Esposa Sem Querer - CEO escrita por Sra Mellark


Capítulo 7
Capitulo 7


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura!



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Katniss nunca, na vida, vira algo tão magnífico quanto o castelo dos Mellark. Era realmente um castelo. Feito de pedra calcária, com chaminés e torres. Tinha três andares. E parecia haver algo que ela só podia imaginar ser um grande sótão sob os telhados.

No interior, painéis de madeira brilhavam enquanto imensos lustres ornamentados refletiam suas luzes por todos os cantos. O castelo era todo mobiliado com antiguidades. Ricos tecidos decoravam os aposentos e grossos tapetes suavizavam o som de passos, dando um calor acolhedor aos aposentos.

Cada uma das três alas tinha uma escadaria que pas­sava pelos três andares. A maior escadaria começava no primeiro andar, na rotunda da entrada. A partir da rotunda, Peeta tinha mostrado a eles uma bela biblio­teca, além de salas de estar e de jantar. A cozinha era equipada com aparelhos modernos, mas permanecia fiel às suas raízes, utilizando madeira e trabalhos em pedra e com reluzentes panelas de cobre antigo que pendiam do teto.

Na noite anterior, Katniss e Annie ficaram em su­ítes de hóspedes, no segundo andar. A suíte de Peeta estava no terceiro andar, e as acomodações de Sadie fi­cavam em antigos alojamentos de empregados que ha­viam sido transformados em sala de estar e quarto pri­vado com banheiro, no piso principal. Peeta disse-lhes que os banheiros tinham sido adicionados no início dos anos 1900 e eram reformados, de tempos em tempos, desde então.

Cinco membros da equipe viviam no castelo durante todo o ano: um zelador, um funcionário para a manuten­ção, um cozinheiro e duas empregadas pessoais de Sadie. Embora a carga de trabalho tivesse sido obviamente di­minuída desde a morte de Sadie, Katniss soube que Peeta manteve todos os funcionários, que pareceram muito sa­tisfeitos com a visita.

— Você já se perdeu aqui dentro? — Katniss perguntou a Peeta de manhã, enquanto ele lhe mostrava uma passagem que levava à ala norte.

Annie tinha saído logo após o café da manhã para nadar na piscina da casa dos Odair, e, Katniss suspeitava, para flertar com Finnick.

— Devo ter me perdido quando era criança — Peeta disse a ela, abrindo a porta que dava para a sala de estar azul-clara de Sadie.

Katniss entrou na bela sala e olhou ao redor com in­teresse.

— Posso pegar o número de seu celular para o caso de eu precisar de ajuda?

— Claro — ele respondeu da porta. — Mas você pode se orientar pelas escadarias. Os tapetes são azuis na ala prin­cipal, cor de vinho na ala norte e dourados na ala leste.

A sala de estar de Sadie abrigava um sofá lilás, mui­tas mesas de madeira esculpida, diversas poltronas e um armário que continha uma incrível variedade de estatuetas, enquanto um piano de cauda ficava em um canto.

O sol da manhã passava por diversas janelas estreitas. Algumas eram vitrais, e Katniss sentiu como se devesse andar na ponta dos pés, silenciosamente.

Ela correu os dedos pelo rico revestimento de tecido e pelas superfícies de madeira lisa, indo em direção ao piano.

— Que idade tem tudo isso?

— Eu não tenho a menor ideia — afirmou Peeta. Ela tocou a nota dó, e o som ecoou por toda a sala.

— Sadie tocava piano — disse ele. — Maggie ainda toca, às vezes.

— Eu aprendi Ode to Joy no clarinete, no ensino médio. — Isso resumia toda a experiência musical de Katniss.

Ela se encaminhou para o armário de porcelanas, olhando através do vidro para ver as estatuetas de ga­tos e cavalos e diversas xícaras de chá primorosamente pintadas.

— Você acha que ela se importaria que eu olhasse assim?

— Ela é a razão pela qual você está aqui — respondeu ele.

Katniss, de repente, percebeu que Peeta ainda estava na porta. Ela se virou a tempo de perceber uma expressão estranha no rosto dele.

— O que foi? — ela perguntou, olhando para trás. Talvez, na realidade, ele não quisesse que ela ficasse olhando esse quarto.

— Nada. — A resposta dele foi curta.

— Peeta? — Ela se aproximou, confusa.

Ele piscou algumas vezes, respirou fundo. Então colo­cou a mão na moldura da porta.

— O que está acontecendo? — ela quis saber.

— Eu não venho aqui... — Fez uma pausa. — ...Desde que ela...

Katniss sentiu um aperto no peito.

— Desde que sua avó morreu?

Ele fez que sim em resposta.

— Podemos ir embora. — Katniss foi rapidamente em di­reção à saída, sentindo-se culpada por ter feito algo que, obviamente, o perturbou.

Peeta sorriu e deu um passo decisivo para dentro da sala, interrompendo-a.

— Não. Sadie colocou minha esposa em seu testamento. Você tem de conhecê-la.

Pela primeira vez, ocorreu a Katniss que, além de ser surpreendido pela notícia de seu casamento em Vegas, Peeta tinha provavelmente ficado surpreendido pelo testamento.

— Você não esperava que sua esposa herdasse, não é? — ela perguntou, observando-o de perto.

Ele fez uma pausa, olhando com franqueza nos olhos de Katniss.

— Isso seria um eufemismo.

— Sadie estava irritada com você?

— Não.

— Tem certeza?  

— Tenho.

— Talvez você não a tenha visitado o suficiente.

Ele balançou a cabeça, negando, e entrou um pouco mais no quarto.

Katniss observava enquanto ele se movia pelo aposento.

— Falando sério, será que ela teria gostado que você a tivesse visitado um pouco mais?

— Com certeza.

— Bem, talvez ela tenha...

— Ela lhe deixou algumas centenas de milhões porque eu não a visitei o suficiente? — Ele a encarou, cruzando os braços.

Katniss deu um passo para trás, piscando, assustada.

— De dólares?

— Parece até que eu nunca vinha vê-la! — Peeta se de­fendeu.

— Tudo bem, vou tratar de esquecer o que você acabou de falar.

Katniss sabia que a Mellark Internacional era uma em­presa muito grande, mas centenas de milhões? Todos aqueles zeros iriam deixá-la desnorteada.

— Ela, de fato, queria que eu me casasse — Peeta admi­tiu, se divertindo um pouco.

Mas a cabeça de Katniss ainda estava nas centenas de milhões de dólares. Era uma responsabilidade enor­me, gigantesca. Como Peeta conseguia lidar com aquilo tudo?

Ele fez um gesto, mostrando o quarto.

— Como você pode ver, a história da família Mellark era importante para Sadie.

— Essa responsabilidade me enlouqueceria — Katniss confessou.

— A história da família?

— Essa empresa de milhões, bilhões, não sei ao certo!

— Pensei que estivéssemos falando sobre minha avó.

É verdade. Katniss empurrou os valores da companhia para o fundo de sua mente. Era uma questão discutível, de qualquer forma. O envolvimento dela seria por pouco tempo.

— O que você fez para deixá-la zangada? — ela pergun­tou novamente, sabendo que havia algo além do que ele dizia.

Peeta estava certo, Sadie não o tiraria de seu testamento porque ele não a visitava com frequência.

— Ela não estava zangada comigo — ele afirmou exas­perado.

Katniss cruzou os braços, inclinando a cabeça e olhan­do desconfiada para ele.

— Está bem — ele finalmente se rendeu. — Ela estava impaciente para que eu tivesse filhos. Suponho que mi­nha avó estivesse tentando acelerar as coisas com esse testamento.

— Isso funcionaria — disse Katniss, convicta, admirando Sadie.

Ela podia até imaginar o tamanho da fila que se for­maria caso Peeta fosse solteiro e o testamento viesse a público.

— Não sei se quero uma mulher que seja atraída pelo dinheiro.

— Ela estava tentando, sem dúvida — disse Katniss, de­fendendo Sadie. — Era você que não cooperava.

Ele revirou os olhos, impaciente.

— É sério, Peeta. — Katniss não podia deixar de provocá-lo. — Acho que você devia realizar o desejo de sua avó. Case-se e comece uma nova geração de pequenos piratas.

Ele aproveitou:

— Você se habilita?

Bela tentativa. Mas ele não queria deixá-la na defensiva.

Ela delicadamente colocou o cabelo para trás das ore­lhas, indo em sua direção, ficando muito próxima dele.

— Você está me testando?

— Vá em frente.

— Claro, Peeta. Sou sua esposa, então vamos fazer filhos.

Ele avançou, deixando-os mais próximos ainda.

— E você ainda diz que não está flertando.

— Eu não estou.

— Nós estamos falando sobre sexo. — A voz profunda de Peeta passou pelo sistema nervoso dela, atrapalhando sua concentração.

— Estamos falando sobre bebês — ela corrigiu. — Enganei-me. Pensei que você estivesse dando em cima de mim.

Ela foi um pouco mais para a frente, encarando-o.

— Se eu der em cima de você, Peeta, você vai saber.

Ele se inclinou.

— Parece que você está dando em cima de mim, Kat.

— É o que você gostaria.

— É sim. — Ele não riu. Não recuou nem vacilou.

Eles respiraram em uníssono por um minuto. O olhar dele foi para a boca de Kat, e a necessidade de se entre­gar se tornava mais poderosa a cada segundo.

Peeta parecia adivinhar o que ela estava pensando.

— Nós não vamos parar desta vez — ele a advertiu. Ela sabia disso.

Se ele a beijasse, eles tirariam suas roupas ali mesmo, na sala de estar de Sadie.

A sala de estar de Sadie.

Katniss se encolheu e recuou.

A expressão de Peeta mudou, mas ela se forçou a igno­rá-la, fingindo estar concentrada no mobiliário e na decoração e movendo-se para longe dele, indo espiar o quarto de Sadie através da porta.

Um minuto se passou até que ela achasse que podia falar.

— Sadie parecia ser uma pessoa incrível.

— E era — disse Peeta, seu tom não o entregando.

— Você sente falta dela?

— Todos os dias.

Havia algo em sua voz que fez Katniss se voltar. Ela captou a expressão frágil dele e sentiu um nó na garganta.

Apesar de todos os seus defeitos, Peeta tinha, obvia­mente, amado sua avó.

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— Naquela época — Maggie informou a Katniss e Annie, deitada numa espreguiçadeira do deque, ao lado da pisci­na dos Odair — Sadie era fogo.

Enquanto Annie ria das histórias de Maggie sobre sua criação em Serenity Island, Katniss tentava enten­der que a aparentemente meticulosa e tradicional Sadie, que fora a encarregada do castelo Mellark durante tantos anos, era a mesma jovem animada que tinha, ao que tudo indicava, se divertido tanto com Maggie.

Tanto Katniss quanto Annie estavam nadando na pis­cina. Agora elas se debruçavam na borda enquanto Maggie compartilhava histórias divertidas. A água era refrescante no calor da tarde. A brisa vinha do oceano, e dezenas de pássaros esvoaçavam nas árvores e nos jardins floridos circundantes.

Katniss começava a achar que Serenity Island era o paraíso.

— Antigamente não era assim — Maggie continuou, ges­ticulando e segurando seu copo de chá gelado. — Não havia helicópteros nem coisas do gênero. Quando se es­tava na ilha, você tinha de esperar o próximo navio de abastecimento.

— Você gosta de viver aqui? — perguntou Annie.

— Nós sempre arquitetávamos maneiras de sair daqui — disse Maggie, com uma risada conspiratória. — Havia mais ou menos dez crianças na época, com as famílias e os fun­cionários. Nós éramos 17. Sadie convenceu meu pai de que eu precisava aprender francês. Mais oui. Então eu o convenci de que não poderia ir a Paris sem Sadie.

— Você foi a Paris? — Annie suspirou, empurrando a borda da piscina. — Eu amo Paris.

Katniss nunca fora a Paris. Na verdade, ela nunca tinha saído do estado de Nova York. Abrigo, comida e educação eram o topo de sua lista de prioridades. Qualquer outra coisa teria de vir depois disso. Mas algum dia ela gostaria de conhecer a Europa, talvez a Califórnia ou até mesmo a Flórida.

— Ficamos durante um ano do ensino médio estudando na França — disse Maggie, terminando seu chá gelado. — Voltamos muito sofisticadas...

Uma jovem empregada imediatamente chegou com outro jarro de chá gelado, servindo o copo de Maggie. Ela ofereceu também a Katniss e Annie. Elas agradeceram e colocaram seus copos no deque da piscina.

Katniss tinha gasto as horas mais quentes do dia co­nhecendo o castelo. Os aposentos empoeirados do sótão estavam especialmente quentes e abafados. Agora ela se sentia grata pela água fresca da piscina e pelo refrescante copo de chá gelado.

Maggie esperou até que a empregada deixasse a piscina e voltasse à casa principal.

— O avô de Peeta, Cameron Mellark, viu Sadie em um daqueles vestidos diáfanos de Paris e, de repente... ela es­tava grávida.

Katniss tentou esconder sua surpresa ao saber de um detalhe tão íntimo. Na década de 1950, isso devia ter sido um escândalo.

Annie rapidamente retornou à borda da piscina, ao lado de Katniss.

— Eles tiveram de se casar? — perguntou ela. Maggie apontou o dedo para Annie.

— Eu não recomendo que faça isso — ela advertiu. — Vocês querem saber como se prende um homem hoje em dia?

— Não necessariamen...

Annie deu uma cotovelada nas costelas de Katniss.

— Como?

— Negando sexo — Maggie disse-lhes, com um aceno sá­bio. — Eles podem conseguir isso em qualquer lugar, hoje em dia. Mas se você disser não, eles continuarão voltan­do, farejando.

— Tia! — A voz de Finnick, que tinha um pouco mais do que humor, soou perto delas. — Não acho que esse seja o conselho que eu quero que você dê a nossas hóspedes.

Maggie pigarreou enquanto ele se inclinava para lhe dar um beijo.

— Você está atrapalhando meus projetos — ele advertiu-a com bom humor.

Maggie olhou para Annie novamente, apontando seu sobrinho-neto.

— Este é um belo partido.

— Tentarei não dormir com ele — Annie prometeu. Então ela disfarçou seu sorriso com um gole de seu copo.

Maggie tinha acabado de cometer um erro fatal com aque­les dois. Seria o mesmo que desafiá-los a dormirem juntos.

— Ajude-me aqui, querido — Maggie pediu a Finnick, e ele a pegou pela mão, apoiando-a pelo cotovelo e gentilmente levantando-a.

Ela levou um momento para ficar estável, e Finnick con­tinuou a segurá-la.

— Agora que você está aqui — ela lhe disse —, eu pensei que poderia chamar Sadie... — Então ela parou, com um olhar fugaz de confusão em seus olhos envelhecidos. — Que tola. Quero dizer: o roseiral. Eu gostaria de visitar o roseiral de Sadie.  

Finnick olhou arrependido para Annie. Mas não havia impaciência em sua voz quando ele falou:

— Será um prazer levá-la — disse ele. Katniss saiu da piscina.

— Deixe-me levá-la — ela se ofereceu.

— Obrigada, querida — disse Maggie. — Você é uma boa menina. Devia ir em frente e dormir com Peeta, sabia?

Katniss parou de se secar e piscou para a senhora, es­pantada.

— Esses Mellark não são para casar — Maggie explicou.

— Peeta já se casou com Katniss — Annie entregou. En­tão ela parou, petrificada. — Quero dizer...

— Você está grávida? — Maggie quis saber, examinando a barriga reta de Katniss.

Katniss rapidamente sacudiu a cabeça.

— Não, não estou.

— Desculpe — Annie pediu, apavorada.

— Bem, eu não sei como você o prendeu — disse Maggie, com naturalidade. — Sadie e eu ficávamos desesperadas porque ele parecia não ligar para nenhuma mulher.

Katniss olhou para Finnick, pedindo socorro. Essa situa­ção pedia mais explicações? Maggie esqueceria essa con­versa pela manhã?

Mas ele estava muito ocupado tentando controlar o riso para conseguir ajudar.

— Nós... bem, não sabemos se isso vai funcionar — ex­plicou Katniss, sentindo que precisava dizer alguma coisa.

— Bem, há quanto tempo está casada? — perguntou Maggie, colocando um pano bem fino sobre os ombros, ob­viamente alheia ao que acontecia nas entrelinhas.

Katniss hesitou.

— Bem, há alguns meses.

— Então você já teve relações sexuais. — Maggie garga­lhou com prazer.

— Quem fez sexo? — A voz de Peeta assustou Katniss quando ele apareceu entre duas cabanas da piscina e se juntou ao grupo. Seu olhar curioso ia de uma pessoa para outra.

— Você e Katniss — disse Finnick.

O quê? — Ele viu o corpo de Katniss somente de biquí­ni, seu olhar intenso fazendo-a se arrepiar e aquecendo-a por dentro.

— Maggie e eu estamos indo para o roseiral — anunciou ela, rapidamente envolvendo-se em uma toalha.

Katniss não tinha razão para permanecer ali. Finnick poderia deixar Peeta a par dos acontecimentos.

Ela e Maggie foram para a cabana em que estavam suas roupas.

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O roseiral de Sadie fora algo maravilhoso em sua época, mas acabou sendo trabalhoso demais mantê-lo bem cuidado.

Maggie compartilhou histórias de fabulosas festas nos jardins, que duravam um fim de semana inteiro, e das pes­soas importantes que haviam visitado a ilha ao longo dos anos.

Katniss pôde ver uma despreocupada e jovem Sadie se tornando uma mulher séria e responsável, com um res­peito duradouro pela herança da família do homem com quem se casou.

Maggie cortava algumas flores enquanto falava, e Katniss acabou carregando uma grande braçada de rosas: amarelas, brancas, vermelhas e cor-de-rosa.

No fim, Maggie disse estar exausta e pediu a Katniss que levasse as flores para o cemitério da família e as deixasse no túmulo de Sadie.

Katniss concordou de bom grado. Deixou Maggie na casa dos Odair e, seguindo as instruções de Maggie, con­duziu um dos carrinhos de golfe até o alto do morro, onde ficava o cemitério da família.

Visitar o cemitério era uma experiência irreal.

O cemitério ficava no ponto mais alto da ilha, no fim de uma trilha rochosa de bodes. Ela parará no fim da trilha o havia descoberto um pequeno prado, pontilhado com lá­pides dos Mellark e dos Odair.

Ambos os piratas tinham se casado e tido muitos filhos. Katniss tentou imaginar como devia ter sido para Emma Cinder se casar com Lyndall Mellark nos anos 1700. Será que a família dela sabia que ele era um pirata quando con­cordaram com o casamento dos dois? Será que Lyndall a havia sequestrado, roubando-a de uma família amorosa? Será que ela o amara e fora feliz ali, no que devia ter sido um lugar incrivelmente isolado?

Katniss não podia deixar de imaginar Peeta em trajes de pirata, de espada na mão, baú de tesouro a seus pés. Será que Lyndall se parecia um pouco com ele: teimoso, leal, protetor? Será que Emma tinha se apaixonado por Lyndall e o seguido até ali? Talvez contra a vontade de sua família?

A maior parte das jovens que se casaram com os ho­mens das famílias Mellark e Odair tinham dado filhos a eles e então morriam como avós e eram enterradas na­quele lugar.

Então Katniss chegou a duas novas lápides. Eram de Drake e Isabelle Mellark. Os dois haviam morrido em 17 de junho de 1998. Eles só podiam ser os pais de Peeta.

Embora as rosas fossem para Sadie, Katniss colocou uma rosa branca em cada um dos túmulos dos pais de Peeta.

Uma gota de chuva caiu em sua mão.

Ela se levantou, relutante. Com um último olhar para o cemitério da família, dirigiu-se até o carrinho.

Com as roupas úmidas agora, Katniss subiu no estreito banco de vinil, colocou o pé no freio, virou a chave para ligar o carro e empurrou o pedal do acelerador.

O carrinho não avançou.

Ela verificou a chave, desligou-a e depois a ligou de novo. E então fez tudo de novo. Mesmo assim, nada acon­teceu.

A chuva estava descendo com mais força agora, e as nuvens tinham bloqueado o último vestígio de céu azul. O vento ficava mais forte, chicoteando as gotas de chuva para os lados e entrando no carrinho.

Poderia ser uma bateria descarregada ou um defeito qualquer. De qualquer maneira, ela estava, sem dúvida alguma, presa ali. Pegou seu telefone celular e discou o número de Annie.

A chamada foi imediatamente para o correio de voz.

Katniss deixou uma mensagem, na esperança de que Annie não estivesse escondida em algum lugar nos bra­ços de Finnick.

Se Annie realmente queria cumprir sua fantasia com um pirata, então Katniss esperava que ela estivesse fazen­do exatamente isso. Mas esperava que essa fantasia não durasse muito tempo. E ela realmente queria ter anotado o número do celular de Peeta quando eles brincaram sobre isso, de manhã.

Olhou à sua volta, vendo as lápides projetando suas sombras. Disse para si mesma que ainda faltavam duas horas para o anoitecer, então daria tempo de Annie ou vir sua mensagem.

Trovejava, e gotas de chuva batiam contra seu rosto.

Talvez Maggie acordasse de seu cochilo e dissesse a ele que Katniss tinha ido para o cemitério. Isso se Maggie se lembrasse desse fato.

A chuva caía mais forte, para todos os lados, e inundava o carrinho. E suas meias e seus tênis estavam absorvendo as gotas de chuva em um ritmo alarmante.

Ela esfregou os braços arrepiados, desejando ter vesti do mais do que uma blusa sem mangas.

Relâmpagos brilhavam acima dela, e um barulho de trovão ressoava ameaçadoramente. Ocorreu-lhe que o carrinho era feito de metal e que ela estava no ponto mais alto da ilha.

Bem, mas ela sempre poderia andar.

Ainda havia bastante luz para ver a trilha. Katniss só precisaria descer, e não demoraria mais do que 45 minutos, uma hora no máximo, para voltar para a casa de Finnick.

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— Como assim ela não está aqui? — Peeta examinou um Finnick desgrenhado e depois Annie.

Ele não precisava saber o que eles estavam fazendo, apesar de ser completamente óbvio para qualquer pessoa...

— Onde estaria ela? — Peeta perguntou. Ele tinha verificado o roseiral há mais de uma hora.

Também vasculhara todo o castelo, incluindo os aposentos do sótão e os quartos dos funcionários. E acabara de confirmar que a tia Maggie dormia em seu quarto. Assim, as duas não estavam juntas.

— Será que ela foi para a praia? — Annie sugeriu, ten­tando arrumar o cabelo.

— Quando foi a última vez que você a viu? — Peeta quis saber.

Finnick e Annie trocaram olhares culpados.

— Deixem para lá.

O que eles estavam fazendo nas últimas três horas não lhe interessava. E eles certamente não eram babás de Katniss.

— Ela não deve estar longe — disse Finnick. — Nós esta­mos em uma ilha.

Peeta concordou. Mas havia a chance de que ela tivesse caído de um penhasco.

Ele imediatamente censurou esse pensamento. Katniss não era tola. Ele tinha certeza de que ela estava bem. Parecia improvável que ela estivesse do lado de fora nesta tempestade. Então talvez já estivesse de volta ao castelo.

— Você tem o número do celular dela? — indagou a Annie.

— Tenho — Annie procurou em seus bolsos. Então olhou ao redor, parecendo intrigada.

Depois de alguns segundos, Finnick tomou uma atitude.

— Vou verificar a cabana da piscina.

 Peeta pegou seu telefone.

— Apenas me diga o número dela. Annie disse rapidamente, e Peeta digitou.

Ele tocou várias vezes antes que Katniss atendesse: — Alô?

A voz dela estava trêmula. Ela ainda estava na tem­pestade.

— Você está bem? — ele se viu gritando.

— Peeta?

— Onde você está?

— Hum...

— Katniss?

— Acho que estou na metade do caminho da trilha para o cemitério — ela afirmou.

— Você está dirigindo na tempestade?

— Não, estou andando.

O quê? — Ele não pôde evitar o horror em sua ex­clamação.

— Eu acho que a bateria do carrinho acabou — explicou ela.

Isso fazia sentido.

— Você está bem?

— Acho que sim. Eu caí.

Peeta imediatamente foi para a garagem.

— Estou a caminho.

— Obrigada — disse Katniss, com evidente alívio em sua voz.

— O que você estava fazendo lá em cima? — ele não pôde deixar de perguntar.

— Onde está ela? — Annie quis saber, mas Peeta a ig­norou, mantendo seu foco em Katniss.

— As rosas — disse Katniss, parecendo ofegante. — Maggie pediu que eu colocasse rosas no túmulo de Sadie.

— Tem certeza de que você não está muito machucada? — A adrenalina passava por ele, seu coração batendo mais rápido enquanto ele partia para a ação.

O barulho do vento se fazia ouvir pelo telefone.

— Katniss?

 — Talvez eu esteja sangrando um pouco.

O coração de Peeta pulou.

— Eu tropecei — ela continuou. — Estou muito molhada, e está escuro. Não posso ver direito, mas minha perna dói.

Peeta apertou o botão da garagem, enquanto Finnick tira­va a capa de um carrinho de golfe.  

Eu quero que você pare de andar — Peeta instruiu. — Onde você estiver, fique e espere por mim. O que você pode ver?

— Arvores.

— Até onde você acha que conseguiu chegar? A trilha é rochosa ou de areia?

— Agora é de lama.

— Ótimo. — Isso significava que ela já tinha passado da metade do caminho. — Dê-me dez minutos.

— Eu vou estar bem aqui.

Peeta desligou e ligou o carrinho.

— Onde ela está? — Annie repetiu.

— Estava no cemitério. A bateria do carrinho acabou. Ela está voltando.

Ele sabia que não precisava se preocupar. Katniss estava bem. Ela estaria molhada e com frio, mas eles poderiam resolver esses problemas rapidamente. Mas ele se sentiria muito melhor quando ela estivesse segura em seus...

Peeta parou.

Em seus braços?

O que, diabos, significava isso?

Segura dentro de casa, foi o que ele quisera dizer. Ob­viamente.

Ainda assim, passaram-se dez longos minutos antes que seus faróis a encontrassem.

Ela estava encharcada até os ossos. Suas pernas, sujas de lama, seu cabelo, pingando, e sua blusa branca, colada ao corpo.

Assim que o carro parou, ele percebeu que ela tremia.

Antes que ele pudesse sair para ajudá-la, Katniss subiu cautelosamente no carrinho. Então ele tirou sua camisa e a colocou nela.

— Obrigada. — Katniss se acomodou no assento ao lado dele, envolvendo os braços em torno do corpo.

Ele pegou uma lanterna atrás do assento e apontou para suas pernas nuas.

— Onde você está ferida? — Ele inspecionou-a metodicamente.

Katniss virou o tornozelo, e Peeta viu um corte em sua panturrilha, seu sangue se misturando à lama e à água da chuva.

— Não parece ser nada sério — ela disse, corajosamente. Mas Peeta ficou tenso com a visão, sabendo que aquilo deveria estar doendo.

Ele abandonou a lanterna, ligou o carrinho e passou o braço pelos ombros dela, trazendo-a para perto de seu corpo em uma tentativa de aquecê-la.

— O que aconteceu? — ele perguntou enquanto desciam.

— Maggie queria colocar rosas no túmulo de Sadie. Mas ela estava muito cansada depois da visita ao roseiral. — Katniss fez uma pausa.

Ela estava bem. Sentia frio e precisava de um curativo, mas estava com ele agora e se sentia bem.

— Estou encharcando sua camisa, Peeta.

— Não se preocupe com isso.

— Sinto-me estúpida.

— Você não é estúpida. Foi simpático de sua parte aju­dar tia Maggie.

E realmente foi. Foi muito simpático da parte dela ir até o cemitério para colocar as rosas de Maggie. 

A chuva descia com mais força agora, a claridade dos relâmpagos e o barulho dos trovões aumentavam. O car­rinho balançava sobre sulcos e pedras, e a maior parte da iluminação dos faróis era absorvida pelo breu.

— Obrigada por me resgatar — agradeceu ela.

O peito de Peeta se apertou, mas ele ignorou a sensa­ção. Ela era sua hóspede. E havia perigo real na ilha. As, falésias, por exemplo. Ele estava aliviado por ela estar segura agora.

— Não foi nada — disse ele.

— Eu estava ficando com medo — confessou.

— De quê?

— Estou aqui, em uma misteriosa ilha pirata, em um ce­mitério, no escuro, em uma tempestade. — O tom dela era melodramático. — A coisa toda estava começando a pare­cer com um filme de terror.

Peeta não pôde deixar de sorrir.

— Nesse caso, acho que eu a salvei. E provavelmente você me deve. Talvez você possa ser minha escrava pelo resto da vida.

— Há! — disse ela. — Bela tentativa, Mellark. Primeiro você me mandaria parar, de chantageá-lo. Então faria com que me divorciasse de você. Então me demitiria e me expulsaria de sua vida.

Peeta não respondeu. Isso não estava nem perto do que ele tinha em mente.


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