Antes mesmo do sol nascer, deixei o apartamento de Brigitte, e voltei para a mansão. Àquela hora, provavelmente, William e Bryan já estavam se arrumando para sair de casa, mas Eu tomaria cuidado para não cruzar com eles.
Foi pela porta da cozinha que entrei. Eva já preparava o café da manhã, incrivelmente bem-disposta, como se o dia já estivesse pela metade.

—De onde você veio?

Arrastei uma cadeira. –Dormi na casa de uma amiga. – Esfreguei os olhos. –Tem café aí?

—Claro. – Ela me serviu. –O senhor William a procurou ontem à noite, pela casa inteira! – Ela me observou, atentamente.

—Como assim? – Indaguei perplexa. –Ele não me viu sair, tenho certeza disso!

—Parece que a senhora Kristen foi ao seu quarto.

—O que ela queria?

—Eu não sei, senhorita. Só estou lhe informando por que também fiquei preocupada. – Ela parecia está um tanto nervosa. –Por favor, não comente isso com ninguém.

Suspirei perdendo a única vontade que Eu tinha de fazer algo naquela manhã: beber um café quentinho.

—Vou para o meu quarto.

Desnorteada com a descoberta sobre a minha ausência, fui descuidada ao ir para o quarto. No meio do caminho deste, dei de cara com William, que não estava nada simpático naquela manhã.

—Oi. – Acanhada, o cumprimentei. –Eu estava na cozinha... com a Eva... tomando café.

—A procurei pela casa inteira ontem à noite. – Foi direto, evitando mais atrasos.

—Dormi na casa da Brigitte, minha amiga de infância.

William não pareceu se agradar com a minha explicação. Ele estava visivelmente incomodado e irritado.

—Já havíamos conversado sobre isso.

—Eu sei e não quero desrespeitar a sua casa, mas Eu tenho amigos lá fora e...

—É sobre os seus amigos que precisamos conversar, seriamente. – Não entendi o seu tom e tão pouco a seriedade desmedida. –Entendo que não seja fácil fazer amigos de um dia para o outro, mas, manter amizades ruins será mais complexo para você do que tentar se relacionar com pessoas boas.

—Você não pode falar assim da Brigitte, não a conhece para julgá-la. – Irritada, mas contida.

—Não estou falando de uma só pessoa. Estou generalizando o grupo de jovens que se atreveu a invadir a minha casa, cuja consequência te levou para uma noite na delegacia.

—Do que você está falando?

—Vimos o noticiário que especificava com clareza mais um roubo de mansão ontem à noite, supostamente pelo mesmo grupo de delinquentes que esteve aqui, na sua companhia. – Kristen surgiu no meio da conversa, dando a entender que estava escutando atrás da porta.

—E estão achando que Eu estava com eles? – Perguntei ofendida.

—Eu a vi sair de casa secretamente e contei a minha mãe. – Stephany, que não acordava cedo, estava de pé seis e meia da manhã.

—Coincidência ou não, vi uma reportagem interessante, e achei melhor notificar William. – Disse Kristen, acariciando o ombro do ombro. –Só ficamos preocupadas com você, Stella.

—Preocupadas uma ova! – Que se dane a boa e velha educação. –Vocês duas estão tentando me incriminar! – Acusei, sob o olhar crítico de William. –Não é por que saí escondida que fiz algo errado lá fora!

—Então, por que você saiu escondida? – Perguntou Stephany. –Como iremos saber que você não estava por aí assaltando mansões? Você já fez isso antes, certo?

—Sua vaca interesseira!

Ao tentar voar nela, William impediu o ataque se posicionando entre nós.

—Não é assim que costumamos resolver as coisas por aqui.

Indignada, dei dois passos para trás. Stephany, atrás de William, se atreveu a sorrir para mim, triunfando o momento que ela tinha conseguido realmente me tirar toda a paz. Kristen, estava com a mão no peito, horrorizada, mas Eu sei que só era mais uma atuação para se mostrar indignada ao marido. Quanto a William... seu olhar repreensivo já dizia muita coisa.

—O problema da Stella é que ela não consegue ser uma pessoa civilizada. – Stephany estava mesmo disposta a me provocar. Ela já conhecia meu limite e ele era explosivo. –Foi assim que ela me encurralou na universidade.

E, com toda a certeza, qualquer um acreditaria na sonsa, diante da minha postura alterada.

—Tenho que ir trabalhar, mas teremos uma conversa séria e definitiva assim que Eu voltar. – Disse William a mim. –Mantenha-me informado sobre qualquer eventualidade nesta casa, Kristen.

—Claro que sim, querido. – Seus olhos azuis se desviaram das costas do marido. –Eu te recebo de braços abertos na minha casa e é assim que você retribui a minha generosidade?

—William e Bryan não estão aqui, Kristen. Por que você não para de fingimentos e manda a real? – Mãe e filha se entreolharam. –Vocês planejaram isso.

—Você tem provas? – Perguntou Stephany, debochada. –Não somos suas inimigas, Stella, mas a verdade é sempre a verdade.

—O que Stephany está tentando dizer é que não é correto fingirmos que não estamos vendo os seus erros e isso é muito bom por que é um sinal de que nos preocupamos com você.

—Se preocupam tanto que trataram logo de encher a cabeça de William de suspeitas contra mim! – Rebati.

—Ora, menina! Como sua madrasta me sentir na obrigação de dizer a meu marido, o seu pai, que você não estava em casa e que talvez estivesse correndo perigo! – Ela não cansava de atuar. –E, como senhora dessa casa, é meu dever proteger a minha família!

—Por que não protege essa família de você mesma? – Sugeri alcançando um porta-retratos, da família que ela declarava defender com unhas dentes. –Se você não estivesse tão obcecada com status perceberia que o seu marido é um homem infeliz!

—Como se atreve?

—Ah! Eu me atrevo! – A confrontei, como Eu já previa que esse dia chegaria. –E Stephany... – A loira estava ao lado da mãe, com seus olhos desafiantes. –Você pode ter uma filha bonita e popular, mas a treinou para ser somente isso e nada mais! – Os ânimos não poderiam está mais alterado. –Você trata o Bryan como um homem cansado e estressado, exatamente como trata William, e acha que um casamento ‘arranjado’ é a melhor opção para ele, mas, para a sua informação, isso nunca passou pela cabeça do Bryan! Ele sequer ama essa tal de Grace e Eu sei disso por que ele mesmo me contou!

—Está dizendo isso por que você está apaixonada pelo meu irmão! – Stephany também aguardou o momento certo para me bombardear. –Achou que Eu não percebi toda a sua aproximação?

—Apaixonada? – Indagou Kristen, misturando surpresa e risos. –Menina, você só pode está louca! – Não contente, ela gargalhou na minha cara. –Olha só para você! – Apontou para mim, ridicularizando todo o conteúdo de nome: Stella. –A troco de que você foi se apaixonar pelo meu filho? – Os risos continuaram. –Não me diga que você chegou a pensar que um dia Bryan a corresponderia! – Ela pôs as mãos nos meus cabelos bagunçados e tentou ajeitá-los. –A única coisa que faria um homem como Bryan se interessar por você é a fortuna que você talvez herde de William, entretanto, já está em testamento que Bryan herdará todo o império Griffin, assim sendo, você nunca terá chance de conquista-lo!

Ódio e desprezo me atingiram de uma só vez.

—Bryan não merece ter uma mãe como você!

—O que ele não merece é ser babá de uma bastarda metidinha a esperta! – E, finalmente, Kristen estava tirando a máscara e se revelando como ela realmente era. –Você não tente me afrontar por que Eu passarei por cima de você, sem pensar duas vezes!

—Isso é uma ameaça? – Provoquei.

—Entenda como você quiser! – Ela me olhou nos olhos, friamente. –Eu batalhei muito para chegar onde cheguei e não vou permitir que você destrua a minha vida!

—Se destruir estiver relacionado ao meu laço sanguíneo a William e, por lei, herdeira legítima dele, Eu vou destruir a sua vida com certeza! – Era a minha vez de fazer promessas mirabolantes a ela. –E fique sabendo que não é impossível Bryan se apaixonar por mim, Eu diria que fazê-lo me amar seria uma tarefa muito fácil!

—Não se atreva a arruinar a vida dele também!

—Eu o salvaria da ruína! – Stephany assistia às ameaças ao lado da mãe, engessada pelo ódio. –Você me lançou desafios, Kristen; desafios que um dia seria inevitável não enfrentar.

Ela sorriu maliciosa e doentia. O rosto da bela mulher de olhos azuis e cabelos dourados tinha se fechado em ira e maldade. Vê-la cuspir palavras envenenadas e se mostrar disposta a me tirar daquela casa me causou arrepios que Eu nunca havia sentido antes.

—Você não faz ideia aonde está se metendo!

Mantive a pose determinada até ver mãe e filha se embrearem no quarto. A sóis com os arrepios na espinha e devaneios conflitantes, me encostei à parede, levei as mãos ao rosto, e respirei fundo, como se há qualquer momento Eu fosse morrer. Passado algum tempo, rebobinei todo o conflito que tive com Kristen, e não achei outra saída a não ser enfrenta-la. Não seria certo envolver a minha mãe naquela batalha. Ela tinha um casamento para cuidar e filhos para criar. Além do mais, Eu a enfrentei para ir morar com William, logicamente, cabia a mim resolver meus problemas. William estava mais próximo, porém distante. Com ele Eu não poderia contar, abertamente, já que Kristen e filha tinham dado um jeito de jogá-lo contra mim. E, mesmo se Eu contasse todas as ameaças que Kristen me fizera, ele não acreditaria. Àquela altura, Eu era a causadora de atritos e a desmiolada metida a rebelde. Só me restava Bryan, que estava prestes a ser traçado pelos planos ambiciosos da mãe. Mas, com tudo, ele também estava em outra atmosfera, qual Eu estava sendo impedida de explorar. No entanto, Eu tinha a leve certeza de que Eu poderia manter um ciclo genuíno com o enteado do meu pai, mesmo que fosse para amá-lo com tudo o que Eu tinha. Não era um desafio, como Kristen havia entendido, era algo que Eu poderia alcançar, por méritos de uma amizade que acabou crescendo sem ter nada em troca.

*Fim da primeira temporada*