Delirium escrita por Karina A de Souza


Capítulo 26
Liberdade


Notas iniciais do capítulo

Olá.



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—Hey, Ludmille, se perdeu?-Me virei, era Damon. Stefan, ao lado dele, riu.

Não era uma lembrança. Talvez fosse um sonho, por que eu estava com uns treze anos. E não me lembrava disso ter acontecido. Olhei em volta, era o jardim da antiga mansão Salvatore, devia ser Primavera, por causa das flores.

—Por que estamos aqui?

—Você costumava ser feliz aqui, lembra?-Damon perguntou. -Foi antes das coisas ruins acontecerem. Não é?-Assenti. -Aposto que vocês dois não conseguem me pegar. -Sorri, esse era o Damon que eu conhecia.

Ele estava certo em parte. Eu era feliz naquele tempo. Era antes do meu pesadelo particular começar. Um tempo onde eu ainda era uma criança inocente e o peso da sociedade não era tão grande.

No século 21, as mulheres tinham seu espaço e sua voz, em parte. O machismo de merda ainda existia. Mas no meu tempo... Bem, no meu tempo as mulheres nem sonhavam com a verdadeira liberdade. Era algo inalcançável.

A Ludmille de agora, adulta, não era livre. Não ainda. Não quando não conseguia controlar sua própria mente. Mas eu sentia a diferença entre as épocas. A sociedade não estava mais falando no meu ouvido. Eu não ouvia: “Case-se com catorze anos”. “Tenho muitos filhos ou será devolvida por seu marido”. “Aperte esse espartilho, não importa se você não consegue respirar”. “Quem quer saber se você é uma criança? Você tem obrigações com seu marido”.

Eu ainda não era livre. Mas um dia seria.

—Algum problema?-Damon perguntou, se aproximando. Eu não tinha notado que havia parado de correr. -Lud?

—Estava só pensando.

—Você pensa muito. -Sorri.

—E você pensa de menos. É um cabeça oca.

—Não sou, não, bruxinha dos olhos grandes e da língua afiada.

—Damon, não me chame assim!-O empurrei, ele riu e me empurrou de volta.

—B-R-U-X-I-N-H-A!

—Eu vou te bater!-O empurrei mais uma vez.

—Você bate como uma garotinha.

—Eu sou uma garotinha, seu projeto de machista. Isso não me faz menos do que você.

—Tenho pena de quem dizer o contrário. Já senti a sua ira, bruxinha.

—Damon!-Começou a correr, suspirei e corri atrás dele.

Eu tinha me esquecido o quanto achava isso divertido e de quanto sentia falta de ser criança.

Perdi Damon de vista, então diminui até parar.

—Salvatore, volta aqui. -Mandei, colocando as mãos na cintura. -Você não vai me assustar. Esses truques não funcionam mais comigo.

—Certeza?-Me virei para encará-lo, então meu sapato engatou na parte de trás do vestido e eu fui pro chão. -Opa. -Riu. -Já reparou que você sempre está caindo?

—São esses vestidos idiotas. Ajude-me a levantar. -Estendi a mão. Ele suspirou e tentou me puxar, mas usei toda a força que tinha para derrubá-lo.

—Ludmille!

—Ri agora, idiota. -Sorriu.

—Fecha os olhos.

—Não. Eu não confio em você. -Suspirou de novo.

—É, você tem razão. Já aprontei demais, não é?-Virou de lado para me olhar. -Mas você não me odeia, odeia?

—Não. Tivemos nossos desentendimentos... Você quase me transformou em churrasco... Mas agora... Agora você é um amigo. Ou talvez mais que isso. -Sorriu e olhou pro céu.

—Quer correr até o lago?

—Com certeza.

***

Acordei me sentindo ótima. Talvez tivesse algo relacionado com meu sonho, que não tinha sido apenas um sonho, afinal, Damon estava adormecido ao meu lado. Bati no ombro dele, despertando-o.

—Obrigada. -Sorriu.

—Quando precisar.

Damon sugeriu uma continuação da comemoração por causa da partida de Klaus, mas eu queria colocar minhas séries em dia, então recusei.

Quase não vi ninguém o dia todo. Stefan e Elena passaram rapidamente pela sala, parecendo ocupados com alguma coisa, mas não me ocupei em perguntar, afinal minha série estava ótima.

Bonnie ligou na parte da tarde, perguntou se eu estava bem, então desligou, me deixando totalmente confusa.

—Tem algo acontecendo?-Perguntei, quando Damon se jogou ao meu lado no sofá. Já tinha anoitecido.

—Coisas sempre acontecem.

—Pela resposta, você sabe e não quer me contar. É outro cheio de segredos.

—Eu não sei de nada. -Decidi não responder. -Ei, eu gosto desse cara.

—Lúcifer Morningstar. Ele me lembra você. -Sorriu.

—Quer ser a detetive Decker?-Ri. O celular dele vibrou, fazendo seu sorriso sumir.

—Que foi?

—Ah... Nada. -Leu a mensagem e ficou de pé. -Nós temos que ir.

—Nós? Aonde? Bem agora? Esse episódio está maravilhoso...

—Sim. Nós. Agora. -Revirei os olhos e desliguei a TV.

—Pode pelo menos me dizer pra onde e por que?

—Quando chegarmos você entenderá tudo. -Suspirei, ficando de pé.

—Tudo bem, vamos, senhor mistério.

***

Eu sabia que tinha alguma coisa séria rolando. Isso se confirmou quando Damon e eu chegamos na casa das bruxas mortas e encontramos o resto do grupo: Stefan, Elena, Bonnie, Caroline e Matt.

—Tudo bem, quem vai me explicar o que está acontecendo?-Perguntei, olhando de rosto em rosto.

—Eu. -Bonnie disse, se aproximando. -Não sei como dizer isso de outra forma, então vou ser direta. As bruxas te amaldiçoaram, Ludmille. A Noiva de Sangue foi criada a partir dessa maldição. Elas fizeram isso para puni-la depois que matou seus pais. Te amaldiçoaram com a loucura. A névoa negra, Robert, seus pais... Eles só existem na sua cabeça.

—Mas Robert me atacou.

—Você fez aquilo consigo mesma.

Imagens rápidas dos ataques passaram na minha cabeça, mas os ataques reais: eu socando a janela, enfiando o atiçador de fogo no meu próprio peito...

—Não... -Cobri a boca com a mão, tentando conter o choro.

—Quando viemos aqui na outra vez, as bruxas disseram que o sangue que mancha as suas mãos, mancha a de outras pessoas... As delas. Agora acham que foram longe demais, mas acreditam que você mereceu ser punida.

—Por que isso tudo ficou mais forte quando voltei pra cá?

—Por que é onde a maldição foi lançada. -Fez uma pausa, respirando fundo. -Eu posso quebrar a maldição.

—Pode?-Estendeu as mãos.

—Quando estiver pronta.

Dei alguns passos na direção dela, hesitante, e segurei suas mãos. Uma parte minha queria que aquilo fosse feito logo. A outra, tinha medo.

Bonnie fechou os olhos e começou a sussurrar alguma coisa que eu não entendia. Senti uma onda de choque irradiar das palmas dela, passando para o meus braços e então para o resto do corpo. Não era uma sensação ruim, mas de repente uma mão invisível arrancou algo de dentro de mim e eu cambaleei, solta por Bonnie.

Damon se apressou em me segurar.

—Ludmille? Você está bem? Ludmille?

Pisquei algumas vezes, do nada o mundo parecia tão diferente...

—Eu me sinto... Leve. -Me soltei de Damon. -Como se... Como se antes houvessem pesos e correntes em mim e agora... Agora estou... Livre. Livre. -Comecei a rir e a chorar. Nunca tinha me sentido assim antes. -Estou livre! Livre! Obrigada, Bonnie. -A abracei, pegando-a de surpresa. -Obrigada.

—Isso pede uma comemoração!-Caroline exclamou, animada.

—A primeira rodada é pela conta do Mutt!-Damon gritou. O garoto revirou os olhos. -Todo mundo para o Grill!

***

Me sentei no jardim, vendo o vestido de noiva queimar. Finalmente estava me livrando daquela coisa horrível, do símbolo de anos de tortura nas mãos de Robert e do reinado da Noiva de Sangue.

Agora, definitivamente, eu estava livre, era oficial.

Não sei se era apenas coisa da minha cabeça, mas o mundo todo parecia diferente. Quase como se eu fosse outra pessoa e talvez fosse. Não havia mais a escuridão do passado presa em mim.

Meu celular vibrou, o tirei do bolso, era uma ligação de um número desconhecido. Atendi.

—Alô?-Sem resposta, apenas uma respiração ruidosa. -Eu vou desligar...

—Espere. -Era Katherine. Havia algo errado. -Lud... Preciso de você.

—Desculpe, Kath, mas prefiro manter distância.

—Por favor. -Franzi a testa. Katherine Pierce estava me pedindo por favor?-Eu não quero morrer sozinha.

—Me passe o endereço. Estou indo.

***

Nem bati na porta, apenas entrei no quarto do motel barato. Realmente, eu não conseguia imaginar Katherine indo parar num lugar assim, mas quando a vi na cama, parecendo doente, entendi que estar ali não era escolha e sim necessidade.

—O que aconteceu?-Perguntei, me aproximando. -Você está...

—Morrendo. Humanos e suas doenças idiotas. -Franzi a testa. -Olhe pra mim, Lud. Eu sou humana.

—Como isso aconteceu?

—Você só precisa saber que... -Tossiu. -...que aconteceu.

—Posso te levar até um hospital. Vi um no caminho pra cá, só vai levar uns cinco minutos...

—Não. Eu não quero.

—Kath...

—Me leve pra fora. -Apontou para uma porta de correr. -Dá pra ver o mar dali.

—Tudo bem.

Como ela não conseguia andar, a carreguei pra fora, sentando-a numa espreguiçadeira de frente para o mar. Era uma vista linda, com a lua refletida na água.

—Obrigada por vir. -Agradeceu, me sentei ao lado dela, que encostou a cabeça no meu ombro. -Eu não queria ficar sozinha. Mas não sabia se você viria. Estava zangada comigo.

—Sim, mas você foi uma grande amiga. Você cuidou de mim e ficou ao meu lado quando eu não tinha mais ninguém. Salvou minha vida. Serei eternamente grata, mesmo depois de tudo.

—Me desculpe. Desculpe por abandonar você. Estava fugindo do Klaus... Estava com medo... Não queria te deixar. Juro, juro que aqueles planos que fiz para nós eram reais. Se eu não tivesse sido egoísta e medrosa, teria sido tudo diferente. Me desculpe.

—Está tudo bem. -Tirei uma mecha de cabelo do rosto dela. -Não importa. -Hesitei. -Tem certeza que não quer ir há um hospital?

—Sim. -Tossiu mais uma vez. -É hora do show da Kath acabar. Eu só quero pedir duas coisas. Você pode fazê-las? Por favor.

—Me diga. -Respirou fundo.

—Leve... Leve meu corpo para minha cidade natal, na Bulgária. Eu deixei instruções de como chegar lá.

—Eu farei, prometo. Qual é a outra coisa?

—Há uma carta, na gaveta onde... Onde as instruções estão. Precisa enviar essa carta. Tem instruções quanto a isso também.

—Para quem é a carta?-Suspirou.

—Alguém que eu devia ter procurado antes. -Fez uma longa pausa. -Me sinto exausta.

—Então feche os olhos e relaxe.

Eu não conhecia aquele lugar. Uma mansão grande e imponente se erguia nos fundos do belo jardim. Katherine, com um vestido verde, parecia encantada.

—O que acha daqui?-Perguntou. -É lindo, não é?

—Onde estamos?

—Bulgária. Era aqui onde iríamos morar depois de sair de Mystic Falls. Tem uma fonte ali. -Apontou. -Você gostava de fontes, lembra? E um grande jardim, onde Stefan e Damon iam poder praticar seus amados esportes. Há muitas flores, na Primavera ficaria tudo florido... Como numa pintura. -Apontou para as árvores. -Tem uma trilha por ali que leva até uma cachoeira gigantesca. É maravilhoso. -Suspirou. -Seríamos tão felizes... Obrigada por me trazer aqui de novo.

—De nada. -Tentei engolir as lágrimas. -Katherine, eu...

O sonho se desfez. Ela estava morta.

—Adeus, Katerina Petrova.


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Notas finais do capítulo

Sim, o vestido queimou dessa vez, afinal, a maldição acabou. Alguém tinha imaginado que podia ser uma maldição ou vocês tavam imaginando que a Lud era doida?
E a Kath partiu dessa pra melhor... É isto.
Até o próximo. Estamos mais perto do fim agora.



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