Odindóttir escrita por Shalashaska


Capítulo 2
II




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I will never disappear

For forever, I'll be here

Whispering

Morning, keep the streets empty for me

Morning, keep the streets empty for me

Fever Ray, "Keep the streets Empty For Me"

 

A arena de cerimônias estava lotada, mesmo que o clima não contribuísse para que a multidão saísse de seus lares. Era noite e o vento soprava gélido, tal qual a ocasião do nascimento da jovem a ser honrada com o título de Executora. Todos queriam ver a princesa, tão adorada por sua valentia e serenidade afiada, que juraria ser representante oficial daquele povo em outras terras. Executaria a visão do rei e de Asgard aos mundos conhecidos, traria mais glória ao povo. Executaria quem fosse contra este destino solene. Juramentos e promessas de todos os tipos eram sagrados aos asgardianos, inquebráveis. Somente aqueles de má índole traiam suas próprias palavras.

Diziam que as palavras dos reis eram seladas no destino, dotadas de poder. Portanto, era uma imensa honraria jurar ao rei ou o rei jurar a alguém. Tais ocasiões eram solenidades.

As pessoas seguravam candeeiros à óleo e as chamas jogavam tons quentes nas colunas no piso revestidas de ouro, todos com runas inscritas e desenhos elaborados. Haveria um banquete depois, fornecido pela própria princesa, e então beberiam barris de hidromel para festejar a nomeação. Nove animais foram abatidos para a solenidade,  dois javalis, dois auroques, dois cervos e três imensas aves de rapina… Tudo o que um exímio caçador pudesse pegar.

Frigga andou até a base do trono dourado de Odin, seu esposo sentado com a mão firme na lança de guerra e um corvo de cada lado, empoleirados sobre o ouro maciço. Havia mais pessoas da corte ali, como alguns companheiros de caça de Hela e amigas, como a exuberante Freya e a ordem de Valquírias. O exército formou um corredor com duas dúzias de homens com as espadas erguidas, um corredor pelo qual Hela adentrou com passos pesados. A multidão ovacionava seu nome, aplaudia-a de pé.

Ela chegou até em frente do Pai de Todos, que deu uma única batida com Gungnir no chão, som que ecoou por toda arena. Houve silêncio entre os presentes.

Hela curvou-se com apenas um joelho.

— Hela Odindóttir. Minha primogênita. — Uma pausa. — Há muito agraciada com sua destreza, serenidade e coragem, e mais do que isso, com a determinação de um guerreiro sedento por vitória. Nascida de uma noite auspiciosa como essa. És mais do que a data de teu nascimento e teu berço. Tens as qualidades das quais qualquer rei como eu, como meu pai Bor, e como o pai antes dele, deseja ao seu lado e ouso dizer que seria escolhida para a data de hoje mesmo que não fosses minha filha. Estás destinada a grandes feitos. Eu, Pai de Todos, tenho conquistado os reinos vizinhos e trazido glória a Asgard desde que me foi concedido o trono e vejo em tu, Hela, a vitória que trará ao nosso povo. Estás pronta para o juramento?

— Sim, meu pai.

— Juras auxiliar teu rei em aumentar os domínios de Asgard e mostrar teu esplendor até que seja conhecido em nove reinos?

— Eu juro.

— Juras não fugir de uma batalha e assegurar a vida de teu rei mesmo que custe a sua?

— Eu juro.

— Juras guardar em ti a visão de teu rei e cumprir o destino a ti designado sem titubear ou trair sua palavra? Juras fazer o necessário pelo bem do reino?

— Eu juro.

— Levante-se. Desse dia em diante, eu, Odin, o Pai de Todos, te proclamo, Hela Odindóttir, a Executora de Asgard.

Ele deu mais uma batida com Gungnir e a cerimônia estava selada. Odin permitiu-se demonstrar uma expressão carinhosa à ela enquanto descia as escadarias de seu trono em sua direção, que  em resposta soltou um sorriso tímido e cheio de mistérios de uma lua minguante. Deu a lança à Frigga por um momento e pôs as mãos sobre os cabelos de Hela, de onde surgiu um elmo negro que combinava com suas vestes. Era composto por chifres escuros, tal qual as lâminas que Hela amava tanto atirar ou como as galhadas dos cervos e que amava tanto caçar.

A platéia aplaudiu novamente, a jovem tocou nas pontas de seu elmo com visível deslumbre e gratidão.

Frigga era uma mãe orgulhosa, Odin não podia sentir seu coração mais cheio. Fantasiaram sobre o momento em que iriam passar o trono de forma definitiva para herdeira, em quantas alegrias e conquistas teriam então alcançado até que uma nova solenidade fosse requisitada naquele mesmo salão. Os corvos crocitaram enquanto pai e filha trocavam palavras ternas entre si, preparando-se para a guerra. Planejaram um retorno ainda mais opulento, mais pratos, mais cerveja, mais festa. Tudo seria possível com as Joias do Infinito. Enquanto bebiam hidromel em chifres de auroque e se fartavam de carne no meio da noite, os parceiros de caça de Hela lhe parabenizavam de forma entusiasmada, quase ébria. Perguntavam para a Executora de Odin:

— Está bom? Está saboroso? Está doce?

— Sim, está bom. — Ela respondia muito sóbria, levantando a bebida no chifres. — Entretanto, doce mesmo é quando sinto o sabor da morte em meus lábios!

Eles riram e beberam ao som de bardos. Ao final da festança, sobraram apenas ossos.


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Notas finais do capítulo

Aqui eu tentei recriar o juramento do Thor no primeiro filme de 2011, embora de forma mais distorcida. Lá no filme é mencionado proteger, não conquistar. Aqui é o contrário.
Também tentei utilizar a segunda pessoa para flexionar os verbos para dar aquela sensação de ancestralidade. Não sei se consegui ou se fiz da maneira certa e aceito correções.