enfrentavam, sobre os uivos do vento e o terreno difícil. Hela seguia na frente com seu cervo decomposto em somente ossos, ossos limpos e brancos, Odin ia sobre Sleipnir logo atrás. Adentravam um reino inundado por trevas e completamente despovoado, fruto da guerra contra os Elfos Negros: Svartalfheim. Diziam que certas criaturas viviam ali, famintas e à espera dos incautos.

Heimdall travou por alguns instantes ao ver a marcha. As sombras sibilavam nas pedras ásperas e árvores secas, cantando uma canção há muito tempo morta. A terra dos Elfos Negros era banhada pela escuridão doente de um eclipse solar, que nada mais dava além de um aspecto mortiço ao exército dourado. Entre os galhos retorcidos e o solo árido, surgiu um par de olhos sedentos, dentes afiados muito brilhantes.

A terra tremeu. Sleipnir relinchou. A figura avançou rosnando, suas imensas patas esmagando árvores. Era tão grande que seus pêlos podiam ser confundidos com os montes da terra. Abocanhou os soldados e abafou seus gritos com uma única mordida. Odin não errou o alvo, porém acertou-o com a lança num ponto em que o golpe não foi fatal, o exército por sua vez lutava sem sucesso. Hela aproximou-se rápida e invocou nove grandes lâminas que pairaram suspensas no ar, em torno do pescoço do animal. Ele franziu o nariz num rosnado irritado, tentou morder uma das armas sem conseguir. Deu um passo para frente de forma súbita com um único latido, ato que deu tempo apenas de Hela se jogar da sela em direção ao chão, numa tentativa de escapar de golpe. A pata do animal esmagou o esqueleto do cervo com brutalidade. Seus olhos cor de topázio reluziam de ira e fome, o sangue e a saliva em seus dentes pediam mais e mais e mais.

Heimdall não soube como descrever o que se seguiu para Frigga. Não soube se foi um instante de rendição do imenso lobo negro à Executora e suas armas, não soube dizer se foi algo a mais do que isso. O fato é que Hela reconheceu a fome do lobo como a sua e o lobo sentiu o mesmo. Ela subiu nas costas da fera, domando-a por completo.

Odin desconfiou da besta, assim como o resto do exército. O animal cheirava como o fim de tudo. Hela apenas o chamou por Fenrir e o clamou para si.

— É um lobo. — Odin lhe alertou. — Onde estará a matilha?

— Eu não sei, meu pai. E não importa. Há sempre lobos que se desgarram da matilha; há sempre um lobo solitário.

Odin concordou, sua expressão vazia.

Na escuridão eterna de Svartalfheim, Hela caçava monstros para aplacar a fome de sua montaria. Ela ria e matava, Fenrir uivava e devorava. Não haviam encontrado a relíquia que seu antepassado Bor escondera, o Aether, mas a filha de Odin não considerou a viagem perdida.