Esposa Sem Querer - CEO escrita por Sra Mellark


Capítulo 2
Capitulo 2




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Uma semana depois, Katniss encontrou sua melhor ami­ga, a professora de direito Annie Cresta, no parque atrás do Colégio Seamount, no centro. Era quarta-feira, hora do almoço, e os bancos estavam ocupados por estudantes e empresários das ruas próximas.

— Terminei de ver seus papéis — disse Annie, jogando para trás seu cabelo ruivo enquanto caminhavam.

A amizade de Katniss e Annie vinha desde seus tem­pos de calouras na faculdade. O Serviço Social tinha finalmente desaparecido da vida de Katniss, e Annie deixara sua família em Chicago. Morando no mesmo andar do dormitório da faculdade, elas criaram um laço imediato.

Permaneceram amigas íntimas desde então, de forma que Annie sabia que Peeta havia arruinado a carreira de Katniss, e ela aplaudiu o desejo de recompensa dela.

— Posso assinar? — perguntou Katniss. — E quanto tempo tenho de deixá-lo esperando?

Annie sorriu com prazer. Ela empurrou o envelope contra o peito de Katniss, que automaticamente o agarrou.

— Ah, é melhor do que isso — disse ela.

— Melhor do que o quê? — Katniss ficou perplexa. Annie riu do fundo do peito.

— Quero dizer, você pode dar seu preço.

— Preço de quê?

Por que Annie estava falando por enigmas?

— De sua vida — Annie disse em uma voz melodiosa. — O que você quer? Uma mansão? Um jato? Um bilhão de dólares?

— Eu lhe disse que recusei o dinheiro. — Katniss não ha­via mudado de idéia sobre isso. Não queria nada que não fosse seu. — E o que você quer dizer com um bilhão? Ele estava falando de 2 milhões.

— É mais do que apenas 2 milhões. É a própria Sadie Mellark — disse Annie. — Sadie era a matriarca da família Mellark. Ela morreu há um mês, na casa dos Mellark, em Serenity Island.

Katniss ainda não havia entendido o raciocínio de Annie.

— Eu li uma cópia do testamento dela — afirmou Annie.

— Você, garota, está nele.

— Como posso estar nele? — Katniss não sabia quem era Sadie Mellark. Até então, ela nunca sequer ouvira falar dela.

— Na verdade — continuou Annie alegremente —, você é a única beneficiária.

Katniss parou imediatamente, voltando-se para Annie, estranhando a afirmação.

— Sadie deixou sua herança inteira para a sra. Peeta Mellark.

— Pare com isso. Como essa senhora saberia sobre mim?

— Ela não sabia. — Annie balançou a cabeça. — O tes­tamento determina que a propriedade seja controlada até que Peeta se case. Mas ele já está casado, então, aos olhos da lei, você é dona de 50% da Mellark Transportes.

Os joelhos de Katniss tremeram.

Por isso, Peeta parecia tão desesperado.

Por isso, ele estava com tanta pressa em se livrar dela.

— Então o que você quer? — Annie perguntou mais uma vez, rindo.

Sem palavras, Katniss empurrou o envelope de volta para Annie, oprimida pelo pensamento do que estava em jogo. Recuou um passo e sacudiu a cabeça em silen­ciosa recusa.

— Eu não quero nada — finalmente conseguiu responder.

— Não seja ridícula, Katniss.

— O casamento foi uma brincadeira, Annie. Foi um erro. Eu não queria me casar com ele. E com certeza, não mereço metade da empresa de Peeta.

— Então pegue o dinheiro em vez disso — Annie sugeriu racionalmente.

Como se isso fosse melhor.

— Também não vou pegar o dinheiro dele.

— Então o que você quer? Qual seria a recompensa? perguntou Annie, exasperada. Katniss pensou por um momento.

— Eu quero um emprego. Quero uma chance para me por a prova. Eu sou uma boa... não, sou uma ótima arquiteta. E tudo que desejo é uma boa chance para provar isso.

O caminho chegou à calçada, e Annie olhou para cima, em direção ao letreiro da Mellark Transportes, no edifício de dez andares, do outro lado da rua.

— Então peça-lhe uma chance — sugeriu.

Katniss apertou os olhos para olhar as enormes letras azuis. Fitou Annie, e em seguida, o letreiro. De repen­te, as possibilidades dessa situação floresceram em seu cérebro.

Um lento sorriso cresceu em seu rosto.

— É por isso que eu te amo! — ela disse para Annie, apertando-lhe o braço. — Esse é um plano brilhante.

E isso era exatamente o que ela faria. Katniss faria com que Peeta Mellark lhe desse um emprego. Ele daria a ela o trabalho, que sempre deveria ter sido dela: desenvolver projetos para a renovação de sua sede corporativa.

Katniss começaria exatamente de onde parou. Na ver­dade, ela teria agora um conceito ainda melhor. Então, assim que provasse a ele e ao mundo que ela era uma arquiteta talentosa, assinaria todos os papéis que ele qui­sesse. Ele teria sua empresa de volta, e ela teria sua vida de volta. E, mais importante, Katniss não precisaria dei­xar Nova York.

O sinal ficou verde, e ela puxou o braço de Annie.

— Você vem comigo.

Annie hesitou, ficando na calçada.

— Eu tenho uma aula agora.

— Vai ser rápido — Katniss prometeu.

— Mas...

— Vamos lá. Preciso que você solte algum jargão legal para assustá-lo.

— Acredite, ele já está assustado. — Mas Annie come­çou a atravessar a rua.

— Então vai ser fácil — Katniss assegurou-lhe, pisando na calçada, e em seguida, subindo a pequena escada de concreto.

Elas se encaminharam para a pequena entrada do pré­dio da Mellark Transportes.

As duas entraram no elevador. Katniss determinada­mente se dirigiu pelo corredor estreito até a recepcionista de Peeta.

— Estou aqui para ver Peeta Mellark — Katniss anunciou, com o máximo de confiança possível.

Seu coração acelerou. Ela estava com medo de o plano não funcionar.

— Você tem hora marcada? — perguntou a jovem more­na educadamente.

— Não — Katniss admitiu, percebendo que as chances de Peeta estar disponível eram pequenas.

Annie se aproximou.

— Diga-lhe que é uma questão legal. Katniss Everdeen. A cabeça da mulher se ergueu.

— É claro. Um momento, por favor. — Ela levantou-se da cadeira.

— Obrigada — Katniss sussurrou para Annie assim que a recepcionista saiu pelo corredor. — Eu sabia que você seria útil.

A recepcionista voltou com um sorriso profissional no rosto.

— Por aqui, por favor.

Ela as levou até o fim do corredor, onde portas duplas se abriam para um escritório grande, brilhante e acarpetado na cor vinho.

Ela fez um gesto para que entrassem, e Katniss entrou primeiro.

Assim que ela cruzou o espesso tapete, Peeta se levantou. Como sempre, ele vestia um terno bem cortado e perfeitamente passado.

O olhar dele se voltou para Annie, e ele torceu as sobrancelhas em dúvida.

— Minha advogada — Katniss explicou-lhe. — Annie Cresta.

— Por favor, sentem-se. — Peeta apontou para as cadeiras de couro.

Mas Katniss preferiu permanecer em pé.

— Vou assinar os papéis — disse Katniss.

Uma sugestão de sorriso contraiu os lábios de Peeta.

— Mas tenho duas condições — Katniss continuou. — Pri­meiro, nosso casamento permanecerá em segredo.

Se as pessoas descobrissem que ela era casada com Peeta, a credencial profissional da renovação de seu pré­dio não significaria nada. Toda a cidade iria creditar isso a seu relacionamento pessoal.

— Segundo, você me dará um emprego. Diretora de projeto de renovação ou algum título semelhante.

— Você quer um emprego?

— Sim.

— Por quê?

— Vou precisar de um escritório e de alguns funcioná­rios para terminar o planejamento da renovação de seu prédio. Uma vez que você já tem tudo isso à disposição por aqui...

Ele ficou em silêncio por três segundos.

— Eu estou lhe oferecendo dinheiro, não trabalho.

— Isso não é negociável, Peeta. Quero liberdade total. Eu faço a renovação do meu jeito e...

Ele se inclinou para a frente, apoiando os dedos na mesa polida.

— Sem chances.

— Como?

Annie entrou na conversa:

— Você deve saber, sr. Mellark, que eu forneci à sra. Everdeen uma cópia do testamento de Sadie Mellark, confor­me apresentado ao tribunal de sucessões.

A sala ficou em silêncio.

Katniss cruzou os braços sobre o peito, deixando que a expressão atordoada dele aumentasse sua confiança.

— Eu vou me divorciar de você, Peeta — disse ela. — Assinarei os documentos para devolver toda a empresa a você, assim que eu tiver minha carreira de volta.

— Você está me chantageando!

— Estou fazendo um acordo com você.

A expressão dele pouco mudou. Mas, por fim, Peeta fez um único e breve aceno com a cabeça. Uma onda de alívio passou por Katniss. Ela conseguira!

Por baixo do pórtico de concreto manchado do prédio da Mellark Transportes, Katniss olhava a chuva caindo na Liberty Street. Esse era o fim de seu primeiro dia completo de trabalho.

Peeta não a fizera sentir-se particularmente bem-vinda, mas Katniss tinha uma mesa, um cubículo sem janelas como escritório, uma mesa de desenho e um arquivo. E, embora outros membros da equipe parecessem confusos com a súbita mudança no projeto de renovação, uma das assistentes administrativas a havia apresentado a todos e se oferecido para ajudar.

Katniss olhou para o céu cinzento e avaliou a distância até a escadaria do metrô, no quarteirão seguinte. Ela devia ter trazido um guarda-chuva.

— Acredito que você tenha encontrado tudo o que pre­cisava. — A voz profunda de Peeta atrás dela tinha um tom zombeteiro.

Katniss se virou, a altura elevada e o forte perfil dele tendo seu edifício histórico ao fundo. Ela se forçou para lembrar que era ela quem estava no comando. Ela devia deixá-lo nervoso e não o contrário.

— Você não poderia ter me colocado em um escritório menor? — disse Katniss, tentando uma ofensiva.

— Você não ouviu? — A boca dele se curvou em um meio sorriso frio, confirmando as suspeitas dela. — Estamos re­formando.

— Mas vejo que seu escritório é bastante espaçoso — in­sistiu, esperando incutir nele um pouco de culpa.

— É que eu sou o dono da empresa. — Sua expressão indicava que ele também possuía uma grande parte do mundo.

— Eu também sou.

A vitória dela teve curta duração.

— Quer que eu expulse um vice-presidente para você?

Estava subentendida a noção de que, embora ele pudes­se dar a ela um tratamento especial, isso levantaria dúvi­das entre a equipe, podendo comprometer o desejo dela de manter o relacionamento pessoal deles em segredo.

— Você não tem nada entre o andar dos executivos e um cubículo?

— É só escolher alguém, e eu o dispensarei — disse Peeta, com um encolher de ombros.

— E eles saberão que foi por minha causa.

— Você, de fato, é dona da empresa — ele falou lentamente.

— Trate-me como trataria qualquer outra pessoa.

— Isso parece impossível. — Ele fez sinal para um car­ro brilhante e preto, de último tipo. — Posso lhe dar uma carona?

Ela devolveu um olhar incrédulo. Ele só podia estar brincando.

— Você tem medo de que os outros entendam da forma errada?

— Estou com medo de que eles entendam da forma certa. - A boca de Peeta se contorceu novamente.

— Eu tenho alguns documentos que você precisa assinar. Ela deu um passo hesitante para a frente, murmurando:

— Nada de divórcio por enquanto, sr. Mellark.

Ele ficou na chuva ao lado dela, mantendo o ritmo, sua voz tão baixa quanto a dela:

— Esses não são papéis de divórcio, sra. Mellark.

O título nos lábios dele a fez estremecer. Eles eram casados, casados.

Katniss inclinou a cabeça, observando sorrateiramente seu perfil, seus olhos escuros, sua testa marcada e a fina cicatriz no lado direito do rosto. Tentou imaginar uma relação íntima, na qual eles se divertiam, se tocavam e...

— Katniss?

Ela deu uma sacudidela em seus pensamentos, dizendo a si mesma para se controlar.

— Que tipo de papéis?

Peeta olhou à sua volta, obviamente confirmando se havia espaço suficiente entre eles e os outros funcionários do Mellark que saíam.

— A confirmação de minhas posições como presidente e diretor geral.

— O que você é agora?

— Presidente e diretor geral. Houve uma mudança na propriedade da empresa — Peeta explicou.

Demorou um momento para que ela percebesse o peso dessas palavras. Sem a assinatura dela, a posição dele na empresa estava em risco. Ele não podia fazer o que sem­pre fez, nem podia ser quem sempre foi, sem o consenti­mento assinado dela.

Não era correto que ela tivesse esse tipo de poder. Tudo o que Katniss queria era fazer seu trabalho.

— Entre no carro, Katniss — disse ele. — Precisamos assi­nar e resolver essa situação.

Ela não podia deixar de notar o fluxo de funcionários saindo do edifício. Enquanto desciam rapidamente as es­cadas, debaixo da chuva, a maioria deles olhava curiosa­mente para Peeta. Entrar em seu carro à vista de uma dúzia de colegas estava fora de questão.

Katniss se inclinou um pouco mais para perto dele, abaixando a voz:

— Encontre-me no Grove, depois da parada de ônibus.

— Você não acha que isso está um pouco misterioso demais?

— Estou tentando me enturmar — lembrou ela.

— Você vai ficar encharcada — alertou ele.

Um pouco de água era a menor das preocupações dela.

— Tenha uma boa noite, sr. Mellark — ela se despediu, alto o suficiente para que os transeuntes a ouvissem en­quanto ela descia as escadas.

Katniss andou pela calçada, indo com a multidão em di­reção ao semáforo, na esquina. Quando este ficou verde, ela atravessou a rua, enxugou alguns pingos de chuva do nariz e pegou o celular.

— Oi, Annie. Vou me atrasar para o jantar.

— O que está acontecendo? — Annie perguntou, cha­teada.

Enquanto andava pela multidão encharcada, Katniss baixou a voz e falou sombriamente, de brincadeira:

— Estou prestes a entrar em um grande carro preto, com Peeta Mellark.

— Melhor me mandar o número da placa.

Katniss esboçou um sorriso, confortada pelo familiar senso de humor de Annie.

— Enviarei para você.

— Por que você está entrando no carro dele?

— Ele quer que eu assine alguma coisa.

— Melhor me deixar ler primeiro.

— Eu deixarei, se parecer complicado — prometeu Katniss. — Ele diz que é para reafirmá-lo como presidente e diretor geral.

Não que Katniss confiasse em tudo o que Peeta dizia. Na verdade, até então, ela não confiava em nada do que Peeta dizia.

— Pode ser uma artimanha — advertiu Annie. Katniss avistou o carro preto.

— Opa! É ele. Tenho de ir.

— Ligue-me quando terminar. Eu quero mais detalhes. E jantar. — Havia um lamento na voz de Annie.

— Eu ligarei. — Katniss desligou e guardou o telefone na bolsa quando Peeta abriu a porta de seu carro e pulou para a calçada, ao lado dela. — Rua Green e Stafford, em Yorkville — ela disse para o motorista ao entrar no veículo.

— Vamos para a cobertura, Henry — Peeta corrigiu.

— Você não vai me deixar em casa? — perguntou chocada.

— Henry levará você em casa mais tarde — disse ele.

Mais tarde!

— Os documentos estão em minha cobertura.

É claro que estavam. Ter os documentos disponíveis no carro seria simples demais. Resignada, ela soltou sua bolsa no colo e desistiu de tentar melhorar a aparência.

— Fique à vontade para me atrapalhar — disse ela. — Eu não tenho nada para fazer mesmo...

— Uma simples assinatura a livrará disso tudo quando você quiser.

Ela balançou a cabeça. Embora desejasse muito cortar tanto os laços conjugais quanto os profissionais, se Katniss o deixasse livre, ele a demitiria em um piscar de olhos.

— E se eu lhe prometesse que você continuaria em seu emprego?

— Isso exigiria que eu confiasse em você.

— Pode confiar em mim — assegurou ele. Ela riu.

— Você arruinou minha vida.

— Eu fiz de você uma mulher riquíssima.

— Não quero ser uma mulher rica.

— Você vai achar muito inconveniente ser minha par­ceira de negócios — Peeta avisou.

— Por quê? Vai se esforçar para fazer disso um inferno?

— E eu achando que estava sendo sutil...

— São cinquenta páginas! Vou precisar que minha advo­gada leia isto — Katniss anunciou.

— Dê uma lida antes de decidir — Peeta tentou persu­adi-la. — Não é grego. Você e eu assinamos a página 3, autorizando o Conselho Diretor. Os membros do conselho já assinaram a página 20, confirmando minhas posições. O resto é... bem, leia. Você verá.

— Tudo bem. Vou dar uma olhada — cedeu.

— Dê-me seu casaco — ele pediu.

Katniss tirou o casaco, que pingava de chuva, revelan­do um vestido preto e cor de vinho, justo, na altura dos joelhos. As mangas só cobriam os ombros, o pescoço fi­cava à mostra, e logo abaixo da saia justa, estavam suas pernas bem torneadas, cobertas por meias pretas. Embora úmidos, seus sapatos de salto alto acentuavam tornozelos delgados e belas panturrilhas.

Ela esteve de casaco o tempo todo no escritório. Ele não tinha ideia do que estava escondido por baixo. Ainda bem que Peeta não teve essa imagem em sua mente du­rante o dia todo.

— Obrigada. — Katniss entregou-lhe a peça.

— Eu... hum... — Peeta apontou na direção do corredor e da cozinha antes que ela notasse que ele a devorava com os olhos.

Na cozinha, ele descobriu que sua empregada deixara um bilhete informando-lhe de que havia salada e um prato de frango na geladeira. Ela também separara para ele uma garrafa de Cabernet. Peeta procurou o saca-rolha, sentindo emoções contraditórias de frustração e excitação.

Claro, Katniss era uma mulher atraente. Ele sabia disso. Soube disso no minuto em que a conheceu. Mas havia mu­lheres atraentes em toda parte. Não tinha de se fixar nela.

Peeta tirou a rolha.

Na verdade, talvez ele devesse marcar um encontro com alguém, isso o distrairia.

Pegou os copos de cristal.

Finnick havia se oferecido para apresentar-lhe sua mais nova pilota de helicóptero. Ele disse que ela era atraente e atlética.

Antes que Peeta percebesse, encheu duas taças de vinho.

Então era isso: ele supunha que Katniss merecia uma bebida. Se ela assinasse os papéis, eles brindariam a isso. Se ela se recusasse a assinar, talvez o vinho facilitasse, e ele poderia tentar mais uma vez convencê-la.

Tirou seu paletó e foi para o quarto principal. Lá, ele pendurou o casaco no closet, tirou a gravata e se olhou no espelho, na cômoda.

Definitivamente precisava fazer a barba. E sua camisa branca estava amassada, depois de um dia de trabalho.

Olhou o paletó mais uma vez e pensou em colocá-lo de volta. Mas o bom-senso prevaleceu. Em vez disso, desabotoou os punhos e arregaçou as mangas da camisa. Se aquilo fosse um encontro, Peeta se barbearia e trocaria de roupa. Mas não era um encontro.

Mais confortável, voltou para a cozinha e pegou as ta­ças de vinho. Foi até a sala de estar. Na entrada, ele parou.

Katniss parecia estar em casa. Ela havia tirado seus saltos e sentado sobre as pernas, os pés tocando o braço do sofá. Seu cabelo estava secando, selvagem e bri­lhante, e emoldurando sua pele macia. E seu rosto pa­recia concentrado, os lábios vermelhos contraídos, os olhos cinzas ligeiramente estreitados enquanto lia as páginas.

Ela ficava bem na sala de estar dele, de. alguma forma parecia estar em casa.

Ele devia ter se mexido, porque ela finalmente o notou.

— Vinho? — Peeta ofereceu, levantando um dos copos, andando, fingindo que não tinha estado olhando.

— Você está certo — disse ela, deixando os papéis caírem em seu colo.

— Nunca pensei que iria ouvi-la dizendo isso.

Katniss folheou o documento de volta para a primeira página e o colocou à sua frente, na mesa de café.

— Vou assinar.

— Sério? — Tarde demais, ele percebeu que mostrou sur­presa. Para disfarçar, entregou-lhe a taça de vinho.

Ela aceitou o vinho e deu de ombros.

— Então, tim-tim — ele brindou.

Katniss se permitiu dar um pequeno sorriso, que a tor­nou mais bonita ainda. Cada um tomou um gole.

— Você tem uma caneta?

— Claro. — Peeta se levantou e caminhou até a mesinha.

— Vou jantar com Annie. Não quero me atrasar de­mais — ela explicou.

— Eu tenho um encontro — ele mentiu, pegando a caneta.

Peeta ligaria para Finnick e conseguiria o telefone da bonita pilota de helicóptero assim que Katniss fosse embora.

— Você está me traindo?

Sua tirada o surpreendeu, mas, quando ele se virou, viu o riso brilhando em seus olhos cinzas.

— Sim — respondeu Peeta, sem se incomodar com a brin­cadeira. — Eu a traio desde o casamento.

— Homens... — Katniss reclamou com desgosto fingido. Ele encolheu os ombros como um pedido de desculpas em nome de seu gênero, enquanto atravessava a sala.

— O que posso dizer?

Ela pegou a caneta, curvando-se para assinar os papéis.

— Bem, eu tenho sido fiel.

— Sério? — perguntou ele.

Katniss terminou de assinar com um floreio, recusan­do-se a responder.

— Não teve relações sexuais com ninguém desde Vegas?

— O que quer dizer com desde Vegas? Com quem você acha que fiz sexo em Vegas?

— Eu não quis dizer que...

— A única pessoa com quem estive em Vegas foi você, e nós... não fizemos nada, não é?

Está bem, isso estava interessante.

— Você não lembra? — Ele podia até não se lembrar de todos os acontecimentos daquela noite, mas sabia que eles não tinham feito amor.

— Eu mal me recordo do casamento.

Peeta estava tentado a continuar, mas logo mudou de ideia.

— Não fizemos nada — assegurou ele.

— Tem certeza? Você se lembra de cada minuto?

— Eu me lembraria disso.

— Então você não pode dizer com certeza...

— Isso a tem incomodando?

— Não. Se fizemos isso, fizemos.

— Nós não fizemos. — Não que Peeta não tivesse queri­do. Não que ele não fosse gostar. Não que não estivesse ainda morrendo de...

Droga. Tinha de parar com isso.

— Katniss, acho que precisamos deixar Vegas em Vegas.

— Nós tentamos. Mas não deu certo — disse ela.

— Culpa de Elvis — Peeta falou lentamente, olhando fir­me para o rosto dela.

O sorriso de Katniss aumentou.

— Você é mais engraçado do que se permite ser, sabia?

— Obrigado por assinar os papéis — ele disse brusca­mente.

— Obrigada por me dar um emprego.

O fantasma de seus projetos anteriores apareceu em sua cabeça. Peeta não sabia o que faria se ela insistisse em ressuscitá-los.

— Você sabe que o edifício está em minha família há cinco gerações — declarou ele.

— Isso não significa que ele não possa ser bonito.

— Existem muitas maneiras de torná-lo bonito. Maneiras clássicas. Maneiras funcionais.

Peeta gostaria de fazê-la se interessar em usar os proje­tos de Hugo Rosche como ponto de partida. Hugo assu­mira depois que Peeta cancelara o contrato com a Hutton Quinn. Peeta arcara com uma multa por rescindir o con­trato, mas Hugo fora embora em bons termos, com uma referência e diversos clientes em potencial conseguidos por Peeta. Os projetos de Hugo melhoraram o que já exis­tia, e eles só levariam cerca de seis meses para serem im­plementados.

— E eu vou encontrar a melhor maneira — ela garantiu.

— É minha herança que está em jogo, sabe?

— Então você é um homem de muita sorte, Peeta Mellark. Porque eu vou tornar sua herança muito melhor.


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