— Você está melhorando.— Nico disse, mesmo que não fosse inteiramente verdade.

— Luce.— Will repetiu, pela terceira vez.

Nico deu uma pequena risada. A pronúncia de italiano de Will era, no mínimo, desastrosa.

— Quase. — Nico o incentivou. Ele puxou Will pela nuca e deu um beijo rápido em seus lábios, se afastando logo em seguida. — É Luce. Lembra da pronúncia do C? Como em Ciao.

— Isso é difícil. — Will respondeu, apoiando as mãos nas coxas de Nico e causando um pequeno arrepio em seu corpo. — Italiano é difícil. Eu nunca vou conseguir.

— Você é tão dramático. Você consegue dizer Ciao.

— Ciao.

— Will. — Nico riu. Aquilo era ridículo, mas divertido ao mesmo tempo. Seus rostos estavam pertos, então Nico não precisou se mover muito para beijá-lo novamente. —  É Ciao. Você falou certo mais cedo.

— É fácil pra você. — Will resmungou, se aproximando para colar seus lábios novamente. — Nasceu na Itália.

— Mas eu falo inglês perfeitamente. É a mesma coisa.

Will murmurou algo incompreensível em resposta e continuou a beijar Nico

Em teoria, eles não deveriam estar sozinhos na enfermaria.

Nico deveria estar no chalé de Hades. Já passava da meia noite, afinal. Além disso, deveria haver pelo menos mais dois curandeiros ali, para o caso de alguma emergência ou algo do tipo, mas, desde que toda a bagunça com Gaia e, logo depois, com Apolo, foi resolvida, não havia mais tantos feridos como antes.

Mesmo assim, Nico ainda achava meio estranho não ver nenhum semideus ferido na enfermaria inteira. Essas ocasiões eram raras. Sempre tinha algum filho de Ares com uma perna quebrada, um filho de Hermes com a mão colada na testa por culpa de alguma pegadinha ou algo parecido.

De qualquer forma, era bom estar sozinho ali com o namorado.

Will precisou assumir o turno daquela noite, já que nenhum de seus irmãos quis e, por mais que as coisas estivessem calmas ultimamente, não dava pra deixar a enfermaria vazia. Nunca tinha como saber quando apareceria alguém machucado ou pedindo por algum medicamento.

Nico afastou seu rosto apenas alguns centímetros do de Will. Ainda se sentia um pouco nervoso quando estavam tão pertos assim, mesmo com meses de namoro — quase um ano! Mas, ali, com Nico sentado em uma das macas e Will de pé em sua frente, entre suas pernas, estava bem confortável, até.

— Tente de novo. — ele pediu. — Ciao.

— Ciao? — Will disse, errando novamente.

— Você disse certo mais cedo! Will, você não está nem tentando!

Nico cruzou os braços na frente do corpo.

Will riu e tentou beijar Nico novamente, mas Nico se afastou dele, tentando fazer a melhor cara de emburrado que conseguia.

— Você ficou bravo? — Will perguntou. — Eu não ganho um beijo agora?

— O quê?

Aquilo foi inesperado.

Wil ajeitou a postura, deixando as costas retas, mas suas mãos ainda estavam nas coxas de Nico.

— Você sempre me beija quando eu erro alguma coisa.

— Eu não faço isso. — Nico se defendeu.

— Faz sim, na verdade. Mas isso não é uma reclamação. Bem pelo contrário.

— Você... É por isso que... Você estava errando de propósito?

Will ergueu a mão direita e passou pelo cabelo —  uma coisa que ele fazia as vezes quando ficava sem graça.

— Talvez?

— Will.

Nico escondeu o rosto com as mãos, sentindo as bochechas ficarem vermelhas. Por que é que Will Solace continuava a ter aquele efeito nele?

— Ei. — Will murmurou, junto de uma risada — Mi dispiace.

Nico abaixou as mãos.

— Agora você sabe falar italiano?

— Depende. Você vai me beijar quando eu acertar uma pronúncia? Porque, se sim, eu consigo aprender italiano bem rápido.

Nico sentiu seu rosto ficar mais vermelho ainda, mas, mesmo assim, puxou Will pela nuca e lhe deu um beijo um pouco demorado.

— Isso. — explicou, se afastando lentamente. — É pelo Mi dispiace que você falou certo.

Will sorriu, seus lábios a poucos centímetros dos de Nico.

—  Me ensine outra coisa. —  pediu.

—  Tipo o quê?

— Tipo... Não sei. Como se diz em italiano que meu namorado é a pessoa mais linda do mundo e eu amo ele mais que qualquer coisa?

— Will. — Nico disse, dando um sorriso tão grande que era impossível de controlar. —  Você é tão bobo.

—  Eu só estou tentando aprender outro idioma.

Nico sorriu ainda mais. Abriu a boca para dizer qualquer coisa em italiano, mas foi impedido por alguém pigarreando.

E esse alguém não foi Will.

Levou um susto com Will se afastando abruptamente dele, dando dois passos para trás. Nico agiu por instinto e pulou para o chão, causando uma pontada de dor em suas pernas. Estava sentado na maca na mesma posição há vários minutos.

Mas nada se comparou ao susto de ver Percy Jackson ali, de pé no meio da enfermaria.

Aquilo definitivamente ia para o ranking de situações mais constrangedoras na vida de Nico.

— Hã... Eu... — Percy disse, então pigarreou novamente. — Desculpa. Eu preciso de mais um daquele negócio para dormir. Não consigo pegar no sono.

Essa última parte ele falou olhando para Will. Nico olhou para o namorado. Will pareceu perdido por um instante, antes de falar:

— Ah. Certo. — suas bochechas estavam coradas. — Eu vou... Só um instante.

Will apontou para a direção onde ficava a pequena sala com o armário de medicamentos, então caminhou até lá rapidamente.

Nico se deu conta de que estava sozinho ali. Com Percy.

Merda.

Encarou os próprios pés, impossibilitado de fazer ou falar qualquer coisa. Há quanto tempo Percy esteve ali? O quanto ele tinha visto ou ouvido?

Nico sentiu seu rosto queimar de vergonha. Precisava ser justo Percy?

Passou a mão pela nuca, se perguntando porquê é que Will estava demorando tanto.

Quando achou que morreria ali mesmo, de tanta vergonha, Percy quebrou o silêncio:

— Então... Há quanto tempo você está dando aulas de italiano para Will Solace?