"Hinata está no hospital. É grave", Shino havia dito. Se ele tinha algo mais a dizer, Sasuke não ficou para ouvir. Partiu imediatamente na direção que o levaria até o hospital. Não se importou com o que ele pensaria de sua reação, apenas correu até ela. Precisava alcançá-la. Não podia permitir que a cena de seu pesadelo se concretizasse. Só de pensar que talvez já fosse tarde, que ela já tivesse partido... 

Seu coração batia fortemente contra sua caixa torácica e não somente pelo exercício físico. A dor ameaçava parti-lo em dois. Itachi tinha razão: era agonizante e desesperador. Como pôde pensar que poderia romper aquele laço e sobreviver? Agora percebia que mesmo que quisesse seguir os passos do irmão, não conseguiria. Era fraco. Porém, se ser forte significa ter de perder mais uma pessoa amada, preferia continuar como um fraco.

 Assim, correu. 

 Quando chegou até o hospital, não se preocupou em parar na recepção e perguntar onde Hinata estava; seguiu apressado pelos corredores do lugar, em busca daquele chakra tão familiar a si como o seu próprio. Quando o detectou, seus passos foram diminuindo gradativamente; seu coração, no entanto, pareceu triplicar o número de batidas por segundo.

 Hinata estava viva. 

 Mas é claro. É claro que está viva... 

Sasuke levou a mão até o peito, amaçando a camisa entre os dedos. É claro que Hinata estava viva. Em seu desespero, esqueceu por um momento que Shino apenas havia dito que era grave, não que... Lembrar das palavras dele fez com que o alívio momentâneo que sentiu fosse substituído novamente pelo medo. 

 Ela ainda não estava totalmente fora de perigo.

 - Sasuke-kun?

 Virando-se para a dona da voz, encontrou uma velha conhecida: Sakura. Precisou forçar a memória por um segundo para lembrar o porquê de ela estar ali. Ao que parecia, o treinamento com a Hokage não era baseado somente em aprender como lutar, mas também em curar a si mesmo e aos outros; Sakura agora era uma Ninja Médica. 

 Assim como ele, ela tinha mudado. Estava um pouco mais alta, seus cabelos estavam curtos e, por fim, seu temperamento parecia ter melhorado também - pelo menos os convites para sair em um encontro com ela tinham cessado. 

 - Veio visitar a Hinata? - perguntou, soando um pouco amargurada.

 É, talvez não tivesse mudado tanto assim. 

 Todavia, não tinha tempo para perder com os ciúmes dela. Sem respondê-la, voltou-se para a porta do quarto em que Hinata estava e abriu-a. 

Sasuke não sabia exatamente o que encontraria do outro lado, mas com certeza não esperava aquilo. Hinata estava mais do que viva, estava bem. Apesar de um pouco pálida, tinha um sorriso no rosto, dirigido à Kiba que tentava alimentá-la como a uma criança. 

Mas o que diabos era aquilo? 

Sakura tocou-o levemente no braço, pedindo licença para adentrar o quarto. 

 - Eu preciso checá-la, Sasuke-kun.  

Atraídos pela voz da médica, Hinata e Kiba olharam em direção à porta, deparando-se não somente com Sakura, mas também com Sasuke. 

 - Sasuke... - a garota sussurrou seu nome. Devia estar surpresa por vê-lo ali, principalmente porque, da última vez que se viram, tinha sido um idiota com ela. 

 Apesar de não entender a cena que tinha diante de si, estava feliz. Vê-la, ouvir sua voz, saber que estava viva... Aquilo trouxe um sentimento novo ao seu coração: gratidão. Estava grato por, pelo menos dessa vez, ter chegado a tempo. 

 A intensa troca de olhares entre os dois foi interrompida pela voz da médica: 

— Vejo que tem companhia, Hinata!

 - A-ah... Sim... - Hinata olhou para o amigo sorrindo - Kiba-kun está tentando me convencer a comer essa sopa, mas parece bem suspeita, você não acha? - Apontou para a tigela que ele segurava. 

 Sasuke não podia ver o que havia ali dentro, mas, realmente, o cheiro não era nada tentador. Sakura deve ter achado o mesmo, pois desaprovou a atitude dele.

 - Eu entendo que quer ajudá-la, Kiba, mas os pacientes têm de seguir uma dieta rigorosa, então... 

— Entendi! Entendi! A sopa não está boa, okay! Vocês acham que eu não sinto o cheiro? - Franziu o nariz, fazendo uma careta de nojo. Depois, abriu um enorme sorriso e prosseguiu: - Foi minha mãe que fez, é claro que está ruim! Eu não ia fazer você comer, só estava te provocando!

 - Ainda bem... 

 Hinata entrou na brincadeira, soltando um suspiro de alívio. Voltou, então, seu olhar para Sasuke, deixando-o ainda mais desconfortável. 

 - O que faz aqui?

 Não havia julgamento em sua voz, somente curiosidade. 

 Boa pergunta, Hyuuga. Eu também gostaria de saber.

 - Eu avisei a ele que você estava internada - disse Shino, passando ao seu lado para entrar no quarto. 

 Sasuke o olhou de soslaio. Sua vontade era gritar "você fez bem mais do que avisar!", mas isso deixaria nítido a sua irritação, o que geraria perguntas, portanto, ficou em silêncio.

 - Pois não devia! - Kiba exaltou-se. - Esqueceu sobre o que ele disse para Hinata?!

 - O que aconteceu? - Sakura perguntou, curiosa.

 - Nada demais, Sakura-san, Kiba-kun só está exagerando.

 O sorriso dela o fez sentir-se ainda mais culpado. Por que ainda o defendia?

 - Hinata - chamou-a em um tom sério -, ele está certo. Sinto muito por ontem.

 Aquilo pegou todos de surpresa. Sasuke Uchiha pedindo desculpas? A frase soava até mesmo estranha. Contudo, aquilo era real. Ele havia se desculpado. Um pedido simples e econômico em palavras - nem sequer esclareceu sobre o quê estava se desculpando -, mas sincero; isso ninguém podia negar.

 O silêncio que inundou a sala após suas palavras, foi quebrado por uma risada divertida. 

 - Não acredito que vivi pra ver isso! - exclamou Sakura, enxugando as lágrimas provenientes do riso. - Sasuke Uchiha pedindo desculpas? Inacreditável. - Seu riso se extinguiu, dando lugar a um sorriso tristemente conformado. - Como eu imaginei, você é péssimo nisso. Mas fico feliz que esteja aprendendo. 

 Sasuke não conseguiu evitar remexer-se em seu lugar, desconfortável pelo olhar dela. Sabia o que Sakura queria dizer com aquilo, sabia que devia desculpas a ela, porém, já tinha passado tanto tempo... Faria alguma diferença desculpar-se agora por todas as vezes que a humilhou? 

 Ela respondeu essa pergunta para ele. Virando-se para Hinata, disse: 

 - Bem, eu preciso trocar seu curativo. Rapazes, saiam. 

 Nenhum deles questionou a ordem. Ele porque queria sair logo dali, os outros porque sabiam como a nova médica do hospital de Konoha ficava quando furiosa. 

 Sasuke esperou até que estivessem a uma distância segura do quarto e, em um movimento veloz, empurrou Shino contra uma das paredes do corredor, pressionando-o pelo pescoço.  

— Por quê? - questionou. 

 Não precisava explicar, ele sabia exatamente sobre o que estava falando.  

Por que mentiu?

 Por que disse que Hinata estava mal? 

 Por que havia o feito pensar que iria perdê-la? Que novamente ficaria sozinho? 

 - Shino!

 Kiba tencionou aproximar-se, mas o encapuzado fez sinal para que ele parasse. E foi bom que tenha obedecido, pois para Sasuke não seria difícil subjugá-lo também. 

 - Eu precisava ter certeza - respondeu. Apesar da situação, sua voz era calma. 

 - Do quê? - Pressionou-o mais fortemente. 

— Oe! 

 - Kiba, quieto! 

 - Como assim "quieto"? O que você acha que eu sou? Seu cachorro? - retrucou, ofendido. 

 Ignorando-o, Shino prosseguiu: 

 - Hinata te adora, Sasuke. Eu precisava ter certeza de que é recíproco. 

 - Oe! Você enlouqueceu?! Não podemos falar sobre isso! Ela vai te matar! 

Foi a vez de Sasuke ignorá-lo e perguntar: 

— Como assim?

 - Como assim "como assim"? Não é óbvio? Ela está apaixonada por você! 

O choque que sentiu ao ouvir aquilo fez com que abrisse sua guarda por um momento, tempo suficiente para que ele se livrasse de seu aperto e se afastasse. 

 - Pensei que não pudéssemos falar sobre isso - disse para Kiba, que mantinha as mãos sobre a boca e olhos arregalados enquanto olhava para todos os lados.

 - É culpa sua! - Apontou um dedo, acusador. - E desse emo idiota, por ser tão lerdo! 

 - O que... O que você quer dizer com isso? 

 - Que qualquer pessoa no seu lugar já teria percebido que a Hinata-chan está... - engoliu em seco - que ela "adora" você. - Fez aspas com os dedos.  

— E você também está apaixonado por ela, Sasuke - concluiu Shino, para a surpresa de Kiba. 

 - O quê? Está? 

 - É claro, por que você acha que ele fez aquela cena ontem? 

 - Por que é um idiota? 

 - Da próxima vez que você me chamar de idiota... - Sasuke deu um passo para frente, avisando-o para ficar de boca fechada. 

 - Pode vir, Uchiha. - Sorriu desaviador. - Acha que tenho medo de você? O único motivo pelo qual eu não quebrei essa sua cara de emo ontem mesmo foi porque Hinata não deixou. Mas ela não está aqui agora. 

— Para com isso, Kiba. Ele é mais forte que você. 

Tsc. Pelo menos um deles tem um pouco de senso.

 - É o que veremos... 

 - Vá em frente, então. Pelo menos já estamos no hospital. 

 - Shino! - Kiba revoltou-se. - É esse o tipo de apoio que você dá pro seu namorado?! 

 - Só estou sendo sincero.

 E pela segunda vez naquela manhã, o choque o paralisou por um segundo. 

Namorado? Como assim namorado? Sasuke podia jurar que aquele cachorro era afim da Hinata... 

Sua confusão devia estar aparente, pois Shino disse: 

 - Sim, Sasuke. Kiba e eu namoramos. 

— Algum problema com gays, Uchiha?

 - Não é da minha conta - respondeu simplesmente.

 - Não é mesmo!

 - E então? O que vai fazer agora? Digo, em relação à Hinata... 

Sasuke não respondeu a pergunta de Shino, ao invés, deu as costas aos dois e caminhou a passos lentos na direção que o levaria até a saída. Enquanto se afastava, pôde ouvir a voz de Kiba dizer:  

— Não ligo para o que vá fazer, contanto que não a machuque. Se você magoar a Hinata, Sasuke, tenha certeza de que não vamos ficar parados só assistindo acontecer. 

 Shino não o corrigiu daquela vez.