O apartamento de Castiel era simples. Dois quarto, sala, banheiro e cozinha mediana. Todos as paredes eram brancas e as portas de madeira envernizadas. Os únicos cômodos que Castiel permitiu que os adolescentes ficassem foi a sala de estar e o banheiro, onde poderiam tomar banho e se vestir apropriadamente. A roupa que Tia Agatha havia comentado anteriormente estava dobrada e separada por etiquetas com nomes sobre o sofá.

Castiel não estava mais questionando nada, nem mesmo como aquela mulher esquisita havia entrado no seu apartamento e deixado aquelas roupas lá. A primeira pessoa a falar sobre tomar banho foi Jaqueline, que já havia parado de chorar e voltado a ser ironicamente irritada.

Enquanto isso, quilômetros dali, Adam estava andando e sentindo bastante dores nos pés. Porém, forçava não apenas os pés, mas também a mente à lembrar onde ficava aquele maldito endereço.

Estava procurando a casa da Tia Agatha. Infelizmente já havia batido em dois endereços diferentes onde no futuro ela irá morar, porém, todo o esforço em vão. Estava decidido em pedir ou até mesmo implorar para que ela os ajudassem achar aquela maldita flor amarela.

— Ela deve estar à rire de nós nesse momento —  ele comentou em voz alta. As pessoas olhavam torto para o rapaz que falava sozinho e parecia não tomar banho há muitos dias.

— Não estou rindo de ninguém, meu querido.

Tia Agatha simplesmente apareceu em suas costas, sentada em uma cadeira confortável, tomando chá e com um belo croissant no prato a sua frente. O Roux se virou assustado, seus olhos estavam arregalados e ele engoliu em seco antes de conseguir falar:

— Você poderia parar de simplesmente aparecer assim?

— Mas eu estava aqui há muito tempo —  ela sorriu se divertindo. Deixou a xícara de chá sobre a mesa e se levantou, caminhando em direção ao sobrinho-neto — Foi muito difícil encontrar você. O que estava fazendo por aí?

— Também estava me procurando?

Ela deu de ombros e suspirou pensando se deveria explicar o que havia acontecido ou não.

— Jaqueline mordeu a língua e contou à Ambre sobre o fato de vocês serem de outra époque — o olhar inconformado de Adam deu à Agatha uma pontada no coração — Isso desencadeou uma série de fatos que não haviam acontecido antes, par exemple o acidente de Louise, o término do relacionamento do Armin e Anne, a briga de Aline e Kentin e por fim Castiel soube que você é filho dele com Lis.

Aquilo era muita informação. Adam começou a tremer e seu coração ficou muito acelerado. Agatha sorriu terno e colocou uma mão sobre o ombro do sobrinho-neto.

Em um piscar de olhos Adam não estava mais na rua procurando pela casa da sua tia-avó. Estava em um parque próximo da escola. Seu coração acelerou ainda mais com o susto. Ele queria muito que tudo aquilo acabasse o mais rápido possível

— M'accompagner — disse estalando os dedos na frente do nariz do rapaz, que piscou algumas vezes antes de seguir os passos da mais velha. Ao reconhecer o prédio à sua frente engoliu em seco.

Aquele era onde seu pai morou toda sua adolescência e em 2016, ao voltarem para cidade por causa do trabalho de seu pai, onde iriam morar juntos.

— Por quê está fazendo isso? — Adam questionou vendo a mulher abrir o portão da portaria do prédio com um sorriso no rosto. Ela não respondeu sua pergunta, apenas o mandou entrar rapidamente, já que precisavam conversar.

Com os ombros tensos e os olhos inquietos, olhando para todos os lados, Adam subiu os quatro lances de escada até chegar no andar em que seu pai morava. O número 41 pintado na porta parecia chamar o rapaz com uma voz assombrosa.

Ela bateu na porta e Castiel atendeu com o mau-humor estampado em seu rosto. Porém, assim que seus olhos bateram nos de Adam a memória de Nicole falando sobre Lis e ele serem pais de Adam no futuro veio a mente e ele ficou muito mais tenso do que antes.

— Podem entrar.

Adam não queria nem ao menos ficar próximo de Castiel, ele estava com medo de qualquer coisa que poderia acontecer em relação ao seu pai. Caso ele fizesse algo que pudesse mudar a cabeça de Castiel, talvez ele nunca fosse existir.

Entretanto, quando finalmente viu Adeline sair do banheiro, com os cabelos molhados e vestida em um lindo vestido azul-claro sentiu seu coração quebrar. Tia Agatha havia falado sobre o acidente com Louise? Ele não sabia de nada.

Quando finalmente todos haviam tomado seus banhos e estavam devidamente alimentados com pelo menos um pedaço de torta salgada feita por ela, Agatha pediu para que Castiel saísse do apartamento.

— Mas esse apartamento é meu! — ele rugiu.

— Sei disso — disse simpática, com as mãos na cintura — Porém, preciso falar com eles a sós.

O olhar que Agatha enviou a Castiel fez ele rapidamente mudar de ideia e chamar por Dragon, que até aquele momento estava trancado no seu quarto para não assustar nenhum dos “visitantes”.

Então todos os jovens futuristas se sentaram na sala de estar, alguns no sofá e outros no chão. Tia Agatha ficou de pé, andando de um lado para o outro, como se fosse um leão espreitando sua presa.

— Vocês são todos cabeças de vento. Todos vocês; não é só porque uma de vocês que colocou a boca no trombone que o restante do grupo não tem culpa — ela não parava de falar, nem mesmo respirar entre as palavras ela o fazia — Vocês tem minhoca na cabeça em pensar em se separar? Estão aqui por um motivo em igual e se separando tudo vai por água abaixo.

Todos olhavam para o chão, ninguém ousava a olhar Tia Agatha nos olhos, já que ela parecia estar enfurecida com o grupo. Antes de continuar a falar ela respirou e alisou a trança que havia feito no cabelo comprido.

— Eu vou apagar a memória dos pais de vocês em relação ao que vocês aprontaram, incluindo o que aconteceu com a Ambre. Porém, só farei isso depois que acharem a flor amarela. Antes disso tudo irá ficar do jeito que está e se vocês continuarem a mudar o passado, as coisas no presente de vocês serão diferentes. Tomem cuidado.

Tia Agatha relaxou os ombros e foi atrás de mais um pedaço de torta. Nicole e os gêmeos começaram a conversar baixo, tentando não chamar atenção da mais velha. Jaqueline afundou o rosto nas mãos, culpando-se por tudo que aconteceu. Adeline se levantou e apoiou os braços no parapeito da janela, encarando o horizonte. Sentia seu peito arder, seus olhos estavam cada vez mais acomulando lagrimas.

Sentiu a mão de Adam sobre seu ombro e ela recusou a se virar. Não queria mostrar sua fraqueza.

— Você soube? — perguntou. Sentiu um nó na garganta e fechou os olhos.

— A tia Agatha me contou — ele respondeu. Não sabia se ela também sabia sobre o restante dos casais. Jaqueline havia realmente fodido com todos eles.

— Mas eu sei que ela vai ficar bem — virou-se para finalmente encarar Adam. Seus olhos estavam cheios de lágrimas e ironicamente em seu rosto havia um sorriso. Não pensou muito antes de alisar a bochecha de Adeline com o dedo, para limpar uma lágrima solitária.

O toque de Adam em sua pele fez com que Adeline se assustasse a princípio.  Ela segurou a mão de Adam, que ainda tocava sua pele e parou de sorrir, deixando que todas as lágrimas escorressem lentamente.

Ela estava com muito medo do que poderia acontecer daquele momento em diante.

Vendo a cena, Aaron sussurrou:

— Tout ira bien.