Duet escrita por oicarool


Capítulo 8
Capítulo 8




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O dia seguinte ao baile foi muito agitado. Quatro das Benedito não conseguiam parar de falar sobre o evento, e a quinta delas, não conseguia parar de pensar sobre o que ocorrera depois dele. E, é claro, aproveitando a ausência de Darcy, houve algum tipo de inquérito a respeito de sua dança com Elisabeta, e sobre a presença de Augusto. As irmãs de Elisabeta naturalmente estavam mais preocupadas com Augusto, enquanto ela não podia deixar de pensar em Darcy.

Mas manteve um tom propositalmente monótono ao falar sobre o inglês, e rapidamente desfez as preocupações das irmãs quanto à um retorno do relacionamento com Augusto. Ainda sentia-se ultrajada, e todas as Benedito deixaram clara a sua indignação com os comentários da noite anterior. Mariana, inclusive, disse que sempre soube que Augusto não era um homem confiável, e que Darcy já havia alertado sobre ele. A menção de Darcy fez Elisabeta ficar curiosa, mas ainda tentava não parecer empolgada com a dança.

Conteve seu sorriso quando suas irmãs comentaram o quanto os dois pareciam embasbacados com a presença um do outro e quando Jane suspirou sobre serem um casal lindo. Mas, rapidamente elas pareceram desanimadas quando Elisabeta garantiu que dançou com Darcy apenas por obrigação. Exceto por Mariana, que lançou um sorriso cúmplice e voltou a falar sobre Brandão. Ao menos até que todas as outras encontrassem outras atividades e ficasse sozinha com Elisabeta.

— Você não pareceu muito abalada com o retorno de Augusto. – Mariana comentou, fingindo estar distraída.

— Bem, eu fiquei um pouco decepcionada pela forma como ele terminou tudo. – Elisabeta deu de ombros. – Principalmente depois do que ele falou ontem.

— Mas você pareceu nervosa ontem, após dançar com ele. Eu a vi subindo as escadas, e depois não a vi mais no baile. – Mariana ergueu a sobrancelha, olhando para Elisabeta.

— Você também ficaria assim, se alguém a cogitasse como amante. – Elisabeta sussurrou a última palavra.

— Sim, mas Darcy, com quem você dançou de forma bastante intensa, também sumiu um pouco depois.

— Certamente estava cansado, ou com alguma moça. – Elisabeta olhou para as próprias unhas.

— Confesse logo! – Mariana perdeu a paciência, pulando para o lado de Elisabeta. – O que aconteceu? Achei que você odiava Darcy.

— Eu não odeio Darcy. – Elisabeta sentiu as bochechas corarem. – Temos nos... aproximado.

— O que? – Mariana cobriu a boca com as duas mãos.

— Eu vou lhe contar, mas por favor, não conte nada à nenhuma de nossas irmãs. – Elisa suspirou. – Eu preciso mesmo de sua opinião, você conhece Darcy melhor que todas nós.

— Me conte logo! – Mariana a apressou.

— Eu e Darcy nos comunicamos pela música. – ela disse, e Mariana revirou os olhos. – Não faça isso. Estamos compondo uma música juntos. A cada noite, um de nós acrescenta uma parte, mas nós nunca nos falamos. Exceto pela noite passada.

— O que aconteceu a noite passada?

— Primeiro, nós dançamos. E depois, ele foi atrás de mim na sala de música. Nada aconteceu, e talvez seja tudo algo da minha cabeça. Ele é amigo de todas vocês, afinal. – Elisa suspirou, frustrada.

— Darcy não olha para nenhuma de nós da forma como olha para você. – Mariana segurou a mão de Elisabeta. – Sempre foi como um irmão, nenhuma de nós jamais teve dúvidas sobre suas intenções.

— Mas eu posso estar imaginando coisas. – Elisa olhou para ela. – Quando Darcy me toca é como se o mundo estivesse explodindo.

— Elisabeta, você é a mais esperta entre todas nós. Darcy jamais ficou sozinho conosco, e certamente nunca nos tocou de uma forma que nos deixasse pensar outra coisa. – Mariana sorriu abertamente. – E qualquer uma teria a sorte de ter a atenção de Darcy. Ao mesmo tempo, ninguém mereceria mais do que você.

Elisabeta sorriu para a irmã, e encerrou a conversa com um abraço. Era bom estar, aos poucos, se reaproximando das irmãs, depois de tanto conflito. As refeições daquele dia foram tranquilas, uma vez que Ofélia estava em excelente humor, após suas filhas receberem a atenção de tantos partidos distintos. Mas, quando o jantar chegou, e Darcy se juntou à elas, Elisabeta sentiu que a casa estava pequena demais.

Não foi diferente de como era, normalmente. Darcy foi cordial com todos, bem humorado quando suas irmãs demandaram, mas havia uma agitação nele que Elisabeta não reconhecia. E ele evitou o olhar de Elisabeta por quase todo o jantar. Foi apenas ao final dele que seus olhos se cruzaram, e um sorriso muito discreto se abriu em seu rosto. Darcy, porém, não esperou a sobremesa e despediu-se de todos.

A atitude dele a deixou confusa. Achava que estavam chegando à algum lugar, mas Darcy parecia nervoso, ansioso, e despertou nela a ideia de que a noite passada poderia ter sido um erro para ele. Por isso demorou-se um pouco após o jantar, conversou um pouco com Cecília a respeito do último romance que a irmã estava lendo, e esperou que o piano desse alguma resposta.

Mas Darcy nunca começou a tocar, e, mais tarde, quando todos se recolheram, Elisabeta quase achou que a sala estava vazia. Exceto por uma luz suave que passava por baixo da porta. E, sem pensar duas vezes, abriu o cômodo. Darcy estava parado no lugar que ela ocupava na noite anterior. A maioria das luzes da sala estavam apagadas, exceto por dois abajures. Ele virou-se rapidamente, assustado, quando ouviu a porta se fechar.

O olhar de Elisabeta se conectou com o dele, e sentiu que suas pernas estremeceriam a qualquer momento. Havia uma linha entre os olhos dele, que se desfez com o reconhecimento, e a expressão de Darcy relaxou, um sorriso largo dando lugar a surpresa. E aquele sorriso fez com que Elisabeta encostasse na porta atrás dela, incapaz de sustentar seu próprio corpo.

— Você veio. – ele suspirou.

— Você parece surpreso. – ela encontrou as palavras.

— Eu estou. – Darcy disse, e Elisabeta franziu a testa. – Me desculpe, isso saiu da forma errada. – ele riu, sem graça.

— Estou quase achando que não deveria ter vindo. – ela corou.

— Me desculpe, eu estou nervoso. – Darcy esfregou as mãos. – Eu queria que você viesse, mas tive medo de tê-la assustado ontem à noite.

— Me assustado? – Elisabeta sorriu, e caminhou até o sofá, sentando-se nele. – Com o que?

— Com tudo. Invadindo seu espaço, impondo minha presença. – suspirou, pesaroso.

— O senhor impôs sua presença desde o início, quando chegou a esta casa. – ela disse, divertida. – Mas certamente não foi o que aconteceu na noite passada.

— Não? – os olhos de Darcy brilharam, e Elisabeta refreou o impulso de levantar-se e tocá-lo.

— Não. – Elisabeta disse, decidida. – E por isso estou aqui. E quero ouvi-lo tocar.

Darcy assentiu, em um sorriso sem graça. Sentou-se em frente ao piano, e fechou os olhos. Elisabeta o observou atentamente, engolindo em seco. Viu sua expressão concentrada, os olhos fechados dele dando a ela a oportunidade de estudar seu rosto, cada traço de Darcy. E então, as primeiras notas foram tocadas, e Elisabeta sentiu-se transportada à outro lugar.

Era muito mais alto, sem as portas entre eles. Era mais intenso, e tocava diretamente sua alma. Ela podia ver as mãos dele se movendo, rápidas, precisas, e um arrepio percorreu seu corpo. Era como se ela estivesse recebendo aquelas carícias, como se Darcy a estivesse tocando. O ar não chegava a seus pulmões, seu coração batia acelerado. Era uma melodia que ela não conhecia, mas tinha todas as características de Darcy Williamson. Era dele, sem dúvidas.

Os olhos dele se abriram, de repente, e encontraram a expressão dela. As bochechas coradas, a respiração acelerada, a boca entreaberta. E ele errou uma nota, e então outra. Distraiu-se com o impacto daquela mulher, com a intensidade de seu desejo por ela, com a improbabilidade daquele encontro. E quis sair do piano, toma-la em seus braços, beijar seus lábios.

Forçou seus olhos a se fecharem, a quebrarem aquele encanto. E continuou tentando se concentrar nas notas, esquecer a presença de Elisabeta. Mas o perfume dela atingia seus sentidos, e pela primeira vez ela não estava em outro cômodo. Estava ali, naquele sofá, com seus olhos verdes, suas emoções intensas, sua personalidade que Darcy desejava desvendar.

Não conseguiu mais manter seus olhos fechados, e então fez contato novamente com ela. Tentou se manter concentrado, e naquela hipnose, achou seu centro. E tocou quase todas as músicas que assinava como compositor. Todas as músicas que nunca mostrara a ninguém. Parte de sua alma, parcelas de sua vida, momentos que ele considerava particulares, e agora queria dividir com ela.

Eram poucas as palavras. Sempre eram poucas com eles. Sempre havia música, notas, sentimentos. As palavras pareciam quase dispensáveis, as vezes. Quando Elisabeta bocejou, Darcy parou de tocar. E havia um sorriso bonito nos lábios dela quando despediu-se com um tímido “boa noite”.

##

Darcy voltou no outro dia, e Elisabeta voltou no seguinte. E no intervalo de uma semana, passaram quase todas as noites juntos, até o avançar da madrugada. O sono de Darcy estava prejudicado, mas não trocaria nenhum momento com Elisabeta por uma noite de sono. Porque ela era um sonho que ele queria viver. Cada olhar, cada palavra, cada sorriso que ele conquistava, tudo era motivo para valorizar os minutos com ela.

Conversaram, naquelas noites, sobre música, sobre seus professores de piano, seus compositores favoritos. Era impessoal, e ao mesmo tempo pessoal demais. Nenhum deles ousava quebrar aquela conexão, e nenhum deles ousava avançar naquele terreno, como se pudessem destruir tudo sem querer. Um estava no piano, enquanto o outro estava no sofá. Cumprimentavam-se e despediam-se de longe, porque embora ansiassem pelo toque, não parecia que seriam capazes de controlar as consequências.

Mas era uma tensão crescente. Uma atenção em demasia à bocas, mãos, corpos. Olhares distraídos, com pensamentos perdidos. Os dois quase ficaram a ponto de provocar um toque desavisado, mas não havia coragem. Saberiam que haveria explosão, e nenhum deles queria sair ferido dela. Nenhum deles queria dar um passo em falso, ousar interpretar errado.

Naquela tarde de sábado, porém, Darcy ouviu a voz mansa de Augusto. Sentiu seu peito ferver com raiva, ciúme. E ousou ouvir parte da conversa, como se tivesse direito. O suficiente para ouvir a voz firme de Elisabeta – e surpreender-se com ela. Um pedido objetivo para que Augusto deixasse a casa e não voltasse a procura-la. Mas Augusto era ardiloso, e Darcy sabia disso, e ouviu sua voz se transformar em um sussurro. Incapaz de controlar suas pernas, adentrou a sala.

Augusto estava a alguns passos de Elisabeta. E todo o corpo dela estava rígido. Os ombros, os lábios em uma linha fina, a expressão decidida. Augusto de um passo em direção a ela, e Elisabeta recusou, instintivamente. Darcy colocou as mãos nos bolsos, para esconder seus punhos cerrados. E caminhou até ser visto por Augusto, uma expressão séria em seu rosto.

— Acredito que a moça pediu para que a deixasse em paz. – a voz de Darcy era baixa.

— Darcy Williamson. – Augusto disse, com um sorriso debochado. – Vejo que desistiu da Inglaterra. Soube que será o dono das propriedades dos Benedito.

— Sim. E por isso ecoo as palavras da Senhorita Benedito. – Darcy tomou um passo a frente de Elisabeta. – E peço que se retire imediatamente.

— Não é necessário. Eu o ouvi. E já tive a resposta que buscava de Elisa. – Augusto sorriu, galante. – Uma pena, minha cara. Nos divertiríamos juntos.

Augusto virou-se de costas, e Darcy deu dois passos em direção a ele, antes de sentir a mão de Elisabeta em seu braço. Virou-se para encará-la, os olhos dela brilhando com uma emoção diferente. Mas, antes que pudesse tocá-la, antes que pudesse dizer alguma coisa, a voz de Ofélia adentrou a sala, e Darcy deu alguns passos para trás.

##

Quando Darcy entrou na sala de música, naquela noite, surpreendeu-se ao encontrá-la vazia. Era a noite de Elisabeta, e ele estava ali para assisti-la. Estava aliviado por Ofélia ter apoiado Elisabeta em relação à Augusto. Vira a expressão de espera da mais velha dos Benedito ao mencionar que acabara de expulsar Augusto Toledo. Mas Ofélia abrira um sorriso em cumprimento, e resmungara a respeito de não querer um homem como aquele perto de suas filhas.

Por isso, Darcy estava surpreso. Ela parecia bem, parecia calma. Elisabeta parecia menos propensa a discutir com as irmãs, e até mesmo Ofélia parecia menos demandante. A música dela era um pouco mais alegre, seu sorriso mais frequente. Não havia motivo para que Elisabeta Benedito não estivesse ali naquela noite. A menos que não tivesse gostado de sua reação à Augusto. E Darcy temeu por isso. Aquela pontada de insegurança crescendo.

Apoiou-se no piano, levando a mão ao rosto, e então ouviu a porta abrir, e logo fechar. Ergueu os olhos e o olhar de Elisabeta encontrou o seu, expectante. Viu a dúvida no olhar dela, alguns segundos de receio, e então ela piscou, e quando abriu os olhos novamente, havia apenas faísca. Elisabeta caminhou decidida em direção a ele, parando a apenas alguns centímetros de seu corpo. Darcy engoliu em seco, sem que seus olhos desviassem dos dela.

— Está tudo bem? – ele perguntou.

— O que estamos fazendo? – Elisabeta perguntou, em um fio de voz.

— O que? – Darcy ergueu a sobrancelha. – O que quer dizer?

— Nós dois. – ela engoliu em seco, umedeceu os lábios. – Eu preciso saber se você sente que há algo entre nós.

Darcy paralisou no lugar.

— Uma energia, uma conexão. – ela completou.

— É maior do que isso. – Darcy disse, decidido. – Muito maior do que isso.

Incapaz de controlar-se, Darcy segurou as duas mãos de Elisabeta, e a puxou para mais perto. Quando sentiu o corpo de Elisabeta colar no seu, suas mãos a seguraram pela cintura. As mãos dela encontraram repouso em seus ombros. Os dois trocaram um olhar temeroso, engoliram em seco, respiraram fundo. Darcy podia quase ouvir as batidas de seu coração, ou talvez fossem as batidas do coração dela.

Uma de suas mãos subiu pelas costas de Elisabeta, lentamente, parando em sua nuca. Ele esperou um protesto dela, que nunca veio. E tomado por coragem, Darcy aproximou seus lábios dos lábios de Elisabeta. Tocou o céu, ao sentir o primeiro contato. Então Elisabeta arfou, e abriu um pequeno espaço entre seus lábios. O suficiente para dar espaço para Darcy.

Suas línguas se tocaram, tímidas. Mas foi poderoso, intenso, e Elisabeta segurou firme os ombros de Darcy, enquanto ele apertava suas mãos na cintura dela. Então a tomou mais a fundo, a beijou de forma mais ousada. Elisabeta sentiu-se dominada por aquele beijo, e quanto mais Darcy aprofundava, mantendo aquele ritmo lento, mais entregue parecia.

Tentou dar um passo a frente, para que seu corpo tocasse mais o dele. A mão dela subiu pela nuca de Darcy, adentrando os cabelos curtos. Um gemido escapou dos lábios dela, e Darcy suspirou. Se acelerasse o beijo, eles estariam perdidos. Mas não sentia-se preparado para se afastar naquele momento, e por isso saboreou novamente os lábios de Elisabeta.

A prudência havia deixado o corpo dela. Era o beijo mais intenso de sua vida, e seus pensamentos fugiam a todo momento. Queria ser dele, queria ser tocada por Darcy, como se sua vida dependesse disso. Não parecia ser possível viver em um mundo onde aqueles beijos não fossem dela. Mas, quando o beijo se tornou intenso demais, quando seu corpo parecia pedir por toques desconhecidos, Elisabeta deu um passo atrás. Sua respiração estava descompassada, e a de Darcy também.

— Eu acho melhor eu ir. – ela disse, em um sorriso tímido.

E Darcy assentiu, pois não havia nada a ser dito. Se a beijasse novamente, correria o risco de nunca mais parar.


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