O Segredo de Tixe escrita por Heringer II


Capítulo 3
Dois


Notas iniciais do capítulo

Aqui estamos nós com mais um capítulo.

Espero que gostem. ^^



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Emanuel pesquisou na internet as características daquela gema que acabara de encontrar no bolso do homem assassinado. Não encontrou nada.

Ficou um tempo admirando aquela jóia até ser interrompido por um dos policiais.

— Emanuel?

— Ah, sim, o que foi?

— Encontrou alguma coisa que ajude nas investigações?

Discretamente, apertou a mão para que a jóia não se tornasse visível e a colocou no bolso da calça com cuidado para que o policial não visse.

— Nenhuma pista... Eu preciso sair agora.

— Aonde o senhor vai? Não vai completar a investigação?

— Eu preciso pegar alguns equipamentos. Retire o corpo daqui e leve para o IML mais próximo. Eu apareço por lá assim que possível.

Emanuel saiu da igreja, levando a jóia escondida em seu bolso. Atravessou a multidão, que lhe fazia perguntas curiosas sobre o caso. Não respondeu nenhuma delas e partiu.

*

Não muito longe dali, em uma das casas do centro da cidade, o misterioso mascarado entra. Totalmente exausto, ele puxa uma cadeira e se debruça na mesa da sala.

— O mestre está furioso com você. — disse uma voz grossa ao fundo.

O assassino tira sua máscara, revelando sua pele escura e olhos cor de âmbar.

— Por quê? Eu fiz o que ele pediu.

— Não. Você fez metade do que ele pediu.

— Eu matei o homem.

— Mas a ordem era matá-lo depois que ele dissesse o segredo. Você matou o único homem que podia nos ajudar sem ao menos arrancar dele a informação que queríamos.

— Já chega! — disse o assassino, levantando-se furioso da cadeira. — Você acha que eu sinto prazer de estar envolvido nisso? Para mim, o que o mestre está fazendo é loucura! Olha as motivações dele! Acha que por isso vale a pena tirar uma vida?

— Você já se esqueceu do motivo que te fez se envolver nisso?

O assassino desviou o olhar para o chão e deu um suspiro alto.

— Não.

— Ótimo. Você sabe muito bem as coisas que estão em jogo. Agora, te desejo boa sorte ao tentar explicar a situação para o mestre.

— Ele não quis dizer o segredo.

— O segredo está em um objeto.

— Ele também não carregava nada.

— Tem certeza?

— Eu o revistei. Perguntei para ele sobre o que estamos procurando, e ele não respondeu.

— Aquele homem sabia de alguma coisa. Eu vou embora.

— Aonde você vai?

— Na Catedral de Pedra.

— Para quê?

— Vou analisar melhor o corpo dele, tenho certeza que você deixou algum detalhe passar.

— Mas os policiais não vão deixar você passar.

— Ah, eles vão sim. Por bem ou por mal. Eu não hesitarei em causar mais um assassinato dentro daquela igreja.

Com isso, o homem saiu em direção à catedral. O assassino voltou a se debruçar na mesa e a terrível lembrança de sua pequena filha morta em seus braços voltou a atormentar sua mente.

* 

Emanuel seguiu na Avenida Júlio de Castilhos, passando em frente a locais como o Supermercado Brombatti, uma pequena Igreja Universal e uma loja de variedades intitulada "América".

Sabia que não havia movimentação naquela hora por causa do horário, o relógio registrava quatro e meia da manhã, mas para Emanuel, era muito estranho ver o centro da cidade tão deserto assim. Talvez seja porque ele nunca havia andado por aquela área tão cedo.

Continuou seguindo em frente na avenida até enfim chegar a uma casa bem simples, com fachada pintada de verde e uma cerca de ferro com um pequeno portão no meio.

— Evandro! — gritou, segurando nas grades da cerca. — Acorda aí, cara, preciso da sua ajuda! Evandro!

Emanuel conseguiu acordar todos na vizinhança, menos a pessoa por quem ela chamava.

— Ei, seu maconheiro, por que não vai acordar a vadia da sua mãe? — disse um dos vizinhos, irritado por ter sido acordado pelos gritos de Emanuel.

"Eu não culpo eles, eu sei muito bem como é ser acordado no meio da madrugada", pensou Emanuel.

Olhou para os lados para se certificar que não havia nenhum policial que o confundisse com um invasor de casas. Como não viu nada, segurou firme nas barras da grade e pulou a cerca.

A porta da frente estava trancada naturalmente, mas Emanuel sabia que seu amigo sempre deixava a janela aberta.

A abriu e entrou na casa.

Pegou seu celular e ligou a lanterna do aparelho para poder enxergar naquela escuridão.

A casa em si era bem simples, com infiltrações na parede, goteiras no teto e chão de pedra, mas os móveis eram luxuosos. Os armários eram de madeira refinada, com detalhes dourados; as mesas eram de porcelanato, e a televisão era uma Smart TV curva da Samsung, com 49 polegadas e uma resolução 4K.

Emanuel se dirigiu até o quarto do seu amigo, que dormia com o corpo virado para cima e a boca aberta.

— Evandro! — Emanuel o chamou, calmamente. — Evandro, acorda.

Ele continuava dormindo. Sem paciência, Emanuel deu um tapa na perna dele, fazendo-o acordar assustado.

— O que é isso!? — disse Evandro, acordando com um susto.

— Calma, calma, sou eu. — disse Emanuel, acendendo a luz.

A luz perturbou o nervo ótico de Evandro, que demorou para reconhecer Emanuel com seus olhos quase fechados.

— Emanuel? Como foi que você entrou? Melhor ainda, o que diabos você está fazendo aqui, homem!

— Evandro, eu preciso da sua ajuda.

*

Na igreja, o homem que tinha acabado de falar com o assassino se misturou com aquela multidão, que já estava se dispersando. Se aproximou de um dos policiais.

— Com licença, será que eu poderia ver o corpo do homem assassinado?

— Por que você quer vê-lo?

— Ah, eu sou jornalista. Gostaria de tirar umas fotos pra imprensa.

— Cadê sua câmera?

— Eu a esqueci em casa, mas eu tiro as fotos com o meu celular.

— Vai fotografar a cena de um crime com uma câmera de celular? Para qual jornal vagabundo você trabalha?

— A câmera do meu celular é boa, deixe-me fotografar...

— Cadê o seu crachá de jornalista?

Teatralmente, o homem pôs a mão na testa.

— Acabei esquecendo junto com a minha câmera, olha só.

— Primeiramente, a entrada de jornalistas sem o crachá de identificação é proibida. Em segundo lugar, o corpo não está mais aqui.

— Então, aonde ele está?

— Está sendo encaminhado para o Instituto Médico Legal.

— Que maldição. — sussurrou, em seguida falando em voz baixa. — Faz muito tempo que partiram?

— Uns 15 minutos. O corpo será mandado para Porto Alegre.

— Ok, obrigado.

Se afastou dos policiais e pegou um táxi ali próximo.

— Para onde, amigo? — perguntou o taxista.

— Pode seguir em frente na Rua Borges de Medeiros, eu aviso quando precisar parar.

*

Evandro tirou seu pijama, vestiu uma roupa mais apresentável e Emanuel lhe entregou a jóia.

— Realmente, não se parece com nenhuma pedra preciosa que eu conheça.

Evandro Sales tinha 28 anos quando iniciou o curso técnico de gemologia. Sua paixão por pedras preciosas começou desde cedo. Sua mãe morreu durante o parto, e seu pai o abandonou quando tinha apenas quatro anos. Quem cuidou dele foram seus avós. Seu avô trabalhava em uma das áreas de mineração em Minas Gerais, e quase sempre Evandro tinha contato com pedras preciosas, como diamantes, pepitas de ouro, turmalinas, entre outras.

Isso o fez se interessar pelo estudo de gemas e optar pelo curso técnico de gemologia. Hoje em dia, ele ganha um bom dinheiro identificado o tipo de pedra, avaliando se são naturais, sintéticas ou imitações e analisando as gemas para saber se são valiosas ou se servem apenas para enfeite. Quando enfim se tornou gemólogo, foi morar em Canela, onde conheceu Emanuel.

Pegou seu equipamento e observou atentamente aquela jóia.

— De fato. É uma jóia autêntica e natural. — disse o gemólogo.

— Quer dizer que foi extraída do solo?

— Certamente. Não há nenhum indício de que ela seja sintética ou imitação. A formação dela aparenta ser a mesma da Turmalina Paraíba, conhece?

— Sim. A Turmalina Paraíba é uma jóia de cor azul esverdeada que foi descoberta em um pequeno município da Paraíba. Por ser muito rara, mais até que o diamante, possui um preço muito elevado.

— Exatamente. A Turmalina Paraíba só é encontrada em cinco minas em todo o planeta, três dessas minas estão no Brasil.

— Está dizendo que essa jóia é uma espécie de turmalina?

— Ela pode ter sido formada por processos semelhantes aos que formam a Turmalina Paraíba, mas não sei se podemos dizer que essa jóia é uma turmalina. Mas pode ter certeza, nunca uma gema assim foi encontrada antes. Com certeza ela deve valer um bom dinheiro. Onde você a encontrou?

— Em um dos bolsos do homem assassinado na Catedral de Pedra.

— O quê? Mataram alguém na Catedral de Pedra?

— Sim, esta noite.

— Por que esse tipo de coisa sempre acontece quando eu durmo cedo? Você está investigando esse caso?

— Exatamente. Acredito que o motivo do assassinato tenha alguma relação com essa pedra preciosa.

Evandro continuou analisando a jóia com seu microscópio gemológico. Quando a virou do outro lado, percebeu algo estranho.

— Emanuel, veja isso.

— O que foi? 


— Tem alguma coisa nessa jóia, parecem ser... letras...

— Letras? Tipo, como uma escritura?

— Sim. Aparentemente, escreveram nessa jóia usando uma técnica semelhante àquela em que escrevem nossos nomes em grãos de arroz. Idiotas, isso pode diminuir muito o valor da gema.

— O que diz aí?

— Eu não sei. São letras muito miúdas.

— Não tem nenhum jeito de ampliá-las?

— Se tirarmos uma foto e ampliarmos ela em um projetor, pode funcionar. Eu tenho um projetor guardado, podemos conectá-lo ao meu notebook.

Emanuel se apressou em posicionar a câmera de seu celular em frente à lente do microscópio gemólogico e fotografar as miúdas letras escritas na jóia. Em seguida, passou as fotos para o notebook de Evandro, que foi conectado a um data show Epson de alta resolução. Abriram a imagem, agora projetada em uma das paredes da casa.

— Agora, dê um zoom, Evandro.

Evandro girou a bolinha central do mouse, aumentando o tamanho da imagem na tela. Agora, com a imagem da jóia ampliada, Emanuel e Evandro podiam ler o que estava escrito nela.

"A guara sagrada guarda a kauane dos yabás."

Emanuel demorou um pouco para assimilar toda a frase.

— A guara sagrada guarda a kauane dos yabás? — leu Emanuel.

— O que isso significa?

— Não faço a menor ideia.

— Ótimo. Temos uma escritura em uma língua estrangeira desconhecida e não sabemos como prosseguir daqui.

— Essa língua não é desconhecida, Evandro. Muito menos estrangeira.

— Quer dizer que isso aí é português?

— Não. É tupi-guarani.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. ^^

Até a próxima! O/



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