O Segredo de Tixe escrita por Heringer II


Capítulo 2
Um


Notas iniciais do capítulo

Aqui estamos nós de novo. Hora de começarmos de vez essa aventura. O que será que nos espera?

Espero que gostem! ^^



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Eram ainda três horas da madrugada. Emanuel Barros dormia tranquilamente até ser acordado por um verso de música que conhecia muito bem.

"Quantos aqui ouvem, os olhos eram de fé..."

"Frevo Mulher, de Zé Ramalho", pensou. Quando se recordou que esse era o toque de seu celular, levantou-se rapidamente e viu que de fato estavam te ligando.

— Quem está me ligando a uma hora dessas? — resmungou sussurrando.

Quando pegou o celular, a claridade perturbou seus olhos recém-acordados. Logo ele viu quem estava ligando.

— O delegado? — se perguntou, pensando o que diabos ele queria às três da madrugada. — Alô? — atendeu.

— Emanuel? — a grave voz do outro lado da linha o chamou.

— Sou eu, senhor Cândido.

Cândido Assis era o atual delegado da Delegacia de Polícia de Canela. Havia assumido o posto no início do ano. Uma de suas medidas foi justamente empregar Emanuel Barros como perito criminal e investigador da Polícia Civil municipal.

Emanuel começou sua carreira de policial aos 22 anos, quando passou no concurso público da Polícia Civil daquele ano. Durante treze anos, fez o de sempre: assegurar o bem estar de todos e reprimir aqueles que cometiam infrações penais. Só agora, aos 35 anos, passou a exercer outra função dentro da polícia: investigar a área do crime em busca de pistas e, algumas vezes, realizar a autópsia dos corpos e outras ações médico-legais.

— Preciso que realize uma investigação. — disse o delegado.

— Com todo o respeito, senhor. Mas viu que horas são?

— Certamente.

— Eu estou muito cansando, falando sério.

— Preciso muito da sua ajuda.

Emanuel deu um longo suspiro.

— Tudo bem, Cândido. — respondeu. — Aonde eu devo ir?

— A Catedral de Pedra.

Emanuel sentiu um calafrio quando ouviu.

— A Catedral de Pedra? A enorme igreja localizada aqui no centro da cidade?

— Exatamente.

— O que aconteceu por lá?

— Um assassinato.

— Um assassinato? Na Catedral de Pedra?

— Isso mesmo. O homem foi encontrado morto em frente ao altar.

— Alguma outra informação?

— Tudo indica que foi morto por uma arma simples, um revólver calibre 32.

— Alguma pista do suspeito ou motivação do crime?

— Nenhuma. É para isso que eu quero que vá à Catedral de Pedra o quanto antes.

— Tudo bem, eu irei.

— Tenha uma boa noite, Emanuel.

— O senhor também, delegado Cândido.

Desligaram.

Emanuel bocejou uma última vez e foi ao banheiro. Se olhou no espelho, os seus olhos castanho-escuros ainda estavam exaustos. Seu cabelo, apesar de curto (o corte dele era inspirado no do presidente Barack Obama), estava muito desarrumado. Estendeu a palma da mão na frente do seu rosto e sentiu seu hálito. Fez uma careta desgostosa e pegou a pasta de dente no armário do banheiro. Escovou os dentes. Quando acabou, viu que um pouco de pasta havia ficado no seu rosto, manchando a borda da sua barba rala. Limpou e saiu.

Sabia que aquele seria um dia cheio.

Saiu de sua casa, em direção à Praça da Matriz, onde iniciaria o seu trabalho. Sua residência ficava um pouco longe da Catedral de Pedra, mas ele não se incomodava de ir até lá andando. Se quisesse chegar rápido, era só apressar o passo. Ele achava desnecessário usar seu carro. Desde que entrou na área de perícia criminal, só dirigia quando precisava ir a algum lugar muito longe em pouco tempo. Acreditava que aos 35 anos ainda mantinha um corpo de 25 por fazer diariamente longas caminhadas. "Se acostumar a ir dirigindo a todos lugares só influencia o sedentarismo. Quando você menos espera, está usando o carro para ir à rua ao lado", era o que pensava.

Seguiu pela Rua Visconde de Mauá. No caminho para a Catedral, passou em frente ao Hospital de Canela. Ao lado dele, havia algumas casas que Emanuel adorava admirar sempre que passava por ali, pois elas tinham um estilo de arquitetura clássico que ele particularmente adorava contemplar.

Seguiu em frente, até ver uma alta torre com um relógio e uma cruz na sua ponta.

"A Catedral de Pedra", pensou. Seus passos, que já estavam apressados se tornaram ainda mais velozes. Ele estava com muito sono, queria fazer logo o seu trabalho e voltar para casa o quanto antes.

Na entrada, havia uma enorme multidão. Todos estavam curiosos para saber o que havia acontecido lá dentro da igreja. O grande fluxo de pessoas dificultou a entrada de Emanuel, que mesmo assim conseguiu passar se espremendo no meio de toda aquela gente.

Em volta do corpo, próximo ao altar, havia uma barreira humana feita pelos policiais, alguns deles eram ex-colegas de Emanuel. O perito criminal se aproximou, apresentou-se e os policiais abriram espaço.

Lentamente, Emanuel se aproximou do corpo, cobrindo o nariz com um lenço para não sentir o cheiro horrível.

— Quer uma máscara, Emanuel? — disse um dos policiais, oferecendo a máscara ao perito.

— Quero sim, muito obrigado. — aceitou, tendo agora as duas mãos livres.

Começou analisando cuidadosamente cada parte do corpo do homem morto. Não havia nenhum outro sinal de agressão além do tiro de calibre 32 suas costas.

O defunto era um homem relativamente jovem, aparentava ter uma idade semelhante à de Emanuel. Tinha uma pele parda, cabelos longos e usava uma camiseta casual sob uma jaqueta simples.

— Emanuel, nós vamos ouvir os relatos de algumas testemunhas, ok? — disse um de seus ex-colegas.

— Ok, sem problemas.

— Essa multidão não vai te incomodar?

— Na verdade, eu acharia melhor se pudesse fazer a análise do corpo sozinho e em silêncio.

— Vocês ouviram o perito. — disse o mesmo policial que havia oferecido a máscara a Emanuel. — Todo mundo para fora! Vamos!

Em poucos minutos, Emanuel estava sozinho com o morto dentro da Catedral de Pedra, enquanto os policiais ouviam as poucas testemunhas que haviam por ali. Todas diziam a mesma coisa: o assassinado fugia desesperadamente de um homem aparentemente mascarado portando uma arma.

Não encontrando nenhum outro sinal de agressão física pelo corpo do morto, Emanuel começou a olhar os seus bolsos. Em sua calça, haviam duas notas de 10 reais, uma de 20 e uma moeda de 1 real.

"Seja lá quem matou, não era um ladrão atrás do dinheiro dele", Emanuel pensou.

No outro bolso de sua calça, havia um RG. Emanuel logo descobriu a identidade do homem que foi assassinado: Flávio Deodoro Mirantes.

Pegou o seu celular e telefonou para Marcos Valério, um amigo seu que também trabalhava no setor investigativo. Sabia que Marcos passava a noite e a madrugada acordado, e só dormia pela manhã e início da tarde, pois sempre pegava o turno da noite na delegacia.

— Alô? — Marcos atendeu.

— Oi, Marcos. Pode me fazer um favor?

— Emanuel? O que está fazendo acordado a essa hora, homem?

— Estou investigando um assassinato.

— Mas são quinze para as quatro da manhã... — Marcos fez uma pequena pausa. — Não me diga que o delegado te colocou para investigar o caso do assassinato na Catedral de Pedra...

— Então, já sabem desse caso?

— Claro que sim. Foi um choque! O fato do homem ter sido morto em uma igreja tão conhecida fez os moradores da cidade inteira ficarem estarrecidos.

— Eu imagino.

— Mas me diga, o que quer que eu faça?

— Descubra tudo o que puder sobre Flávio Deodoro Mirantes.

— Quem?

— Essa é a identidade do homem assassinado aqui na igreja. Encontrei o seu RG. Pelas informações que eu tenho aqui já sei que esse é o nome dele, que ele nasceu em 1984 e que é filho de Joaquim Deodoro da Silva e de Madalena Mirantes da Costa. Mas claro, isso não ajuda em nada a chegar ao assassino. Descubra se Flávio tinha feito alguma coisa que desse a alguém algum motivo para matarem-o.

— Tipo?

— Sei lá. Ficha suja, dívidas, envolvimento com o mundo do crime.

— Envolvimento com o mundo do crime eu tenho certeza que não. Aqui na delegacia nunca recebemos nenhuma denúncia a respeito de um tal de Flávio Deodoro. Mas assim que eu descobrir algo relevante, te passo a informação.

— Muito obrigado, Marcos. Boa madrugada.

— Boa madrugada, Emanuel. E boa sorte na investigação também.

— Obrigado.

Desligaram.

Não achando mais nada nos bolsos da calça, Emanuel decidiu olhar na jaqueta. Nos bolsos inferiores, não havia nada. No bolso superior direito, na altura dos peitos, só havia uma embalagem vazia de goma de mascar e um lápis grafite da Faber Castell, já pequeno de tantas vezes que foi apontado.

"Nada que interesse", pensou Emanuel.

Quando já estava quase desistindo, percebeu algo estranho. No lado inverso da jaqueta, na altura do peito esquerdo, havia outro bolso.

Emanuel estranhou o fato daquele bolso ter sido costurado para dentro da jaqueta. Era como se fosse um "bolso secreto". Emanuel se apressou em olhar o que havia dentro dele. Percebeu que havia um objeto estranho no interior, e quando tirou se surpreendeu.

O que havia dentro do bolso secreto era uma gema. Uma pedra preciosa.

A jóia possuía um imperfeito formato losangular. A cor dela era oliva, com alguns leves tons de laranja. Emanuel sabia um pouco sobre pedras preciosas, e puxou pela memória todas as que conhecia. Diamantes, safiras, esmeraldas, rubis... A jóia que ele encontrou no bolso de Flávio não se encaixava em nenhuma dessas.

Ele ficou surpreso ao processar na sua cabeça toda a situação. Aquela gema era uma pedra preciosa desconhecida!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. ^^
Até o próximo capítulo! O/



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