Flowers are talking and I'm silent escrita por Ariel F H


Capítulo 7
Theyna


Notas iniciais do capítulo

oi gaysss

me desculpem pela demora pra atualizar :( esse capítulo tá no meu google drive há semanas e eu ainda não sei o que pensar sobre ele

enfim, a _Milu_Hanny_ sugeriu uma theyna com a thalia trans, então aqui vai

espero que gostem ^^



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Reyna olhou para o relógio na parede pela terceira vez em um minuto. Tinha certeza que o tempo estava passando mais devagar que o normal.

Apoiou as mãos no balcão na cozinha, mordendo o lábio. Em momentos como aquele ela desejava ainda ter um maço de cigarro ao seu alcance, mas há meses não sentia o efeito da nicotina.

Ela e Thalia haviam abandonado o cigarro juntas há quase um ano, quando Thalia iniciou a terapia hormonal.

Thalia, Thalia, Thalia.

Ela deveria estar em casa há uma hora.

Algo aconteceu.

Pegou o celular no bolso. Nenhuma das mensagens que havia enviado foram respondidas. Nenhuma das ligações teve retorno.

Reyna nunca abraçou a ideia de Thalia estudar à noite. Mesmo que o caminho da faculdade até o apartamento em que dividiam fosse de apenas vinte minutos, muita coisa poderia acontecer em vinte minutos.

Além disso, Reyna estudava de manhã, o que as fazia não ter muito tempo juntas.

De qualquer jeito, Thalia não teve muita escolha: o curso que queria só era ofertado pelo campus no período noturno.

Reyna caminhou até o sofá, mordendo a ponta de um dos dedos.

Dois anos atrás, quando ainda estavam no ensino médio, Reyna costumava admirar como Thalia nunca fugia de uma briga. Pelo contrário, ela começava as brigas. Se qualquer um olhasse minimamente torto para Thalia, ela estaria pronta para dar um soco em quem quer que fosse. Aquilo era excitante na cabeça de Reyna de dezesseis anos.

Reyna gostava de ver como Thalia podia quebrar o nariz de Octavian por ele sugerir estupro corretivo à lésbicas. Ou como Thalia saia no soco com aqueles garotos que faziam comentários homofóbicos sobre o melhor amigo de Reyna. Até mesmo como Thalia colocava medo em qualquer um com o olhar.

Mas, agora, Reyna sentia medo. Não estavam mais no colegial e não tinha como saber com quem Thalia poderia encontrar no meio do caminho para casa.

Como, por exemplo, um perigo real.

Não tinha como saber se Thalia chegaria até em casa.

E aquilo machucava seu coração tanto quanto engolir arame farpado.

Reyna estava com o braço a meio caminho de pegar o celular do bolso novamente — possivelmente para enviar outra mensagem para Nico, esperando que ele a acalmasse — quando ouviu a porta ser aberta.

Primeiro, levou um susto. Depois, imagem de Thalia ali em sua frente, viva, fez o coração de Reyna se acalmar, mas assim que seus olhos se encontraram e Reyna se fez consciente do sangue escorrendo no nariz da namorada, o nervosismo e o pânico voltou.

Pela primeira vez, agradeceu pelo apartamento ser tão pequeno e precisar de apenas alguns poucos passos para ir do sofá até a porta.

Reyna se jogou nos braços de Thalia enquanto despejava todas as perguntas:

— O que aconteceu? Por que você demorou tanto? Por que não respondeu minhas mensagens? Você está bem?

— Ei, ei, calma.

Thalia apertou a cintura de Reyna, a mantendo colada em seu corpo.

Reyna se afastou minimamente, apenas para segurar o rosto da namorada com as duas mãos e olhar para aquele sangue em seu rosto.

— Eu estou bem. — Thalia disse. — Meu celular se espatifou no chão e eu não consegui mais ligar ele. Desculpa, eu...

— O que aconteceu?

Thalia deu um sorriso. O tipo de sorriso que Reyna conhecia bem.

O tipo de sorriso que, anos atrás, teria ficado empolgada e admirada de ver.

Mas agora, não.

— Só dei uns socos em um transfóbico.

— Você… Você se meteu em uma briga?

O sorriso de Thalia aumentou.

— Bem, eu dei o primeiro soco. E o último.

Reyna ficou alguns instantes em silêncio. Ela encarou Thalia. Os olhos azuis elétricos, o cabelo preto na altura do ombro com apenas uma mecha colorida.

Conhecia cada pedaço dela.

Se afastou de Thalia abruptamente, ainda olhando para ela.

— Você… — Reyna disse, de repente não conseguindo respirar direito. — Você prometeu para mim.

Sua voz saiu quebrada, triste.

Thalia piscou.

— O quê? Rey, ele disse que…

— Eu não me importo com o que e-ele disse, Thalia, você prometeu para mim.

Reyna abraçou a si mesma. Talvez ela estivesse sendo injusta. Mas, caralho, foi uma promessa.

— Ei. — Thalia sussurrou. Esticou o braço direito para tocar no ombro da namorada, mas Reyna deu um passo para trás. Thalia engoliu em seco. — Eu estou bem, ok? — ela levantou os braços para o alto, como se mostrasse para Reyna que não havia nada de anormal em seu corpo além do sangue no nariz. — Ele só me deu um soco meio ruim. É só um pouco de sangue. Nem quebrou. Ele ficou muito pior.

Thalia fez menção de se aproximar, mas Reyna se afastou mais ainda.

— Você prometeu. — ela repetiu. — Você… Você vê o quão sério é isso? Isso é só uma brincadeira? Thalia, que droga! Vo-você me prometeu que não entraria mais em brigas.

— Mas…

— Thalia.

As duas ficaram em silêncio.

Se lembrou de Nico dizendo que Reyna gostava de garotas com ar de que poderia começar uma revolução feminista armada a qualquer momento. Garotas que dariam um soco em alguém sem pensar duas vezes.

Thalia era exatamente esse tipo de garota.

Foi interessante quando eram mais jovens e inconsequentes, quando as maiores ameaças de suas vidas eram alguns garotos babacas do ensino médio. Mas agora? Agora era apenas um risco a correr.

Reyna não queria ver Thalia brigando. Queria ver Thalia segura, sem sangue algum.

Thalia não podia virar estatística.

Toda vez que via alguma reportagem sobre alguma pessoa trans assassinada ou espancada, Reyna sentia um nó no estômago.

Thalia não deveria, jamais, ser uma dessas pessoas.

— O meu pai… — Reyna disse, a voz tremendo. — O meu pai está morto. Minha mãe também. Minha irmã sequer fala comigo. Eu não posso perder você. Você fez uma promessa pra mim. Disse que ficaria o mais segura possível. Você ao menos se importa com isso?

Reyna olhou para o chão e disse a si mesma para não chorar.

Não gostava de tocar naquele assunto.

Na verdade, odiava parecer fraca. Exceto quando estava com Thalia. Nesses momentos ela era o mais honesta possivel.

Desejou ter oito anos novamente. Ainda não tinha perdido ninguém aos oito anos. Ainda não sabia como era aquela sensação vazia no peito.

— Rey. — a voz de Thalia a chamou. — Amor, me desculpa.

Reyna sentiu os braços da namorada a envolverem em um abraço aconchegante. Dessa vez, não se afastou. Apoiou o rosto no ombro dela.

— Eu não sabia que você pensava assim. — Thalia continuou. — Me desculpa. Eu estou bem. Não se preocupe.

— Como você pode pedir para eu não me preocupar?

Reyna levantou o rosto, olhando Thalia nos olhos.

— Não me peça isso. — ela disse. — Você sabe que eu vou me preocupar.

— Eu estou bem.

Thalia tirou uma mecha do cabelo de Reyna da frente de seu rosto e fez um carinho em sua bochecha.

— Um dia você pode não ficar bem. — Reyna sussurrou.

Thalia desviou o olhar.

— Eu vou… — ela murmurou, sem encarar Reyna. — Eu prometo que não vou mais fazer isso.

— Eu já ouvi isso antes.

Thalia voltou a encará-la.

— É só que… Eu não tinha percebido como isso te afetaria tanto.

Reyna engoliu em seco.

— Eu amo você, Thalia. É óbvio que isso me afeta. E muito.

Thalia puxou Reyna para mais perto de si, a fazendo apoiar o rosto em seu ombro novamente.

— Me desculpe. — ela disse para Reyna. — Eu prometo que vou me cuidar. Eu também amo você. Muito.

Reyna apenas aproveitou o som daquelas palavras e o calor do corpo de Thalia contra o seu.

Ela refletiu, por um instante, que talvez não fosse justo pedir para Thalia não reagir quando a chamassem daqueles nomes horríveis que algumas pessoas a chamavam quando tomavam consciência de que Thalia era uma mulher trans.

Mas, se teve uma coisa que Reyna aprendeu, foi que, às vezes, o melhor era tomar conta de si mesma, da própria integridade física, é não reagir.

Mais do que tudo, desejou poder criar um mundo seguro — tanto físico quanto psicologicamente —  para Thalia viver.


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