Flowers are talking and I'm silent escrita por Ariel F H


Capítulo 5
Jason


Notas iniciais do capítulo

OI GAYS

então, duas ou três pessoas (eu não lembro direito, socorro, ME DESCULPEM e eu não to com empenho de ir buscar nos comentários agora MAS EU AMO VOCÊS) comentaram sobre a ideia de um cap em que o Jason é intersexo. isso me deixou surpreso & empolgadinho ao mesmo tempo.

então este capítulo é sobre isso.

assim, eu não sou um total conhecedor de intersexualidade então diferente de quando eu escrevo sobre pessoas trans ou outras coisas que eu tenho vivência eu não me sinto tão seguro assim, então... se eu tiver escrito algo errado/ ofensivo me avisem ok? eu acho que não tem nada errado não, mas né, vai saber.

AH, ESSE CAPÍTULO TALVEZ TENHA GATILHO PRA ALGUMAS PESSOAS. tem umas coisinhas de disforia com o corpo. nada mto pesado, mas é sempre bom avisar akjsdfasdf

espero que gostem :p

boa leitura ♥



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— Você está bem, cara?

Jason estava em pânico.

— Estou bem. — ele respondeu, mais uma vez.

Houve alguns segundos de silêncio.

— Você precisa de ajuda com alguma coisa? — Leo perguntou novamente.

Jason olhou em direção a porta. Ele havia se trancado no banheiro do chalé de Zeus há quase meia hora.

— Eu estou bem, Leo. — respondeu, com a voz trêmula. Estava fazendo de tudo para segurar o choro. — Só me deixe sozinho, por favor.

— Cara... Só me diga se eu posso te ajudar com alguma coisa. Você está me assustando.

— Eu só quero ficar sozinho.

Jason conseguiu ouvir os passos de Leo indo embora. Abraçou a si mesmo com mais força ainda. Sentia aquela cólica absurda que costumava sentir sempre que seu corpo decidia que precisava liberar sangue.

Desejou ainda conversar com Piper. Ela sempre ajudava Jason com absorventes e alguns remédios para diminuir a dor, mas desde que os dois terminaram o namoro, semanas atrás, o máximo de interação que tinham era um Oi casual quando se encontravam no acampamento. Era constrangedor.

Piper era a única, além de Thalia e a própria mãe de Jason, que sabia sobre aquela característica de Jason. Ele preferia manter assim. Não dava pra saber como é que as pessoas iriam reagir quando descobrissem que Jason Grace é intersexual. Não dava pra saber quando perguntas indiscretas ou piadas sem noção que teria de ouvir.

Ele simplesmente queria evitar dor de cabeça.

Se dependesse dele, ninguém saberia.

Se dependesse dele, se trancaria numa caixa e jamais sairia de lá, só para não ter de ouvir as pessoas falando coisas sobre ele e se questionando como seu corpo era ou como ele funcionava.

Ele só não aguentava mais aquilo.

Sua mãe já tinha o abandonado por culpa disso. Você é uma aberração, um erro.

Ele respirou fundo. Estava sentado no piso gelado do banheiro. Patético.

— Jason?

Jason gelou. Era Piper, no outro lado da porta. Ele não respondeu.

— Leo me disse que você está esquisito. Eu falei que talvez pudesse te ajuda. Quero dizer... É por…

— Você não precisava vir aqui. — Jason a interrompeu. — Não é mais minha namorada.

Ele sabia que era algo meio injusto para se dizer. Os dois tinham terminado o relacionamento junto, sem dramas, porque não achavam que funcionavam mais juntos. Agora Jason estava criando um drama.

— Mas nós ainda somos amigos. — Piper disse. — E eu quero te ajudar. Eu trouxe o que você precisa, se eu estiver certa sobre o que está acontecendo com você. Só abra a porta.

Jason respirou fundo.

Ele precisava encarar Piper, sabia disso.

Infelizmente, seria pior se simplesmente sangrasse por aí sem nada para impedir que o sangue passasse por suas calças.

Ele se levantou, devagar, e foi até a porta.

Piper deu um pequeno sorriso motivador pra ele.

— Obrigado. — Jason disse, apressado, pegando a pequena bolsa de pano das mãos de Piper.

A garota tentou dizer algo, mas Jason fechou a porta em sua cara e voltou a se trancar no banheiro.

Ele mexeu na bolsa e encarou os absorventes e uma pequena cartela de remédios. Enfiou uma pílula na garganta, a seco mesmo.

Se enfiou embaixo do chuveiro e tomou um banho rápido, porque às vezes ele não conseguia parar de pensar o quão errado ele era.

Em teoria, sabia que seu corpo não era errado, mas sim apenas diferente. Havia tantos tipos de corpos que era injusto definir um tipo apenas como certo e ideal. Na prática, Jason se sentia totalmente uma aberração, uma máquina estragada e sem conserto.

Se vestiu e usou um dos absorventes, então ficou parado por alguns instantes no meio do banheiro. Como não ouviu nada, concluiu que Piper havia ido embora. Graças aos Deuses.

Quando saiu do banheiro, percebeu que estava errado.

Piper estava sentada de pernas cruzadas em cima de uma das camas do chalé. Ela estava olhando para o tecido de sua calça. Jason a observou cutucar um dos furos do jeans antes de ela finalmente perceber a presença dele ali.

— Ei. — Piper disse. — Tudo bem?

Jason colocou as mãos nos bolsos e confirmou com um aceno. Não estava sabendo muito bem como agir ao lado da ex namorada.

— Venha aqui. — ela o chamou com aquela voz gentil que Piper sempre tinha.

Jason obedeceu. Ele se sentou ao seu lado, mas não muito perto.

Respirou fundo. O remédio ainda não tinha feito efeito. Ainda sentia aquela dor aguda da cólica.

— Você ainda pode conversar comigo, sabe. — Piper murmurou, se virando para encarar Jason. — Não é só porque a nós terminamos que não somos mais amigos.

Jason desviou o olhar. Ele não estava muito afim de conversar.

— Jay, eu sei que isso deve ser difícil pra você… Mas você não pode simplesmente esconder isso dos seus amigos.

Jason olhou para ela, confuso.

— Esconder isso?

— Sim. Você esconde de todo mundo que você é intersexo. Como se tivesse algo pra se envergonhar.

— Eu contei pra você.

— É, mas só porque você estava morrendo de cólica. Nem mesmo Leo sabe, Jason, e Leo sabe tudo sobre você. — ela engoliu em seco. Jason notou como era um pouco estranho para Piper falar com ele depois do término também. — Eu acho que, mesmo depois de tudo o que eu te disse, você ainda sente vergonha.

— Eu não… Só porque eu não saio por aí contando pra todo mundo não significa que eu me envergonho disso.

— Eu não estou dizendo pra você sair contando pra todo mundo. Só que você pare de tratar isso como um segredo sujo.

Jason abriu a boca, mas não conseguiu dizer nada.

Sabia que Piper estava certa.

Ele tinha aprendido a tratar aquilo como um segredo sujo quando era criança. Sua mãe fez questão disso.

— Eu só… — ele tentou dizer.

Eu só tenho medo de como as pessoas vão reagir.

— Está tudo bem. — Piper disse, se  aproximando dele. — É uma coisa sua, Jason, você é que decide, mas… Quer um conselho meu? Eu acho que seria bom se você conversasse com alguém sobre isso. Alguém que não seja eu. Principalmente se as coisas continuarem estranhas assim entre a gente. Você pode me pedir ajuda sempre que precisar, tá? Mas eu sei que nós provavelmente nunca mais vamos voltar a ser como éramos, então… Converse com alguém, por favor, você sempre disse que ter alguém que sabendo sobre você e não tratando isso como algo anormal te ajudava. Eu tenho certeza que nossos amigos vão fazer isso.

Jason bufou.

— Tá, você tem razão. Argh, prometo que vou falar pro Nico amanhã.

Piper fez uma cara de surpresa, então riu.

— Nico? Eu achei que… Deuses, eu nunca vou entender como você e Nico se tornaram tão amigos assim.

Jason deu um pequeno sorriso.

— Ele é legal pra conversar, depois que você conhece ele.

— Você acha que ele… Vai entender? Quero dizer, sem julgar nem nada, mas ele é dos anos trinta e tal.

Jason passou a mão pelo cabelo.

— Eu posso explicar, qualquer coisa, né? Como você disse… Não é uma coisa anormal nem nada… E eu meio que já tive que explicar o conceito de Google pra ele esses dias, então acho que não vai ser muito difícil.

Piper pareceu satisfeita em ouvir isso.

Jason ficou aliviado quando, minutos depois, ela foi embora. Ainda gostava da companhia de Piper, mas naquele momento ele só queria se embrulhar debaixo dos cobertores e fingir que não estava saindo sangue de dentro de si.

Antes de pegar no sono, ele pensou em como contaria aquilo para Nico. Não estava preocupado com a reação de Nico: ele era bem compreensível. Estava preocupado com o fato de que alguém iria saber algo tão íntimo sobre ele.

Às vezes Jason queria bater em sua mãe. Foi ela quem o ensinou a ter vergonha daquela característica dele. Sendo que, no fim, era apenas isso: uma característica.

E não havia nada de errado nele.


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