Recobrando a consciência aos poucos, sentia a sensação de estar flutuando. Não conseguia abrir os meus olhos para olhar ao redor, estavam pesados demais para isso. Senti braços me segurando, tão apertado que quase me sufocavam, não me incomodavam, pelo contrário eu me sentia segura, imaginando que era Igor quem me carregava. Não sei por quanto tempo eu tinha ficado desacordada ou onde eu estava, mas continuava sentindo os braços ao meu redor, resolvi ficar quieta. Tentei lembrar o motivo de ter desmaiado, péssima ideia, lembranças de minha conversa com Kate começaram a surgir: “Essa é outra questão do seu passado Alice, creio eu que você e seu irmão já foram apresentados, seu nome é Igor Wilson”. Lembrei do homem de olhos negros e o que ele tinha feito com Kate. Lembro de ter jogado Igor pro lado para protege-lo. “eu faço qualquer coisa para salva-la” Igor, cadê ele? O que aconteceu com ele? Esperei mais alguns segundos e resolvi abrir os olhos, outra péssima ideia, já que a claridade do lugar fez a minha cabeça doer, me fazendo resmungar, alto o suficiente para o meu protetor escutar e parar de andar. Virei o rosto de encontro ao seu peito, para que assim eu tenha uma certa cobertura ao abrir os olhos. O mais devagar possível, abri meus olhos, piscando até me acostumar com a luz e olhei para cima. Para minha surpresa, não era o Igor me carregando, e sim um muro em forma de homem. Não consegui identifica-lo, mas ainda assim desviar o meu olhar dos dele era impossível. Seus olhos verdes, parecendo duas esmeraldas me encaravam. Suas feições sem demonstrar nenhum sentimento. Senhor, que homem lindo. Ouvi alguém me chamar, mas não consegui distinguir a voz, a beleza estampada naquele rosto me prendeu. Por curiosidade desviei o olhar e percebi que eu tinha plateia.

Cerca de 10 homens nos encaravam, Kate e Igor também estavam no meio. Olhei para o Igor em busca de ajuda, quando percebi que ele me encarava com olhos semicerrados, olhei novamente para o meu protetor.

— Poderia me colocar no chão? Por favor! – pedi. Achei que estava bem o suficiente para caminhar sozinha. Só achei mesmo, pois no mesmo instante em que meus pés tentaram se fixar no chão, minhas pernas não aguentaram o meu peso e se não fosse pelo meu protetor loiro e másculo eu teria caído de cara no chão. Me pegando novamente no colo, o desconhecido falou no meu ouvido:

— Bom, agora eu tenho uma desculpa para mantê-la em meus braços. – baixo o suficiente só para eu escutar. Olhei para ele sem entender muito bem. Me aconchegando em seus braços ele voltou a andar.

Fiquei o resto do caminho estranhamente quieta, várias perguntas surgiam na minha cabeça e para todas elas eu não tinha uma resposta, não sabia o que tinha acontecido, onde eu estava, com quem eu estava, quem era o meu protetor, se eu veria novamente a minha amiga, se minha vida voltaria ao normal, se tudo isso não passava de uma brincadeira de mal gosto, se iria acordar desse sonho maluco.

Cansada de brincar de jogo do adivinho, frustrada por não saber onde essa história ia parar, soltei um suspiro profundo. Estava tão absorta em meus pensamentos que não percebi que estava sendo observada por duas esmeraldas. Depois do que pareceu ser uma eternidade, o grupo parou de andar, sem sentir vontade alguma de olhar ao redor, continuei a encarar a roupa branca do meu protetor até ouvir a voz de Kate se pronunciar.

— Katharina Vaz, protetora do Templo Sagrado de Montebello e Conselheira Real, junto com os guerreiros Capa Branca e as Majestades, príncipe Igor Castiel e princesa Alice Castiel – Castiel? Esse não era o meu sobrenome. Ouvi um barulho de portas de metal rangendo e depois um baque. O grupo começou a andar novamente. Continuei encarando o pano branco a minha frente, estremeci pensando que minha vida nunca mais seria a mesma. Senti um aperto ao redor de mim e olhei para cima.

— Não precisa ter medo, eu não deixarei que nada aconteça com você.

— Obrigada pela proteção, mas quem é você? – foi o único pensamento que me ocorreu.

— Meu nome é Alexandre Vaz, Capitão da Guarda Capa Branca, ao seu dispor.

— Prazer em conhece-lo Alexandre. Pode me contar onde eu estou e como eu vim parar nos seus braços? – perguntei, eu não iria surtar na frente dele. Ele sorriu, mas não disse nada. Dessa vez eu consegui analisa-lo melhor. Ele tinha lá seus 1,95 de altura, contra os meus 1,70, cabelos castanhos e longos. Olhos verdes profundos e nariz reto. Sobrancelhas grossas e bem delineadas, cílios longos e cheios, lábios carnudos e os mais perfeitos brancos dentes. Um deus Grego de primeira qualidade. Pude ver que havia uma pequena tatuagem em formato de lua na nuca.

— Apreciando a paisagem? – ele perguntou com um sorriso convencido.

— Na verdade eu estava pensando. – tentei mudar de assunto. – E Geralmente eu sou um desastre nisso, mas as teorias do quão a minha vida está preste a mudar simplesmente não me deixam em paz. Não sei quem eu sou, não sei onde estou e com quem eu estou. E como eu não quero olhar ao redor para pensar, imaginei que você não se importaria em apreciar uma paisagem bonita, que neste caso é você. – dessa vez ele riu alto o suficiente para fazer o grupo parar de andar.

— Você tem uma boquinha muito atrevida princesa. – ele olhou para os meus lábios – Eu amo bocas atrevidas.

— Acho que você já está bem o suficiente para andar – falou alguém atrás de mim. Eu não conseguia desviar meu olhar dos de Alexandre, e se eu não tivesse reconhecido a voz de Igor, não teria me importado – Capitão por favor, coloque a minha irmãzinha não chão. – a ironia na palavra “irmãzinha” me fez encolher um pouco mais no colo do Alexandre, de início eu não me importei, mas percebi o olhar ameaçador que Alexandre lançou para o Igor, para não causar intriga, pedi que me colocasse no chão e assim ele o fez.

Pela primeira vez consegui olhar ao redor, o que eu vi não me espantou tanto, sentia como se já tivesse visto aquele lugar antes. Olhei fixamente para as pessoas ao redor, de imediato eu reconheci Kate e Igor junto ao grupo de guardas. Todos, com exceção do Igor, Kate e eu estavam usando a mesma roupa que Alexandre. Olhei em direção do Igor, que estava de cara fechada, como se quisesse me dar um gelo, ele desviou o olhar para a frente, sua expressão de raiva se transformou em expressão de choque, acompanhando o seu olhar, percebi que tinha um casal sentado nos tronos a nossa frente. De imediato fiquei encantada com a beleza que o casal tinha, eu percebi uma familiaridade com eles, mas não sabia dizer exatamente qual. Analisando melhor a mulher, percebi que nós tínhamos a mesma cor de cabelo, o mesmo formato do rosto, olhos pequenos e nariz reto... então eu descobri a familiaridade em nós. Droga!