Sakura foi até o quarto que dividia com Ino, mas ela não estava lá, talvez ainda estivesse com os meninos. Havia algumas garotas no corredor que estavam chegando aos poucos, mas todas elas evitavam a filha da Malévola saindo de seu caminho rapidamente.

Sakura mudou o rumo indo em direção ao quarto dos rapazes.

— Onde estava? – Shikamaru perguntou deitado na cama, folheando uma revista.

— Demorou com o Sasuke – Ino comentou brincando.

— Descobriu alguma coisa? – Kiba perguntou jogando algo na televisão com o vídeo game.

— Pra informação de vocês eu estava fazendo amizades – Sakura se jogou na cadeira ao lado de Ino, ela parecia costurar um tecido. – Eu estava vindo para cá quando escutei alguém chorando no banheiro.

— E você foi ajudar? – perguntou Shikamaru estranhando.

— As pessoas que choram são as mais fracas – Sakura repetiu uma frase de sua mãe. – E eu estava certa, dei de cara justamente com a afilhada da Fada Madrinha.

— Boa – disse Kiba.

— E como ela é? – perguntou Ino concentrada no que estava fazendo.

— Um Kiba da vida – Sakura brincou.

— Hey – o garoto reclamou.

— Brincadeira – ergueu as mãos.

Sakura respirou fundo antes de continuar.

— A garota tem a pior auto estima que eu já vi na vida – revirou os olhos. – Muito baixa, eu tenho que acrescentar. Acreditam que ela estava chorando porque não “é bonita o suficiente”? – debochou na frase final fazendo aspas com as mãos.

— Bateu nela? Eu sei o quanto você se irrita com esse tipo de coisa – Ino riu.

— Eu não podia bater na afilhada da Fada Madrinha, não é mesmo? – ironizou Sakura.

— Se aproximou dela? – Shikamaru se levantou para em seguida jogar numa espécie de puff.

— Sim – Sakura concordou. – Fiz um feitiço para o cabelo dela ficar bonito, mas a menina queria que eu mudasse ela inteira – revirou os olhos ao comentar. – Joguei um “Eu não posso fazer mágicas grandes como a sua madrinha e a varinha dela”, claro que ela caiu fácil. Ah Ino, eu disse que você podia ajudar ela a se vestir melhor.

— Tudo bem – Ino concordou. – Temos que nos enturmar mesmo, certo? – ela deu de ombros. – Que tal, achou bonito? – ela ergueu o tecido que estava costurando, era uma blusa.

— Sim, ressalta seus olhos, vai ficar lindo em você – Sakura disse sincera.

A cor azul sempre combinava com os olhos de Ino.

.

.

.

Mais tarde, no quarto das meninas, Ino estava terminado de fazer a blusa, que Sakura descobriu que na verdade seria um vestido, quando alguém bateu na porta. As duas se entreolharam e Sakura deu de ombros.

— Entre – Ino disse docemente.

Uma garota morena de cabelos chocolates curtos entrou.

— Licença – ela pediu e fechou a porta ao entrar. Sakura, deitada na cama enquanto rabiscava um caderno, arqueou a sobrancelha para ela. – Oi, meu nome é Tenten e eu sou filha da Mulan.

— Olá – Ino a cumprimentou do seu jeito de sempre. Na opinião de Sakura, a amiga realmente havia nascido para ser uma princesa.

— Então, é que eu adorei o que fizeram no cabelo da Matsuri e, por mais que eu saiba que vocês provavelmente não sejam de ajudar os outros – ela mexia as mãos nervosamente uma na outra. – Podem fazer o meu? – ela pediu.

— Eu ajudo os outros – Ino contestou. – Quando me convém, é claro – sorriu inocentemente.

— Por que a gente faria isso? – Sakura retrucou.

— Porque eu pago – Tenten ergueu um saquinho e um barulho de moedas foi ouvido.

— Boa resposta, agora sim você está falando a nossa língua – Ino aprovou e se levantou da mesa, deixando o vestido que estava costurando de lado e tirou o saquinho das mãos de Tenten avaliando o conteúdo.

Ino conteve a euforia ao ver que a garota iria pagar o triplo do que ela mesma pagava quando ia fazer o cabelo e as unhas no Konohamaru. Sorriu para Sakura.

— Vejamos – a filha da Rainha Má puxou a garota deixando-a em frente ao espelho que tinha no quarto e analisou a aparência da garota. – Temos que emoldurar seu rosto – percebeu. – Talvez uns cachos, uma franja...

— É, eu quero que fique bem bonito, que nem o da Sakura – disse Tenten que admirava demais o corte Chanel e o tom de rosa do cabelo da filha da Malévola. 

— Sakura? – Ino chamou a atenção da amiga que ainda estava deitada.

Sakura conteve a vontade de revirar os olhos e se levantou tentando se lembrar de um dos tantos feitiços que havia no livro da Rainha Má. Ergueu a mão e se concentrou.

— Preste bastante atenção, o cabelinho vai virar cabelão— e mais uma vez funcionou.

A menina olhou encantada para seu novo cabelo o tocando com cuidado, estava maior agora e havia algumas camadas, também havia uma franja despojada emoldurando seu rosto como a filha da Rainha Má havia dito.

— É, eu sei, parece que tem um esfregão na sua cabeça – Ino abraçou a menina pelos ombros na tentativa de acalmar ela. – Mas não se preocupe, primeiro iremos cortar e-

— Não – Tenten negou. – Eu adorei, está perfeito assim – disse maravilhada tocando os cabelos agora compridos.

— É sério? – Ino fez uma careta de desgosto.

— Muito obrigada – ela se virou para Sakura e agradeceu.

— Disponha – a filha da malévola respondeu.

— As garotas vão ficar loucas quando me virem – Tenten disse eufórica. – Se preparem, porque vocês vão ter muitas clientes a partir de amanhã.

— Só se elas pagarem – disse Ino a levando até a porta. – Tchauzinho, nos vemos depois.

Ino fechou a porta e voltou ao seu vestido.

— Você vai ficar rica – a filha da Rainha Má comentou contente.

— Vou? – Sakura retrucou irônica, mas depois suspirou. – Fica pra você – deixou o saquinho onde estava. – Sabe que dinheiro não é problema para mim.

— Obrigada, mas o que eu vou fazer com ele?

— Sei lá, comprar mais tecido – sugeriu Sakura. – Joias, quem sabe até um castelo – deu de ombros.

— Aceito, mas não vou ter que me preocupar com isso depois que os vilões invadirem Konoha – Ino comentou.

— É, mas até lá vamos ter que nos virar dentro da lei e eu prefiro que a gente não fique dependente de Konoha para não ter que dever nada depois – Sakura odiava dever para os outros.

— Tem razão – Ino concordou. – Vou fazer looks para nós duas enquanto estivermos aqui, quem sabe essas garotas não se interessem pelo que nós vestimos também? Elas bem que estão precisando se atualizar. Eu vou adorar ser reconhecida com uma estilista e quem sabe assim essas garotas não ganham um pouco de estilo, acho o visual delas tão apagado – Ino continuou a divagar em seus sonhos de grandeza.

Sakura voltou a folhear o livro de feitiços da Rainha Má, já que era o que fazia antes da filha da Mulan aparecer. Havia chegado no meio do livro, lá não haviam feitiços, mas anotações sobre uma terra distante, um reino. “O Reino de onde ela veio originalmente, antes de ir até o pai da Branca de Neve e se tornar a Rainha Má”, pensou Sakura surpresa. Olhou para Ino, mas não comentou nada. Decidiu saber mais sobre antes de dizer alguma coisa para a amiga.

.

.

.

O refeitório estava parcialmente cheio naquela noite. Muitos burburinhos aleatórios se espalhavam pelo local e muitos rostos olhavam em direção a mesa onde os filhos dos vilões se encontravam.

— Parece que já chegou bastante gente – Kiba comentou observando o local enquanto comia algo.

— E vai chegar mais amanhã – disse Ino comendo um macarrão.

— Não vai comer? – perguntou Shikamaru para Sakura.

— Eu já volto – ela informou aos amigos antes de se levantar. Eles deram de ombros.

Havia visto Sasuke saindo do refeitório e o seguiu, esperou até estarem afastados de todos, principalmente da namoradinha dele, para então chama-lo.

— Sasuke, espere!

O príncipe parou ao escutar a voz da filha da Malévola.

— Sakura? Posso te ajudar? Precisa de algo? – perguntou ele ansioso.

— Não quer caminhar comigo lá fora? – perguntou o chamando, ele parecia bastante cansado.

— Sim, tudo bem – ele concordou.

Foram parar no lago da escola e acabaram por se sentar próximo a árvore onde Sasuke a encontrara alguns dias antes.

— Sobre mais cedo – ele iniciou a conversa. – Peço para que me desculpe. Karin –

— Não é sobre isso que eu quero falar – Sakura o impediu de continuar. – Eu quero te perguntar uma coisa.

— Pergunte – ele a incentivou.

Sakura respirou fundo antes de iniciar a conversa, podia ser algo delicado do qual não sabia.

— O que aconteceu com a terra que antes era da Rainha Má? – Sakura o observou bem, atenta a sua reação.

— Oh – ele ficou confuso. – Eu não sei dizer muito sobre, quer dizer, eu não sei muita coisa.

— Tudo bem – Sakura balançou a cabeça tentando conter a frustração.

Sasuke puxou na memória o que sabia sobre todos os reinos.

— Eu sei que houve uma praga que devastou todo o reino, tanto as pessoas como os animais, mas eu não sei te dizer a causa.

— A Rainha Má era uma rainha lá? – Sakura perguntou curiosa.

— Eu acho que ela era uma princesa – Sasuke pôs as mãos no queixo pensativo. – Mas eu não tenho certeza.

Sakura digeriu as informações calmamente.

— Sasuke? – o chamou suavemente antes de entrar no tópico mais delicado.

— Sim? – ele olhou para ela atentamente.

— Se Ino quiser essas terras, ela poderá ter? Como herdeira, ela tem direito?

— Bem – o príncipe suspirou. – Não sei te dizer se as terras estão habitáveis novamente, mas como herdeira Ino pode sim ter a posse delas, o problema...

— É que nem todos aceitariam tão bem – Sakura entendeu o raciocínio dele.

Deram o assunto por encerrado e ficaram mais alguns minutos ali, apreciando a calmaria da noite. O vento soprava levemente e o barulho das folhas nas árvores podia ser ouvido.

— Você parece cansado – Sakura comentou se levantando.

— Estou um pouco – ele não negou e bocejou.

Sakura conteve sua vontade de bocejar também, bocejar era contagiante.

— Vá descansar – mandou para ele.

— Já jantou? – perguntou ele também se levantando.

— Ainda não – ela respondeu.

— Então vá jantar – devolveu ele.

Os dois sorriram.

— Te vejo depois – Sakura se despediu dele e voltou ao refeitório. Seus amigos já estavam terminando de jantar, mas a esperaram. Ver a filha da Malévola comer era uma raridade para eles.

Sasuke ainda ficou um pouco ali, observou Sakura ir e respirou fundo sem entender porque seu coração batia tão depressa quando estava perto dela, ou quando falavam nela, ou quando mesmo pensava nela. Se sentia meio bobo, mas aquilo lhe deixava feliz de certo modo, suas terminações agitadas e o frio na barriga. Nunca havia sentido nada parecido.

.

.

.