Esposa Sem Querer - CEO escrita por Sra Mellark


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

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Peeta Mellark era a última pessoa que Katniss Everdeen es­perava ver de pé no corredor junto à porta do seu aparta­mento. O homem alto, loiro, de olhar endurecido era a razão pela qual ela estava arrumando seus pertences e desistindo de seu apartamento alugado, a pessoa que a es­tava forçando a deixar Nova York.

Encarando-o, ela cruzou os braços na frente de sua ca­miseta azul empoeirada dos Mets, na esperança de que o vermelho de seus olhos, da crise de choro, já tivesse desaparecido e também de que nenhuma lágrima tivesse ficado em seu rosto.

— Nós temos um problema. — A mão esquerda de Peeta segurava firmemente uma pasta preta de couro.

Ele usava um terno de marca e uma camisa branca bem passada. Sua gravata vermelha era de seda fina, e as abotoaduras, de ouro maciço. Como sempre, seu cabelo se encontrava recém-cortado, a barba feita, e os sapatos, muito bem engraxados.

Nós não temos nada. — Katniss encolheu os dedos dentro das confortáveis meias que cobriam seus pés, por baixo da bainha desfiada de seu jeans desbotado.

Ela estava à vontade, não desarrumada, pensou. Uma mulher tinha o direito de ficar à vontade em sua própria casa. Onde Peeta Mellark não tinha o direito de estar, de forma alguma. Katniss começou a fechar a porta diante dele. Mas a mão de Peeta a impediu de fazê-lo.

A mão dele era grande e bronzeada, com um pulso forte e dedos afilados. Ele não tinha anéis, mas usava um reló­gio Cartier de platina e com mostrador de diamantes.

— Não estou brincando, Katniss.

— E eu não estou rindo. — Ela não se importava nem um pouco com nenhum problema que o poderoso Peeta Mellark pudesse encontrar durante sua vida encantada.

Ele não só havia feito com que ela fosse demitida, como também sujara o nome dela em todas as empresas de arquitetura de Nova York.

Ele olhou por sobre o ombro dela.

— Posso entrar?

Katniss fingiu pensar por um momento.

— Não.

Peeta podia ser o chefão na Mellark Transportes e em to­dos os principais negócios de Manhattan, mas não tinha o direito de ver seu lar bagunçado, especialmente a coleção de lingerie rendada que se achava à mostra.

Ele cerrou os maxilares.

Ela firmou os dela, defendendo seu território.

— Isso é pessoal — Peeta insistiu, trocando a pasta de mão.

— Nós não somos amigos — ressaltou Katniss.

Eles eram, na verdade, inimigos. Porque era isso que acontecia quando alguém arruinava a vida do outro. Não importava que essa pessoa fosse atraente, bem-sucedida, inteligente e dançasse desgraçadamente bem. Ele perderia todos os direitos a... bom, a tudo.

Peeta endireitou os ombros e, em seguida, olhou para os dois lados do corredor estreito do prédio de 50 anos. A luz era fraca; o carpete estampado, usado. Dez portas davam para essa parte específica do quinto andar. O apar­tamento de Katniss ficava no fim, próximo a uma porta de saída de ferro e de um alarme de incêndio protegido por um vidro.

— Tudo bem — disse ele. — Podemos ficar aqui fora.

Ah, não, eles não ficariam. Eles não fariam nada em lu­gar nenhum, nunca mais. Ela começou a recuar, voltando para a segurança de seu apartamento.

— Você se lembra daquela noite em Vegas? — perguntou ele.

A pergunta dele a fez congelar.

Katniss nunca iria esquecer a festa corporativa da Mellark, no Bellagio, três meses atrás. Junto com os cantores, dançarinos, malabaristas e acrobatas que entretinham a multidão de 5 mil clientes especiais da Mellark Transportes, havia um espalhafatoso imitador de Elvis, que tirara Katniss e Peeta da pista de dança para que participassem de um casamento simulado.

Naquele momento, foi engraçado, e estava de acordo com o clima alegre da festa. Claro, o senso de humor dela fora ajudado naquela noite por vários martínis de mirtilo. Olhando para trás, aquilo parecia simplesmente humilhante.

— O documento que assinamos? — Peeta continuou, em vista do silêncio dela.

— Não sei do que você está falando — mentiu.

Na verdade, Katniss encontrara a sua falsa certidão de casamento exatamente nesta manhã. Estava enfiada em um álbum de fotos.

Foi uma estupidez manter aquela lembrança. Mas o brilho de sua noite nos braços de Peeta demorara alguns dias para desaparecer.

Era uma fantasia ridícula.

Aquele homem destruíra sua vida na semana seguinte.

Ele respirou fundo e tomou coragem para afirmar:

— É válido.

Ela franziu as sobrancelhas.

— Válido para quê?

— Casamento.

Katniss não respondeu. Peeta estava realmente insinu­ando que eles tinham assinado uma licença de casamento autêntica?

— Você está brincando?

— Eu estou rindo? — Ele não estava.

Na verdade, Peeta raramente ria. E raramente fazia pia­das também. Aquela noite foi bastante incomum para ele, ela saberia mais tarde.

Katniss sentiu um frio na barriga.

— Estamos casados — ele disse a ela, inabalável.

Eles não estavam casados. Tinha sido uma brincadeira. Os dois apenas encenaram.

— Elvis era licenciado pelo estado de Nevada — Peeta informou.

— Nós estávamos bêbados — Katniss replicou, recusan­do-se a acreditar em tal afirmação absurda.

— Ele fez um certificado.

— Como você sabe disso? — O cérebro dela estava a mil, calculando as possibilidades e as possíveis consequências.

— Meus advogados me disseram. — Peeta deu um olhar significativo por cima do ombro dela, em direção ao apar­tamento. — Por favor, posso entrar?

Ela pensou nos romances de mistério que cobriam o sofá, as revistas de entretenimento na mesa de café, o car­tão de crédito e os extratos bancários empilhados ao lado deles, revelando seus hábitos de compras do mês anterior. Lembrou-se do pacote denunciador e já meio devorado de rosquinhas sobre o balcão. E, claro, havia a caixa de lingerie sexy totalmente exposta.

Mas, se ele estivesse dizendo a verdade, aquilo não se­ria algo que ela poderia ignorar.

Katniss rangeu os dentes e se forçou a não ligar para a opinião dele. E daí se Peeta descobrisse que ela adorava rosquinhas? Em alguns dias, ele estaria fora de sua vida. Teria de começar tudo de novo em outra cidade, talvez Chicago ou Los Angeles.

Sua garganta se apertou involuntariamente com esse pensamento, e lágrimas ameaçaram cair.

Katniss odiava recomeçar. Já recomeçara tantas vezes, deixando para trás a segurança e a normalidade à medida que se mudava de uma casa de adoção para outra... Estava neste pequeno apartamento desde que começara a facul­dade. E esse era o único lugar no qual ela se sentira um pouco em casa.

— Katniss? — ele a chamou.

Ela engoliu em seco para dissipar as pesadas emoções.

— Claro — ela respondeu com firme determinação, se afastando. — Entre.

Quando ela fechou a porta, Peeta percebeu a desordem de caixas de embalagem que entulhavam o apartamento.

Não havia lugar para ele se sentar, e ela não ofereceu uma cadeira. Ele não ficaria por muito tempo.

O olhar dela voltou-se involuntariamente para a caixa de lingerie. Peeta acompanhou seu olhar, o dele indo parar no ursinho que sua amiga Annie tinha comprado para ela no Natal do ano passado.

— Você se importa? — ela retrucou, indo fechar as abas da caixa de papelão.

— Nem um pouco — Peeta murmurou, e ela pensou ter ouvido um quê de divertimento no tom de voz dele.

Ele estava rindo dela. Perfeito.

As abas da caixa tornaram a se abrir, e ela sentiu o calor indesejável de um rubor. Virou-se para encará-lo, colo­cando o corpo entre Peeta e sua lingerie.

Atrás dele, ela viu a caixa da doceria, aberta. Faltavam três rosquinhas, transferidas da caixa branca com celofane para seus quadris em torno das nove da manhã.

Peeta não parecia ter um pingo de gordura em seu corpo trabalhado. Ela apostaria que o café da manhã dele consistia de frutas, grãos integrais e proteínas ma­gras, que provavelmente fora elaborado por seu chef, com ingredientes importados da França ou talvez da Austrália.

Peeta colocou sua maleta em cima de uma pilha de DVDs na mesinha dela e abriu os fechos.

— Meus advogados prepararam os documentos de nos­so divórcio.

— Precisamos de advogados? — Katniss ainda lutava para compreender a ideia de casamento.

Com Peeta.

Seu cérebro queria ir a centenas de lugares pensando nesse fato inconcebível, mas ela o refreava firmemente.

Ele podia ser lindo, rico e inteligente, mas era também frio, calculista e perigoso. Uma mulher tinha de ser louca para se casar com ele. Peeta abriu a maleta.

— Neste caso, os advogados são um mal necessário.

Katniss se irritou com o estereótipo. Sua melhor amiga, Annie, não era nem um pouco má. Por um segundo, imaginou a reação de Annie a essa notícia. Sua amiga ficaria chocada obviamente. Será que ficaria preocupada? Com raiva? Riria?

A situação como um todo era absurda.

Katniss colocou seu cabelo castanho para trás das ore­lhas, puxando, pensativa, seu brinco de jade à medida que uma sensação nervosa crescia dentro dela. Inclinou a cabeça e esperou até que Peeta voltasse a atenção para ela.

— Eu acho que o que acontece em Vegas, às vezes, nos acompanha até em casa.

Um músculo se contraiu no rosto de Peeta e certamente não era de divertimento. Ela experimentou uma sensação perversa de satisfação por desequilibrá-lo, mesmo que só um pouco.

— Ajudaria se você levasse isso a sério — ele disse.

— Nós fomos casados por Elvis. — Ela reprimiu um acesso de riso nervoso.

Os olhos azuis de Peeta faiscaram.

— Ora, Peeta — ela tentou convencê-lo -, você tem que admitir...

Ele pegou um envelope pardo.

— Apenas assine os papéis, Katniss.

Mas ela não estava disposta a desistir da brincadeira.

— Acho que isso significa que não teremos lua de mel...

Peeta parou de respirar por um segundo, e havia algo familiar na forma como o olhar dele passou pelos lábios dela.

Katniss foi atingida por uma memória súbita e vivida que imediatamente a deixou sóbria.

Eles tinham se beijado naquela noite em Las Vegas?

De vez em quando, ocorria a ela uma imagem fugaz dos lábios de Peeta nos seus, o calor, o gosto, a pressão de seus lábios. Katniss parecia se lembrar de seus braços em volta de sua cintura, apertando-a contra seu corpo firme, os dois unidos, como se pertencessem um ao outro.

Antes ela considerava isso um sonho febril, mas agora se perguntava...

— Peeta, será que nós... Ele limpou a garganta.

— Vamos tentar nos manter focados.

— Certo.

Ela balançou a cabeça, decididamente afastando a imagem nebulosa da mente. Se ela o beijara, mesmo que só uma vez, esse teria sido o pior erro de sua vida. Detestava-o agora, e, quanto antes ele desaparecesse, melhor.

Katniss estendeu a mão e pegou o envelope.

— Levamos apenas cinco minutos para nos casar; não há razão para que o divórcio demore mais do que isso.

— Que bom que você vê dessa forma — ele concordou bruscamente com a cabeça e colocou a mão no bolso in­terno do paletó. — Claro, eu vou querer cobrir qualquer inconveniente. — Pegou uma caneta de ouro e um talão de cheques, abrindo-o e olhando para ela. — Um milhão?

Katniss piscou, confusa.

— Um milhão de quê?

Ele suspirou, com óbvia impaciência.

— De dólares. Não banque a ingênua, Katniss. Você e eu sabemos que isso vai me custar muito.

O queixo dela caiu involuntariamente.

Ele estava louco?

Peeta esperava, ansioso.

Estaria desesperado?

Espere um minuto. Ele estava desesperado?

Katniss pensou um pouco. Ela e Peeta eram marido e mulher. Pelo menos, aos olhos da lei. Claramente, ela era um problema para ele. Duvidou que o todo-poderoso Peeta Mellark tivesse muitos problemas. Pelo menos, ne­nhum que ele não pudesse resolver com aquele talão de cheques.

Hum...

Interessante.

Desta vez, Katniss riu de fato e colocou o envelope na mesa. Não queria o dinheiro de Peeta, mas, com certeza, não abriria mão de uma pequena recompensa. Que mulher o faria?

Esse divórcio não tinha de acontecer nos próximos cinco minutos. Ela estaria em Nova York por, pelo me­nos, mais duas semanas. Pela primeira vez em sua vida, o sr. Mellark poderia muito bem esperar por alguém.

Ela respirou fundo, organizou seus pensamentos e ten­tou visualizar Annie. Annie era brilhante e saberia exatamente o que fazer nesse caso.

Então Katniss teve a resposta. Ela arqueou as sobrance­lhas, com falsa inocência.

— Nova York não é um estado de propriedade conjunta?

 Peeta pareceu confuso, e então seu olhar endureceu. Ele estava com raiva.

— Não me lembro de ter assinado um acordo pré-nupcial — acrescentou ela.

— Você quer mais dinheiro — ele falou em um tom frio. Tudo o que ela realmente queria era sua carreira de volta.

— Você me fez ser demitida — ressaltou ela.

— Apenas cancelei um contrato — corrigiu ele.

— Você tinha de saber que eu seria o bode expiatório. Quem, em Nova York, vai me contratar agora?

A voz dele saiu em staccato:

— Eu não gostei do seu projeto de reforma.

— Eu estava tentando tirar seu edifício dos anos 1930.

O edifício da Mellark Transportes tinha enorme poten­cial, mas ninguém havia feito nada para melhorá-lo em cinco décadas.

Ele olhou para ela por mais um momento.

— Tudo bem. Pense como quiser. Eu a demiti. Peço des­culpas. Agora em quanto fica?

Ele não estava nem um pouco triste por tê-la demitido. Não se importava nem um pouco com ela. Peeta Mellark só se lembrava do nome de Katniss por causa do casamento acidental. E provavelmente ele teve de procurar por essa informação.

Ela endireitou os ombros sob a camiseta empoeirada, determinada a vencer.

— Dê-me uma boa razão para eu facilitar sua vida.

— Porque você, tanto quanto eu, não quer se casar. Esse era um bom argumento.

O simples pensamento de ser a esposa de Peeta Mellark causou-lhe um arrepio que percorreu toda a sua espinha.

Era repugnância. Pelo menos, Katniss tinha certeza de que o sentimento era repugnância. Com qualquer outro homem, ela poderia confundi-lo com excitação.

— Sra. Peeta Mellark. — Ela fingiu avaliar, reavivando sua postura teimosa enquanto propositalmente diminuía o ritmo, para observar seu apartamento semi empacotado. — Você não tem uma cobertura espaçosa na Quinta Avenida?

Ele lentamente colocou a caneta de lado.

— Está querendo que eu a desafie?

Katniss deu seu primeiro sorriso verdadeiro em três me­ses. Ele não faria isso. Nem em um milhão de anos.

— Sim — ela provocou com ousadia. — Vá em frente. Desafie-me.

Ele se aproximou, e ela sentiu um frio na barriga, como um alerta. Eles se olharam.

— Ou você pode deixar os papéis do divórcio — ela ofe­receu, com falsa doçura. — Minha advogada os lera na pró­xima semana.

— Dois milhões — ele ofereceu.

— Na próxima semana — respondeu, tentando não mos­trar seu choque com a quantia exorbitante. — Tenha um pouco de paciência, Peeta.

— Você não sabe o que está fazendo, Kat.

Estou protegendo meus interesses.

E ela estava certa. Quem poderia adivinhar o que os advogados dele tinham escondido nos documentos de divórcio?

Ambos ficaram em silêncio. Buzinas ressoavam e ca­minhões retumbavam cinco andares abaixo.

— Eu não confio em você, Peeta — ela afirmou, sarcásti­ca. O que era completamente verdadeiro.

Com a expressão endurecendo a cada segundo, ele en­fiou a caneta no bolso e deliberadamente guardou o talão de cheques. Fechou a pasta e endireitou as mangas do paletó.

Segundos depois, ele se foi batendo a porta.

Peeta sentou-se no banco de passageiro do Porsche preto, que passava lentamente pelo condomínio de Katniss, em Yorkville, e fechou a porta.

— Ela assinou? — perguntou Finnick Odair, engatando a primeira marcha.

Peeta colocou o cinto de segurança.

— Não.

Havia algo em Katniss que o tirava do prumo, e o en­contro fora um grande fracasso.

Ele não se lembrava de ela ser tão teimosa. Na realida­de, não a tinha conhecido muito bem. Eles se encontraram algumas vezes antes da festa, mas apenas de passagem, enquanto ela trabalhava nos planos de reforma para seu prédio de escritórios. Peeta recordava-se dela como uma mulher inteligente, ativa, divertida e bonita.

Tinha de admitir que a parte da beleza ainda era verda­de. Vestida com esmero em Vegas, ela era a mulher mais deslumbrante no grande salão de festas. Mesmo hoje, com uma camiseta de beisebol desbotada e jeans, ela estava linda.

— Você ofereceu o dinheiro a ela?

— Claro que sim, Finnick. — Peeta queria ser justo. Bem, e ele também queria resolver o problema rapidamente e sem alarde. Geralmente podia contar com o dinheiro para isso.

— Sem chances? — perguntou Finnick.

— Ela vai falar com sua advogada — Peeta admitiu com uma careta, xingando baixinho.

De alguma forma, ele tinha feito tudo errado. Arruinara suas chances de resolver tudo e só podia culpar a si.

Finnick ligou a lanterna do carro e olhou a rua movimen­tada pelo retrovisor. Correu rápido para estacionar em um espaço apertado entre dois carros importados.

— Então, basicamente, você está encrencado.

— Obrigado por essa análise perspicaz — Peeta rosnou para seu amigo.

A Mellark Transportes podia estar em risco, e Finnick fa­zia piadas?

— Para que servem os amigos? — brincou Finnick.

— Para conseguir uísque.

Se havia um momento que exigia um drinque reconfortante, era aquele.

— Eu preciso voar hoje, Peeta. E tenho a sensação de que você vai precisar de cada célula cerebral funcionando.

Peeta reviu a conversa com Katniss como um filme. Onde ele estragara tudo?

— Talvez eu devesse ter oferecido mais — especulou, pensando em voz alta. — Cinco milhões? As pessoas di­zem não a 5 milhões?

— Talvez você tenha de lhe dizer a verdade — Finnick propôs.

— Você está louco?

— Clinicamente, não.

— Dizer a Katniss que ela herdou toda a propriedade de minha avó?

Dar controle a uma mulher em uma bandeja de prata? Será que Finnick queria garantir a ruína de Peeta?

— Ela herdou, de fato, a propriedade de sua avó — Finnick ressaltou.

Peeta sentiu sua pressão aumentar. Ele estava vivendo um pesadelo, e Finnick, entre todas as pessoas, podia per­ceber a gravidade da situação.

— Não me importo com que tipo de documentação foi apresentada pela Capela Elétrica do Amor — Peeta tomou a rosnar. — Katniss Everdeen não é minha esposa. Ela não tem direito à metade da Mellark Transportes, e eu vou morrer antes que...

— A advogada dela pode discordar de você.

— Se a advogada dela tiver meio cérebro, vai dizer a Katniss para aceitar os 2 milhões e correr. — Pelo menos, era o que Peeta esperava que ela dissesse a Katniss.

Os dois estavam casados. Sim. Ele teria de assumir esse erro. Mas essa não era, provavelmente, a situação que sua avó imaginara ao fazer seu testamento. Havia a lei, mas também havia o espírito da lei. Sua avó nunca tivera a intenção de que uma estranha herdasse sua propriedade.

Ele não tinha idéia se Nova York era, de fato, um esta­do de propriedade conjunta. Mas, mesmo que fosse, ele e Katniss nunca moraram juntos. Eles jamais tiveram rela­ções sexuais. Eles nunca sequer perceberam que estavam casados. A simples idéia de que ela teria metade de sua companhia era absurda.

— Você pensou em conseguir uma anulação? — pergun­tou Finnick.

Peeta assentiu. Ele havia conversado com seus advoga­dos sobre isso, mas eles não o encorajaram.

— Nós nunca dormimos juntos — disse a Finnick. — Mas ela poderia mentir e dizer que sim.

— Será que ela mentiria?

— Não sei. Eu pensei que ela aceitaria os 2 milhões.-— Peeta olhou ao redor, orientando-se enquanto eles se aproximavam de uma entrada do Central Park. — Nós va­mos a algum lugar próximo do McDougal?

— Eu não vou deixá-lo bêbado às três da tarde. — Finnick balançou a cabeça em desaprovação enquanto mudava ra­pidamente de direção.

O Porsche acertou a calçada, e eles quase bateram em um táxi que se aproximava.

— Você é minha babá? — perguntou Peeta.

— Você precisa de um plano, não de uma bebida.

Na opinião de Peeta, isso era definitivamente discutí­vel. Eles reduziram até parar em um sinal. Dois motoris­tas de táxi buzinaram e trocaram gestos, enquanto uma multidão crescia na calçada, na garoa leve, e caminhava entre os carros parados.

— Ela acha que eu mandei demiti-la — Peeta admitiu.

— E você fez isso?

— Não.

Finnick olhou-o com ceticismo.

— Ela está delirando ou você fez algo parecido com demissão?

— Está bem. — Peeta mexeu os pés no chão do Porsche. — Cancelei o contrato da Hutton Quinn para reformar o edificio de escritórios. Os projetos não chegaram nem perto do que eu queria.

— E eles a demitiram — Finnick confirmou com um aceno de compreensão.

Peeta levantou as mãos, em defesa.

— Não tenho nada a ver com as escolhas de pessoal deIes.

Os planos de reforma de Katniss tinham sido extrava­gantes e exóticos de uma maneira tola, pós-moderna. Não combinavam com a imagem corporativa da Mellark.

A Mellark Transportes estava em Nova York havia cem anos. As pessoas confiavam nela por ser sólida e consistente. Seus clientes eram pessoas sérias, traba­lhadoras, que realizavam seus trabalhos durante bons e maus momentos.

— Então por que você se sente culpado? — perguntou Finnick enquanto eles entravam em um estacionamento subterrâneo em Saint Street.

— Não me sinto culpado.

Aquilo era trabalho. Nada mais, nada menos. Peeta sa­bia que culpa não entrava na equação.

Ele não tinha de aceitar um projeto pior porque havia dançado uma vez com Katniss, segurado-a em seus bra­ços, beijado sua boca e se perguntado por uma fração de segundo se tinha ido para o céu. Decisões baseadas no im­pulso sexual de um homem eram o caminho mais rápido para a ruína financeira.

Finnick soltou uma exclamação de descrença enquanto se aproximava do quiosque do manobrista. Desligou o motor e puxou o freio de mão.

— O quê? — Peeta perguntou.

— Eu conheço essa expressão. Roubei vinho da adega de meu pai com você quando tínhamos 15 anos e me lem­bro do dia em que você apalpou Rosalyn Myers.

O atendente abriu a porta do motorista, e Finnick jogou as chaves na mão do homem. Peeta saiu do carro também.

— Eu não roubei nada de Katniss Everdeen, e eu certamen­te nunca...

Ele cerrou os dentes enquanto contornava o capô po­lido e rebaixado do Porsche. A última coisa que precisava introduzir nessa conversa eram os seios de Katniss Everdeen.

— Talvez seja esse o seu problema — disse Finnick. Peeta soltou uma interjeição.

— Você se casou com ela — afirmou Finnick, tendo óbvia satisfação em mostrar esse fato enquanto atravessavam o estacionamento lotado. — Deve ter gostado da moça. Você mesmo disse que não dormiu com ela. Talvez esteja mais excitado do que irritado.

— Estou com raiva. Pode acreditar. Eu sei a diferença.

O interesse de Peeta por Katniss era se livrar dela. Qual­quer outra coisa estava fora de questão.

— Com raiva dela ou de si mesmo?

Dela — disse Peeta. — Estou apenas tentando resolver o problema. Se Katniss assinasse os malditos papéis, ou se minha avó não tivesse...

— Não é certo sentir raiva de sua avó — advertiu Finnick. Peeta não estava exatamente irritado com a vovó Sadie.

Mas ele estava definitivamente intrigado com o compor­tamento dela. Por que ela teria colocado a fortuna da fa­mília em risco?

— O que ela estava pensando?

Finnick subiu no meio-fio pintado de amarelo.

— Que ela queria que sua pobre mulher tivesse igualda­de de poder.

Um pensamento inquietante entrou na mente de Peeta.

— Minha avó falou com você sobre o testamento dela?

— Não. Mas ela era lógica e inteligente.

Peeta não discordava dessa afirmação. Sadie Mellark fora uma mulher muito inteligente, organizada e capaz. O que só tornava sua decisão ainda mais intrigante.

Depois que os pais de Peeta morreram em um acidente de barco quando ele tinha 20 anos, ela se tornou sua única parente viva. Eles se tornaram muito próximos durante os últimos 14 anos. Ela estava com 91 anos quando morreu, e sua saúde ficou cada vez mais frágil durante o último ano. Sadie morrera um mês atrás.

Peeta pensou que estaria preparado.

Ele definitivamente não estava.

Ele e Finnick se encaminharam para o elevador, e Finnick inseriu seu cartão-chave para o heliponto.

— Ela provavelmente queria adoçar o acordo — Finnick sugeriu, com um sorriso. — Com essa quantidade de di­nheiro em jogo, você terá alguma chance de conseguir uma mulher decente com quem se casar.

— Sua fé em mim é inspiradora.

— Estou apenas dizendo...

— ...que sou um perdedor? O elevador subiu.

Finnick elaborou alegremente:

— Que há certas coisas sobre sua personalidade que po­dem afastar as mulheres.

— Tais como...?

— Você é mal-humorado, teimoso e exigente. Quer be­ber uísque no meio do dia, e seu corpo já não é o mesmo de antes.

— Meu corpo não é problema seu: — Peeta poderia es­tar se aproximando dos 35 anos, mas exercitava-se quatro vezes por semana e ainda podia correr 16 quilômetros em menos de uma hora. — E você? — desafiou.

— Eu o quê? — Finnick perguntou.

— Temos a mesma idade, de modo que seu corpo está tão em risco quanto o meu. Mas não vejo você tentando estabelecer um relacionamento.

— Eu sou um piloto. — Finnick sorriu novamente. — Os pilotos são sexies. Podemos ser velhos e grisalhos, mas mesmo assim conseguimos conquistar as mulheres.

— Ei, eu sou um multimilionário — Peeta defendeu-se.

— E quem não é?

O elevador parou suavemente, e as portas se abriram para o pequeno vestíbulo de vidro do heliponto. Um dos característicos helicópteros amarelos e pretos de Finnick, da Astral Air, esperava-o no telhado. Piloto de formação, Finnick tinha construído a Astral Air a partir de uma divisão da empresa de sua família, e a transformou em uma das maiores empresas de serviço de voo dos Estados Unidos.

Finnick cumprimentou um técnico uniformizado en­quanto ele e Peeta corriam para o helicóptero.

Ele verificou uma fileira de interruptores e conectou o fone de ouvido.

Quer que eu o deixe no escritório?

— Quais são seus planos? — indagou Peeta.

Ele não estava com pressa de ficar sozinho com suas frustrações. Tinha muito em que pensar, mas primeiro queria dormir, acordar e talvez esquecer que errara tão feio com Katniss.

— Estou indo para a ilha — disse Finnick. — A tia Maggie andou perguntando por mim, e prometi que apareceria.

— Importa-se se eu for com você?

Finnick lançou-lhe um olhar de surpresa. Tia Maggie poderia ser descrita, no mínimo, como excêntrica. Sua memória estava desaparecendo, e por algum motivo, ela achava que Peeta era um patife. Ela também gostava de torturar o violino Stradivarius da família e de ler suas po­esias em voz alta.

— Ela está com dois novos pequineses — Finnick avisou.

Peeta não se importava. A ilha tinha sido sempre um re­fugio. Ele precisava arejar a cabeça e, em seguida, chegar a um plano de emergência.

— Espero que seu pai ainda tenha estocado aquele uís­que de trinta anos — disse a Finnick.

— Acho que podemos contar com isso. — Finnick ligou o motor, e as hélices começaram a rodar.


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Notas finais do capítulo

Estou começando, mas estou me esforçando para escrever uma fic gostosa de ler.
Deixe seu comentario.
Beijos de luz.



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