Delirium escrita por Karina A de Souza


Capítulo 19
1940


Notas iniciais do capítulo

Olá.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/767601/chapter/19

—Ludmille Morgan. Creio que você sabe que é educado bater antes de entrar. -Klaus sorriu.

—Eu estive pensando muito sobre o que aconteceu ontem. Você teve a enorme oportunidade de me matar, mas me salvou. Pensei em inúmeras explicações e cheguei apenas em uma.

—Gostaria de compartilhar?

—Você apenas fez isso, me envenenar e depois me curar, por que podia. Por que você gosta de brincar de Deus, ou diabo, combina mais com seu caso. Você gosta de esfregar na cara dos outros que tem poder. E é isso que te faz tão desprezível.

—Corajosa. Mas até quando?

—Espera pra ver. -Me virei para sair.

—Você não me perguntou se está certa. Talvez haja um motivo bem mais convincente.

—Klaus, me faça um favor. -Olhei pra ele. -Pegue esses seus joguinhos e enfie bem naquele lugar. -Apenas riu.

Continuei andando, sem olhar para trás.

***

—Às vezes eu acho que você perdeu a sua sanidade. -Damon contou, me entregando um copo de bebida e sentando ao meu lado no sofá. -Klaus podia ter feito picadinho de você em dois segundos.

—Ele me irrita! Eu não sei... Ele desperta o pior em mim. Toda vez que eu vejo aquele sorrisinho dele, tenho vontade de bater sua cabeça na parede. Nem você me deixa assim.

—Que bom. -Sorriu.

—Você é um idiota.

—Ainda assim, não quer me matar.

—Talvez queira, mas você não sabe. -Franziu a testa. Sorri

—Agora estou preocupado.

—Engraçadinho. Você foi um babaca quando nos reencontramos. Mas... Depois... Você não foi tão ruim. -Terminei minha bebida num gole e deixei o copo no chão. Não queria ficar bêbada o suficiente pra fazer uma besteira... Tipo ir atrás de Klaus. -Sei que teve um motivo para agir daquele jeito e que não vai se desculpar.

—Quer que eu me desculpe?

—Não, você deve ser alérgico a isso e pode ter uma crise feia.

—Quem é que está fazendo graça agora?-Virou o copo e foi atrás de outra dose.

—Damon, quer me contar alguma coisa?

—Por que acha isso?

—Você ficou estranho.

—Eu sou estranho. -Fiquei de pé e me aproximei.

—E não está olhando pra mim.

—Está tendo uma crise de paranoia?

—Talvez. Me tornei um pouco paranoica com o passar dos anos.

—Então está pronta para fugir do Klaus. -Sorri.

—É. Eu estou.

***

—Entra. -Empurrei a porta e entrei no quarto. Elena tirou os olhos do celular e me encarou. -Ah. Oi.

—Eu queria... Pedir desculpa.

—Eu já a desculpei, Ludmille. -Largou o celular na cama e se aproximou. -Lembra quando falei com você na sala? A desculpei de verdade. Não falei aquilo por que você estava morrendo. Falei por que era verdade.

—Eu não devia ter feito aquilo. Eu sabia que você nunca quis se transformar e mesmo assim...

—Mesmo assim você me salvou. Não vou mentir: não quero ser isso que sou agora. Mas entendo por que você o fez.

—Obrigada. Eu realmente lamento. -Lembrei de algo que Damon disse. -Elena, eu comecei o fogo na igreja?

—Sim. Mas você estava delirando. Não foi intencional.

—Queimou tudo?

—Uma boa tarde. Quando Klaus tirou você da igreja e Damon saiu atrás, algumas pessoas vieram e começaram a tentar apagar o fogo. -Cobri a boca com a mão. -O único culpado por isso é Klaus. Ele causou tudo isso.

—E nós não temos como matá-lo.

—Se Elijah não tivesse desaparecido...

—Elijah? O esquisito que me sequestrou?

—Acredite ou não, ele estava colaborando com a gente... Até ir para o lado do irmão e sumir.

—Talvez esteja morto agora.

—Ainda acho que vamos vê-lo de novo. Sabia que Elijah perguntou de você quando você saiu da cidade? Caroline acha que ele está interessado.

—Em mim? Elena, eu sou como uma boneca quebrada, que só repele as pessoas.

—Coisas quebradas têm conserto.

—Eu não. Nem tudo pode ser consertado.

***

Quando Damon disse “Nós temos um problema”, naquela manhã, eu não podia imaginar o que era, nem na confusão que aquele problema ia trazer.

Stefan tinha desligado sua humanidade.

Eu entendia o fato de alguns vampiros fazerem isso. Geralmente havia muita dor envolvida, perdas e medo. Mas Stefan? Por que ele desligaria?

Entrei na mansão de Klaus como um furacão. Ele queria me matar? É, ele queria. Acontece que ele não ia simplesmente trazer o pior lado de um vampiro a tona... Em Stefan Salvatore.

—O que está fazendo aqui?

—Vim te levar para casa, idiota. -Respondi. -E no caminho, trate de ligar sua humanidade ou vou te dar uma surra.

—Justo você fazendo esse discurso?-Me virei, Klaus estava sorrindo.

—Não entendi o comentário.

—Onde estava nos anos quarenta?

—Stefan, vamos embora.

—Em Washington? Com dois amigos vampiros? Sem humanidade?

—Não faço ideia do que está falando. -Se inclinou para frente.

Lembre-se.

Então estava tudo lá. Diversas memórias escondidas.

Sangue; um bar em Washington; festas com muita bebida; dois estranhos se aproximando de mim; risadas; jogos; caçadas...

—O que você fez?-Sussurrei, recuando.

—Agora você se lembra, não é? Encontrou Stefan e eu na década de 40. Estava sem humanidade. Fica bem mais divertida assim, se quer saber. -Olhei para Stefan, por cima do ombro.

—Você nunca disse nada.

—Você não me reconheceu. -Retrucou, dando de ombros. -Decidi não falar nada. -Voltei a encarar Klaus, que continuava sorrindo.

—Está adorando isso, não está?

—Podemos conversar mais sobre o assunto quando desligar suas emoções. -Disse. -Stefan e eu estamos de partida, é bem vinda se quiser se juntar à nós.

—Nunca. -Comecei a ir embora.

—Isso já aconteceu antes. A Noiva de Sangue adorou nossa companhia.

—Não me chame assim. -Me virei. -Repita isso e eu...

—Fará um massacre? Ela era boa nisso, não é, Stefan?

—Para! Aquela coisa não era eu!

—Não. Era uma versão melhor de você.

—Vai pro inferno.

Aí eu saí correndo.

***
—Pelo jeito, a conversa não foi boa. -Damon disse. Ergui a cabeça. -O que aconteceu?

—Eu tô surtando. -Limpei o rosto com a mão, secando as lágrimas.

—O que foi?

—Tem memórias na minha cabeça, que de algum jeito eu bloqueei. Memórias de 1940.

—E o que aconteceu nesse ano?-Engoli seco, hesitando.

—Eu desliguei minha humanidade... E me envolvi com Klaus Mikaelson.

—Se envolveu como?-Recomecei a chorar.

—Eu não quero me lembrar disso. Eu não quero, não quero...

—Ludmille. -Sentou ao meu lado.

—Eu era um monstro, Damon. E agora Klaus está tentando despertá-lo. E se acontecer... Você precisa me parar. Prometa. Prometa que vai sufocar o monstro.

—Eu prometo.

***

—Muito interessante. -Me virei. O homem estava sorrindo. Atrás dele, outro, que parecia mais jovem, olhava em volta.

—O que é interessante, senhor?-Perguntei.

—Você não usa compulsão para atrair as vítimas. -Sorri. -É um pouco incomum.

—Se me pagar uma bebida, eu explico o por que da preferência.

—Então tudo bem.

—Ludmille Morgan. -Estendi a mão, ele a pegou, beijando a parte superior.

—Klaus Mikaelson. Esse é Stefan Salvatore.

—Olá, Stefan.

Subimos até a área especial. Pouco depois estávamos sendo servidos.

—Acho que pode começar, senhorita Morgan. -Klaus disse.

—Ludmille. -Corrigi. -É melhor. Acho que seduzir as vítimas é mais divertido. Os humanos naturalmente se sentem atraídos por vampiros. Só me aproveito disso. Devia tentar.

—E quando não funciona?

—Nunca falhei nisso, mas caso aconteça... Recorra à compulsão. Não é tão divertido, mas se podemos usar, por que não fazê-lo?

—Há quanto tempo está em Washington?-Stefan perguntou.

—Dois anos. Vocês chegaram agora?-Assentiram. -Então fiquem por perto. Sei onde há diversão por aqui, se planejam ficar.

—Não perderíamos isso de maneira alguma. -Klaus disse.

—Então sejam bem vindos.

***

—Admito, seu jeito de fazer as coisas é mais divertido. -Klaus confessou, se encostando na cabeceira da cama. Soltei o braço do garoto entre nós.

—Eu avisei. Bem, ele está morto. -Empurrei o corpo, derrubando-o no chão.

—Então você seduz homens sozinhos, os embebeda e os mata.

—Exatamente.

—Só não entendi uma coisa. -Joguei o cabelo para trás.

—Diga.

—Por que o vestido de noiva?-Olhei pra mim mesma e voltei a encará-lo, rindo.

—Eu não sei. Acho que é como uma tradição estranha. Não posso evitar. Não consigo evitar.

—Você é incomum. -Me inclinei na direção dele.

—Isso é ruim?

—Não. -Se aproximou. -É ótimo. -Então me beijou.

***

—Acho que estou atrapalhando alguma coisa. -Stefan disse, cruzando os braços.

—Na verdade não. -Avisei, me sentando e usando a coberta como um escudo. -Você está convidado para o segundo round. -Klaus riu.

—Vou deixar passar.

—Okay. -Fiquei de pé. -Se me dão licença, preciso me arrumar para a festa de hoje a noite.

—E o segundo round?-Klaus perguntou.

—Nós iremos juntos à festa, não vamos?-Assentiu. -Então não se preocupe. Teremos muito tempo...

***

—Você está... Miserável. -Encarei Klaus, furiosa.

—O que está fazendo aqui?

—Vim ver como está reagindo à... Sua redescoberta de si mesma.

—Está adorando isso, não é?-Fiquei de pé.

—Estou. Sabe que se desligasse sua humanidade, não se sentiria mal sobre o assunto.

Nunca. Ouviu bem? Precisa que eu repita? Nunca. Pode ter feito Stefan se desligar, mas isso não vai acontecer comigo.

—Já aconteceu antes. -Agarrei a primeira coisa perto de mim (uma garrafa de whisky, Damon me mataria quando soubesse) e a lancei. Klaus desviou com facilidade, sem tirar o sorriso do rosto.

—Pode brincar de “melhor amigo” com Stefan, por que logo vou trazê-lo de volta e você ficará como sempre ficou: sozinho. -Assentiu, colocando os braços atrás das costas.

—É muita determinação para alguém tão instável.

—Vá embora!

—Como quiser.

***

—Vocês não sabem ser discretos, sabem?-Stefan perguntou, se aproximando. -Além de estarem se agarrando no corredor, do lado de fora, você está parecendo um personagem de filme de terror. -Sorri.

—Eu gosto disso. -Klaus comentou, tocando a saia do meu vestido. -É... Diferente.

—Tudo bem. O que estamos fazendo aqui fora?

—Também queria saber.

—Tenho uma surpresa. -Avisei, destrancando a porta.

—O que está armando?-Sorri.

—Entrem e descubram.

***

—Uma festa de despedida. Significa que não irá conosco.

—Eu tenho coisas a fazer. -Disse, os braços em volta do pescoço dele. -Você e Stefan vão se divertir sem mim. -Algo bateu no meu pé, a cabeça de uma das garotas que eu “trouxe” para a festa. -Stefan com certeza vai se divertir sem mim.

—Ele, sim. -Olhei para Klaus.

—Vai sentir minha falta?

—Você sentiria a minha?

—Eu não sinto nada, você sabe.

—Bem, é uma pena. Vamos.

—Aonde?

—Ter nossa própria despedida...

***

Eu sentia um aperto estranho no peito. Tinha algo errado, uma sensação ruim correndo dentro de mim. Abri os olhos e não reconheci o quarto. Me sentei, apenas para perceber que estava nua.

Um movimento atrás de mim me fez saltar da cama, agarrando uma coberta para enrolá-la em volta de mim.

—Ludmille, o que está fazendo?-O homem perguntou.

—Quem é você?-Riu.

—O que? É algum dos seus jogos?-Ficou de pé. Desviei o olhar. -Ludmille?

—Quem é você e o que fez comigo?

—Você está com medo. -Murmurou, como se isso fosse muito estranho. -Ligou sua humanidade.

—Eu não a desliguei. -Franziu a testa.

—Não se lembra de mim, nem de Stefan?

—Stefan Salvatore?-Se aproximou, colocando as mãos no meu rosto. -Sai de perto de mim.

—Vou soltá-la assim que terminar. Esqueça...

***

—Ludmille, hey!-Me virei, era Gustav. -Está partindo ou chegando?

—Partindo. -Coloquei as malas no chão. -Washington... Não parece mais tão interessante.

—Jura? Pra onde vai agora?

—Não sei. Algum lugar... Longe. Talvez Portugal.

—Vou pegar minhas coisas.

—O que?

—Eu vou você. -Sorri.

—Tudo bem, mas seja rápido. Por algum motivo desconhecido, eu quero sair daqui o mais rápido possível.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Treta como sempre... E pode piorar.
Mais vampiros desligando suas humanidades pode significar problemas para Mystic Falls.
Até mais.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Delirium" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.